A Invenção de Rondônia
Formação do estado de Rondônia, migrações colonizadores, êxodo rural, elite, processo migratório...O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
As migrações colonizadoras, em solo brasileiro começam nos tempos coloniais. Mas para a Amazônia são mais tardias e aconteceram em vários momentos – em geral chamados de “ciclos econômicos” (mineração, borracha...) – e que se intensificaram a partir de meados do século XX dentro de uma política do governo federal.
A partir da década de 1960 se planejou e executou projetos governamentais de colonização e de ocupação da Amazônia. E isso funcionou como uma espécie de plano estratégico de governo. Criou-se, inclusive um slogan: “Integrar para não entregar”.
Eram políticas muitas bem delineadas para efetuar a ocupação de grandes áreas em diferentes regiões da Amazônia, todas dentro da mesma proposta de integração. Destacam-se dois empreendimentos: a construção da rodovia Transamazônica e a ocupação de Rondônia. Ressaltando que essa ocupação regional ocorreu principalmente para aliviar conflitos que se intensificavam no sul-sudeste. Conflitos que resultavam do fenômeno chamado de êxodo rural que por sua vez se originara do processo de mecanização da lavoura e da política de industrialização que estava acontecendo. Isso pode ser expresso da seguinte forma: acontece o processo de industrialização e mecanização da agricultura que provoca o processo de concentração fundiária ocasionando o êxodo rural e o inchamento das cidades, agravando os problemas urbanos. Para responder a pressões e conflitos o governo federal precisava de uma área onde assentar instalar os excedentes populacionais. Esse espaço foi encontrado. Chamava-se Amazônia. Assim se inventou a Transamazônica, gerando empregos e Rondônia, para distribuir terras, ambos para integrar a região e para aliviar os conflitos do sul-sudeste.
(Nem vamos entrar na discussão de que a crise do capital, no final da década de 1970 pondo um fim no “Estado do Bem Estar Social”, precisava alavancar o processo de expansão de fronteiras para dar uma sobrevida e reanimar o capitalismo. E, por isso, foi necessário atrair os colonos para a Amazônia a fim de amansar a região para que, também aqui, se infiltrassem as garras do capital efetivando o processo de concentração fundiária)
Assim foi que se criaram as políticas de incentivo à ocupação; e as empresas colonizadoras se encarregaram de divulgar e organizar o processo de ocupação. Dessa forma os deserdados da terra receberam a promessa de ganhar terra, numa falsa ilusão de reforma agrária que deveria acontecer em Rondônia. E isso se fez a partir de inúmeros projetos e programas de colonização. A propaganda do governo mandava acreditar na promessa. E a ocupação se faz a partir de propaganda estatal e comercial.
(Disso resulta um problema: o migrante que atendeu ao chamado e fez um desmatamento desordenado hoje é visto não como quem trouxe solução, mas como vilão, destruidor. O migrante, antes vítima do capitalismo rural, agora é vítima de um ecologismo acrítico. E o migrante é visto como depredador. O antigo sem terra é agora inimigo da natureza e da Amazônia. Mas quem realmente agride o ambiente: o pequeno sitiante ou o grande latifundiário, o madeireiro e as empresas de mineração?)
É preciso lembrar que o processo migratório ocorrido a partir dos anos 1970, não foi de caráter espontâneo, mas resultante de uma política levada a efeito pelo governo federal que tinha como estratégia, de um lado, minimizar os problemas sociais nas regiões de alta densidade demográfica, com emergência de conflitos sociais e de outro, criar condições para a efetivação da política de integração nacional para regiões de fronteiras. Tudo isso caracteriza o fluxo migratório desse momento como sendo resultante de ações oficiais: é a invenção de Rondônia.
Nos anos da década de 1970 a Amazônia, e em especial o estado de Rondônia, era um lugar privilegiado e potencialmente favorável para ser transformado em paraíso terrestre, a terra prometida, novos tempos, uma nova utopia, um novo encorajamento para mudar, mexendo no imaginário das pessoas que em levas constantes deslocaram-se para estas paragem em busca da materialização de antigos sonhos.
E quem era esse homem? Um retirante que via nestas paragens a possibilidade de resolver sua vida, mudar, ascender, melhorar de vida! O homem que respondeu ao chamado era vítima de um projeto maior que amarrou os sonhos individuais num sonho coletivo. Pode-se dizer que o brasileiro que fez Rondônia trouxe a bagagem enrolada num saco que atado às costas se fez cacaio.
A partir disso é que se pode dizer: os que inventaram Rondônia foram as elites mas quem a construiu foram os deserdados da terra. Aqueles que por algum motivo precisavam deixar seu lugar de origem e migrar, buscando um lugar para sustentar-se e manter viva a família, e o sonho. Dessa forma apareceram as várias cidades, em Rondônia. Dessa forma nasceu Rolim de Moura: acolhendo aqueles que de uma ou de outra forma, eram expulsos de sua região de origem.
O que foi a invenção de Rondônia? A divulgação de fartura de terras e obras infra-estruturais. Noutros estados se dizia de Rondônia: terras férteis e fartas, possibilidade de acesso à terra, arremedo de reforma agrária; falava-se da estradas, telecomunicações, escolas e todo aparato promovido para maquiar e embelezar o que era um grande espaço verde feito de nada.
Mas não se resolveu o problema e o processo não parou. E vão sendo criados, constantemente, novos projetos e novas propostas são apresentadas. E o homem que faz Rondônia permanece migrante e carregando uma espécie de chama ardente que o impulsiona para novas frente em busca do desconhecido, norteado pela “esperança em dias melhores”. Dá até para dizer que em muitos casos migrar é um projeto de vida. Um projeto que a bem da verdade foi fomentado e aguçado pela ideologia de ocupação disseminada pelo Estado autoritário.
E hoje muitos dos que migraram e fizeram nascer as várias cidades de Rondônia continuam sendo migrantes. Alguns para outras regiões do estado e outros para outros estados. Todos na eterna busca do sonho da terra fácil, farta, fértil, própria para colher vida melhor.
Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação
Filósofo, Teólogo, Historiador
Outras reflexões do professor Neri:
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Publicado por: NERI DE PAULA CARNEIRO
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