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AS ESPOSAS ESPIRITUAIS: A Relação entre Obsessão e Feminilidade

Análise sobre a relação entre obsessão e feminilidade, tendo como base algumas obras freudianas.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Introdução

Neste artigo, compartilharei as conclusões alcançadas por meio de uma pesquisa realizada durante o curso de mestrado. O objetivo principal dessa pesquisa foi problematizar a relação entre obsessão e feminilidade, tendo como base algumas obras freudianas. Para isso, considerei como ponto de partida o discurso de quatro psicanalistas contemporâneos que apontaram um aumento na apresentação de casos de mulheres obsessivas, atribuindo essa tendência às mudanças na configuração familiar e ao novo papel social da mulher.

Resumo

Esta pesquisa consistiu em uma revisão bibliográfica de textos freudianos, com o intuito de examinar a relação entre obsessão e feminilidade. Os psicanalistas contemporâneos indicaram um aumento no número de mulheres obsessivas, associando-o ao novo papel social da mulher. Ao investigar a afirmação desses autores, busquei verificar se o papel social ativo da mulher poderia ser uma razão para o crescimento da neurose obsessiva entre elas, considerando a concepção freudiana sobre a neurose obsessiva e as noções de ativo e passivo.

Abstract

This research consisted of a literature review of Freudian texts with the aim of examining the relationship between obsession and femininity. Contemporary psychoanalysts have indicated an increase in the number of women with obsessive traits, associating it with the new social role of women. By investigating the claims of these authors, the study sought to verify whether the active social role of women could be a reason for the growth of obsessive neurosis among them, taking into account Freud's conception of obsessive neurosis and the notions of active and passive.

Desenvolvimento

Durante a revisão bibliográfica, observei que a manifestação da neurose obsessiva não está ligada ao gênero, mas sim ao funcionamento do aparelho psíquico e à atividade relacionada à pulsão, independente do sexo. Essa conclusão permitiu uma revisão da concepção freudiana sobre a neurose obsessiva e sua aplicabilidade nos dias atuais. Em suas obras, Freud apresentou diversos casos de neurose obsessiva em mulheres, questionando a ideia de que a neurose obsessiva pertencia mais ao âmbito masculino e a histeria ao feminino.

A partir da análise do século XIX, verificou-se que, mesmo antes da conceitualização de Freud, as mulheres já apresentavam quadros de neurose obsessiva, porém, na época, esses casos eram atribuídos a "loucuras maníacas e depressivas". Com a contribuição de Freud, a neurose obsessiva passou a ser reconhecida como uma forma de neurose, e não mais como um quadro de psicose.

No entanto, o diagnóstico da obsessão em mulheres ainda trazia a marca da época, quando médicos como J. P. Falret e Legrand Du Saulle associavam a "loucura da dúvida" ao universo feminino. A análise de Ribeiro (2005) mostra que as mulheres eram mais frequentes nos consultórios psiquiátricos, buscando ajuda para suas obsessões. Essa observação histórica levanta a questão sobre como diferentes correntes da psiquiatria e psicanálise interpretam a obsessão e suas manifestações no campo feminino.

Diferenças na Manifestação de Neurose Obsessiva entre Homens e Mulheres

Neste estudo, o objetivo central foi compreender se existem diferenças na manifestação da neurose obsessiva entre homens e mulheres, problematizando assim a relação entre obsessão e feminilidade. Ao analisar as premissas freudianas sobre a neurose obsessiva, destaca-se que Freud sempre considerou a atividade e passividade da pulsionalidade, não levando em conta a atividade e passividade dentro de um contexto social, como o comportamento do indivíduo em seu grupo comunitário. A metapsicologia freudiana enfatiza que o fator determinante é a atividade relacionada à pulsão, independentemente do gênero em que se manifesta, e isso se tornou um elemento relevante na compreensão dessa estrutura clínica.

Papel de Freud no Atendimento de Mulheres Obsessivas

Através da análise dos textos freudianos, constatou-se que Freud, em sua prática clínica, atendeu várias mulheres obsessivas, o que é um elemento importante para refutar a concepção, presente no século XIX, de que a neurose obsessiva pertenceria ao campo das "loucuras maníacas e depressivas". Tal argumento também foi reforçado pelo estudo de Ribeiro (2005), em que a autora aponta para a mudança do diagnóstico da obsessão após a contribuição de Freud, que a reconheceu como uma forma de neurose, não mais vinculada ao campo das psicoses. Essa mudança de paradigma é fundamental para a compreensão contemporânea da neurose obsessiva em mulheres.

Reflexão sobre as Afirmações dos Psicanalistas Contemporâneos

As afirmações dos psicanalistas contemporâneos - Chemama (1999), Costa (1999), Kehl (1999) e Santoro (2006) - que apontam um aumento da neurose obsessiva em mulheres na atualidade em relação à época de Freud, foram contrapostas com os achados deste estudo. Essas afirmações sugerem uma relação direta entre o papel social ativo da mulher e o crescimento das manifestações obsessivas. No entanto, a partir da perspectiva freudiana, conclui-se que a manifestação sintomatológica obsessiva não está ligada ao gênero, mas sim ao funcionamento do aparelho psíquico, em que a atividade da pulsão desempenha um papel preponderante. Assim, espera-se que este trabalho tenha contribuído para compreender a atualidade da concepção freudiana sobre a neurose obsessiva, que não se restringe ao gênero, mas está intrinsecamente ligada à vida pulsional do indivíduo.

Conclusão

A pesquisa realizada permitiu concluir que a relação entre obsessão e feminilidade é complexa e vai além da influência do papel social da mulher na atualidade. A concepção freudiana da neurose obsessiva não a limita ao gênero, enfatizando a atividade relacionada à pulsão como fator determinante. Dessa forma, é necessário compreender as manifestações obsessivas no universo feminino e masculino considerando a metapsicologia freudiana.

Essa análise histórica também revelou a evolução do diagnóstico da obsessão, que passou de "loucura" a uma forma de neurose. No contexto atual, a investigação sobre a relação entre obsessão e feminilidade permanece relevante para a compreensão do sofrimento humano e para a busca de intervenções terapêuticas adequadas. O estudo contribui para o desenvolvimento de novos saberes e aprimoramento da assistência em saúde mental, promovendo uma visão mais abrangente e integradora das manifestações obsessivas em homens e mulheres.

Bibliografia

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Publicado por: João Paulo dos Santos

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