A mineração e o contrabando do ouro
No Brasil, a exploração teve como base especialmente o ouro e o diamante depositados nas jazidas de Minas Gerais.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Constante no imaginário do colonizador europeu desde os primórdios de sua chegada ao Novo Mundo, o enriquecimento através da extração mineral pôde ser intensamente experimentada por luso-brasileiros e portugueses instalados no Brasil principalmente no decorrer do século XVIII. Aqui, a exploração teve como base especialmente o ouro e o diamante depositados nas jazidas de Minas Gerais.
Diferentemente da atividade açucareira, cujos engenhos requeriam numerosas quantias em capital para sua instalação e manutenção, além de um grande número de escravos, o investimento inicial na faiscação do ouro normalmente era baixo. Afora o ouro das minas, que demandava certa engenharia na abertura das galerias e um número elevado de cativos, o ouro fora facilmente encontrado nas margens ou no leito dos rios, misturado a cascalho, areia e argila (ouro de aluvião), sendo explorado por faiscadores solitariamente ou acompanhados por poucos braços escravos.
Logo que cientes do montante que vinha sendo gerado pela mineração, a Coroa portuguesa e as instâncias de poder locais, como as Câmaras, não tardaram em colocar em prática medidas para arrecadação e fiscalização. O quinto, por exemplo, foi uma das taxas que recaíram sobre os recursos minerais extraídos, e consistia na entrega de 20% do total retirado para os cofres da Coroa.
Contudo, como o ouro comercialmente circulava sob a forma de pepitas ou em pó – portanto de fácil manuseio - acabavam escapando aos olhos dos agentes fiscalizadores, e a prática do contrabando rapidamente se tornou comum nas áreas de garimpo. Por um lado, os próprios mineradores tentavam driblar a fiscalização, escondendo o ouro em suas roupas, bolsas e até mesmo nos animais que realizavam o transporte na época, como as mulas e bois. Afinal de contas, adotando esta estratégia poderiam aumentar sua renda final na comercialização. Por outro, alguns historiadores concordam que os próprios escravos-faiscadores tentavam angariar rendas através da mineração, contrabandeando as riquezas de seus senhores.
Um caso que ficou famoso foi o do chamado Chico Rei, escravo da mina Encardideira, em Vila Rica (atual Ouro Preto). Antigo rei de uma sociedade no Congo e tornado cativo no Brasil, o escravo enriqueceu escondendo pedras de ouro em seus cabelos, passando despercebido pela vigília de seu senhor. Com o tempo, o escravo Chico reuniu fundos para comprar sua própria alforria (liberdade) e de toda sua gente, tornando-se dono da mina em que trabalhava.
Existem documentos que também atestam a participação de religiosos nestas atividades extra-oficiais. Diversos deles se serviram de imagens santas esculpidas em madeira para se esquivar da fiscalização. Acoplavam no interior oco destas o ouro a ser comercializado, passando livremente pelas barreiras fiscais montadas nas principais estradas e caminhos da colônia. A expressão largamente utilizada nos dias de hoje – “Santo do Pau Oco” – no designo de pessoas dissimuladas, surge justamente como decorrência desta prática, da qual nem mesmo se abstiveram os responsáveis pela condução da vida espiritual das pessoas e disseminação do catolicismo.
Mais tarde, como era de se esperar, o governo transformaria as formas de taxação, instituindo obstáculos ao desenvolvimento do contrabando. Não obstante, a cada manipulação por parte do poder instituído, a população mineradora reagiu mediante agitações sociais, organização de revoltas e motins, além, é claro, da incessante criação de novas formas de subverter as medidas do Estado.
Publicado por: André Eitti Ogawa
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