A Placa do Professor

Clique e veja a transformação que uma placa proporcionou à cidade!

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O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor. Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com

Armando era um professor novo que tinha acabado de concluir seu curso na universidade, e já havia encarado o desafio de assumir uma sala de aula.

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Seu visual moderno incomodava os moradores da pequena comunidade chamada de Zé Açú. Incomodava seus colegas de trabalho também.

Armando não conseguia se sentir a vontade, pois sabia que era o assunto principal nas conversas de roda daquele vilarejo.

Armando adotava o corte de cabelo estilo moicano, pintado de vermelho. Para completar o look usava óculos escuros, uma guia no pescoço e várias pulseirinhas nos braços.

De quando em vez Armando aparecia ladeado de garotos novos fortes e bonitos. Sarados como dizem os jovens.

Essas companhias, de certa forma, aumentavam ainda mais o burburinho a respeito de seu comportamento e sexualidade.

Armando sabia disso. Por isso, precisava conquistar a confiança de seus alunos e da comunidade toda. Mas, o que fazer?

No seu dia-a-dia na escola Armando inventava gincanas, exposição de painéis com temas atuais, dramatizações, passeios, etc. Tudo para que suas aulas se tornassem interessantes e para que deixassem de lado sua vida pessoal.

Entretanto, nada funcionava. Armando estava fragilizado. Quase desistindo.

Armando lecionava as disciplinas: Artes e Língua Inglesa.

Armando percebeu que os alunos adoravam falar em inglês.

Coisas do tipo: - Dá um time (tempo)! E aí brother (irmão)! Relax (relaxa)!

Foi aí que teve uma brilhante ideia.

Iria mandar construir uma placa em inglês e colocaria na entrada da comunidade dando boas vindas a todos os visitantes. A comunidade era situada numa rota de navegação de barcos de recreio. Barcos que levam pessoas de uma cidade para outra.

A placa era sua cartada final e custaria um bom dinheiro.

Armando não mediu esforços. Foi até a cidade mais próxima e retirou do banco todas suas economias. Pagaria o que fosse para conquistar a confiança daquele povo.

Armando procurou o melhor artista plástico da cidade.

O artista lhe aconselhou a comprar uma lona de quatro metros, 4x4 para fazer a placa que seria pregada em duas colunas de madeira.

Armando deu a ideia para o artista. Queria uma águia preta gigante abrindo as asas e bem embaixo a seguinte frase:

- WELCOME TO ZÉ AÇÚ!

Armando era tão inacreditável que ensinou todos os moradores a lerem aquele mantra em inglês. Antes mesmo de a placa estar pronta.

No dia em que a placa chegou à comunidade foi um acontecimento. O professor Armando solicitou a ajuda de seus amigos fortes e bonitos para ajudar a desembarcar tão sagrado monumento.

Armando sugeriu que as colunas fossem colocadas em frente à igreja, de maneira que não ofuscasse a imagem da santa que ficava no alto da torre.

Seus amigos fortes e bonitos não tiveram muito problema para colocar as colunas e depois pregar a placa.

Não existia asfalto na comunidade, por isso era fácil cavar e fazer um buraco em qualquer lugar.

Quando a placa estava segura no alto, todos recuaram um pouco para ver se não tinha ficado torta.

Perfeito! Está pronta.

Armando estava contente com a sua obra. Os moradores voltaram para seus afazeres na roça. Mas, quando a noite chegou algo inusitado aconteceu.

A placa tinha virado atração turística.

Tinha até morador de outras comunidades que vieram ver a placa. Uns vinham pela estrada, outras vinham de canoa, remando.

O povo do Zé Açú se encheu de orgulho daquela placa. Era um marco histórico para eles.

Ainda mais quando em seu programa semanal de rádio o governador fez o seguinte comentário:

- O caboclo do Amazonas é pávulo mesmo! Vocês acreditam que num dia desses fui visitar algumas comunidades do interior de Parintins e quando passei em frente à comunidade do Zé Açù tinha uma enorme placa com uma águia preta e dizia:

- WELCOME TO ZÉ AÇÚ

O caboclo é fantástico! Finalizou o governador.

Ouvindo isso, o povo do Zé Açú se encheu de um orgulho imenso e reconheceu que esse sentimento só apareceu devido à iniciativa do professor Armando.

Armando não queria a admiração do povo, apenas o respeito pela sua individualidade de cidadão. Respeito pela diversidade!

Aquela placa transformou a mentalidade do povo do Zé Açú. Ainda mais quando meses depois o governador mandou asfaltá-la, e construiu duas escolas novas, um posto de saúde e colocou uma antena de telefonia celular.

Hoje o Zé Açú é uma comunidade antenada com o futuro. Dentro de suas limitações. É claro!

E o professor Armando já não leciona mais ali.

Ele foi um cometa que passou por lá. Uma estrela de brilho intenso!

*Geone Angioli é especialista em Literatura Brasileira e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - Campus/Parintins.

Publicado por
GEONE ANGIOLI FERREIRA

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor. Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com