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O discurso colonial e a mímica colonial

A mímica colonial é um discurso ambivalente que permite um deslizamento ou um excesso cometido com o objetivo de ser a diferença que ela própria representa.

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Um dos argumentos mais usados para defender a colonização e a sua legitimização foi o discurso civilizatório camuflado por questões de ciência, religião e cultura. Com efeito, o discurso que prega a inferioridade dos povos que foram colonizados permeia todo o processo da empreitada europeia pelo mundo.

Vejamos uma passagem de Sir Edward Cust no livro West African Affairs que foi adereçado ao Colonial Office em Londres em 1839:

« A esta altura já passou o momento de questionar a estratégia original de conferir a cada colônia do império britânico uma representação mímica da constituição britânica. Mas se a criatura assim dotada alguma vez se esqueceu de seu significado real e, sob a importância imaginada de oradores e insígnias de toda a parafernália e cerimônias da legislatura imperial, ousou desafiar a metrópole, esta deve agradecer a si própria a loucura de conferir tais privilégios a um tipo de sociedade que não tem qualquer direito terreno a uma posição tão elevada. Um princípio fundamental parece ter sido esquecido ou subestimado em nosso sistema de politica colonial – o da dependência colonial. Dar a uma colônia os meios de independência é uma zombaria; ela não permaneceria colônia por uma hora sequer se pudesse manter uma postura independente »

Edward Said diz que a mímica é o resultado do conflito entre a demanda de identidade da colônia e a diferença baseada na metrópole. A mímica é um acordo irônico entre o colonizado e o colonizador no qual vemos a imagem do colonizado como sendo um Outro reformado, reconhecîvel dentro dos moldes do colonizador: « quase o mesmo, mas não exatamente » A mímica colonial é um discurso ambivalente que permite um deslizamento ou um excesso cometido com o objetivo de ser a diferença que ela própria representa.

Na teoria, a metrópole é a potência civilizada que vem trazer ordem à colônia. Na prática, os métodos ditos civilizatórios restringem a liberdade dos colonos o que marca uma oposição aos ideais iluministas de independência, razão e senso crîtico dos individuos. Fruto de uma atitude disciplinadora do colonizador, o colonizado se domestica (ou é domesticado) para atender os compromissos da agenda colonizadora. Contudo, ao se adequar a esse padrão, ele não apenas « rompe » o discurso, mas se transforma em uma incerteza, um individuo parcial quanto a sua essência.

Caracteristicas da mímica colonial:

• Ela pode restringir o conceito de nação a algo racial e/ou cultural. Considerando que nada pode ser naturalizado.

• Ela desestabiliza a autoridade do discurso colonial.

• É uma representação do objeto colonial apenas parcialmente. Uma presença parcial.

• Essa presença parcial (a mímica) perturba a diferença cultural, racial da autoridade colonial.

Estereótipos, declarações, piadas, e mitos rascistas não estão presos no circulo duvidoso do retorno do reprimido. Eles são os resultados de uma atitude que nega as diferenças do outro, mas que produz em seu lugar formas de autoridade e crença múltipla que alienam as pressuposições do discurso civil.

Referências bibliográficas

ANDERSON, B. Imagined Communities. London: Verso, 1983. p.88.

CONRAD, Nostromo. London: Penguin, 1979. p.161.

FANON, F. Black Skin, White Masks, p.103.

MACAULEY, T. B. Minute on education. In: BARY, W. Theodore de (Ed.). Sources of Indian Tradition. New York: Columbia University Press, 1958. v. II. p.49.

SAID, E. Orientalism. New York: Pantheon Books, 1978. p.240


Publicado por: julio lenz rodrigues barrocas

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