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Já Fui Moço E Hoje Sou Velho: Dia Do Idoso

A história de quem já viveu e tem muito o que contar

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Já fui moço e hoje sou velho, mas não se chama mais velho e sim idoso, ainda não consegui descobrir a diferença entre as duas palavras. Afinal a palavra pouco importa o que realmente importa é como eu resolvo viver minha velhice.

Nunca fui alguém muito quieto, sempre apanhei muito da vida por topá-la de frente. Nunca aceitei a derrota como diagnóstico final. Não consigo parar e esperar a vida acontecer. Sempre corri atrás de sonhos, projetos e pessoas, e é por isso que estou aqui dando a minha palavra neste dia. Vejam um pouco da minha história.

Eu nasci em um lugar muito distante, interior do interior de Minas Gerais, claro que não vou contar o nome, pois poderei ser mal interpretado. Mas lá é onde Deus olhou e disse deixa quieto, o tempo se encarrega de melhorar as coisas. E não é que o tempo esqueceu disso? Nada mudou lá até hoje, opa mudou sim, as pessoas deixaram o local e correram para outros estados, países.

Logo cedo minha mãe me tirou de lá para estudar, fui então para a capital de Minas Gerais, lindo o lugar realmente o mais Belo Horizonte que havia conhecido. Conheci uma linda garota, jovem como eu. Nos olhávamos e foi amor a primeira vista, porém como sempre a história se repete, ela, filha de um imponente professor universitário e eu filho da empregada da casa. Mas isso não nos impediu de sermos amores escondidos.

Cada vez que ela ia até a cozinha onde eu ajudava mamãe era uma festa interior. Nós olhávamos e quando dava ela tocava minha mão, como se fosse por acidente. Eu sempre que podia retribuía aquele carinho. Assim caminhamos até que ela começou estudar mais tempo fora de casa, foi para o balé e pouco eu a via. Sai de lá fui cuidar da minha vida, trabalhei em outros lugares, mas nunca deixei de freqüentar sua casa para poder vê-la.

Mesmo um pouco distante eu sabia que dentro daquele coração havia uma chama que ainda ardia por mim. Pois quando ela estava namorando e eu estava na casa ela não o tocava e o tratava de forma diferente. Quando mais velho tive coragem de ir até ela e pedir para namorar comigo, ela já estava fazendo o vestibular e eu correndo de táxi a grande BH. A resposta foi a mais clara e direta: - não posso meu pai jamais aceitaria isso. Mas você quer tentar falar com ele? Eu fui, falei e a resposta dele foi mais direta ainda. - NÃO, você tem que virar homem primeiro, não crio filha para casar com pobre e sem futuro. Você nunca se olhou no espelho? Não sabe quem é? Vocês estão sob meu comando, e isso faz toda diferença.

Saí de lá arrasado, porém de cabeça erguida, fui até ela e a disse que eu iria ser um homem bem sucedido e que iria procurá-lo depois para uma nova conversa. Que ela jamais esquecesse disso.

Sai, fui até meu trabalho e a única pessoa que ficou sabendo foi meu patrão, ele não tinha filhos então fez um pacto comigo, eu trabalharia com ele de forma seria e dedicada ele pagaria meus estudos e faria de mim um homem competente e próspero, seria o pai que eu nunca tivera. Aceitei de pronto. Trabalhava de sol-a-sol, nunca faltei um dia se quer. Estudava nos pontos de táxi, em casa e passei no vestibular da UFMG. Pra surpresa de todos fui o segundo colocado geral da época. Tornei-me o herói dos taxistas, todos começaram a dar ajudas, faziam meu horário nos dias de prova, quando tinha aula o dia todo me substituíam, e então o pai adotivo cada dia se orgulhava mais de mim. Nunca o decepcionei, no dia da minha formatura, ele estava lá junto com minha mãe todo orgulhoso.

Dentro do táxi consegui amizade com um profissional da mesma área que eu estava formando, ele me levou para um outro estado para começar a trabalhar, gostei busquei mamãe e nunca mais voltei a BH, com o tempo busquei meu pai adotivo e sua esposa e formamos uma família.

Casei, tive filhos, me tornei rico, rico mesmo, na minha área hoje sou poucos que tem PHD. Trabalhei muito mesmo e me orgulho de tudo que fiz. Só que nunca esqueci a bela do lindo Horizonte. Amei minha esposa com todas as forças. Mas quando eu lembrava da bela meu coração ficava dolorido. Nunca a procurei, o tempo me levou para longe e a minha esposa era especial demais. Quando se casou comigo eu ainda era um mero funcionário e ela professora universitária. Lutamos juntos e conquistamos tudo que tenho hoje. Só que ela me deixou cedo, morreu em um desastre de automóvel. Sofri muito.

Depois deste desastre deixei filhos e netos e vim rever BH, não demorou muito a noticia chegou a ela que me procurou. O reencontro foi a coisa mais linda que já vi. Era como se eu tivesse vivendo novamente aqueles tempos, mas eu primeiro quis falar com seu pai que ainda vivia. Conversei com ele, choramos juntos pelo que foi feito de toda história. E pra piorar descobri sua doença silenciosa, uma doença que precisava de um transplante sanguíneo. Nos falamos muito, conseguimos que um dos meus filhos fizesse esta doação, pois o sangue era compatível. Hoje ele está bem e se tornou meu sogro.

Hoje sou o idoso mais feliz, posso reviver meu grande amor, não importando a idade, o tempo que passou nem a situação. Não guardamos nada ruim deste tempo, apenas as doces lembranças de nossos olhares e mãos tocando ao outro com carinho. Nunca deixei de sonhar com aquele olhar, suas mãos nunca saíram das minhas. Quando olho para ela hoje ao meu lado dormindo penso: - O meu mais Belo Horizonte está no momento em que me chamam de IDOSO. Isso sim é a melhor idade, amar, ser amado sem nenhuma preocupação, ciúmes e bobagens da segunda idade.

Até a próxima...



Silvia Letícia Carrijo de Azevedo Sá
leticiacarrijo@oi.com.br
http://www.artigonal.com/find-articles.php?q=silvia+leticia


Publicado por: silvia leticia carrijo de azevedo sá

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