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Lutero combate a simonia

Lançado em 2004, no Brasil, 'Lutero' teve divulgação tímida. Por quê?

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Lançado em 2004, no Brasil, 'Lutero' teve divulgação tímida. Por quê? Porque somos uma nação de maioria católica. Nosso Estado é laico. Começa com o protagonista (Joseph Fiennes) numa estrada, num dia chuvoso. Atingido por um raio, jura servir a Deus. Em 1507, torna-se padre. Eric Till, o diretor, estabelece um paralelo com a Bíblia ao narrar a conversão, de Saulo de Tarso ao cristianismo. A narrativa é boa. Eric sabe contar uma história. A trilha sonora ficou a cargo de Richard Harvey. A produção é parceria Alemanha e Estados Unidos

A partir daí, Lutero questiona-se. É o que se vê quando vai a Roma, à luz do dia, e presencia clérigos quebrarem o voto de celibato e mercantilizando indulgências. Essa é a Igreja que inaceita, que se farta de prazeres materiais, que é aética, que tira dos menos favorecidos, que os explora e manipula seus medos pela fé. Ou melhor, uma Igreja contrária às virtudes ensinadas por Francisco de Assis. Hoje, representa as pessoas que vivem no mundo das ilusões e que se distanciam da realidade e dos problemas que a todos atormentam. Não querem ver o que se passa fora da caverna, do shopping center. É a Caverna de Platão.

Exceto Fiennes, que não foi bem no papel, a meu ver, gostei dos atores. Peter Ustinov (Frederico, o Sábio) dá uma aula de interpretação. Ganhou o Globo de Ouro, 1952, em 'Quo Vadis', como ator coadjuvante, 1961, na mesma categoria, com 'Spartacus'. Não gostei de ver 'Lutero' e suas longas discussões com o demônio. É a lacuna do filme. Claire Cox (Katharine Lutero) deu conta do recado.

As iconografias são belíssimas. Ao recusar retratar-se, Lutero lançou as 95 Teses. Elas deram início à reforma. Julgado (1521), em Worms, foi excomungado pelo papa Leão 10º (Uwe Ochsenknecht). Essa é uma das cenas mais belas. Por sua vez, a Igreja Romana não mudou, com a contrarreforma reagiu à reforma e permaneceu aferrada aos seus dogmas. 

O filme atingiu seus objetivos. Lutero fez a mais fiel tradução da Bíblia para o alemão. Dessa forma, os cidadãos passaram a questionar a autoridade da Igreja e o seu monopólio sobre a fé. Seu feito, em 1517, originou as igrejas protestantes. Hoje, a religião fundada por Lutero conta com mais de 700 milhões de fiéis em todo o mundo, no Brasil são 25 milhões. 

Este longa-metragem nos mostra um ser humano coerente com suas idéias e insubmisso ao estado de coisas à época. Foi um humanista. Por fim, altero as palavras do poeta Carlos Drummond: minha pena está dentro de mim, em reclusão, qual o prisioneiro que por hora não pode sair de sua masmorra, onde os muros são feitos de pedra, de dor, de lamentação, de silêncio, afinal, não serei poeta de um mundo que a caducidade beira.


Publicado por: RICARDO SANTOS

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