Movimento de 30 dá xeque-mate na oligarquia
O Golpe de 30 tem como perspectiva um processo de tomada do poder por um civil, Getúlio Vargas.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
O Golpe de 30 tem como perspectiva um processo de tomada do poder por um civil, Getúlio Vargas. No poder, ele implanta uma ditadura civil que contou com o apoio dos tenentes e parte da cúpula militar. Aliás, esse Primeiro Reinado durou 15 anos (1930-45). Contudo, não se pode negar que havia militares contrários ao golpismo. Portanto, os acontecimentos de 30 têm como pano de fundo o desenrolar do movimento tenentista ocorrido na primeira metade do século 20 (1922-24), que reivindicava a implantação de medidas que consideravam importantes para moralizar o País, entre elas o voto secreto, o ensino público obrigatório, reformas administrativas e o fim do poder da velha oligarquia.
Inicialmente, tem-se a disputa eleitoral pela sucessão do presidente Washington Luís, que indica o paulista Júlio Prestes (1882-1946) para sucedê-lo, e não o mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, de acordo com a aliança de alternância no poder entre São Paulo e Minas Gerais. Dessa forma, desfaz-se a política do "café-com-leite".
Em retaliação ao descumprimento do pacto, a Aliança Liberal lança Getúlio Vargas (1883-1954) candidato e João Pessoa como vice para concorrer com Júlio Prestes. À Aliança - que era formada pelas oligarquias dissidentes de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul - servia como um grupo de pressão e oposição ao governo federal. Seu programa político não previa a solução dos problemas nacionais, apenas reunia os interesses das oligarquias latifundiárias, que queriam a adesão das elites dominantes regionais não cafeeiras e o apoio da classe média urbana.
Enquanto isso, no dia 24 de outubro de 1929, ocorre a quebra da Bolsa de Nova York (EUA), que leva a economia mundial ao caos e à falência de milhares de empresas acima e abaixo da Linha do Equador. Além disso, cerca de 10 milhões de trabalhadores perderam seus empregos. Com o colapso econômico, as ações da bolsa perdem seu valor. Países com superprodução agrícola são atingidos duramente pela instabilidade econômica, o que leva seus principais produtos agrícolas de exportação entrar em uma profunda crise. Foi isso o que ocorreu com o café brasileiro. Na obra História do Brasil, o historiador Boris Fausto diz o seguinte: "Com a crise, os preços internacionais caíram bruscamente. Como houve retração do consumo, tornou-se impossível compensar a queda de preços com a ampliação do volume de vendas. Os fazendeiros que tinham endividado, contando com a realização de lucros futuros, ficaram sem saída". Com isso, os cafeicultores pressionam o presidente e exigem medidas protetoras para o setor. Na Alemanha, a conjuntura econômica desfavorável leva ao surgimento do partido nazista, na Itália ao fascismo. Entre os estudiosos, o período é denominado como a Grande Depressão.
Com o apoio do movimento operário e da emergente classe média urbana aos tenentes, forma-se um conjunto de forças sociais que exigem mudanças políticas para o desenvolvimento nacional. Por sua vez, o Partido Comunista Brasileiro fundado em março de 1922, defende propostas sociais a favor do operariado, sendo elas legislação social, jornada de 8h diárias, jornada de 48h semanais, contratos coletivos de trabalho, salário mínimo, proteção à mulher e à criança e proibição do trabalho infantil para menores de 14 anos.
Após a eleição de 1º de março de 1930, Prestes é eleito, mas não assume o poder. Com o assassinato do vice de Vargas, a oposição não aceita a derrota. Tem início o movimento. O presidente Washington Luís é deposto, em 24 de outubro. Depois disso, instala-se a Junta Pacificadora - com o apoio da Coluna Prestes - que entrega o poder a Getúlio, em 3 de novembro. No poder, Getúlio implanta o Estado Novo, através do qual fecha o Congresso Nacional, assume os poderes Executivo e Legislativo e impõe censura aos meios de comunicação com a criação do Departamento de Imprensa de Propaganda (DIP).
Nacionalista, Vargas põe em prática um populismo demagógico para se manter no poder. Aliás, seu alvo era impedir a autonomia do movimento operário e o avanço da cidadania. Então, o que muda? A Crise de 29 extingue a República Velha, o poder político do baronato cafeeiro chega ao fim e a industrialização veio para ficar. Pós-30, o Estado se caracteriza por uma política altamente centralizadora e pela existência de um regime político populista[1] ancorado nas massas urbanas, e pela ausência de grupos políticos suficientemente fortes o bastante para se colocarem acima da Lei.
Então, fica claro não haver um projeto getulista que visasse uma profunda transformação da realidade brasileira. Incorre em erro quem pensa o contrário. Seja como for, no Segundo Reinado (1951-54), Getúlio governou antenado nos valores democráticos e o respeito à Lei Maior. Não é o mesmo de outrora, como diz o jornalista Otávio Frias Filho, ele retorna ao poder "investido da condição de líder de massas democrático". Como Vargas, desde a implantação da República, nenhum outro governante brasileiro permaneceu tanto no poder. Foram 18 anos e meio. (Ricardo Santos é prof. de História)
[1]Na América Latina tivemos vários governos populistas. No Brasil, Getúlio Vargas, na Argentina, Juan Domingo Perón, no México, Lázaro Cárdenas. Populismo é a denominação atribuída a diversos regimes políticos que surgiram na América Latina depois da crise de 1929. Sua origem vincula-se a crise da ideologia dominante nas décadas de 1960-70. Não se pode esquecer que o populismo é uma prática política [de esquerda ou de direita] que prega a defesa dos interesses das camadas não privilegiadas da população. Ou seja, se limita a ações de cunho paternalista para obter o apoio popular. Geralmente, o populista pertence à classe dominante. Como se vê, o principal motor do populismo é o povo. Ações mais comuns dos governos populistas: a diminuição do peso relativo das antigas oligarquias, a criação de legislação trabalhista que assegurou direitos aos trabalhadores, a industrialização, o nacionalismo como marca da política econômica nacional, o estatismo na economia e o crescimento da classe média.
Publicado por: RICARDO SANTOS
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