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Uma análise sobre o sociólogo da 'Modernidade Líquida', Zygmunt Bauman

Breve análise sobre o sociólogo da 'Modernidade Líquida', Zygmunt Bauman.

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Bauman propõe educação crítica e revitalização de espaços públicos para promover convivência democrática e romper com segregações.

Zygmunt Bauman. Fonte: X.com
Zygmunt Bauman. Fonte: X.com

Sociologia- Zygmunt Baumann nasceu em 1925 na cidade de Poznán, Polônia, e deu início à sua carreira acadêmica na Universidade de Varsóvia. Porém, em 1968, foi forçado a deixar a academia devido a restrições políticas que também resultaram na proibição de sua obra no país. Mudou-se para o Reino Unido em 1971, onde atuou como professor de Sociologia na Universidade de Leeds por duas décadas. Durante esse período, foi influenciado pelo filósofo islandês Ji Caze. Em 1989, recebeu o prêmio Amalfi por seu trabalho "Modernidade e Holocausto" e, em 1998, foi agraciado com o prêmio Theodor W. Adorno pelo conjunto de sua obra.

Bauman possui uma vasta bibliografia e é amplamente reconhecido no Brasil e no mundo por sua abordagem da sociedade pós-moderna, que descreve como fluida, incerta e fragmentada, sem modelos estruturantes para guiar as ações humanas. Em suas análises, destaca-se a falta de interesse dos indivíduos em estabelecer laços sociais, sendo marcada por um forte apelo ao consumismo e ao individualismo. Inspirado pela ideia de modernidade líquida, Bauman introduziu conceitos como "vida líquida", "amor líquido" e "medo líquido".

Crédito: Click Sociológico
Crédito: Click Sociológico

Método de Zygmunt Bauman

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman adota uma abordagem cautelosa e, em certa medida, pessimista ao analisar a sociedade do século XXI. Sua sociologia reflexiva e crítica revela uma desconexão entre a estrutura social e os papéis desempenhados pelos indivíduos, e vice-versa. Bauman examina as categorias sociais criadas pela sociedade moderna, com foco nas relações sociais em uma escala micro, destacando o comportamento e as ações dos indivíduos diante desse cenário da modernidade atual.

Para descrever a instabilidade das instituições sociais na contemporaneidade, Zygmunt Bauman introduziu o conceito de "modernidade líquida". Ele ilustra como as instituições tradicionais, como Estado, família, igreja e trabalho, perderam eficácia em desempenhar seus papéis na era atual. No século XXI, vivemos em um mundo marcado pela falta de controle social, relacionamentos superficiais, individualismo, empregos precários, consumo excessivo e degradação ambiental. O desperdício emerge como um produto dominante da sociedade de consumo líquido, com a indústria do lixo sendo notavelmente resistente a crises. Lidar com o lixo torna-se um dos principais desafios enfrentados pela sociedade líquida, juntamente com o constante medo de ser descartado. Bauman argumenta que a modernidade líquida e a vida precária estão intrinsecamente ligadas, alimentando-se mutuamente. A incerteza permeia todos os aspectos da vida moderna, desde o receio do desemprego até a ansiedade de ser excluído das redes sociais virtuais, impulsionada pelo desejo de consumo e pela rápida obsolescência dos produtos.

Não há uma orientação clara para o futuro, falta preocupação com aspectos mais profundos da existência, e a busca por uma identidade é substituída pelo desejo de alcançar a felicidade individual. Bauman (2007, p. 20) argumenta que a busca pela felicidade, sendo o objetivo primordial da vida individual, é constantemente desafiada pela própria natureza da busca em um ambiente líquido-moderno. Outro conceito crucial explorado por Bauman é o da individualidade, que contrasta com as visões mais otimistas de Giddens e Touraine sobre o papel do indivíduo nesse contexto.

Bauman descreve o indivíduo como alguém cercado, incapaz de formar laços sólidos e expressar sua individualidade de maneira autêntica. Nesse contexto, a individualidade não se manifesta de maneira convencional, como a adoção de papéis sociais tradicionais, como dona de casa, esposa ou mãe. Em vez disso, ela se manifesta principalmente por meio do consumo excessivo e superficial de bens descartáveis. O autor aponta para a contradição fundamental na sociedade contemporânea, onde há uma ênfase na individualidade, mas todos buscam ser reconhecidos como indivíduos. A individualidade é percebida como um privilégio dentro de sociedades que são quase autônomas, onde a busca pela autoafirmação é conduzida pela distinção entre os consumidores emancipados, que procuram expressar suas identidades únicas por meio de produtos exclusivos. Enquanto isso, há uma massa de pessoas sem rosto, presas em identidades atribuídas ou impostas sem questionamento. (Bauman, 2007, p. 39)

Diante de um mundo marcado por aparências e desigualdades, a expressão da individualidade nas metrópoles parece ser acessível apenas para os privilegiados socialmente, os pertencentes às classes mais abastadas e detentores de poder econômico. Eles vivem em seus condomínios fechados e se deslocam pela cidade em carros blindados, interagindo com outros iguais a eles. Para esses cidadãos da modernidade líquida, pouco importam os não-privilegiados, os marginalizados, os imigrantes ou a população pobre, pois são vistos como descartáveis, excluídos do estilo de vida privilegiado e, portanto, não reconhecidos como verdadeiros indivíduos. Aqueles que se deslocam apenas de carro pelas ruas tendem a ignorar a situação dos espaços públicos, como praças, parques, estações de metrô e ônibus.

A restrição da individualidade é evidente na arquitetura dos edifícios na era da modernidade líquida: As construções recentes, amplamente divulgadas e replicadas, são essencialmente espaços fechados projetados para selecionar, filtrar ou afastar aqueles que desejam usá-los. A intenção por trás desses espaços restritos é claramente segregativa, visando dividir e excluir em vez de promover a integração, interações agradáveis e pontos de encontro que facilitem a comunicação e a interação entre os habitantes da cidade. (Bauman, 2009, p. 42, Grifo do Original)

Assim, a individualidade surge como resultado de uma sociedade marcada pela desigualdade, especialmente em um contexto consumista, onde os membros são constantemente avaliados e julgados com base em suas capacidades e comportamentos relacionados ao consumo. Fazendo uma paródia da famosa frase de Descartes, "Penso, logo existo", podemos afirmar que, nesse contexto, ser um indivíduo equivale a "Consumo, logo existo". Bauman (2007, p. 16-17) descreve esse como um mundo descontrolado, onde a vida líquida se torna uma vida de consumo. Nesse cenário, o mundo e todos os seus elementos, tanto animados quanto inanimados, são vistos como objetos de consumo, perdendo utilidade, vício, atratividade, poder de sedução e valor à medida que são utilizados.

No contexto cultural da modernidade líquida, a noção de identidade se dissolve e é substituída pelo conceito de cultura híbrida, que transcende qualquer matriz de pensamento tradicional. De acordo com Bauman (2007, p. 43), a cultura híbrida, habitada pela nova elite global, encontra sua identidade na rejeição da pertencimento, na liberdade de desafiar e ignorar as fronteiras que restringem os movimentos e escolhas das pessoas menos privilegiadas e locais. A única causa que emerge como uma bandeira global é a questão ambiental, com um forte foco no protecionismo verde. Bauman argumenta que o ser humano, nesse contexto, é deixado de lado, exposto à sua própria vulnerabilidade e marginalizado em meio a um cenário político dominado pelo neoliberalismo.

Bauman (2007) expressa um certo pessimismo em relação à individualização na era da modernidade líquida, sugerindo que essa tendência é uma espécie de fim em si mesma, servindo principalmente para reproduzir e manter a ordem por meio do consumismo. Ele argumenta que a educação crítica é a única ferramenta capaz de libertar e transformar esse cenário, capacitando os indivíduos a reconhecer e confrontar as contradições existentes. Segundo a teoria de Bauman, a sociedade pós-moderna marca um momento de desencontro entre passado e presente, onde não há mais um único modelo a ser seguido, mas sim a possibilidade de desconstruir os modelos hegemônicos e criar novas formas de organização completamente diferentes. A modernidade líquida é caracterizada por uma fragmentação social, ambiguidade e insegurança nas relações interpessoais, levando os indivíduos a evitar o estabelecimento de vínculos profundos. Tudo é efêmero, transitório e descartável, com a sociedade dependendo cada vez mais de tecnologia, consumo desenfreado e grande produção de resíduos. Nesse contexto, a individualidade e a exclusão social são fundamentais, embora poucos consigam realmente expressar sua singularidade. Todos buscam afirmar sua identidade através da diferença, mas ao mesmo tempo buscam pertencer a um grupo que compartilha das mesmas ideias, resultando em uma relação contraditória e autofrustrante.

Crédito: Conhecimento Científico
Crédito: Conhecimento Científico 

Principais Conceitos Definidos por Zygmunt Bauman

Vamos examinar alguns dos principais conceitos propostos por Bauman:

·      Capacitação: a reconstrução do espaço público, atualmente cada vez mais vazio, para permitir que homens e mulheres se envolvam em uma contínua negociação de interesses individuais e coletivos, privados e públicos, direitos e responsabilidades.

·      Consumismo: uma economia baseada na ilusão, no excesso e no desperdício. Estes não indicam um mau funcionamento, mas são considerados essenciais para a saúde e a sobrevivência de uma sociedade consumista.

·      Cultura híbrida: uma camada ideológica sobre a transculturalidade cultural alcançada ou declarada.

·      Hibridização: um movimento em direção a uma identidade permanentemente ambígua e, na verdade, indeterminável.

·      Individualidade: uma exigência imposta pela sociedade contemporânea, que se revela contraditória e frustrante, especialmente em torno do consumo e do descarte irracional de produtos.

·      Modernidade líquida ou vida líquida: uma sociedade em que as condições que moldam a ação de seus membros mudam mais rapidamente do que o tempo necessário para consolidar hábitos e rotinas de comportamento.

A obra de Bauman é vasta e cada uma de suas ideias e conceitos pode ser explorada para torná-la mais compreensível.

Referências Bibliográficas 

Bauman, Zygmunt. Modernidade Líquida: Uma Análise Crítica. São Paulo: Editora Zahar, 2007.

MICHEL, Fernando. Filósofo para o cotidiano contemporâneo. Conhecimento a Michel, 10 jan. 2024. Disponível em: .


Publicado por: Fernando michel da Silva correia

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