Papa João Paulo I: um pároco de aldeia
Você conhece sobre o Papa João Paulo I? Clique e confira um pouco de sua história.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Um simples catequista ou pároco de aldeia. Assim João Paulo I se definiu numa das poucas audiências públicas de um pontificado que durou apenas 33 dias. A figura simples, humilde e sorridente do papa que assumiu o sólio pontifício em 26 de Agosto de 1978. Nascido Albino Luciani na província de Belluno, norte da Itália, assumiu o comando da barca de Pedro após a morte de Paulo VI. Desde bispo, Luciani carregava consigo o lema Humilitas (Humildade) e uma frase que costumava citar em suas homilias: Servite Domino in laetitia (Servi ao Senhor com alegria!). Afável e sensível, Patriarca de Veneza, representava um candidato fortíssimo no conclave, embora seu nome nunca fosse citado abertamente pela imprensa e muito menos pelos seus colegas cardeais. O cardeal espanhol Vicente Enrique y Tarancón, após a eleição, confidenciou a um jornalista que no momento da contagem dos votos e da confirmação, Albino Luciani permaneceu sentado, quase a esconder-se entre as faustosas vestes escarlates. Quando os escrutinadores questionaram se aceitava sua eleição canônica, ele não hesitou. ‘Como te chamarás?’ O papa baixou a cabeça, pensou e respondeu: João Paulo I. Os especialistas supõem que Luciani venceu com 101 votos, 111 eram os cardeais eleitores; uma maioria incontestável.
O número de votos representava uma confiança do Sacro Colégio naquele sujeito simples. A partir dali ele comandaria a igreja, muito provavelmente seguindo os preceitos de João XXIII e Paulo VI, homenageados na escolha do seu nome; o primeiro o nomeou bispo e o segundo cardeal da Igreja Católica. Por sua simplicidade, era chamado carinhosamente de pelos italianos de Gianpaolo. Seu sorriso frequente e incansável, como razão de um humor vivíssimo e cálido fez com que o apelidassem de Papa Sorriso. À tarde, após a eleição, o papa falou aos fiéis da varanda central da Basílica de São Pedro comentando sua eleição. Falou sobre a surpresa de ser eleito papa, da homenagem aos papas predecessores e de sua sincera devoção a eles. Foi o primeiro papa depois de Clemente V (1305-1314) a recusar uma coroação formal. Não usaria a tiara papal. Deparado diante dos inúmeros títulos oficiais do papa, decidiu que a partir de então somente seriam usados bispo de Roma, Sucessor de São Pedro e Servo dos Servos de Deus.
Domingo, 10 de Setembro, o papa fala aos fiéis da janela de seus aposentos. É um dos momentos mais controversos do seu pontificado. O papa diz: “Estamos sujeitos, por Deus, a um amor eterno: é Pai; mais que isso, é Mãe!”. O improviso de João Paulo II foi discutido pelos cardeais e altos prelados pelo risco de má compreensão dos fiéis mais simples. Na verdade, Luciani não colocava em discussão a sexualidade de Deus, mas o seu sentimento em relação ao homem com a metáfora do amor materno. Os teólogos e intelectuais laicos começam a criticar os discursos do papa por sua demasiada simplicidade. Estão acostumados à posição de Paulo VI, um homem versado na área do conhecimento, teólogo, intelectual até mesmo nos gestos. O papa é sempre embaraçado. Não está acostumado à aura de realeza do pontificado, das imposições do pontificado, da ideia de um papa isolado e titânico, quase um monarca a fugir do mundo. Sorri, mas já não é mais o mesmo.
Na noite de 28 de Setembro faz sua última refeição ao lado dos colaboradores e do cardeal secretário de estado Jean Villot. Passa algumas horas a trocar ideias com o prelado após o jantar e depois parte para os aposentos papais para o descanso. Este que seria o descanso eterno. A luz do quarto não se apaga. Os transeuntes que circulam pela Praça de São Pedro às 11 horas da noite se surpreendem; era notável que naquele horário o papa já estivesse dormindo. Às cinco horas da manhã, no horário em que o papa se levantava, a Irmã Vincenza levou o café. Bateu várias vezes na porta. O papa sequer respondeu. A senhora abriu a porta e somente aí percebeu que João Paulo I estava sentado, recostado na cabeceira da cama, como os óculos a escorregar pelo nariz e no rosto um traço daquele sorriso que havia encantado a igreja em tão pouco tempo. Nas mãos tinha as folhas duma homilia. Quando suas sobrinhas e seu irmão Edoardo Luciani chegaram puderam constatar o semblante do falecido. Um cardeal, fazendo referência ao epitáfio de Leão XI, recita uma frase em latim: magis ostentus quam datus. Foram poucos os dias, mas grandiosos os momentos. E a este colunista que vos escreve a certeza de que a Igreja Católica está seguindo os caminhos almejados por Albino Luciani, um papa humilde com alma de pároco.
Mailson Ramos é estudante de Relações Públicas e autor de Papa João Paulo II Comunicação e Discurso.
Publicado por: Mailson Ramos
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