Menina má
Depoimentos de uma adolescente sobre sua vida e sentimentos em seu diário.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
14, de julho de 2007
Isto não é um diário! É somente um lugar pra poder me expressar. Só vou escrever aqui assuntos que mexam comigo, meus segredos, frustrações, minhas mais intimas emoções.
Por tanto, espero que ninguém leia este caderno.
Ah! Se algum curioso abrir vai se ver comigo!
Meu Deus! Acho que isso é mesmo um diário, pelo menos é o que está parecendo.
Não quero que ninguém saiba como sou por dentro. Sou muito feia e má; não me conformo com a vida e odeio conselhos... Este blá-blá-blá eterno. Digo logo: não enche!
Sei que isso é errado, mais ser certinha deve ser um tédio.
Por isso vou levando a vida do meu jeito, sem maiores preocupações. Se eu “quebrar a cara”, a cara é minha mesmo.
Aliás, isso de “quebrar a cara” é a frase preferida da minha mãe. Ela pensa que eu não sei que ela quebrou a sua.
Mais isso é assunto pra outro dia. Estou cansada, e amanhã tenho que voltar para aquela jaula de loucos, chamada escola.
16, de julho de 2007
Aguenta meu caderninho! Pra não chamar diário, porque diário é muito brega. Aqui minhas emoções são reais, fortes e misturadas. Aqui vou rir e chorar ao mesmo tempo. Vou falar gírias e xingar todos os meus professores. Menos o de geografia, porque ele é lindo demais.
Tem dias que penso que sou louca, minha mente parece um turbilhão de ideias, meu cérebro da pani.
Outro dia o pastor da igreja perto da escola, veio com um papo de “liberdade oferecida por Cristo. Segurei para não rir.
Sabe o que eu acho? Que quando a gente se torna crente, tudo vira pecado. Então, cadê a tal liberdade? Esses crentes são chatos pra burro!
Liberdade pra mim é dar minhas cabeçadas e não levar bronca. O problema é que existe a tal da consciência e a minha insiste em dar alerta, até parece cirene da polícia.
Por outro lado, eu tenho o direito de fazer o que eu quero, só que às vezes, passo de todos os limites e depois vem aquele baixo astral. Peço a Deus que passe logo ( é nessas horas que lembro que Ele existe). Será que sou diferente das outras? Não! Eu não quero ser.
Coitadinho do pastor Afonso. Se ele soubesse que, só parei pra ouvir porque ele é um gato? RS RS.
20, de julho de 2007
Hoje foi a maior encrenca aqui em casa.
Minha mãe me flagrou falando bobagem na Net. Ela desligou o computador e encerrou minha conta. Não acreditei! Ai, que ódio dessa mulher! Ela não entende que é só papo, e que eu nem sei quem é o otário do outro lado?
Chorei, esperneei, me joguei na parede e ela nem me deu bola. Ainda mais pra mim que sou uma atriz nata. Sou “expert” em lágrimas de crocodilo. Consigo até, ter febre de 38Cº se necessário. Só assim pra ela me dar moral. Boba! Abraçou-me e disse que ia me dá outra chance, enquanto passava a mão nos meus cabelos. Parecia até cena de novela. Quase soltei aquela gargalhada.
Sabe, às vezes acho que o capeta mora dentro de mim, porque não sei como consigo fazer essas coisas.
Depois ela disse que eu poderia usar a Net, mais o MSN, não. Isso eu não gostei.
Como é que vou fazer agora par continuar aquela conversa interessantíssima? Amanhã dou um jeito.
25, de julho de 2007
Aqui em casa todo dia é a mesma coisa! Meu pai chega e começa a reclamar sem parar. Reclama das contas, diz que nós só damos despesas, só pensamos em futilidades. Ele não entende que eu necessito disso par viver?
Acabei batendo boca com ele, esfreguei as dúzias de amantes que ele tem na cara, ele se fez de ofendido. Ele me bateu e eu fui pro quarto, tinha vontade de sumir, de nunca ter nascido. Ele nunca foi carinhoso comigo. Seu preferido? O Carlinhos, que por acaso é sua cópia física e no caráter... Garoto chato!
Eu e mamãe quase não conversamos, ela vive cansada do trabalho e dos afazeres domésticos, que quando tento falar o que estou sentindo, ela acaba ficando nervosa e tudo termina em briga. Ai, que vontade de fugi!
Nas entrelinhas, é como se eles me expulsassem a cada dia um pouquinho.
30, de julho de 2007
Ontem saí com o Guto. Ele é um fofo! Tanto que nem me importei por ele está noivo de aliança e tudo. O pior é que o pastor Afonso nos viu e por um instante fiquei envergonhada. Consciência! Maldita consciência! Mais depois nem dei bola. Afinal, ele não tem nada haver com a minha vida. E se a noiva do Guto o deixa por aí dando sopa, o que é que eu posso fazer?
Além disso, tô ficando com o Toni e o Júnior. Com tanto homem bonito, eu não vou ficar com apenas um.
Esse negócio de um só é pra quem quer casar, e eu nem amarrada caso. Pra quê? Pra ter um casamento fracassado com o dos meus pais? Tô fora!
02, de agosto de 2007
Hoje descobri que a Samara está fumando maconha, fiquei triste, angustiada. Ela só tem quatose anos.
Tentei abrir os olhos dela, mas ela debochou de mim. Disse que era o sujo falando do mal lavado. Ela disse que sou careta.
Eu nunca usei drogas, nem cigarro pus na minha boca. Não por ser puritana ou moralista, mais porque todos os dias vejo e leio nos jornais o fim de quem entra nessa. Posso ter muitos defeitos, mais tenho meus limites.
03, de agosto de 2007
Hoje o pastor Afonso passou por mim e me cumprimentou. Achei que ele jamais falaria comigo novamente, depois de ter me visto com o Guto.
Um misto de susto, alegria, remorso, e admiração ferviam dentro de mim. Ele sorriu e era sincero. Convidou-me para ir a sua igreja novamente. Falei que um dia desses vou lá. Eu sou muito falsa mesmo!
Queria tanto ser diferente. Queria arrancar a máscara e dizer: Pastor desista de mim, porque Deus já desistiu há muito tempo.
Então, vim pra casa e chorei, me xinguei na frente do espelho, chorei até as lágrimas secarem. Acho que era o choro da alma, como dói arrancar a máscara, pena que quando sair do quarto vou ter que pô-la novamente.
CONTINUA...
Publicado por: livia cristina alves sales
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