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As mulheres pedreiras do sertão: A casa lilás e a construção de uma nova história das mulheres no cariri (2004 - 2010)

Mulheres enfrentando um novo mercado de trabalho.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

“Cada pessoa tem acesso a um trabalho remunerado justamente, efetuando em condições seguras e salubres que a permitem viver dignamente”.

Antigamente afirmavam que as mulheres não trabalhavam, isso se dava por atividades femininas na sua grande maioria serem sempre o trabalho de casa, cozinha, costura, limpeza, a criação dos filhos e ao serviço do marido. A vida da mulher girava em torno de seus familiares e um viver em função do outro, sujeitando- se sempre ao que tinha como único agente e protagonista história: o homem. Um ser sempre considerado ativo, inteligente, e que sempre ocupou posições privilegiadas na sociedade, que sempre exerceu domínio público e que sempre fez política. E como se o sexo masculino se identificasse com a esfera pública e o sexo feminino ao contrario com a esfera privada. Talvez, por esse motivo de destinadas a esfera privada, as mulheres por longo tempo estiveram ausentes das atividades consideradas dignas de serem registradas para o conhecimento das gerações subseqüentes.

O preconceito ao trabalho doméstico era muito forte. È como se a mulher não precisasse exercer mesmo que pequeno, poder em relação aos seus filhos e criados (aqueles que o tinham), e como se ela não tivesse de usar inteligência e criatividade ao lidar com seus filhos; não tivesse a preocupação de tornar seus filhos cidadãos e mesmo que totalmente submissos a um sistema de poder.

Quando se fala do trabalho doméstico é como se a mulher estivesse o tempo inteiro ociosa, passiva, submissa, sem maior iniciativa. Enfim, mais não é desta mulher que gostaria de analisar e sim dessa nova mulher que vem emergindo, viva, ativa, sempre imaginando e buscando novos meios para burlar as proibições, os preconceitos, a fim de atingir seus próprios propósitos, essa mesma mulher que vem significativamente nas últimas décadas atuar no âmbito publico, ocupando cada vez mais posições privilegiadas, principalmente postos tradicionalmente ocupadas por homens. “Fala- se das mulheres, sobre tudo quando perturbam a ordem pública.”

Aqui gostaria de destacar a importância dos movimentos feministas para a construção de uma nova história das mulheres. Desde o seu surgimento nas décadas de 60e 70, principalmente nos Estados Unidos e que logo se expandiu para o restante do mundo, foram movimentos de grandes demandas de informações de reivindicações que mobilizaram toda a sociedade desde então, de onde vieram a surgir novas perspectivas e abordagens sobre a História, atuação das mulheres na sociedade; focalizando não só família, maternidade, sentimentos mais especialmente introduzindo novos temas de analises como política, educação, direitos civis e trabalho, onde o privado mescla-se o público.”[4] È a busca de outros valores , de apresentar modelos femininos alternativos a imagem tradicional feminina, passiva, fútil, sem iniciativa; onde a mulher viesse a adquirir comportamentos transgressores , usurpando os papéis masculinos e cada vez mais atuassem no âmbito público ou melhor ingressassem no mercado de trabalho; pois profissão principalmente remunerada sempre significou conquista de autonomia, liberdade e poder”

É bem visível atualmente a luta das mulheres para conquistar mais liberdade em relação à sociedade, ao marido uma vez que o sentimento de posse vivo e atuantes onde homens chegam inclusive a cometerem violência a até matar seus “objetos” por perceberem que pode mudar de posição contraria a sua, enfim. Há também aquelas que trabalham para sustento familiar, que buscam realização profissional, que vem trocando ou juntando, o que muitos classificam como uma sobrecarga, o trabalho doméstico por uma profissão remunerada, vem se dedicando, se profissionalizando e diversificando- se cada vez mais, tem também um outro lado que precisa se modificar ,são mulheres que precisam ter consciência da sua própria capacidade.

Pois muitos eram aquelas que trabalhavam em casa, no campo, costura,cozinha e criações de filhos. Muitas adaptaram ao novo contexto urbano estratégias rurais de acréscimo a renda familiar, criando e vendendo galinhas, ovos e vegetais. Faziam o parto, vigiavam crianças para as mulheres que trabalhavam fora de casa, manufaturaram e vendiam bebidas alcoólicas , mascateavam, penhoravam e ainda aceitavam pensionistas. Apesar disso, introjetavam a visão dominante e não reconheciam suas atividades como trabalho, mesmo quando recebiam remuneração. Pesquisadoras descobriram que muitas dessas mulheres respondiam aos sensos que não trabalhavam.

Preocupada com essa situação tão presente criada no cariri, mas precisamente no campo, é que a CASA LILÁS, uma organização não governamental, que nasceu 1998 e que tem como diretora presidente a Maria de Lourdes Goes, que percebeu junto a outras militantes o fato de não existir e a necessidade de uma entidade identificada como Feminista no Ceará. Hoje a organização esta presente em várias regiões com sede no Cariri, inclusive no Crato – Na Rua dos Cariris no centro da cidade. Trabalha com mulheres em defesa de seus direitos e atua nas áreas de saúde, focando a área sexual, reprodutiva e na luta contra a violência doméstica e sexual e trabalho. Com Objetivo de melhorar a qualidade de vida, um espaço de acolhimento e protagonismo na luta das mulheres.

È interessante destacarmos a ação inovadora da Casa Lilás, da criação de um projeto: Mulheres no semi-árido regando a semente da vida, Criado no ano de 2004, que teve como foco principal o empoderamento das mulheres, sobretudo as do campo com relação à questão da água, ou melhor, da escassez. Vejo como um meio para burlarem uma situação tão dura dos seus cotidianos, Pois o estado do Ceará além de ser muito quente apresenta como sabemos precárias condições de abastecimento e tratamento de água principalmente nos locais mais distantes dos centros Urbanos. O primeiro objetivo ou momento desse projeto era segundo Tatiana Lemos uma das militantes e integrantes da Casa Lilás:

“Num primeiro momento procurava-se debater a questão do Eu, da auto-estima de cada uma das mulheres e de outros temas ligadas as mesmas.”

Foram realizadas oficinas na área de liderança, vida familiar, sexualidade, violências domesticas e políticas publicas no semi árido, saúde, na verdade tentativas de sensibilização. Eram encontros onde os integrantes da Casa Lilás ministravam nas oficinas. Vale ressaltar que esse projeto surgiu de um projeto de maior dimensão que foi o de construção de cisternas por todo o estado, a Casa Lilás entrou em parceira sugerindo publico alvo. No segundo momento capacitação onde mulheres ensinavam outras mulheres às técnicas de como se construir cisternas. Primeiro em multirão depois particularmente com acompanhamento. As participantes tem faixa etária de 25 a 45 anos, todos do campo como já mencionei anteriormente, na grande maioria casadas.

Gostaria de analisar aquelas mulheres que de fato se engajaram, e que não só participaram das oficinas, mas que seguiram como o ideal o ofício de vida, uma profissão.

Através da entrevista com Alzenir Sofia de Lima, moradora da cidade de Salitre, participante do projeto e que hoje atua de fato na construção de cisternas tanto na sua cidade como na região, seja contratações através da ONG ou particular na casa de vizinhos e amigos.

O mais difícil segundo ela, não seria obter o material, ou é cedido pela ONG em parceria com outras instituições, ou as pessoas que querem as cisternas em sua casa compram o material; Não seria também carregar os tijolos, preparar a massa, algumas contam coma a ajuda de outras mulheres (Trabalham em grupo) ou ate mesmo com o marido; nem os filhos, ao saírem deixam na companhia de outros.; Nem a idade, porém muitas saíram por questão de saúde. Na realidade o empecilho maior foi o preconceito da sociedade em aceitarem e contratarem mulheres pedreiras que foi profissão tida como puramente masculina. No caso da cidade de Salitre teve de se contar com apoio do sindicato dos trabalhadores, ate da prefeitura para uma maior divulgação.

As discussões sobre gênero trabalho são amplas, mas na pratica a sociedade ainda encontra- se resistente ao novo, o preconceito vive. A desmistificação do sexo frágil, que trabalha o pesado não é coisa de mulher, nunca foi e não seria principalmente no interior, no campo onde as relações e padrões de família e de sociedade ainda antigos é bem presente. É tanto que no primeiro momento do projeto foi sentido a necessidade de se realizarem oficinas de sensibilização, de auto estima percebendo as ministrantes que já esperavam as mulheres um pouco mais a frente. Segundo Alzenir Sofia chegaram a ter casos onde os maridos não aceitaram esse trabalho para suas mulheres e chegaram a se separar. Muitas que assim enfrentavam dificuldades dentro de suas casas socorriam as ministrantes para que em algum momento comparecessem na sua casa e conversassem com seus respectivos maridos. Há também as mulheres que não enxergam pontos negativos afinal de contas diante de suas situações econômicas, esse foi um bom meio de reverter tal situação.

Diz uma moradora da baixa grande, em Salitre “ A profissão de pedreira trouxe para mim , e pros meus cinco filhos menores, um novo rumo. Com o curso de pedreira hoje posso fazer minha feira toda semana e isto traz felicidade para nos” Afirma outra moradora da Baixa de Salitre.[9]

A concepção de trabalho vem se modificando, o mercado se diversificando e abrindo cada vez mais suas portas para o ingresso das mulheres. Que por sua vez estão conseguindo romper barreiras de preconceito e exercendo suas profissões com êxito, mesmo aquelas consideradas campos ainda nunca navegados por elas mesmas.

Enquanto o projeto das mulheres pedreiras no Cariri e a atuação da Casa Lilás, conforme Joan Scott “A s contribuições são recíprocas entre a história das mulheres e os movimentos feministas.[10]” As feministas são vistas como mulheres que tem consciência da sua capacidade e que reivindicam direitos iguais para ambos os sexos, que se preocupa com as demais em suas relações, necessidades, enquanto as outras voltam com suas especificidades, diferenças, experiências de vida. Com projeto a instituição conseguiu diversos apoios, mais como todo projeto há seus pontos positivos e negativos uma vez que só as mulheres da cidade de Salitre na região do cariri continuam atualmente a exercer a profissão de pedreira.

METODOLOGIA E FONTES:

A metodologia que Utilizarei será a analise documental e entrevistas orais. As partes utilizadas será jornais e revistas produzidas pelas mulheres da própria entidade e todas relacionados ao assunto no período de 2004 a 2010.

Também utilizarei relatos de mulheres simples e integrantes desses movimentos, utilizarei bibliografias referentes ao gênero.

BIBLIOGRAFIA:

ALBERTI, Verena. Manual de História Oral. 3º Edição. Rio de Janeiro. Editora FGU. 2005

Boletins informativos da entidade feminista titulada: Casa Lilás

CARDOSO, Ciro Flamarion. VAIFAS, Ronaldo. Domínios da História; Ensaios de teoria e Metodologia. Rio de Janeiro; campos, 1997

Entrevistas com integrantes da entidade, como as mulheres envolvidas no projeto: Mulheres Pedreiras do Sertão.

SOIHET, Rachel. História das Mulheres. Domínios da História; Ensaio de Teoria e Metodologia. Rio de Janeiro; campos, 1997

LEMOS, Tatiane. Entrevista realizada no dia 25 de abril de 2008, na sede da Casa Lilás em Crato.


Publicado por: Irana Januario Da Silva

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