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Basho - uma trilha estreita com o haikai

Quem foi Matsuo Basho, a relação entre Basho e haikai, a importância de Basho para o haikai, história de Basho, estilo de Basho.

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Segundo MARSICANO E TAKANAKA (1997), Matsuo Basho nasceu em Veno, pequena cidade japonesa da província de Iga, em 1644, filho de Matsuo Yozaemon, um samurai a serviço da família Todo. Aos nove anos, tornou-se amigo de Todo Yoshimada, herdeiro do poderoso clã. São iniciados na arte da poesia sob a orientação de Kitamura Kigin (1624/1704), discípulo do renomado Teitoku.

Basho adota o nome literário de Sobo e Todo o nome de Sengin. Estudam por muitos anos a caligrafia, poética japonesa e verso clássico chinês. O primeiro haikai de Basho surge em 1662, quando ele contava com dezoito anos (id. p. 08):

Chegou a primavera

ou se foi o ano velho?

Véspera de Ano Novo

Em 1666, Sengin morre inesperadamente. Com a perda de seu grande amigo e protetor, Basho escreve (id. p. 08):

Quantas memórias

me trazem à mente

Cerejeiras em flor

Seguindo o seu caminho sem Sengin, Basho se aprofunda na arte do Haikai estudando a literatura clássica japonesa e chinesa e em 1672, parte para a cidade de Edo, atual Tókyo e sede do governo. Nesta cidade, ele copila uma antologia de haikais dedicados à divindade protetora das letras e se afasta da escola de Teitoku, que insistia em conter o humor e a liberdade originais do haikai.

Basho começa a se identificar com uma corrente vanguardista representada por Soin e é bem recebido na escola de Danrin. Agora, com o nome de Tosei, ele retribui as novas influências com o poema (id. p. 09):

Ameixa ao vento

na terra do haikai

triunfante se dissemina

Porém, por esta escola passar por um momento de declínio, por buscar novidades extravagantes que a levariam ao caos, Basho decide mudar de vida e em 1682, parte para uma choupana às margens do rio Sumida, na periferia do Edo, onde vira eremita ao lado de poucos estudantes. Um deles planta no jardim uma bananeira (Basho no japonês) que passa a denominar primeiro o lugar e depois o próprio poeta, que escreve (id. p. 09):

Bananeira na tormenta

por toda noite terei de ouvir

o gotejar na tina d’água?

Com esse novo estilo de vida, Basho passa a meditar muito e com isso busca se livrar das influências para criar um estilo próprio: “Não busco o que os antigos criaram, mas sim o que almejaram” (id. p. 10), ou seja, o poeta busca o Makoto, que é a verdade, a essência. Esse termo é a versão japonesa daquilo que os chineses designavam como “atitude do homem perante os Deuses”. Na filosofia do Neo-Confucionismo, dominante na época de Basho, este termo era definido como: ”Se não estas esclarecido a respeito do Bem não és imbuído de Makoto” e “Makoto é a lei suprema do universo”. Toho, um discípulo de Basho, salientou que teria sido o próprio Basho quem introduzira este princípio no haikai (id. p. 10).

Em suas correspondências e comentários literários, Basho registrou seus pensamentos sobre o Makoto: “Deve ser fixado antes que a luz se apague”, ou “Aprende do pinheiro diretamente do pinheiro; do bambu diretamente do bambu” (id. p. 10).

Em 1681, ele conhece o mestre zen Bucchô e inicia a prática do “zazen” (postura de lótus). O zen budismo exercerá uma grande influência na sua vida e na sua poesia. A grande contribuição de Basho foi a de infundir na concisa forma do haikai a amplidão do pensamento zen. Via num crisântemo o “dharma” (id. p. 10):

Em profundo silêncio

o menino, a cotovia

o branco crisântemo

Desse seu mergulho no pensamento zen, da anulação dos limites entre o mundo interior e exterior, surge o que viria a ser o seu haikai mais conhecido (id. p. 11):

Velho lago

mergulha a rã

fragor d’água

Em 1682, um incêndio aniquilou Edo e chegou até a periferia, destruindo a choupana de Basho. A partir deste fato, o agora famoso haikaísta, de cabeça raspada e vestindo-se de preto, passaria em contínua viagem até o fim de sua vida. Seus principais relatos de viagem são: Visita ao Santuário de Kashima, de 1687, Visita à Sarashina, de 1688 e Trilha Estreita ao Confim, que teria a duração de quatro anos a partir de 1689.

Em 1694, Basho deixa Ueno e parte para Osaka, onde adoece gravemente. Sentindo que a morte estava próxima, seus discípulos pedem para que o mestre escreva o seu poema de morte e como resposta ouvem de Basho que nos últimos vinte anos todos os seus haikais haviam sido escritos como o “poema de morte”. Escreve então aquele que seria o seu último haikai (id. p. 17):

Finda viagem

meus sonhos rodopiam

pelo seco descampado

Na casa de um florista, entre amigos e alunos, o poeta transcende da vida para a morte. À sombra de uma bananeira, no jardim de templo Yoshinaka, está enterrado às margens do lago Biwa (alaúde no japonês).

A importância de Basho para o haikai (FRANCHETTI, et al. 1996, p. 18) não é só porque ele foi um dos melhores ou porque escrevesse os melhores poemas, é, em grande parte, por sua influência como pessoa, através de sua vida como poeta. Além de ter feito milhares de seguidores, Basho, pela sua própria vontade, abriu mão de suas atividades remuneradas como crítico e instrutor para viver em recolhimento e pobreza e exercer influência sobre o desenvolvimento posterior da arte do haikai, elevando-o a uma forma de ver e de viver o mundo.

REFERÊNCIAS:

FRANCHETTI, Paulo; DOI, Elza Taeko; DANTAS, Luiz. Haikai. São Paulo: Editora da Unicamp, 1996.

MARSICANO, Alberto; TAKENAKA, Kimi. Matsuo Basho - Trilha estreita ao confim. São Paulo: Ed. Iluminuras, 1997.

MARSICANO, Alberto; TAKENAKA, Kimi. Matsuo Basho - Trilha estreita ao confim. São Paulo: Ed. Iluminuras, 1997.

OBS: Este texto foi extraído do TCC “O HAIKAI EM SALA DE AULA”, de Alvaro Mariel Posselt, Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, junho de 2007.


Publicado por: Alvaro Posselt

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