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Como o racismo estrutural se manifesta na sociedade e no sistema prisional

A identidade social do indivíduo no meio em que ele vive

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RESUMO

O presente artigo trata da Identidade Social, teoria que surgiu a partir da Psicologia Social. Trata de como ocorre a interação indivíduo e grupo que leva em consideração aspectos culturais, opção sexual, faixa etária , tipo de trabalho e relações familiares. Para muitos aborda elementos relativos ao surgimento das Nações. O enfoque ou questionamento gira em torno de como os recursos digitais e a economia globalizada veio a interferir na elaboração de novos contornos de identidade social.

Palavras-chave: Identidade Social. Modernidade. Era da Informação

ABSTRACT

This article deals with Social Identity, a theory that emerged from Social Psychology. It deals with how individual and group interaction occurs, taking into account cultural aspects, sexual orientation, age group, type of work and family relationships. For many, it addresses elements related to the emergence of Nations. The focus or questioning revolves around how digital resources and the globalized economy came to interfere in the elaboration of new contours of social identity.

Keywords: Social Identity. Modernity. Information Age

INTRODUÇÃO          

A identidade social espelha a maneira como se efetiva a relação entre o indivíduo e a coletividade em determinada estrutura social. Diante das transformações da era da informação percebemos conexões que afastam as pessoas do convívio social. Salas onde os componentes familiares não conversam e não se conhecem e vivem presos aos dispositivos móveis, conectados com outras pessoas através das redes sociais.

Surge então a necessidade de pesquisar sobre autores que abordam através da temática da identidade social as interferências econômicas, tecnológicas nas formas de compor os novos tipos de relações sociais, que estabelecem novos parâmetros de identidade social.

O problema consiste em como são formuladas as identidades sociais na era da informação(?) Partindo da ideia que a identidade social é um sentimento que faz com que o sujeito se identifique com algum grupo social, que possui elementos e características que faz com que ele se interesse e queira tomar parte daquele contexto. Esse processo também produz uma modificação na personalidade do indivíduo, na medida que compartilha valores e pensamentos com o grupo e incorpora muito daquilo que observa. Como ocorre a interferência do mundo digital nesse contexto?

Para responder a esses questionamentos partiremos da leitura, análise e reflexão de obras e artigos de sociólogos como Robert Castel, Richard Sennett e Deny Cuche com as seguintes obras respectivamente: Desigualdade e a Questão Social, O declínio do homem público e A noção de cultura nas Ciências Sociais.

O objetivo é perceber como as transformações da era digital interferem nas relações sociais, compondo novos parâmetros de construção das identidades sociais e comportamentos nos grupos sociais. 

DESENVOLVIMENTO

Em um primeiro momento precisamos identificar o que entendemos sobre Identidade Social, para tanto requisitamos a definição dada por ARAÚJO (2019): “A teoria da identidade social tem sua origem na psicologia social e busca compreender quais aspectos psicológicos unem um grupo e o que faz com que ele seja reconhecido enquanto tal por outros.”

A teoria da Identidade Social foi formulada pelos psicólogos sociais Henri Tajfel e John Turner, este último afirma que: As nações não se constituem da união de indivíduos. São cultural, social e historicamente impostas aos indivíduos pela socialização e pelo consenso que satisfaz ou não as necessidades individuais. TURNER (1977)

Segundo ARAÚJO (2019), Turner busca compreender quais os mecanismos psicológicos que fazem com que as pessoas formem uma identidade de grupo, uma identidade social:

A hipótese básica era a de que o comportamento do grupo dependia dos efeitos psicológicos da categorização na percepção e definições individuais. Esses estudos buscam compreender os efeitos do preconceito, dos estereótipos, da categorização, dos acordos internos dos grupos sobre os indivíduos fomentando sua união ou separação.

A identidade social consiste em um conjunto de significados que define alguém enquanto desempenha algum papel em particular em uma sociedade. Por exemplo, uma pessoa em seu ambiente de trabalho é professora, mas desempenha papéis diferentes como mãe, filha ou irmã. Assim as pessoas possuem múltiplas identidades pois pertencem a diferentes lugares, desempenham diferentes papéis e identificam um complexo de características.  “Para compreender o que constitui uma identidade social é preciso interpretar como essas múltiplas identidades se relacionam em cada indivíduo e como essas identidades se relacionam com o todo, a sociedade.” BURKE (2009, apud ARAÚJO,2019)

Percebe-se que a teoria busca entender a relação entre indivíduo e sociedade, assim como a forma como influenciam-se mutuamente. Não só o indivíduo como receptor das coerções da sociedade, assim como a sociedade não é uma coleção de indivíduos.  Portanto, as características individuais são um complexo formado pelas influências da sociedade e pelas escolhas individuais. Ao mesmo tempo, essa mesma sociedade não é uma construção abstrata, mas é fruto do conjunto de ações destes indivíduos. As teorias sobre identidade social buscam justamente compreender como acontece esta interferência.

Sendo a identidade social um sentimento que faz com que o sujeito se identifique com algum grupo social, pode estar ligada a pessoas que se identificam a partir de um país, raça ou religião. O grupo social pode possuir elementos e características que faz com que o indivíduo se interesse e queira tomar parte daquele contexto. Esse processo produz uma mudança na personalidade do indivíduo, na medida que compartilha valores e pensamentos com o grupo e assimila parte do que observa.

Segundo Deny Cuche, no livro A noção de cultura nas Ciências Sociais afirma que:

 “A identidade social de um indivíduo se caracteriza pelo conjunto de suas vinculações em um sistema social: vinculado a uma classe sexual, a uma classe de idade, a uma classe social, a uma nação. A identidade permite que o indivíduo se localize em um sistema social e seja localizado socialmente.

A nação pode forjar uma identidade social. Mas o país em si não constitui uma identidade social, afinal de contas, tudo que envolve a sua história e formação social, bem como cultural, é imposto por meio da socialização e também do consenso que pode satisfazer ou não as necessidades das pessoas.

Apesar das divisões, conflitos, sacrifícios e demais aspectos próprios dos sujeitos de cada nação, há um elemento que permite a criação de uma identidade única entre aqueles cidadãos. Esse elemento é a designação externa, isto é, a união entre indivíduos de um grupo não ocorre pela simples adesão, mas sim porque eles são tratados de maneira homogênea por outros.” (CUCHE, 1999 apud LOPES, 2019)

Assim a identidade social depende de múltiplos fatores como a opção sexual, a faixa etária, a classe social, a nacionalidade, a história, a cultura e depende da relação do indivíduo com o grupo, do grupo com o indivíduo e outros grupos entre si.

Na atualidade temos a interatividade, as redes sociais, a era da informação que alterou, ou transformou as relações sociais e por conseguinte as identidades sociais. Observamos a tendência ao individualismo e o consumismo que são faces do processo da globalização e da revolução informacional que atinge a economia, o mercado e principalmente o indivíduo, orientando os gostos e desejos de consumo para ser aceito pelo grupo.

A partir das últimas décadas do século XX, a estrutura social  das sociedades capitalistas vem sendo moldada  para absorver um novo modelo de indivíduo, que se realiza como cidadão por meio do consumo.

Segundo SENNETT, em entrevista para El País (2018),

“O capitalismo moderno funciona colonizando a imaginação do que nós consideramos possível. Marx já havia percebido que o capitalismo tinha mais a ver com a apropriação do entendimento do que a apropriação do trabalho. O Facebook é a penúltima apropriação da imaginação: o que víamos como útil agora se revela como uma forma de entrar na consciência das pessoas antes que possamos agir. As instituições que se apresentavam como libertadoras se transformaram em controladoras. Em nome da liberdade, o Google e o Facebook nos levam pelo caminho em direção ao controle absoluto. Devemos nos perguntar sobre o que se apresenta como real. Não é que tenha algo oculto, é que não queremos ver. Não queremos ver que o gratuito significa sempre uma forma de dominação.”

As mudanças podem acontecer em dois sentidos: primeiro com a redução da representatividade, dos direitos sociais e políticos dos indivíduos, que fica evidente principalmente na esfera do trabalho. E segundo na extensão dos direitos ligados ao consumo, com a ampliação da proteção do indivíduo como consumidor. Surge então a necessidade de reflexão e estabelecimento de processos educativos que reflitam sobre consumo e necessidades geradas pela mídia informatizada.

A necessidade de reflexão que na maioria das vezes só ocorre quando o problema se apresenta de forma a incomodar, a forçar uma mudança de comportamento.  Nos países como México, Brasil, latino americanos se apresentam com a complexidade de uma economia dependente, cultura e história mesclada ao racismo, desigualdade e preconceito, ou seja, é uma tarefa mais complexa questionar o acesso e compartilhamento de informações globalizadas.

Para SENNETT (2014), “a particularização cada vez maior da experiência social resulta em indivíduos fragmentados e, por vezes, desconectados da coletividade.”  Na verdade, a lógica de consumo produzida pela ação combinada das empresas e da indústria cultural cria nos indivíduos uma subjetividade que redunda apenas em consumismo desenfreado.  A própria indústria cultural informatizada, midiática elabora temas de conteúdo superficial, generalizante, e globalizado que passa a ser a referência social. Também o consumidor pode estabelecer laços sociais com outros consumidores e criar diferentes modos de intervenção na estrutura social.

Segundo SENNETT (2014), o imperativo da flexibilidade imposto por uma nova configuração econômica, o novo capitalismo é nocivo ao caráter pessoal. O lema “não há mais longo prazo” da nova economia coloca em xeque as noções de compromisso, confiança e lealdade. Percebemos então que produtos passam a apresentar baixo tempo de durabilidade e uso, forçando a troca, a venda, enfim o consumo. O comportamento de descarte ultrapassa a relação com o mercado e produtos e passa a fazer parte dos comportamentos humanos.  Evidenciando assim a mudança de parâmetros para a elaboração das identidades sociais.

Para CASTELLS (2013), “a questão social, hoje, coloca-se basicamente a partir da produção e distribuição de riquezas. Traduz-se pela erosão dos sistemas de proteção social, pela vulnerabilidade das relações sociais e pelo questionamento da intervenção estatal.” Onde a exclusão social pode também se caracterizar pela exclusão digital, nos países em desenvolvimento o problema é mais complexo, pois devem promover as mudanças e administrar os impactos da mundialização. Nesses países, as dificuldades de inserção ocorrem pela exclusão de grandes setores da população de maneira estrutural ligadas ao componente histórico e cultural.

Observa-se que nas últimas décadas o sucateamento dos serviços e verbas destinadas aos serviços para a população, trabalhadores perdendo direitos trabalhistas que foram construídos com muitas lutas. Essa relação reflete a retirada dos direitos e o poder das pressões das transnacionais globalizadas. Segundo SENNETT (2018), “o capitalismo tem a tendência de passar com grande facilidade do mercado ao monopólio. Com a repressão da concorrência, começam os grandes problemas e a desproteção. O monopólio induz a dominação.”

A concentração de poder e a monopolização levam ao aumento da diferença entre ricos e pobres, assim como a consequente marginalização e pauperização dos mais pobres, que anseiam ser consumidores, não percebendo a necessidade de obras de infraestrutura, saneamento básico, reciclagem, sustentabilidade ou investimentos complexos em educação e saúde.

O que temos é um quadro individualista, consumista, preconceituoso, discriminatório que desvaloriza a manifestação cultural de povos originais, locais que resultam de uma cultura própria ligadas às origens sócio-históricas de uma região- comunidade. O objetivo é uma identidade sócio cultural globalizada, que acima de tudo vender os produtos propagandeados através dos cookies (pequenos anúncios- propagandas de vários produtos) que borbulham cada vez que pesquisamos qualquer tipo de site. Lembrando a frase de SENNETT (2018), “o gratuitoa\ significa sempre uma forma de dominação.” Pois só vemos o que foi escolhido para ser mostrado como a verdade, o socialmente aceito que preferencialmente possibilite a venda de muitos produtos das transnacionais globalizadas.     

METODOLOGIA

A revisão bibliográfica com texto dissertativo expositivo utilizou como referência as obras de Robert Castel, Desigualdade e a Questão social; de Richard Sennett, O declínio do homem público, e a entrevista deste último sociólogo para o Jornal El País, onde o mesmo disseca uma sociedade em que as novas tecnologias escravizam mais pessoas do que nunca.

A pesquisa quanto a sua natureza é de cunho explicativo pois pretende justificar os fatores que motivaram a buscar materiais sobre a identidade social e as novas interações sociais mediadas pelos meios eletrônicos e internet. Procura relacionar a teoria com a prática utilizando-se dos dados observados.

O processo de investigação levou em consideração as palavras chave: identidade social, modernidade, era da informação em fontes que incluíam obras físicas, virtuais, artigos e periódicos em formato on-line.

A pesquisa quanto a apresentação dos resultados é qualitativa pois estuda aspectos subjetivos de fenômenos sociais e do comportamento humano.  Onde o fenômeno observado recorre ao tempo presente, levando em consideração aspectos da sociedade globalizada e os meios digitais elaborados pelas redes informacionais.

CONCLUSÃO

As conclusões sobre a identidade social na era da informação percebemos primeiramente que o processo de construção da identidade social mostra como ocorre a relação entre o indivíduo e a coletividade em determinada estrutura social, assim como o grupo passa a refletir as iniciativas dos indivíduos.

A teoria da identidade social teve origem na psicologia social e busca compreender quais aspectos psicológicos unem um grupo e fazem com que seja reconhecido por outros grupos. O conceito apesar de estar relacionado a ideia sobre nação (raça ou religião) se mostra mais complexo, visto que Nações não se constituem somente na união de indivíduos, que passam a obedecer a regras culturais, sociais e historicamente impostas pela socialização e consenso que visam o todo e não somente o individual.

A identidade social também pode vir da designação externa que é quando a união entre as pessoas de um grupo não se faz pela vontade de se unirem, mas porque são tratados de forma homogênea por outros. Outra forma de identidade social pode vir do grupo no qual o indivíduo se relaciona, é o caso do trabalho, da família, que mostra múltiplas identidades visto que pertencemos a lugares distintos socialmente.

O que se observa nas últimas décadas é o declínio da participação política e desinteresse na participação nas questões sociais. Em um culto ao individualismo, que se expressa na sua forma consumista ditado pelos meios digitais, redes sociais e a cultura digital. Onde podemos observar em um mesmo espaço, pessoas da mesma família onde cada um se isola no seu dispositivo móvel. Sabe-se da família pelo facebook ou grupo de whatss. Onde o diálogo foi substituído pelas curtidas.

Outra consequência dessas novas relações é a diluição das conquistas de direitos relacionados ao trabalho, ou mesmo a cidadania, quando o Estado se exime de questões básicas de educação, saúde e segurança. Com o fim do Estado do Bem Estar Social. Os interesses das transnacionais globalizadas que fomentam o consumismo e o mercado midiatizado lucram quando não precisam dar conta de direitos trabalhistas, sai ganhando com o trabalho on-line, que vira a nova forma de exploração que prega a liberdade.

A nova face capitalista da era da informação interfere ainda mais nas identidades sociais de países latino americanos que lidam com questões de dominação cultural que mescla racismo, preconceito e violência nas relações sociais e faz aumentar as diferenças sociais. Pois mesmo os miseráveis anseiam por ouvir as dicas dos influenciadores digitais ou apostar em sites de jogos. Pois enquanto se cultua o individualismo e consumismo, não há necessidade de pensar sobre problemas urbanos, saneamento básico, escola de qualidade, hospitais de referência e segurança.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Marcelle J. Frossard de. Identidade Social. In: Infoescola -Sociologia-identidade social, Disponível em:<https://www.infoescola.com.br/sociologia-identidade-social> Acesso em 10/06/22

CASTEL, Robert. Desigualdade e a questão Social. São Paulo: EDUC-Ed. da PUC SP, 2013

CUCHE, Deny. A noção de cultura nas Ciências Sociais. Bauru: EDUSC, 1999.

LOPES, Rodrigo Herrero. Identidade Social- o que é-tipos e exemplos. In: Gestão Educacional. (11/07/2019). Disponível em: <https://www.gestaoeducacional.com.br/identidade-social-o-que-e/> Acesso em 12/06/22

SENNETT, Richard. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. Rio de Janeiro: Record, 2014.

Sociologia em Movimento. Vários Autores. São Paulo: Moderna, 2016.

ZABALBEASCOA, Anatxu. Richard Sennett: o gratuíto significa sempre uma forma de dominação. El País, 19/08/2018. Entrevista disponível em: <https://brasil.elpais.com.br > Acesso em: 13/06/22


Publicado por: María Stella Sá Freitas

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