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Manifesto do leitor antropófago

Que tal conhecer o Manifesto do leitor antropófago? Clique e confira!

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Comer, mastigar, deglutir, metabolizar, cuspir!
Ler, reler, apreender, inferir, (re)criar!
Antropofagia. Esta é nossa alimentação.
Somos leitores antropófagos!

Mas estamos fracos, mal alimentados, famintos na verdade. Temos fome de obras como os deliciosos pratos que fazem nossas línguas revirarem sobre os lábios e aguarem nossas bocas. Estamos fartos de ter que mastigar milhares de vezes a lavagem que tanto nos obrigam a engolir e que só nos dá indigestão.

Queremos os quitutes de Tia Nastácia! Não aceitamos mais só os pratos oferecidos por chefs das escolas como a Osarta. Queremos também nossos quitutes e nossos “causos”.
Somos Emílias e Maluquinhos de pensamentos autônomos. Somos diferentes das crianças bilaquianas que tentam nos moldar - perfeitas representações etimológicas do vocábulo infante. Somos Marcelos respeitados por nossas (re)criações.

Nossa comunicação é lógica e efetiva porque o “nóis vai” anda abraçado com o “agente vamos”, o “a gente vai”, o nós vamos e com o “eu fazi”. Comemos liberdade. Cuspimos os pré-julgamentos e os pré-conceitos.

Só a Antropofagia nos une. Comer e cuspir é a melhor lei.

Não engolimos mais índios filhos de Maria, afilhados de Catarina de Médicis e genros de D. Antônio de Mariz, pois hoje temos o parente Munduruku, que nos mostra a verdade sobre sua cultura, fazendo-nos olhar para si mesmos e cultuar também nossas raízes.
Abocanhamos todos os professores! Deixamos os educadores.

Professores são muitos. Educadores são Um. Não engolimos ensino, pois nos alimentamos de educare.

É preciso que excluam todas as trincheiras em pseudo-salas de aula. É necessário que (re)criem os encontros circulares em torno da fogueira da onça e não da do homem que fez do fogo fundamento de uma cultura que só repulsa o diferente ao senso comum.

Ensinar? Cuspimos. Ler, educar e libertar. Metabolizamos.

Não queremos um processo de inclusão, onde somos obrigados a consumir, senão permanecemos à margem. Alimentamo-nos no mesmo prato.

A escola que queremos não pode só preencher, “encher-nos”. Queremos como antepasto o Saber e como prato principal o Ser. Saciar-nos. Nessa escola queremos antropófagos como Lygia, An(n)as, Ruth, Glória, Bartolomeu, Georgina, Daniel, Lobato, Oswald e principalmente as Marias e os Josés que antropofagizam diariamente a vida.

Não aceitaremos escolas com ensino mimético, tampouco redundante. Comeremos-as, cuspiremos-as! Recusaremos os textos que centralizam, que são usados como pretexto. Canibalizaremos os que divergem, que heterogenizam, que tornam primeiro a mente e a alma saudáveis, depois o comportamento.

Queremos continuar a visitar o nosso Reino das Maravilhas. Chega só de Disney! E queremos brinquedos sim! Porém, não os voltados somente para a cruel eliminação e para a sedução do outro. Queremos brincar com os que se encontram em nossa fantasia interior. Somos antropófagos!

Queremos saborear Literatura sem rótulos ou embalagens sedutoras. Lermos obras e não historinhas, porque obras sim são as mediadoras para se conhecer o outro e para transcender ao espaço do maravilhoso, à interioridade.

Alimentamos o sonho e a esperança de que um dia darão a todos a liberdade de ler o mundo antropofagicamente.

Somos canibais! Somos diferentes e somos iguais!

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SOUZA, Gabriela. Manifesto do Leitor Antropófago. UFRJ: Rio de Janeiro, 2006.


Publicado por: Gabriela I S Souza

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.