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Autismo - Entendendo

Adaptação do aluno com necessidades especiais aos recursos disponíveis na escola regular, introduzir o aluno autista, desafios do TEA (Transtorno do Espectro do Autismo).

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1. Introdução

No contexto da integração, a educação acontecerá na medida em que o aluno com necessidades especiais se adaptar aos recursos disponíveis na escola regular. Nesse modelo pedagógico fica nítido a exclusão do aluno que não se adapta a escola e seu ambiente, ocasionando a desistência do mesmo, piorando de certa forma o cenário atual. Contudo a integração se põe oposta; a necessidade de adaptação vem por parte da escola e de seu ambiente; o sucesso ou fracasso da aprendizagem, ou interação social, de um aluno com necessidades especiais será de responsabilidade da instituição e seus profissionais. A educação inclusiva compreende a diversidade existente na humanidade, e busca auxiliar o aluno com necessidade especial. Esse modelo de ensino tem por objetivo acolher as diferenças e trabalhar como um todo, as crianças precisam da escola para aprender e não para marcar passo ou ser segregada em classes especiais e atendimentos à parte. Ter por prioridade o ensino regular é um desafio, sendo necessária a colaboração de todos os profissionais da área; de toda forma, não nos esquecendo de alunos sem condições de adaptação no ensino regular, como no caso do autista moderado e severo.

As interações sociais nas primeiras fazes da vida são de suma importância, retendo experiências que serão levadas para toda a vida, tendo um marcato importante na construção do intelecto. Relacionamentos embasados em amizade, com interesses mútuos, preferências combinantes, tem carga positiva ou negativa no crescimento desde a primeira infância, o relacionamento entre pais e filhos não é o único necessitado de amadurecimento e afeto.

Nesse contesto, introduzir o aluno autista se torna um desafio ainda maior. Por ter uma grande dificuldade em se desprender de seu próprio mundo seguro, dado que o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) afeta o desenvolvimento da linguagem e seu processo de comunicação, o indivíduo portador da TEA ainda demonstra dificuldades no comportamento social, na sua interação com a sociedade.

2. Desafios do TEA

Carece-se de estudos conclusivos sobre o TEA, pois a medicina ainda se mostrou dificultosa em determinar fatores que possam desenvolver o TEA, permanecendo uma grande incógnita para a saúde moderna. Por dados históricos, estudos de campo e vivências de décadas conseguimos separar algumas classes dentro do transtorno: leve, moderado e severo. Tendo outras subclasses as quais não nos atentaremos nesse estudo. Por isso determinamos o autismo como um espectro.

Nota-se  que a população autista em sua maioria compõe-se de indivíduos do sexo masculino, contudo, os comportamentos típicos se mostram de diversas formas e em grande parte do espectro, desde o leve ao severo; podemos citar os principais sendo: ecolalia, a repetição mecânica de frases e falas ouvidas, ou a ainda a falta de fala; irritabilidade excessiva, "olhar perdido", não tendo foco ocular; falta de interesse em sentimentos e coisas, ou ainda o interesse excessivo em limitados assuntos, demonstrando apatia; interesse em demasia a tudo o que é redondo, circular, e com movimentos circulares.

O autista demonstra muitas vezes comportamentos compulsivos e repetitivos, agressividade, depressão, gritos, repetição de frases e palavras desconexas, levando a criação de uma possível linguagem própria. Grande parte desses comportamentos típicos do autista podem ser controlados e melhorados com o devido acompanhamento, desde que constante e interrupto, tendo apoio familiar, psicológico e neurológico, acrescido do docente preparado.  Necessita-se de uma rotina, desde o acordar até o deitar, como qualquer ser-humano, a diferença se dá quando o autista tem mudanças repentinas na rotina, não sendo bem-vindas, visto que o desconhecido se torna assustador para esse indivíduo; ocasionando as crises, com gritos, choros, torções corporais, entre outros possíveis comportamentos. O portador de TEA tem um mundo próprio, onde muitas vezes um "olá, como vai?" Tem significado literal, sendo mais do que simplesmente um cumprimento corriqueiro; ele precisa ser respeitado, não sendo excluído. Com tratamento adequado um autista, dentro do espectro leve e leve/moderado, o autista funcional, pode viver normalmente, dentro das limitações de sua DI (deficiência Intelectual), como qualquer outra doença crônica. A característica da falta de interesse no mundo exterior, e a introversão, proporcionam maior atenção aos detalhes, desenvolvendo grande capacidade para áreas consideradas difíceis, como engenharias; ainda por serem, em maioria, repetitivos esse tipo de memória auxilia a cognição musical, tendo muitos que são considerados gênios musicais, portadores de TEA. Esse tipo de genialidade garante uma certa vantagem na vida futura, sendo uma das habilidades cabíveis no autista.

Em seus primeiros estudos Kenner (1943) acreditava que a criança autista não possuía capacidades cognitivas suficientes para comunicação e expressão de si mesma; desmistificando a si mesmo três anos mais tarde em outro estudo. Porém, nota-se ainda nos dias atuais o preconceito da sociedade com relação aos autistas, muitas vezes tendo a TEA usada para "chacotas", brincadeiras ou xingamentos. O apoio da família em casos de TEA comprovados, em correlação ao diagnóstico positivo, ainda com a pesquisa e conhecimentos prévios o cenário pode ser mudado.

Entretanto o autismo é um espectro, você conhece um autista, não todos. Há diversos modos diferentes de se agir e pensar, o que dificulta o completo entendimento e inclusão; lembrando que não há impossibilidade, sendo um desafio a ser cumprido, conquistado.

O relato de Guillaume Paumier nos traz uma nova percepção. Guillaume descobriu o TEA tardiamente, aos trinta anos, e apenas então ele pode compreender sua própria mente, só então seus costumes fizeram sentido. Em seu relato "Minha vida como autista" fica objetivado como tudo era sem sentido e após começar a entender a si mesmo ele observa até mesmo suas fotos mais antigas de outra forma, ele descreve o quão difícil pode ser conviver consigo mesmo, fazendo comparações a personagens fictícios para que fique mais claro como seu "grande mundo" funciona. Guillaume é apenas um autista dentro deste enorme espectro.

As particularidades sensoriais dentro do espectro podem assustar as pessoas "normais"; um simples arrastar de cadeira pode se tornar a experiência mais desagradável para um autista. Ter uma inclusão dentro do âmbito escolar é desafiador. O movimento por parte de professores, alunos e colaboradores deve ser gigantesco, para que juntos possam instruir os demais alunos

3. Síndrome de Asperger

A Síndrome de Asperger se enquadra dentro do TEA, com as características comuns do mesmo, uma condição do espectro, tendo necessidades de atendimento únicas, como todo autista. A pessoa com Asperger apresenta inteligência média ou acima, não tendo muitas dificuldades como outros autistas na aprendizagem, podendo demonstrar dificuldades específicas; sua fala demonstra maior desenvoltura, mostrando algumas barreiras no processamento da fala, podendo expressões ter sentidos literais, faltando a interpretação. Entender o mundo ao redor se torna dificultoso; entender as pessoas quando o próprio Asperger não se entende. Dentro do espectro caracteriza-se como comum, tendo a maior facilidade de adaptação funcional, esse é o espectro do TEA mais encontrado e visto.

A interação social tem barreiras o que dificulta sua integração, no âmbito escolar e fora dele. Entretanto, o Asperger consegue se integrar numa escola regular; com o auxilio dos professores, medicação adequada com acompanhamento psicológico e familiares, seu convívio social pode ser desenvolvido e melhorado, condicionado. A escola regular precisa em primeiro lugar entender que o aluno possui seus próprios momentos, e tempo para realização de tarefas; necessitando do auxilio da família para manter uma rotina, garantindo uma integração plena.

O indivíduo com a Síndrome de Asperger fica abrangido na  Lei nº 7.853/89 de 1989, com a garantia de inclusão na sociedade; reforçado com o  Decreto nº 6.094/07 de 2007 que garante a matrícula no ensino regular público do deficiente. A Lei Nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012 específica sobre o TEA, sua inserção no ambiente escolar e no mercado de trabalho.

4. Vivência

Obteve-se a oportunidade de acompanhar uma tarde de aula na Escola Municipal de Educação Especial Elis de Fátima Zem, em Pinhais no Paraná. A sala acompanhada foi a turma de autistas moderados a severos da professora Maria (que preferiu ocultar seu nome completo). São quatro alunos com idades de sete a doze anos, três no espectro moderado e um no severo, acompanhado de outra doença mental; todos em processo de condicionamento. O ambiente onde se encontravam os alunos era neutro, sem cores fortes ou vibrantes, sem nenhuma decoração infantil; um espelho grande estava colado na parede –os autistas se auto observavam em alguns momentos. Nenhum aluno desenvolveu a fala cognitiva, respondendo apenas com ecolalia. A observação se iniciou presencial em sala, os alunos notando a presença de alguém estranho dentro de sua rotina passaram a ter comportamentos agressivos, com gritos e automutilações, a observação então necessitou ser feita longe dos alunos, não podendo ser o observador detectado pelos mesmos.
A professora em sala explicava a rotina aos alunos, desde sua chegada com o transporte escolar até sua saída; tinha-se o auxílio de cartões com imagens. De acordo com a professora, esse processo levaria cerca de dois meses para condicionar os alunos a essa rotina, para que os mesmos compreendessem seus horários e obrigações. Dois dos alunos ainda usavam fraldas (7 e 11 anos), a professora cuidava para que quando a fralda estivesse cheia, fosse feita a troca por uma das assistentes do horário; esses alunos não conseguiram se condicionar a usarem o banheiro apropriadamente.
A hora do parque foi condicionada com um alarme específico, quando tocado eles prontamente se dirigiram a porta, esperando pela professora para guia-los até o local. Ali eles tinham liberdade para brincarem, dentro do espaço delimitado, como quisessem; para estimulá-los, a professora tocava algumas músicas e soprava bolhas de sabão.

Com outro alarme a hora da merenda foi condicionada, sentados foram capazes de comerem sozinhos, com exceção de um (7 anos) que precisou ser segurado pela professora, e uma assistente, para que fosse alimentado.
Foi possível acompanhar a introdução da escovação de dentes dentro da rotina. Apenas um (7 anos) não obteve resultado negativo na nova atividade, tendo a professora notado acompanhamento familiar nessa ação; Um dos alunos (12 anos) reagiu mal, tendo um leve surto, correndo pela sala enquanto gritava, se cansando logo após um tempo.
A docente Maria atuou no ensino regular e especial, atuando na especial por 23 anos, e na regular por 3 anos, formada em pedagogia, com pós-graduação em história, com formação prévia em magistério com capacitação em deficiência intelectual. Em entrevista com a docente ficou-se claro diversos pontos negativos na atual inclusão: O aluno com autismo moderado e severo não possui condições intelectuais de se incluir no ensino regular, com outras crianças. Nas palavras da mesma; "lugar de aluno especial é no ensino especial". Contempla-se na inclusão de ensino regular o Asperger, um autista funcional, o mais conhecido, contudo, o "real" autista, moderado e severo, não fica contemplado na inclusão. Eles podem ser condicionados a um convívio social, entretanto em uma escola regular ele perderia seu rumo, não progrediria e até retrocederia em seu próprio progresso. Para o Asperger já é feita a inclusão no regular, ainda com algumas barreiras sociais impostas pela própria sociedade brasileira em si, porém se é esquecido o TEA mais severos. A criação de escola especiais é o primeiro passo, com educadores e assistentes qualificados. Na cidade de Pinhais se tem apenas uma escola especial, a qual acolhe diversos outros alunos especiais, incluindo EJAs; assim como CMEIS, escolas estaduais e federais são distribuídas pela cidade para atender a população, escolas especiais precisam da mesma atenção e cuidado, oferecendo o convívio com iguais para os TEA.

Treinamento e qualificação na área se fazem indispensáveis para os profissionais que trabalharão com autistas, docentes no ensino especial e regular, para que possam compreender seus alunos, ao menos parte dos mesmos.

5. Referências

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Publicado por: Pamela Andrade Araujo

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