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Político Manhoso

Há pouco mais de um mês para as eleições, o candidato e sua comitiva foi visitar uma favela da capital.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Há pouco mais de um mês para as eleições, o candidato e sua comitiva foi visitar uma favela da capital. O local era seu reduto eleitoral. Era um domingo de sol quente. É de praxe que político experiente no Brasil parta para o corpo a corpo na reta final.

Afinal, é assim que se ganha uma eleição. Cumprimentar os eleitores, dar tapinha nas costas, acenar ligeiramente com a mão e a cabeça, tirar fotos e beijar mulheres e crianças. "As crianças que beijo hoje, amanhã serão meus eleitores', dizia o político. Depois de uma hora, de sobe e desce, parou para tomar fôlego. Respirou fundo. Afinal, faltava muita gente para ver. Em meio à pausa, um morador veio ao seu encontro.

Sua expressão facial denunciava suas intenções. Ia xingar e dizer coisas feias. Estava nervoso e irritado com a sua presença na comunidade. O político, não se fez de rogado e disparou: 'como vai o vosso querido pai'? O eleitor ficou desarmado. Com raiva, fuzilou-o nos olhos e disse: 'deputado, meu pai morreu há muito'. A surpresa foi geral. Era uma saia justa, o que fazer naquela situação?

Todos os que viram a cena ficaram boquiabertos. Sem se dar por vencido, o político encarou-o e disse: 'seu ingrato, vosso pai está no meu coração. Mesmo assim, não o esqueço e amo-o. Pelo visto, o senhor se esqueceu dele', falou. O pobre coitado desapareceu em meio à multidão desolado.

Um correligionário do partido confidenciou: 'Em terra de cego quem tem um olho é rei'. O candidato sorriu, posou para mais uma foto. Era Maria, doméstica, antiga eleitora, dona de um sorriso desdentado, ar ingênuo e singelo. O político contou que gente como ela vai elegê-lo para a Câmara Federal. Sorridente, o candidato manhoso seguiu em frente, afinal, mais uma vez seu ganha-pão estava garantido pelos próximos quatro anos.

(Ricardo Santos é prof. de História)


Publicado por: RICARDO SANTOS

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