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O prazer da leitura

O prazer da leitura, o hábito de ler, como gostar de ler, a leitura como parte de um trabalho, a leitura como obrigação, leituras contraditórias, a contribuição do professor na criação do prazer de ler.

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Ler que verbo maravilhoso. Leio desde que me entendo por gente, mais precisamente desde os cinco anos de idade. Lembro-me que, naquela época, meu interesse pelo mundo da escrita era poder ajudar minha mãe com as transcrições de receitas culinárias, mas que com o passar de pouco tempo devorava com avidez todos os tipos de leitura que caíssem em minhas mãos.

Para mim não havia gostosura maior do que passar a tarde com um livro nas mãos, de início me apaixonei pelos gibis e os contos de fada em que eu mergulhava de cabeça tornando-me a própria heroína, a princesa encantada presa em seu castelo à espera do príncipe que viria salvá-la das garras da feiticeira malvada.

A única coisa que eu não sabia nessa época, era que o mundo poderia desabar à minha volta, que eu nem me daria conta, caso estivesse lendo uma das minhas preciosas leituras. E hoje, posso afirmar que isto ainda acontece, não sei explicar ao certo o porquê dessa paixão pelos livros.

Paixão que nem sempre é tão gostosa, se formos realmente analisá-la. Porque se pensarmos em todos os gestos e em todos os movimentos que estão presentes na hora da leitura, e mais o imobilismo a que ela nos sujeita, fadigando-nos, fazendo-nos doer as costas, a nuca, o dorso, os quadris, os olhos, por vezes entorpecendo-nos as mãos. Por isso me pergunto, de onde vem essa paixão? Haveria prazer no ato de ler? E de qual prazer se fala, quando se fala no prazer da leitura?

Enfim, aos sete anos de idade inicio minha vida de estudante. A leitura na escola até a quarta série era a cartilha, porém em casa eu nem a abria, pois meu coração já havia sido tocado pela leitura dos contos, das fábulas, e outros. Da quinta até a oitava série graças a uma Professora de Língua Portuguesa e Literatura, me apaixonei pelos romances, porém não foi por qualquer romance.

Ao deixar os contos de fadas, minha alma ansiava por aventura, e sendo assim, meus livros eram de ação, mistério (principalmente se envolvesse solucionar crimes que por hora pareciam sem pistas). Também nessa época como sempre fui um pouco atípica para a minha idade, começo a questionar sobre um tema que normalmente não se aceitam ser questionado, a religião.

Para ser sincera, não sei de onde surge essa minha inquietação, principalmente por um tema que nunca foi trabalhado em casa. Meus pais nunca nos obrigaram (minha irmã caçula e eu), a termos uma religião, mesmo porque eles também não tinham. Mas nessa época além de questioná-la, minha leitura estava sempre ligada aos mistérios do inferno. Lembro-me de ter lido Escaravelho do Diabo e vários outros porque em seus títulos aparecia a palavra “Diabo”, mas mesmo nesse período nunca abandonei os de mistérios.

Hoje eu posso falar que esse foi o período em que eu mais li. A professora da qual me referi, em suas aulas de Literatura, sempre levava um monte de livros para a sala de aula e pedia-nos que escolhêssemos um para depois socializá-lo com a turma. E a partir daí, nunca mais consegui ler um livro só para mim, eu tinha que fazer com que outras pessoas soubessem e se interessassem pelo livro que naquele instante, era meu maior presente. O mais incrível é que hoje, aos 23 anos de idade, continuo fazendo a mesma coisa, a “coitada” da minha tia é que o diga.

Entretanto, minha paixão pelos livros durante o 2° Grau foi cruelmente balançada. Isso devido à alguns professores que acreditam que a leitura serve apenas para convencê-los de que os alunos haviam aprendido a ler.

E assim, escolhendo o que deveria e como deveria ser lido, a escola pretendia desenvolver o gosto pela leitura. Mais que isso, os professores acreditavam e acreditam ser os donos da leitura, e sendo assim podem estabelecer critérios sobre a mesma.

O primeiro deles era o de que toda leitura deveria dar lugar a trabalho e ser, ela mesma, parte de um trabalho. Nada de se confundir leitura com ociosidade. O segundo que dizia respeito às qualidades do que se lia. Um texto seria bom se ele pudesse ser partilhado, ou seja, se ele pudesse ser lido em público. Uma leitura era, assim, uma má leitura se praticada escondida, mas também era uma má leitura aquela sem controle, que poderia criar enganos no seu trabalho de interpretação, pois que feita fora das redes de sociabilidades, que sempre prevêem e fixam um certo sentido e um sentido certo.

Assim, a leitura em voz alta e pública, realizada na escola, ou mesmo em outro local, criava um conceito de compreensão que pretendia, assim, garantir a transmissão controlada de sentidos e conhecimentos, ou seja, a entonação do leitor, suas acentuações, seus silêncios, sua emoção, falavam pelo texto.

Além do mais, pretendia-se garantir com a leitura em voz alta que a língua aprendida fosse a mais correta e que se constituísse em uma aprendizagem para o exercício da democracia através do uso da palavra.

Lembro-me perfeitamente da primeira vez em que fui obrigada a ler, me senti uma criatura que não tem para onde fugir. O livro cuja leitura me foi atribuída era Iracema de José de Alencar (2006). O sentimento foi tão horrível que durante anos não conseguia nem pensar em ler um dos “malditos” livros considerados pelos professores como os clássicos da literatura brasileira.

Nesse período, tinha um sonho de poder encontrar o Retrato Oval de Edgar Allan Poe (2006), porém até hoje ainda não consegui lê-lo, com medo de voltar a sentir a angústia que senti há anos atrás, mais precisamente, quando estava no 1° ano do 2° Grau do Ensino Médio. Porém acredito que um dia vencerei, e prova disso é que ano passado consegui ler Senhora de José de Alencar, o mesmo autor que me travou para a literatura.

Devo agradecer muito à minha mãe por ter me apresentado aos livros antes da escola, devo agradecer muito aos Professores Ivan, Heleonice, Paulo Feitosa, Marli, Elizabete, à minha grande amiga Marlene por estarem sempre me lembrando da delícia que é ler .

Digo que devo agradecer a essas pessoas, porque na faculdade, de certa forma, a leitura continua seguindo os critérios dos professores do Ensino Médio, ou seja, continua sendo dividida em o que é uma boa leitura, que agora são os livros técnicos e por isso, normalmente são enfadonhos, como por exemplo os livros que o Orestes nos obriga a ler de Constance Kamii, que só de lembrar que terei de reler nesse próximo semestre começo a sentir arrepios na alma, e acreditem não são bons esses arrepios.

Digo que não gosto das obras desta autora, como também digo que não gosto de nenhuma leitura que em sua base está impregnada pelo construtivismo de Piaget, porém não digo isso pelo único motivo de não gostar, mas digo por achá-los muito contraditórios, uma vez que sempre dizem que ao se ensinar deve levar em consideração que todos são diferentes, e sendo assim, aprendem de formas diferentes, mas por outro lado, enquadram todos em um único quadro.

O que mais me aborrece, é o fato dos professores se considerarem os donos da verdade, e por isso julgam poderem classificar o que é leitura, afinal de contas que são para fazer isso? Pior que eles pensam que são os donos da verdade na hora em que estão destruindo um leitor em potencial apenas porque este querer ter o direito de escolher seu próprio gosto pela leitura.

Falemos então de prazer. Acredito que diferentes autores oferecem-nos a chance única, irrepetível de descobrir em nós mesmos, e de criar diferentes maneiras de lidar com o texto e não especificamente aquele, bem diferente do que as escolas vêm fazendo.

Como foi bem registrado anteriormente, o hábito de ler faz parte do meu dia-a-dia há um longo tempo. Porém, não sou uma estudiosa, leio pelo puro prazer egoísta que a leitura me proporciona. Gosto de livros, gosto de tê-los nas mãos e sentir aquela expectativa deliciosa que antecede o momento de abri-los e conhecer seu conteúdo.

Minha preferência está voltada para a literatura de ficção, mas misturo estilos e autores indiscriminadamente. Ultimamente, não ando tendo tempo para me deliciar com a leitura, pois para ser uma boa profissional, tenho de ler também os enfadonhos e técnicos.

Mas nesse ano, li Mulheres de Cabul de Harriet Logan (2006), li bastante Érico Veríssimo, Memórias de minhas putas tristes de Gabriel Garcia Marquez (2004), Código Da Vinci de Dan Brown (2004), entre outros. Os livros que citei quando não aparecer ano, ou autor, ou aparecer autor, mas não a obra, é porque não me lembro ou não consegui encontrá-lo para aqui poder registrar. Também poderão aparecer livros antigos com edição atual, é que não consegui encontrar as primeiras publicações.

Agora mesmo, estou morrendo de vontade de ler o 7° da saga Harry Potter, está me faltando é coragem para comprá-lo. É com prazer que retorno à minha pergunta feita anteriormente sobre o que é literatura e o que não é.

E assim, acredito ser relevante falar de livros que são adorados por multidões, e desprezados por alguns que se julgam superiores demais para ler obras tão simplórias. E esse com certeza é um dos assuntos mais que recorrente nos textos já publicados. Aproveitando o lançamento do último livro da coleção Harry Potter, conversemos sobre esse fenômeno literário que injetou tinta nova no mundo editorial.

Muitos acusam a obra britânica de possuir linguagem superficial, personagens unidimensionais, sem profundidade ou moral ambivalente. Não que as críticas sejam de todo infundadas. São, porém, injustas com uma obra que desnorteou pessimistas, os quais professavam o fim do livro no mundo pós-Internet.

Sendo assim, creio que essas críticas estão sendo injustas com uma escritora que realizou o prodígio de relegar aos videogames, computadores e televisões o papel de meros coadjuvantes, trazendo de volta ao palco principal da cultura jovem, ou seja, aquela midiazinha arcaica e supostamente sem atrativos, o livro. E tudo isso em plena Era Digital.

Através de um cenário mágico, J.K Rowling conseguiu resgatar magos e dragões, que pareciam esquecidos num passado nostálgico, e junto com eles resgatou a magia da leitura, esse sim um feitiço maravilhosamente real. Por isso, acredito que antes de criticar qualquer tipo de leitura, deve-se antes verificar o que este tem feito para conquistar leitores, porque ao iniciar no mundo da leitura, certamente será o prazer que esta proporcionar é que fará a diferença entre ser um leitor em potencial e um não leitor.

BIBLIOGRAFIA

ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Hedra, 2006.

BROWN, Dan. Código Da Vinci. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.

LOGAN, Harriet. Mulheres de Cabul. São Paulo: Ediouro, 2006.

Marquez, Gabriel Garcia. Memórias de Minhas Putas Tristes. São Paulo: Record, 2004.

POE, Edgar Allan. O retrato oval. São Paulo: Melhoramentos, 2006.

Trabalho apresentado como exigência parcial na avaliação da disciplina de T. P. em Alfabetização I, sob a orientação da Professora Marli Lúcia Tonatto Zibetti.

Acadêmica do VI Período do curso de Pedagogia – Fundação Universidade Federal de Rondônia – Campus de Rolim de Moura.


Publicado por: viviane marcilheta morais oliveira

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