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Crianças invisíveis

Clique e saiba mais sobre o cotidiano das crianças "invisíveis"!

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Todos os dias, acordamos, saímos de casa seja a pé, de carro ou de ônibus em direção a nosso destino do cotidiano, escola, universidade, trabalho ou algo parecido. Com tanta correria, muitas vezes, deixamos passar despercebidos aos nossos olhos muitas coisas ou situações que acontecem ao nosso redor, bem pertinho de nós, até mesmo que estão a nossa frente. Passamos por tantas pessoas em nossa cidade, seja em uma rua, ou seja, dentro de um ônibus, onde algumas destas estão ali, à fazer algo, umas seguindo seus destinos, outras voltando, ou conversando ou tirando um cochilo. Mas muitas vezes no decorrer desta viagem, aparecem alguns personagens que não estão ali como um simples passageiro, pedestres ou um cidadão indo e vindo, estas pessoas estão com outro objetivo, o de tentar ganhar alguns trocados para seus sustento. Estas fazem algum trabalho ou vendem “coisinhas” por algum trocado, outros tentam pelo malabarismo, limpando ou guardando carros, ambulantes entre outros, tudo para ajudar a família ou para sua própria subsistência, elas estão lá, estamos de certa forma, acostumados com esse tipo de situação, tanto que quando isso acontece nem nos damos contas das pessoas que estão ali, não reparamos muito nelas, na maioria das vezes, claro muitas pessoas tentam ganhar seus sustento de alguma forma, isso é uma coisa normal na sociedade, mas o ponto diferencial é, que tipo de pessoas estão ali fazendo esse trabalho, muitas delas “Pessoinhas”, pessoinhas no diminutivo não menosprezando, mas sim, pelo tamanho, tão pequeninas, são como crianças-adultas, pessoas perdendo sua infância por estar tentando sobreviver nesse mundo,  pessoas que ainda tão novas com uma responsabilidade de pessoas adultas e já carregando tantas responsabilidades nas costas, e na maioria das vezes deixamos de percebê-las, não nos paramos para pensar o porque delas estarem ali, qual os motivos que levaram essas pessoas a trabalharem ao invés de estarem em uma escola e tendo uma infância de verdade, não percebemos não por serem diferentes de nós e assim mas sim, por com tudo isso e nossa falta de atenção e conformidade pelo mundo em que vivemos, acabam se tornando “invisíveis”.

Invisibilidade

Todo mundo se sente invisível em algum momento da vida, se sente um “Estranho no ninho” como se não fizesse parte dali, podendo ser em uma festa, na escola, universidade, outro Estado ou país. Invisibilidade como esta são pessoas invisíveis pela sociedade, ou pela indiferença, ou pelo nosso preconceito. Mas essas invisibilidades, aos quais falamos como exemplo, são em algumas ocasiões, podendo ser passageiras e com isso, reversíveis.

Entretanto, algumas pessoas sofrem diariamente desta “tal invisibilidade” em situações quase irreversíveis, sendo parcialmente ou totalmente ignoradas, rotuladas de marginais ou pessoas desocupadas, é necessário que observemos a relação entre o protagonista da história e sua identidade social para falarmos sobre esse assunto.

Através de discursos dos adolescentes, percebemos que a sociedade interpreta-os de maneira negativa, quando não são ignorados são tratados muito mal, pois grande parte das pessoas tendem a criar rótulos a respeito dos mesmos, prejulgando-os por suas aparências, criando um estigma, pois essas atitudes são cheias de preconceitos sobre a outro.

A sociedade foi praticamente construída através de relações hierárquica, tendo, nisso, a violência seja ela, física ou mental. A invisibilidade surge então de uma percepção da própria pessoa, que se prejudica e acaba se tornando condenada à divisão social e às mudanças decorrentes da violência urbana, onde o outro, o menos favorecido financeiramente é visto apenas pela sua classe social e não pelo seu ser.

“Algumas pessoas têm medo de mim, me olham feio, pensando que sô ladrão têm gente que nem abre o vidro do carro, nem olha...parece que nem tô aqui, parece que não existo”. (Weriston 15 anos).

“Toda vez venho fazer os malabares aqui na rua, tem uma senhora muito boa que sempre me ajuda, me dá comida, já até conhece eu, mas a maioria dos pessoal passa aqui e nem liga, as vezes faço mais de 10 de malabares depois que alguém me vê e me dá uns trocados. Quando é mais tarde que a tarde fica vazia, o pessoal passa do outro lado da rua quando me ve aqui, acham que vo roubar eles, mas eu não sou ladrão não, por isso faço meus malabares aqui, pra ganhar uns trocados” (Lucas, 15 anos). 

Este é um exemplo dado, através do depoimento dessas pessoas consideradas “Invisíveis” pela sociedade. De como muitas das vezes, elas vem a ser vistas.

A identidade da qual estamos nos referindo, surge através do olho do outro, de como uma pessoa vem a enxergar a outra. Podendo ser na bondade do olhar do outro que temos envolvida nossa própria imagem de valor, recebendo que dê o significado de  humano, da qual a única prova é o reconhecimento do próximo. A Invisibilidade que nos anula, figura-se em isolamento, solidão e incomunicabilidade, falta de valor. Por não ser reconhecido, o menor, frustra-se, gerando uma reação de si, podendo ser  a aceitação da inferioridade colocada, não considerar as agressões sofridas ou em algumas da vezes  transforma essa revolta através da violência.

Os adolescentes nos semáforos 

A temática sobre os adolescentes que trabalham no mercado informal da região metropolitana de Belém do Pará nos dirige a importantes questionamentos no que tange a temática da invisibilidade.  A relação entre vulnerabilidade e cegueira social, nos mostra que a sociedade está de costas para essa realidade que está presente em nosso dia-a-dia e contraditoriamente visível.

É na construção da identidade do sujeito em relação a sua invisibilidade social que reside o conceito de que a identidade é formada pelo auto-reconhecimento, sendo este construído pelo olhar do outro. “O estigmatizado e o normal são partes um do outro, se alguém pode se mostrar vulnerável outros também os podem”. (Goffman,1963,pag.146).

No cotidiano dos adolescentes presentes nos semáforos, percebemos que mesmo em meio a essa invisibilidade os mesmos conseguem conviver com essa realidade que estão inseridos, dado ao fato de ser uma válvula de escape para suas situações econômicas. Pois, torna-se uma das únicas alternativas para uns sobreviverem perante a família, enquanto para outros, torna-se uma maneira de atingir sua autonomia, pelo fato dessa autonomia simbolizar para ele uma possível melhora de vida.

Mesmo em meio a essa triste realidade muitos almejam a perspectiva de um futuro melhor. Seja por uma profissão, ou simplesmente, em ajudar a família e ser feliz. Ainda na perspectiva dessa realidade nos deparamos.

Como exemplo bem perceptível, temos o depoimento oral de alguns desses personagens dos quais estamos falando com menores entre faixas etárias de 12 à 17 anos,vindos de vários lugares seja, da capital ou do interior do Estado do Pará, para estudar e ao se depararem com a dificuldade muitas vezes financeira tendem a submeter-se  a este tipo de trabalho.

“Eu vim de Pírabas pra morar com minha tia e estudar, minha mãe mandava dinheiro de lá, mais ela ficou doente e eu tive que começar a trabalhar pra ajudar minha mãe, como não conseguir emprego o jeito foi improvisar. (Diego, 14 anos).

“Meus pais catam lixo lá no setor, a gente não tem dinheiro e eu venho limpar os carros das pessoas aqui pra ganhar uns trocados, tenho que tirar daqui uns dinheiro senão quando chegar lá meu pai me bate, chama nós de inútil e vagabundo. Tem que tirar dinheiro senão nós não come no outro dia.Até prefiro passar o dia todo aqui levando carão do que ficar em casa apanhando”. (Paulo, 12 anos). 

“Venho todo dia vender bombons aqui, minha mãe e meus irmãos também vendem por aí, no final do dia nos encontramos para juntar tudo o que nós ganhou. Eu prefiro ficar trabalhando e ajudar minha família, do que ficar indo pra escola, lá vou ficar com fome e minha família também, eu quero ajudar pra nós não passar fome.” (Carlos, 12 anos).

Os nossos são fictícios, já que os personagens são menores de idade. Para alguns esse trabalho é estressante e humilhante, mais tem que agüentar para conseguir alguns trocados, enquanto para outros é uma saída, uma “fuga”, onde encontram liberdade para si, já que não a encontram em suas casas.

Somos todos invisíveis, até que nos revelemos por nossas particularidades. O menor deve receber essa "particularidade", pelas chances que são dadas a ele, de se fazer ser percebido, como por exemplo, através de seu desenvolvimento afetivo e intelectual, tentando de alguma forma, chamar a atenção do outro que passa no momento, para que possa notá-lo. Ao conseguir essa atenção da qual ele persiste,  ele recebe um gesto sendo considerado simples para uns, mas para esses menores é um gesto constituído de importante manifestação gratuita de solidariedade e generosidade que um ser humano pode prestar ao alheio, entretanto em muitas vezes, essa forma de chamar atenção não é notada, a indiferença então ocorre, tornando essas crianças como seres insignificantes. Devemos modificar o olhar aos menores , percebendo que em algum momento de nossas vidas podemos nos passar por invisíveis. E sem os olhares que enxergam que estabelecem as ligações entre pessoas, não existiria o que chamamos hoje de sociedade.


Publicado por: Raissa Marlene de Melo Guedes

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