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"O Medo da Solidão"

A frustração é causada pelo desejo de ter o que não tenho e, pelo o que eu gostaria de ser e não sou.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Umas das muitas características negativas do nosso tempo é o temor exagerado da solidão. O medo de ficar-se só e o pavor da rejeição. Nunca as pessoas gastaram e se desgastaram tanto, na ânsia de buscarem companhia física. Mesmo com todo esse empenho e gastos materiais e afetivos, nunca os seres humanos se sentiram tão só, vazios e desamparados. Festas, reuniões, associações, excursões, passeios e diversas outras formas de lazer e acontecimentos sociais são programados e praticados com freqüência, a fim de se afugentar dos corações e das mentes, o espectro da solidão.

Milhares de pessoas se acotovelam em ambientes festivos, cinemas, teatros, ruas, calçadas, praças, barzinhos, botecos, restaurantes, jogos, televisão, novelas, carnaval, além de outros locais recomendáveis ou não; onde buscam escapar de seus vazios existenciais, na ilusão da bebida, drogas e no falso amparo e aplausos dos outros.  Outras tantas se sujeitam e se submetem às uniões e acasalamentos negativos e sofridos, somente para não ficar sozinhas, darem satisfação aos demais e demonstrarem que são capazes de atrair alguém. O temor da reprovação alheia é uma constante na atualidade. Essas uniões por interesse ou necessidade são muito negativas, pois logo sobrevêm os atritos e o reconhecimento da superficialidade conjugal, com enormes prejuízos psicobiosocial para os envolvidos e seus descendentes, cujo futuro estará comprometido, com  a desestruturação do lar. Muitas pessoas são atendidas por psicólogos e médicos, cujos casamentos ou acasalamentos se efetuaram porque essas pessoas se sentiram “velhas”, “rejeitadas”, “incompetentes”, por estarem sendo criticadas por não terem ainda se casadas, sentindo-se solitárias e incompetentes para a conquista de um real relacionamento amoroso, etc.

Geralmente, nesses casais, as mulheres são a parte mais prejudicada, pois se submetem a vexames e, não raro, à ameaças e à agressões físicas de seus companheiros. O curioso é que apesar dos maus tratos a que são submetidas nesses relacionamentos doentios, muitas delas não se animam a tentarem uma nova forma de acasalamento; as exceções ficam por conta das que tem bom nível cultural e financeiro. Muitas alegam já terem perdido muito tempo na vida e agora não se disporiam a procurar novo parceiro. Vale ressaltar que em muitos casos sofrem carência e dependência financeira, justamente porque não se prepararam, intelectualmente para alcançarem melhores condições econômicas e sociais. Não desenvolveram os seus intelectos e não lapidaram suas inteligências, ou por ignorância dos seus pais, que não lhes valorizaram o “saber” ou por não terem tido condições financeiras para adquirirem o conhecimento ou, geralmente, terem dado mais atenção e cuidados ao exterior de seus corpos que às suas mentes.

Desta forma, sem conhecimento e sem cultura, ficam dependentes de subempregos e com poucas chances de se tornarem independentes. E, assim, serão escravas de seus companheiros, de seus patrões e de suas paixões, com pouca coragem de deixá-los, mesmo subjugadas e sofrendo, por se sentirem incapazes de sobreviverem com as suas escassas condições financeiras. É claro que estamos nos referindo a pessoas de poucas posses e baixa escolaridade; embora haja exceções para ambas as classes sociais; pessoas ricas e cultas, sujeitas e submetidas a relacionamentos negativos e doentios, por diversos motivos como idade, dependência sexual, dependência à beleza física, medo da solidão, estados psicopatológicos, defeitos físicos, etc. Poderíamos citar muitos exemplos de pessoas em situação de penúria física, moral e mental, com graves conseqüências para si, para a família e para o social. O número de solitários e de suicidas aumenta consideravelmente e a depressão tornou-se um fenômeno freqüente e universal. A angústia se apodera dos seres humanos, na proporção da multiplicidade e diversidade de suas tentativas de serem felizes, principalmente com as outras pessoas. Diversas formas artificiais de felicidade foram criadas a fim de afugentar o fantasma da solidão e do abandono (ou da rejeição). O álcool, o sexo, cães, gatos, o consumismo desenfreado e o uso de incontáveis fórmulas químicas de drogas para colorirem artificialmente as mentes imaturas e vazias, notadamente os de menos idade.

O consumismo exagerado de bens materiais é uma falsa e doentia tentativa de preenchimento desse vazio existencial que hoje atinge a maior parte da população mundial. Os homens (todos os humanos) investem nos outros a esperança de eles os fazerem felizes. Acontece que devido a grande ansiedade pelos resultados desse investimento, leva-os a uma forte expectativa de recebê-la do próximo, gerando exigências desmedidas que geralmente o outro não consegue atender. Dependendo de muitos fatores, inclusive da idade, cada experiência negativa (e frustrante), esgotam-se os seus mananciais de “doações”, desejando e esperando somente o retorno desse investimento; quer a níveis consciente e/ou inconsciente. É claro que a felicidade tão almejada tem muita relação com a pessoa do sexo oposto. Esta é a programação natural, ditada e traçada pelas forças instintivas biológicas; não fosse assim, não teríamos sequer prosperado como Humanos. O “crescer e multiplicar-se” não é só um ditame divino; é o destino genético de todos os animais e vegetais.  Entretanto, a fonte maior da felicidade encontra-se dentro de cada pessoa, na riqueza e diversidade da sua vida mental; na criatividade e utilidade de seus atos positivos a si, e aos demais seres. A dificuldade está na razão de, quase todos buscarem fora essa felicidade, como se ela fosse alguma coisa extra; algo como uma dádiva do destino; ou, ainda, uma oferenda dos deuses.

A felicidade, que não é mais que o viver adequado do indivíduo no seu meio, é fruto de seu mundo interior, de sua formação, educação, bom senso, maturidade e alguns poucos “rasgos” de sorte. Há homens que, sublimando os poderosos instintos naturais, conseguem a felicidade através da espiritualidade, das artes, da ciência e da religião. O que é raro e difícil de acontecer em nossos dias, devido aos sedutores e atraentes apelos do consumismo, da futilidade e do “pornossexismo” ensinado, divulgado e condicionado pela televisão, internet, filmes e diversos outros veículos que condicionam todos, desde criancinhas até aos mais velhos, à promiscuidade libertina, descarada, escancarada e desenfreada que não encontram limites ou resistência em qualquer autoridade ou em quem quer que seja. As pessoas mental e espiritualmente evoluídas parecem não se importarem ou sofrerem com o isolamento e, ao contrário, muitas vezes até o procuram. O está só é um fato inevitável e inerente à condição humana.  A experiência existencial é um fenômeno inexplicável, individual, única, intestemunhável e, sobre tudo, não-solidário. Ninguém é capaz de sentir, concretamente, a dor do próximo, por mais próximo que ele nos seja ou esteja. O máximo que podemos fazer é avaliar a angústia e o sofrimento alheios. Hipotecar solidariedade é o máximo que podemos e devemos fazer. Cada Ser Humano é um mundo à parte; que não se compartilha com ninguém. Nascemos só e, só, morreremos.  Não tem nenhuma alternativa ou desculpa.  Esta é a maior de todas as provações e frustrações. Nenhum Ser humano vem ao mundo, mentalmente acompanhado; nem mesmo os gêmeos univitelinos. Não existe comunhão mental, a não ser como expressão romântica e literária.

O universo da Mente é infinitamente vasto, complexo e, até agora, pouco explicado e entendido. A vivência de cada Ser  é única, indivisível, intransferível e impartilhável.  A ontogênese nos ensina que, desde a sua origem até  o final de sua existência o ser humano é mentalmente só e sozinho caminhará. Este é o destino do homem. Mesmo quando gera muitos descendentes, um casal sente que não os criou para si; mas, para o Mundo. E, este fato está cada vez mais desumano, com os filhos abandonando os pais, seduzidos pela miríade de atrações do mundo fantasioso do sexo, das drogas, da riqueza fácil e da beleza exterior fugaz, propagadas pelos filmes, pela televisão, cinema, revistas e outros condicionadores das mentes infantis e dos imaturos de qualquer idade, raça, classe social, cor, seita e religião. Os filhos seguirão os seus próprios caminhos e os pais estarão novamente sozinhos, como no princípio. É perfeitamente genético e biológico que os pais queiram, inconscientemente, manter os seus filhos em torno de si, a fim de tê-los em sua companhia até o final de suas vidas. Isto é aceitável e faz muito sentido, considerando os aspectos psicológicos, genéticos e biológicos. Mas, este é outro assunto que no momento foge da pretensão deste Trabalho. Porém, apesar da solidão psicológica e desamparo biológico que nos esperam no inevitável final da existência; temos meios para minimizar esse estigma e dilema existencial. O segredo está no enriquecimento interior, com o cultivo da sabedoria criadora que é o único espantalho das vicissitudes da progressão etária. Albert Einstein, em uma de suas últimas entrevistas, afirmou que era feliz porque não precisava de ninguém. O grande cientista buscava o isolamento que lhe proporcionava paz, genialidade e criação. Einstein, por si próprio se completava; dependia pouco dos demais, devido ao seu vasto enriquecimento interno que lhe proporcionou um vigoroso consciente mental, capaz de controlar e neutralizar os impulsos primários e animalescos do seu Inconsciente. Este controle é raro em nossos dias quando a maioria dos humanos é condicionada e levada a se comportar imitando os atos perniciosos e negativos de bilhões de imaturos, doentes e degenerados do mundo inteiro, cujos exemplos nocivos nos são mostrados e condicionados pelos meios de comunicação, principalmente pela televisão e seus “descendentes” e “ascendentes”, como os vídeos, os filmes, revistas, alguns tablóides, internet e certas peças teatrais.

Ao se sentir sábio e criativo, o indivíduo torna-se seguro e não teme o “encontro consigo mesmo” nos inúmeros e inevitáveis momentos de solidão e desamparo que a vida nos reserva. Quando a pessoa é vazia, carente de conhecimento e de cultura, não dispõe do poder criativo que uma mente repleta de conhecimento pode proporcionar-lhe.  Ela sente necessidade freqüente do amparo alheio, é uma pessoa dependente. Esta dependência provoca diversos comportamentos que buscam assegurar a sua estrutura e a sua estabilidade psicofísica.  Isto, é muito difícil de se obter, considerando que a segurança interna é fruto de um processo mental que se relaciona com o conteúdo da mente, num dinamismo intenso desde a vida intra-uterina até a morte do indivíduo. Quando esta dinâmica mental está empobrecida, principalmente por carência de conhecimento (este, é o alimento da mente), a pessoa assim carente não terá um comportamento adequado à sua própria sobrevivência; não será feliz e prejudicará, também, os semelhantes, o meio ambiente e toda sociedade.  Neste estágio mental, o vazio existencial se estabelece, forçando a pessoa a valorizar mais as coisas externas como o corpo, os adornos, o sexismo, o exibicionismo corpóreo e material, o insaciável consumismo, as fugas alucinógenas e toda espécie de subterfúgios neuróticos e, até psicóticos. Neste ponto, como é costume nosso, citaremos  exemplos clínicos de casos que demonstram, na prática, a realidade do que afirmamos, com o fim de esclarecer àqueles que costumam culpar o “destino”, a “má-sorte” , o “sistema”, o “Governo” e os “outros”; por suas mazelas existenciais.

-Há tempos, uma jovem mulher de 29 anos, procurou o tratamento psicoterápico com o seguinte histórico de vida:

Filha de uma família de classe média, desde mocinha utilizou a sua beleza exterior  para conquistar e  variar de parceiros, com os quais teve muitos prazeres e …decepções. Foram vãos os apelos, súplicas e esforços de seus pais para que estudasse e se dedicasse ao cultivo de sua inteligência, espiritualidade e riqueza interior. Seu interesse limitou-se ao sexo, às futilidades físicas exteriores, consumismo de cosméticos, acompanhamento de novelas e outros lixos mostrados na maioria dos programas televisivos. Variava de namorados a fim de exibir o seu poder de sedução. Carros e motos barulhentos e exibicionistas eram a sua  rotina, em passeios, churrascos, festinhas, barzinhos, botecos, balados e outros “programas” com os seus amigos e admiradores antropófagos. Aos 18 anos já tinha “passado pelas mãos” de vários desses “divertidos”, “despreocupados” e “festivos” “caras legais”, como costumava chamá-los. O último desses “gatos”, após abandoná-la, saciado, deixou-lhe muitos “arranhões” e um filho indesejado. A família, temendo as conseqüências de um provável aborto, aceitou o fato, com muitas brigas e críticas constantes por seu comportamento. Continuou com a mesma forma de vida, se divertindo como antes, deixando o filho entregue aos cuidados e despesas dos pais. Tempos depois, começou a ser rejeitada pelos homens, porque o seu corpo já dava sinais de decadência na epiderme, nas suas “curvas”, no seu exterior e no organismo. A família continuava a reclamar-lhe os encargos da criação do filho. Ela, improdutiva e incompetente para prover a sua própria subsistência; sentindo-se não mais atraente e desejada pelos “homens” do seu meio e percebendo a perspectiva da solidão que se avizinhava, aceitou a companhia e a coabitação de um homem de nível mental e social inferior ao seu, para dar satisfação à família e aos outros, bem como lhe proporcionar companhia, apoio afetivo e estabilidade emocional.

Pouco tempo durou o seu sonho de ter uma companhia e não se sentir solitária. O companheiro passou a ter ciúme exagerado e a rejeitar o filho que não era seu, lembrando-lhe, constantemente, que ela já tinha sido “muito usada” por outros; que ela já havia “andado” com homens ricos e que não quiseram “nada” com ela, etc. Agredia-lhe com freqüência e não admitia qualquer interferência ou ajuda da família dela, apesar das dificuldades financeiras e emocionais que atravessavam. Ele se sentia inferiorizado diante da boa situação financeira da sua família, principalmente com relação a um irmão dela que era engenheiro. Este casal permanece com intensos sofrimentos físicos e mentais que desestruturam as suas pobres existências. Mesmo assim, ela continua com o companheiro, acreditando que não encontrará outro homem que a queira, no estado de decadência estética, física e mental em que se encontra.

Neste exemplo, que se equipara a milhares de outros semelhantes que sabemos e outros tantos que desconhecemos. Nele, podemos tirar duas importantes lições de vida. Uma delas é a pobreza cultural que levou à decadência mental  e física dessa mulher, impossibilitando-a de fazer escolhas positivas e úteis para alcançar a verdadeira Homeostase; ou seja, o equilíbrio básico,natural e necessário a uma vida digna e edificante para si e para os demais. Assim, desequilibrada, sente-se incapaz de atitudes positivas e de novas procuras, com receio de novos fracassos. Desta forma se submete ao sofrimento, à desestruturação física e mental (e de seus familiares), permanecendo condicionada a uma parceria negativa e perigosa. Outro ensinamento que este caso nos mostra é que seu parceiro, apesar das diferenças sociais e financeiras entre eles, suas mentes têm algo em comum: a falta de conhecimento, cultura e saber.  Se ele tivesse cultivado a sua mente, embelezando o seu interior com o conhecimento, instrução e cultura; estaria  em melhores condições para conseguir outra profissão que fosse mais segura, gratificante e lucrativa; possibilitando uma vida mais agradável e segura para si, para ela e para os filhos. Segundo informações prestadas pela família do seu companheiro, ele havia recebido incentivo e razoável condição financeira para estudar e progredir intelectualmente. Mas, ele nunca demonstrou interesse em aprimorar o seu intelecto, preferindo (assim como ela) os programas onde a rotina e tema eram sexo, bebida, farra e outras ilusões frustrantes e passageiras. A necessidade de aprimoramento mental, através do estudo, do saber e do conhecimento é de importância vital para a sobrevivência em uma sociedade  onde a hipocrisia é generalizada, embora todos neguem isso.

Perguntem aos que exercem profissões ou trabalhos que exigem mais os músculos e a destreza física, como pedreiros e ajudantes, garis, motoristas, lixeiros e limpadores de esgotos e muitos outros que mal recebem cumprimentos daqueles que eles servem em serviços essenciais à saúde, à segurança e ao nosso bem-estar. Quanta solidão não deve sentir esses importantes agentes do bem-estar social, cumprindo as suas missões sem o devido reconhecimento e acolhimento popular. Agora os comparem com o  respeito, subserviência e admiração que a maioria tem para com médicos, juízes, engenheiros, deputados, etc. É fácil avaliar-se o grau de hipocrisia, injustiça e desumanidade de muitos que se dizem humanistas, democratas, bondosos e defensores dos direitos humanos. Vê-se, pois, o grande  valor do conhecimento, da cultura, do saber e do enriquecimento mental. Exemplo notório disso é  o que se passa com os policiais que, apesar de a eles recorrermos nos nossos momentos de insegurança e perigo; nem sequer  são cumprimentados quando os encontramos nas ruas, expondo as suas próprias vidas por nós e recebendo ínfimos salários. Esta é a nossa invertida e hipócrita sociedade que admira,bajula e idolatra o inútil e negativo e rejeita,desconhece e desvaloriza o positivo e útil. Vamos dar outro exemplo que demonstra os transtornos causados por uniões motivadas pelo medo da solidão.

-Um homem de 50 anos, que apesar de gozar de uma boa situação financeira, era pobre de informações culturais. Tal pessoa “comprou” uma esposa a fim de não mais ficar sozinho e “cansado” de aventuras  sexuais passageiras. O casamento foi efêmero porque as personalidades do casal eram diversas, principalmente porque a mulher, sendo bem mais nova, ainda queria “aproveitar” a vida; conforme afirmara. Enquanto ele estava “cansado” de aventuras; ela queria mais “aventuras”. Da mesma forma que o primeiro exemplo acima, este homem  sofre ( e faz sofrer) no seu relacionamento conjugal, mas teme “partir para outra”, receando não dispor mais de tempo para uma nova busca e, assim, acomoda-se a uma situação negativa e maléfica,  com medo de vir a ficar só. Por certo as suas condições mentais não lhe asseguram a tranqüilidade para enfrentar o seu vazio existencial, caso venha a ficar sem uma companhia física. É preciso lembrar que nunca se está sozinho quando se tem um “EU” estruturado, rico de conhecimento e criativo. Não é necessário que se “seja um Einstein”; todos têm essa capacidade lactente, basta que cultivemos mais o nosso “interior” (Consciente + Inconsciente), valorizando-o tanto quanto o fazemos com o nosso “exterior”. As pessoas que são esteticamente “bonitas” (fachada exterior) têm muita dificuldade para cuidarem de seus conteúdos mentais (interior); pois, elogiadas e bajuladas pelos outros, não tem tempo para o aprimoramento intelectual, já que este demanda cuidados e despesas com a manutenção dessa “beleza” externa, antes que ela se acabe com a idade, acidentes,doenças etc.  Destituídas dessa “beleza” exterior, a tendência é de que essas “beldades” se deprimam e se perturbem de forma psicobiológica, na ausência de admiradores, bajuladores e outros oportunistas sexuais. 

São muitos os exemplos de desestruturação mental e física frente à solidão ou da expectativa de se vir a ficar só.  Escreveríamos muitas páginas se fôssemos citar os casos clínicos que ouvimos e lidamos relativos ao medo de encarar o afastamento das pessoas; ou seja, o receio de se sentir rejeitado, em qualquer idade. Ironicamente, esse temor é muito encontrado naqueles que têm “muito tempo pela frente”, como as pessoas novas em idade. Há pouco tempo, dizia-me uma dessas de 18 anos, que estava cansada desta vida e que vivia solitária, apesar dos muitos encontros com os amigos e colegas de turma. Mesmo entre os mais idosos, ainda que não tenham tido tempo; não foram motivados ou não tiveram interesse para enriquecerem o interior psicológico, encontram condições mentais para lidarem com a solidão natural dessa fase. A não ser que suas vidas tenham sido bastante inúteis ou negativas. Como já citamos antes, os caminhos reais e seguros para proporcionarem uma estrutura mental capaz de saber enfrentar co naturalidade e vigor a solidão presente ou futura (esta, é inevitável a todos  humanos);  são os caminhos do Saber, da Cultura e do Conhecimento. As vias do conhecimento, da aprendizagem e da sabedoria são as que nos levam à maturidade mental e à inteligência, que todas as pessoas normais têm, mas poucas a aprimoram e a cultivam.  Esses caminhos que nos dão a estabilidade emocional, a paz e a felicidade, são os mais negligenciados em nossos dias.

Atualmente, cada vez mais se mostra e se valoriza a aparência física e a superficialidade das coisas; ao mesmo tempo em que se demonstra, negligencia-se e  se desvaloriza os atributos essenciais da existência, que são a inteligência, a riqueza espiritual, mental e psicológica. Se observarmos analiticamente  os milhares de rostos que cruzam, por nós, diariamente, nas ruas, praças, avenidas, nas salas de aula, nos locais de trabalho, etc., percebe-se  o vazio existencial; a preferência e a atração pelas coisas tolas,efêmeras,volúveis,materiais e superficiais. A essência da vida, que são  a Mente e o Espírito foi há muito, rejeitada, escorraçada e até odiada por quase todos.  A riqueza e beleza do conteúdo mental e da maturidade espiritual foram e são alcançadas por uma minoria de Homens como o já citado Einstein, Ghandi, Madre Tereza, Irmã Dulce, Freud, Sabin, Fleming e outros poucos da atualidade, que, embora humildes e esquecidos souberam e sabem dignificar a nossa Espécie, com o gênio,trabalho,dedicação e modéstia. Todos eles tiveram ou têm um cérebro anatomicamente igual ao de todos nós. Possuíram ou possuem  uma mente rica de conhecimentos, humanismo e saber, que tanto bem nos fizeram e fazem. Mesmo sem o gigantismo intelectual, algumas desses citados acima, se tornaram ricos, interiormente, graças ao dever cumprido como pais, cidadãos e como Pessoa.

Quando o indivíduo não aprimora o seu intelecto  por meio do conhecimento, do estudo, da observação da natureza e da pesquisa; permanece bruto, incompetente, imaturo e inseguro; o que é um risco para ele e para todos que com ele convive. A dependência, a alienação e a insegurança, tão comuns nos dias atuais; são os sintomas principais que atormentam a existência de  bilhões de pessoas no mundo. Nelas se estabelece o vazio existencial, por pressentirem a própria nulidade de suas vidas, causando  frustração que é a causa da agressividade e violência constantes e crescentes em todas as sociedades atuais. Vale relembrar que a frustração é causada pelo desejo de ter o que não tenho e, pelo o que  eu gostaria de ser e não sou.  Quando pobre, interiormente, o indivíduo não tem criatividade, necessitando ou dependente da ajuda dos outros para se conduzirem pela vida. Nessas circunstâncias a pessoa foge do encontro consigo mesmo, evitando ao máximo os momentos de solidão. São estes momentos que induzem a pessoa à meditação, que é o voltar-se para dentro de si. Alguns, por sua nulidade, temem tanto o futuro que chegam a negar ou diminuir a sua idade, tentando enganar a si mesmos. Ora, se a pessoa se encontra vazia, sem conteúdo e alienada ( o que acontece com a grande maioria hoje),  cedo ou tarde perceberá a inutilidade e banalidade de sua existência, o que é uma verdadeira “traição”  à essência da vida, cuja criação lhe dotou de um órgão maravilhoso,supremo,ímpar,único e transcendente que é o cérebro. Com uma capacidade quase infinita de gravar acontecimentos, de estocar e manipular dados suficientes para capacitar qualquer pessoa a ter uma vida plena, feliz em comunhão com os outros e com o planeta. A capacidade do cérebro é tão grande que já se postulou ser ele capaz de reter mais informações que todas as bibliotecas do mundo. Como o órgão gerador da mente, ele controla todas as atividades vitais, dentro e fora do organismo.

De fato, todos os acontecimentos do mundo estão sob o controle do cérebro, com exceção dos eventos da natureza. Quando ele está carente de informações a sua produção mental se torna pobre e deficiente, tornando o seu portador vazio, existencialmente, independente de ele ter riqueza material, poder ou beleza física. Daí, o grande receio da solidão, do isolamento e da rejeição, sentidos pela maioria das pessoas, principalmente entre os mais novos e mais velhos em idade, quando se encontram mental e espiritualmente vazias. Qualquer perda de amizade ou de rejeição amorosa, logo é sentida como uma catástrofe que os leva ao sofrimento, ansiedade e à depressão. A pessoa sente angústia, ansiedade, somatização e  grande desejo de logo procurar  outra amizade, companhia e parceiro, a fim de não pensar no próprio “Eu”; isto é, foge de si mesmo com receio de “encarar” a própria nulidade existencial. Essa pressa de sair da solidão é devida, também, à necessidade de dar satisfação aos outros, de mostrar ao mundo que é capaz de atrair outro; mesmo que esse outro não possua nenhum atributo positivo interior; pode ser até uma “mula quadrada”; desde que tenha dinheiro ou boniteza externa. Há algum tempo, nos foi mostrado um caso clínico que relaciona o temor da solidão com o sofrimento e a desestruturação.

Uma moça nova em idade e considerada bonita, vinda do Interior, não via problema em ficar sozinha, sem namorado ou isolado dos demais. Ela não se preocupava em buscar, ansiosamente, amizades masculinas a fim de se exibir perante os outros. Como disse, gostava de ficar sozinha em sua casa, lendo,estudando e cuidando da casa. Com pouco tempo de permanência na Capital, passou a ser criticada e pressionada por seus colegas de trabalho, de estudo e por alguns parentes; para arranjar um namorado, companhia, principalmente  masculina. A pressão foi aumentando e as críticas se avolumando ao ponto de insinuarem que ela “não gostava de homem”. Passou a mentir e fingir que tinha um namorado somente para dar satisfação aos outros. Com o tempo e para fugir da grande pressão e das críticas dos conhecidos, parentes e “amigos”, não resistiu e se entregou às barulhentas, ensurdecedoras e esfumaçadas “baladas” das noites  moykanas. Hoje, aquela moça “bonita” que veio do interior para estudar e melhorar de vida, está casada com um dependente de drogas, que de vez em quando e de quando em vez lhe agride, vivendo, basicamente do parco salário dela. Deprimida, psicossomatizada e bastante debilitada, sem a mesma boniteza física de antes, não sente ânimo para empreender nova caminhada em busca da felicidade. O estranho é que todos aqueles que a pressionaram para as  “boas” companhias nas “baladas” noturnas;  sumiram, deixando-a na pior: a solidão conjugal.  Seria oportuno lembrar outro problema que comumente surge com as pessoas que se deprimem vivenciando a solidão; ou, na perspectiva de virem a ficar desacompanhadas. Pessoas que ficam na “fossa” com facilidade, que precisam sempre estar  em companhia de outrem, enfrentam um grave problema que é o da psicossomatização.

A atuação da mente, principalmente através do Inconsciente cerebral, se efetua pelo sistema nervoso “autônomo”, proporcionando o aparecimento de inúmeras enfermidades mentais e físicas. O sistema endócrino atua com muita rapidez  por todo o organismo sob os impulsos da mente. Raramente encontramos uma pessoa com um histórico de depressão ou qualquer outro distúrbio mental severo ou crônico, que não apresente também um “leque” de queixas somáticas e hipocondríacas.  Uma existência saudável, tranqüila e feliz, tem como pré-requisito uma vida interior rica e sábia. Uma mente madura, capaz de adequar-se às vicissitudes que inexoravelmente nos virão, no decorrer da existência de cada um. É bom lembrarmos  que nos dias atuais os fatores negativos e nocivos tendem a se acentuarem; enquanto que os acontecimentos positivos ficam mais escassos. A tendência é cada vez mais nos defrontarmos com obstáculos que…com facilidades. Ninguém pode garantir que o nosso viver seja mais feliz no futuro; aliás, nem sabemos que teremos algum futuro. A extrema competição que os homens conhecem e pior verão em futuro próximo, gerará feroz  e animalesca agressividade que não conhecerá limite. Não estamos afirmando, neste Trabalho, que somente as pessoas cultas, sábias ou “doutas”, têm chances de melhor se adequarem à vida; embora, de fato, estas tenham mais facilidades para tal. São sábias e cultas, também, aquelas pessoas que embora não tenham ou tiveram vida acadêmica e literária, possuem a sabedoria da observação, simplicidade, humanismo, criatividade e trabalho profícuo e honesto. São algumas daquelas que habitam os lugarejos distantes do Interior; os da “roça”, que na singeleza de suas aparências, representam uma força autêntica, viva e produtiva da Nação.

Elas são exemplos do “encontro” salutar e corajoso com a “velhice” e a solidão. Essas pessoas não temem o isolamento, mesmo na idade avançada e nem tampouco necessitam de drogas alucinógenas para fugir dos “fantasmas” que assombram as mentes dos vazios, nulos e imaturos de qualquer  idade. Eles criam e produzem, por isso não se atormentam diante do inevitável encontro consigo mesmo. De fato, conhecemos muitos homens (quando falo “homem”, me refiro aos dois sexos) da “roça”, trabalhadores rurais que se encontram sozinhos devido a separação,viuvez ou pela saída dos filhos de casa. Observando e conversando com eles, verificamos que não temem o encontro com a solidão, mesmo em idade avançada. Não se vê entre pessoas simples a negação ou simulação da idade; eles têm até orgulho de suas existências. Esta tentativa de enganar o tempo é muito comum entre pessoas frívolas e imaturas que estremecem de pavor ao perceberem a própria decadência física e mental. O motivo de as pessoas maduras e sábias não temerem a passagem do tempo e a solidão é o de ter consciência de terem cumprido o seu dever para com Deus e com os homens; sabem que fizeram o melhor para si, para os seus e para os seus semelhantes. Essas pessoas simples possuem a sabedoria da vivência, da natureza e a retidão de caráter. Mas, infelizmente, a maior parte dos seus descendentes não terá a mesma sorte de seus pais, que souberam “amadurecer” com sabedoria e tranqüilidade.  A televisão, também, já entrou em todos os lares da “roça”, desestruturando a família rural, com os inúmeros exemplos negativos de sexo irresponsável e promiscuo, consumismo, adultério, corrupção, exibicionismo desenfreado, desvios sexuais, drogas e muitos outros modelos da deterioração humana. É, principalmente, através das novelas, onde os heróis são corruptos e degenerados, quando o Mal prevalece sobre o Bem; levando-os a crerem que o crime compensa e o trabalho e honestidade são desonra e atributos do passado.

Para finalizar, não poderíamos deixar de citar e homenagear um grande exemplo de vida que condiz com a essência deste Trabalho: Helen Keller. Esta mulher, de personalidade ímpar, nos mostrou com o seu modelo vivencial, como está nula e vazia a maioria das pessoas de hoje. Esta grande figura humana, cega, surda e muda desde os seus primeiros anos de vida, veio  a se tornar uma das maiores personalidades do mundo. Ficou célebre por seus livros e conferências por quase todos os países. Viveu sozinha com a sua fiel amiga Anne Sullivan (outra grande mulher), até aos 88 anos de idade. Quando esta sua amiga morreu, em 1953, Helen Keller ainda viveu por muitos anos, inteiramente sozinha! Aliás, sozinha não!  Teve a melhor das companhias: ela mesma. Já em idade muito avançada, costumava dizer: “espero feliz a chegada do outro mundo, onde todas as minhas limitações cairão”.

Este Trabalho foi escrito e publicado em Belo Horizonte, em fevereiro de 1986.  Posteriormente veio a ser atualizado, em parte, para melhor condizer com a presente realidade. O autor muito deve e agradece o trabalho e colaboração da Srta. REJANE FURTADO, de São Sebastião do Paraíso - MG.  REJANE, cujo lema de vida é “Tornando seu sonho realidade”, nos ouviu  com paciência e atenção, ajudando-nos em nossas pesquisas e contribuindo com importantes sugestões na atualização deste escrito,  além de nos ter  prestado valiosa assistência técnica na digitação do mesmo.

Belo Horizonte, 14 de fevereiro de 1986;
São Sebastião do Paraíso, outono de 2011.

Carleial. Bernardino Mendonça.

Psicólogo-Clínico pela Universidade Católica de Minas Gerais;
Estudante de Direito da Universidade Estácio de Sá;
Escritor e Pesquisador nas áreas da Psicobiologia e do Direito.      


Publicado por: Carleial. Bernardino Mendonça

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.