A política se justifica
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Em casa, na rua, no clube, no bairro, no trabalho e no País, nós estamos mergulhados em ambientes que exigem práticas sociais intensas, específicas, diversificadas e também ocasionais, que chamamos de política. Viver em sociedade exige essa arte que os gregos chamaram politiké (política). Esse termo se referia aos cidadãos que se voltavam à administração da pólis (cidade) e ao longo da história ficou muito carregada, restrita aos “políticos profissionais” e aos partidos.
Hoje em dia, como a maioria da população mora na cidade ou tem negócios nelas, todos os cidadãos deveriam ser chamados de políticos. Porque nós somos responsáveis pela conservação e desenvolvimento da sociedade. Usamos sistemas de eleições para delegar certas tarefas administrativas, mas em última instância todos somos responsáveis pelo governo e progresso do nosso habitat social.
Desse modo, se há alguém que se declara apolítico, está equivocado, pois enquanto vivemos em sociedade nos é exigida uma forte consciência de relacionamentos, práticas e posições mediados pela nossa ação política. Podemos declarar não “ter partidos”, mas comungamos com idéias de alguns deles. Podemos não votar, mas delegamos às autoridades o serviço de administração pública. Então somos tutelados pelo Estado que será uma espécie de “grande irmão” a nos determinar ações mediante a coação ou à liberdade.
Além disso, a política é tão pertinente em nossas vidas que forma hábitos e costumes, pois tudo em nossa sociedade é intimamente relacionado com nossa posição política. Nossa posição exige até modos de vestir específicos. É difícil um cidadão ir ao clube de terno e gravata, e também é muito raro uma pessoa ir de biquíni ou bermuda para a Igreja. Esse pudor, que parece um simples ditame psicológico, é um jogo de relações que começa na forma de se vestir e vai até a mais complicada ação democrática. A política passa pelo “bom dia” que damos em casa, pelas eleições do síndico do prédio e vai até a escolha dos deputados e do presidente da república. Ou seja, a política começa no simples hábito e engloba as mais sofisticadas ações de manutenção do Estado.
Assim, esta questão é muito importante para nós, não foi por acaso que ao longo da história, muitos filósofos examinaram esse tema, questionando-se mutuamente e procurando uma resposta lógica, séria e permanente sobre política. A questão política sempre foi inquietante para quem se debruça em responder as interpelações da realidade de nossas vidas. Tudo isso também gerou uma ânsia de conceituar, uniformizar e substancializar a política, tentando compreender nossa humanidade e sua relação política.
E é bom que assim o seja. É bom que haja complicação e complexidade em nossa vida social. Uma política simplista é um determinismo, uma camisa de força para nossa criatividade. Por exemplo, nas famílias sem diálogo, são cartas marcadas, em que o mandante impõe sua vontade sobre quem obedece. Então se constrói relações frágeis e limitadas, infantis, quase um inferno. No Estado, uma política simplista e determinada não é política que valha a pena, é ditadura, golpismo, tirania. A complexidade da ação política está no fato de que ela é conflituosa, luta, antagonismo, enfrentamento. Em outras palavras é diálogo e dialética.
Por fim, não conseguimos até agora saber de uma natureza uniforme para a política, mas vivemos no presente que nos faz entender que a política faz parte da diversidade de nossa vida cotidiana. Política também é a coisa mais importante para a democracia e para a sociedade. Portanto, a política se justifica e faz do presente de cada pessoa a consciência de sua identidade como ser humano.
Moisés Viana, jornalista, escritor e pós-graduando em Meio Ambiente e Desenvolvimento no Centro de Pesquisa e Extensão Socioambiental (CEPESA), da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). http://tutmosh.blogspot.com/
Publicado por: Moisés Viana
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