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AS RELAÇÕES SOCIAIS, AFETIVAS E POLÍTICAS DO PERSONAGEM “O COBRADOR”, DE RUBEM FONSECA

Breve discussão sobre as relações sociais, afetivas e políticas do personagem "O Cobrador", de Rubem Fonseca.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

AS RELAÇÕES SOCIAIS, AFETIVAS E POLÍTICAS DO PERSONAGEM “O COBRADOR”, DE RUBEM FONSECA

RESUMO

O objetivo do presente ensaio é descrever como o personagem “o Cobrador”, de Rubem Fonseca, vivencia as relações sociais, afetivas e políticas. Nesse conto, o personagem mostra-se perturbador, conciso e contundente. Com uma combinação de revolucionário e bandido, e ele cobra tudo que ele acha que as pessoas estão devendo a ele. Cruel com os ricos, que são seus inimigos; gentil com os pobres, os quais são seus semelhantes, o Cobrador direciona a violência para os indivíduos de classe social privilegiada.

Palavras-chave: Cobrador; Revolucionário; Relações Sociais.

INTRODUÇÃO

O conto “o Cobrador”, relata a história de um homem que sai pelas ruas cobrando todos que lhe devem. Rubem Fonseca, nesse conto, descreve em detalhes os pensamentos desse assassino que odeia as classes mais ricas. Com isso, o personagem descobre o verdadeiro sentido da sua vida, que é matar todos os seus devedores, mas de maneira seletiva.

A princípio, o cobrador tem uma divida consigo mesmo, haja vista que ele não se sente como pessoa, sendo, de certa forma, privado das coisas que ele mesmo cobra. Logo, sem acesso aos objetos que podem lhe dizer quem ele realmente é, passa a se sentir como uma pessoa sem valor e desqualificada, sendo a sua única saída se habilitar como o Cobrador por meio da violência.

Com isso, o Cobrador busca incitar uma revolução, isto é, que o ser humano seja respeitado na sua diferença, e que tenha mais dignidade. Diante disso, o personagem levanta a questão da crise de identidade pessoal com a coletiva para chegar ao seguinte objetivo: passa a matar um por um para por fim a desigualdade social.

RELAÇÕES SOCIAIS, AFETIVAS E POLÍTICAS DO PERSONAGEM

Todos eles estão me devendo muito [...] Digo, dentro da minha cabeça, e às vezes para fora, está todo mundo me devendo! Estão me devendo comida, buceta, cobertor, sapato, casa, automóvel, relógio, dentes, estão me devendo. (Fonseca, 1979, p. 163).

[...] O dentista me olhava, várias vezes deve ter pensado em pular em cima de mim, eu queria muito que ele fizesse isso para dar um tiro naquela barriga grande cheia de merda. Eu não pago mais nada, cansei de pagar!, Gritei para ele, agora eu só cobro! Dei um tiro no joelho dele. Devia ter matado aquele filho da puta (Fonseca,, 1979, p. 163).

No que se refere a as relações sociais do cobrador, podemos observar que a dívida que ele reivindica é essa: que o ser humano tenha uma condição digna. Nesse caso, não é cobrado luxo, mas sim necessidades básicas das quais ele se sente excluído. Logo, vemos que a degradação social é imposta pelas condições de vida. 

Além de servirem para alimentação, os dentes são importantes para o sorriso, ou seja, uma representação do ser humano no dia a dia. Os dentes bonitos também representam ascensão pessoal e social, mas os dentes podres ou a falta deles prejudicam a representação do sujeito em relação aos outros.

Em vista disso, percebe-se que o primeiro crime do contador acontece em uma consulta com um dentista. Assim, o narrador apresenta os dentes de maneira direta como uma divida que a sociedade tem com ele, contudo, somente as classes privilegiadas podem monopolizá-los. 

Em relação aos aspectos afetivos, o Contador tem uma paixão por Ana: uma mulher pertencente ao meio social do qual o personagem sente repúdio

[...] Eu quero aquela mulher branca! Ela inclusive está interessada em mim, me lança olhares. Elas riem, riem, dentantes. Se despedem e a branca vai andando na direção de Ipanema, a água molhando os seus pés. Me aproximo e vou andando junto, sem saber o que dizer. Sou uma pessoa tímida, tenho levado tanta porrada na vida, e o cabelo dela é fino e tratado, o seu tórax é esbelto, os seios pequenos, as coxas são sólidas e redondas e musculosas e a bunda é feita de dois hemisférios rijos. Corpo de bailarina [...] (Fonseca, 1979, p.167).

De volta à Rua Visconde de Maranguape. Faço hora para ir na casa da moça branca. Chama-se Ana. Gosto de Ana, palindrômico. [...] A moça era filha de um desses putos que enriquecem em Sergipe ou Piauí, roubando os paus-de-araras, e depois vêm para o Rio, e os filhos de cabeça chata já não têm mais sotaque, pintam o cabelo de louro e dizem que são descendentes de holandeses (Fonseca 1979, p. 168).

Nesse sentido, percebe-se que a união de Ana e o Cobrador refletem uma desconstrução social, uma vez que nos mostra a união de pessoas pertencentes a meios sociais distintos, embora seja apenas um laço de amor entre um homem e uma mulher. Nota-se que a união deles não resolve a temática das diferenças sociais, mas reforça ainda mais a luta entre as diferentes classes sociais, ou até mesmo dentro daquelas similares. Por conseqüência do amor de Ana pelo Cobrador, ela se revolta contra a sua própria classe, ensinando o personagem a matar pessoas em menos tempo, por meio de novas técnicas de assassinato. 

Todos os crimes que o personagem cometeu durante a narrativa são de caráter compensatório, ou seja, não possuem intenção de provocar mudanças políticas ou estruturais. 

[...] Meu ódio agora é diferente. Tenho uma missão. Sempre tive uma missão e não sabia. Agora sei. Ana me ajudou a ver. Sei que se todo fodido fizesse como eu o mundo seria melhor e mais justo. Ana me ensinou a usar explosivos e acho que já estou preparado para essa mudança de escala. Matar um por um é coisa mística e disso eu me libertei. No Baile de Natal mataremos convencionalmente os que pudermos. Será o meu último gesto romântico inconseqüente [...] (Fonseca, 1979, p. 180).

Tais crimes são resultado de uma reação pessoal a violência imposta pelo alto escalão da sociedade. Não se pode afirmar que tais crimes se tratam de uma revolução, mas de uma revolta cujo propósito é impor o terror e a destruição como um fim pessoal, embora o personagem alimente a esperança de que outros possam seguir seu exemplo na construção de um mundo melhor: “E o meu exemplo deve ser seguido por outros, muitos outros, só assim mudaremos o mundo. É a síntese do nosso manifesto”. (FONSECA, 1979, p. 181).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, conclui-se que esse ensaio fez uma tentativa de nos mostrar as atrocidades do personagem “o Cobrador”, o qual nos conta, alem da violência praticada por ele, o seu ódio contra os ricos. Todos os crimes que ele cometeu foram como se fosse uma satisfação desse sentimento ruim acumulado em seu coração, por conseqüência da vida sofrida vivida por ele.

Mesmo se identificando como um marginal, pobre e desdentado, o Cobrador odeia os poderosos. Somado a esse perfil de assassino, daquele que sofreu muitas injustiças, o personagem surge para “cobrar” uma dívida social gigantesca como um poeta também. 

Em outras palavras, o narrador, além de ser um fracassado consumidor, não é um herói. Apenas não possui os subsídios necessários para ter o que deseja e merece, vivendo em contradição com os capitalistas, os quais são denominados parasitas por ele.

REFERÊNCIAS

BITTENCOURT, M. B. Literatura e violência em um conto de Rubem Fonseca. Vitória (ES), Revista Sinais n. 19, 2016, 22 p. 

FONSECA, R. O Cobrador. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1979, 240 p. 

GUIZZO, A. R. Rubem Fonseca: a Representação da Violência e das Relações de Poder Enquanto Agressão ao Leitor no conto “O Cobrador”. Rio de Janeiro, Terra roxa e outras terras: Revista de Estudos Literários Vol. 21, 2011, 11 p.

MARTINS, E. C. M. A Violência Ressentida em Rubem Fonseca: uma Leitura do Conto "O Cobrador". João Pessoa (PB),Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal da Paraíba (UFPB), 2020, 45 p. 

Publicado por

Marcos Aurélio Coura de Araujo

Ângela Cristina de Souza Bezerra


Publicado por: MARCOS AURELIO COURA DE ARAUJO

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