COMO SÃO FORMADAS AS PALAVRAS EM NOSSA LÍNGUA?
Breve análise sobre o processo de formação de palavras na língua portuguesa.
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Como nascem as palavras é uma curiosidade que nos acompanha desde a tenra idade, quando ainda estamos no processo de aquisição da linguagem, até os últimos dias de nossa passagem por esta vida.
Neste artigo, o leitor degustará uma panorâmica dos processos de formação de palavras na Língua Portuguesa, a partir de experiência docente e de contribuições extraídas de referências seguras a respeito do assunto.
Terminologias como “derivação” e “composição”, presentes no currículo (e, para quem já passou pela escolarização básica, nas memórias da época de estudante), mas, também, nem tão lembradas, nem por isso menos importantes.
Os estudiosos
De acordo com Kehdi, em Formação de palavras em português, “basicamente, distinguem-se dois processos de formação lexical: a derivação e a composição”. O próprio autor, entretanto, nessa mesma obra, lista (em um dos capítulos finais) “outros processos de formação de palavras”.
O professor Evanildo Bechara, em suas Gramáticas [Moderna e Escolar], também lembra de outras possibilidades de criação de novos vocábulos na língua: “abreviação”, “siglas”, “reduplicação”, “hibridismo”.
Na BNCC
Na Base Nacional Curricular Comum (BNCC), os processos de formação de palavras estão presentes desde os Anos Iniciais: Em EF03LP10, “reconhecer prefixos e sufixos produtivos na formação de palavras”.
A BNCC, na introdução às práticas de linguagem dos Anos Iniciais, especificamente, no que tange à “alfabetização”, considera os saberes que os estudantes trazem internalizados sobre “derivação e composição” (cabendo à escola potencializar as competências para os usos linguísticos).
Nos Anos Finais, EF08LP05, “analisar os processos de formação de palavras por composição (aglutinação e justaposição)”.
No Ensino Médio, não há referência explícita aos processos de formação de palavras, mas, assim como no que diz respeito a outros componentes, esta é a fase de “consolidação e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos”.
Conceitos
1) Derivação
Segundo Bechara, a derivação consiste na formação de verbetes “de outra primitiva por meio de afixos”, que são, como Bechara ensina, elementos utilizados para “formar uma palavra nova, emprestando-lhe uma ideia acessória”.
A derivação pode ser por prefixação (antes do radical da palavra) e por sufixação (no final). Dois exemplos extraídos do livro de outro teórico, Kendi, em Formação de palavras “REPOR [RE-prefixo + POR] e “FELIZMENTE [FELIZ + MENTE-sufixo].”
A despeito de cumprirem papéis semelhantes, a prefixação e a sufixação têm características particulares, enfatiza Kehdi no seu livro.
A prefixação “não contribui para a mudança de classe gramatical do radical a que se liga: rever é verbo, como ver; desigual é adjetivo, como igual”.
A sufixação, “ao contrário, pode contribuir para a mudança da classe gramatical do radical: civilizar é verbo, ao passo que civil é adjetivo”.
Podem ser divisíveis ou indivisíveis Indivisível é a palavra que só tem um elemento mórfico. Alguns exemplos (dados por Bechara): “mar, sol, ar, é, hoje, lápis, luz”. Divisível é a palavra que, ao lado do radical, pode ser desmembrada em outros elementos mórficos: “mar-e- s”, “alun-as”. |
Primitivas
“São as palavras que não resultam de outras da língua”. Bechara exemplifica: “livro, belo, barco”.
Derivadas
O termo é empregado para aludir a palavras que “resultam” de outras. Exemplos: “livraria, embelezar, barquinho”.
Parassintética
Um caso especial – e por que não controverso? - de formação de palavras é a parassíntese ou derivação parassintética.
Bechara, em suas gramáticas, por sua vez, fala na polêmica da parassíntese. Em vez de tomar um partido, o grande filólogo prefere apontar que não é “consensual”; segundo ele, “para alguns baste prefixo e sufixo, outros destacam que deve ser simultâneo”.
Autoridade no assunto, Valter Kendi é um dos estudiosos exigem a “simultaneidade” para que se configure uma derivação como parassintética.
Kendi, em sua obra, explica que a derivação parassintética, “ muito comum em português, consiste na adjunção simultânea de um prefixo e de um sufixo a um radical, de forma que a exclusão de um ou de outro resulta numa forma inaceitável da lingua”.
O autor de Formação de palavras em português demonstra o que (não) é uma parassíntese: “tomemos, como exemplo, o verbo esclarecer, não existe o adjetivo esclaro, nem o verbo clarecer” para explicar ao leitor de sua obra.
2) Composição de palavras
Em uma explicação simples, o professor Kendi explica que “a criação de palavras novas pela combinação de vocábulos já existentes”. São duas as possibilidades de composição, na formação de palavras : justaposição e Aglutinação.
Na justaposição, os vocábulos mantém sua “individualidade”, como explica o gramático Bechara. Há “independência” dos termos formadores em relação ao termo formado.
“Guarda-roupa” e ”vai-vém” são termos utilizados pelo gramático de palavras que nasceram a partiram do processo de composição.
Na aglutinação, a formação de palavras se dá de forma mais “intima”, uma vez que os termos que originam a nova palavra “tem uma leve alteração”.
“Fidalgo” e “planalto” foram os termos usados por Bechara para exemplificar o processo de constituição de palavras por meio de aglutinação.
3) Outros casos
3.1) Regressiva
Trata-se de derivação regressiva aquela que se dá “por subtração, não por adição” como explica Said Ali, em sua Gramática secundária.
O professor Evanildo Bechara exemplifica: “janta” por “jantar”, “embarque” por “embarcar”.
3.2) Abreviação
3.2.1) De palavras...
O processo de formação de palavras por meio de Abreviação assemelha-se ao de Regressiva no que concerne à eliminação de parte de um termo para a criação de outro. Alguns especialistas, inclusive, listam a abreviação como uma das possibilidades de regressiva.
O filólogo Valter (muitas vezes citado neste texto) alerta, contudo, que não se pode confundir a Abreviação com a Regressiva.
Se ambas têm a ”eliminação” como aspecto especial, a derivação regressiva consiste na “mudança de classe gramatical (verbos que passam a substantivos)”, ao passo que (um dos tipos de) abreviação, após “a redução de vocábulo, ele permanece na mesma classe gramatical”.
Em suas gramáticas, o professor Evanildo Bechara apresenta alguns exemplos: “foto” (fotografia); “extra” (extraordinário); “fono” (fonoaudiólogo/a).
Um adendo: abreviação de palavras, “É comum não só no falar coloquial, mas ainda na linguagem cuidada”, como ressalta Evanildo Bechara.
3.2.2) Siglas
Ademais, considera-se como processo de formação de palavras por abreviação aquele que resulta em Siglas. “É um processo moderno”, no qual ficam reduzidos longos nome às “iniciais”, como ressalta Valter Kendi.
Alguns exemplos: USP – Universidade de São Paulo; IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; ONU – Organização das Nações Unidas.
Valter Kendi lembra que é possível separar as letras por pontos ou não (o segundo, sobretudo hoje em dia, é mais comum). Na leitura, pode-se soletrar cada uma da iniciais ou pronunciar a sigla como qualquer outra palavra (o que é mais comum).
3.3) Reduplicação (redobro ou duplicação silábica)
Em poucas palavras (de Evanildo Bechara), a Reduplicação “consiste na repetição de vogal ou consoante, acompanhada quase sempre de alternância vocálica, geralmente para formar uma palavra imitativa”.
Segundo o autor das gramática (Moderna e Escolar), são exemplos de reduplicação palavras como: “tique-taque, reco-reco, bangue-bangue, bombom.”
Uma última informação: Evanildo Bechara e Válter Kendi lembram que a reduplicação – por sua natureza “imitativa” – consiste em um processo similar ao da Onomatopeia.
4) Conversão ou Derivação Imprópria
“A conversão consiste no emprego de uma palavra fora de sua classe normal”, ensina Bechara em sua Gramática Escolar. Como exemplos, Bechara reproduz os seguintes exemplos:
“(I) Terrível palavra é um não. (II) Não consegui descobrir o porquê da questão. (III) Ele é o benjamim da família. (IV) Isto prova a não existência do erro”.
O filólogo lembra que podemos incluir a passagem, por hipertaxe, “de uma unidade da palavra (geralmente a final) à palavra isolada: Ele tem certas fobias (Fobia é a parte de um grupo de palavras que designam aversão a uma coisa fotofobia, xenofobia, hidrofobia, etc.)”.
A questão é polêmica: muitos autores nem incluem a Derivação Imprópria como um tipo de derivação. Essa posição parece ser a mais pertinente, pois as palavras só podem ser classificadas morfologicamente nos contextos de usos (que são, segundo os estudos linguísticos, variadíssimos, senão infinitos).
5) Hibridismo
Trata-se de um dos processos de formação específico, para o qual concorrem “elementos de diferentes línguas”. “SOCIOLOGIA”, por exemplo, é formada por elementos do Latim e do Grego.
6) Intensificação
Trata-se de um caso muito especial, que nem sempre é mencionado por especialistas. Explicação e exemplos de Evanildo Bechara:
A intensificação é um caso especial pelo qual se deseja traduzir a intensificação ou expressividade semântica de uma palavra já existente, mediante o alargamento de sufixos, quase sempre -izar, ou, às vezes, por modelos franceses ou ingleses: agilizar por agir; veiculizar por veicular; obstaculizar por obstar; protocolizar por protocolar; culpabilizar por culpar; depauperizar por depauperar.
7) Combinação
Um tipo de formação de palavras presente – nem sempre comentado, contudo – é a que decorre da “combinação” de “parte de cada uma das palavras” que a formam o novo termo: “BAVI” (do clássico do futebol baiano: Bahia X Vitória); “portunhol” (da mistura entre “português” e “espanhol”).
8) Pra encerrar... Neologismo...
Ainda que não seja listada como um dos tipos especiais de formação de palavras, haja vista a amplitude do que abrange (“entram por vários caminhos”, nos dizeres de Bechara), o Neologismo é, também, uma das maneiras pelas quais surgem um novo termo na língua.
A criação de marcas ou produtos, na esfera comercial, como batizar o nome de um produto com o homônimo de quem inventou, como a lâmina de barbear Gillete, que deu em “gilete”, ou com um elemento toponímico (que alude a lugar), como Cãopo Limpo, de uma veterinária, localizada no bairro distrital (da Capital Paulistana) Campo Limpo.
Também, a combinação de termos para formar palavras como “imexível”, dita por um ministro, o (Antonio Rogério) Magri. Em decorrência de não constar de dicionários – à época que foi pronunciado por Magri –, causou um enorme reboliço, demandando a defesa de ninguém mais ninguém menos que Antonio Houaiss, que explicou ser uma possibilidade perfeita de formação de palavras na língua.
REFERÊNCIAS
ALI, Said. Gramática secundária da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1966.
BECHARA, Evanildo. Gramática escolar da língua portuguesa. 2. a ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2010.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. – 37.a ed. rev., ampl. e atual. conforme o novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). A redação no Enem 2022: cartilha do participante. Brasília, 2022. Disponível em:https://download.inep.gov.br/download/enem/cartilha_do_participante_enem_2022.pdf>. Acesso em 28 de maio de 2023.
KEHDI, Válter. Formação de palavras em português. São Paulo: Editora Ática,1992.
Publicado por: Fábio Roberto Ferreira Barreto

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