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SOBRE A MEMÓRIA DOS LUGARES

Análise sobre a memória dos lugares.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Como temos defendido em pesquisas anteriores (FERNANDES 2010; 2015; 2020), aos lugares são atribuídas muitas dimensões de significado (BUTTIMER, 2015). Um dos caminhos apontados por diferentes autores a fim de explorar o dinâmico e multifacetado universo vivido seria por meio do vislumbre dos acervos íntimos e particulares de seus vivenciadores.

Todavia, como toda experiência vivida remonta, inexoravelmente, ao passado, se quisermos seguir este percurso, precisaremos recorrer ao subsídio das memórias individuais e coletivas dos indivíduos e grupos sociais (LOWENTHAL,1982; 1985; 1998; ABREU, 1998; MELLO, 2002; HALBWACHS, 2013; BUTTIMER, 2015).

Por mais que uma localidade se transforme, em decorrência de uma marcha urbanizadora, por exemplo, ela sempre conservará um conteúdo residual de temporalidades pretéritas. Há, porém, uma gama de acontecimentos que não deixam vestígios físicos. Estes, muitas vezes, ficam registrados na memória geográfica dos indivíduos que acompanham tais mudanças.

O que pensamos e sentimos em relação às nossas geografias se fundamenta, obviamente, em experiências vivenciadas em algum lugar do/no passado. A partir deste enlace, tudo o que ocorre em nosso chão experienciado, passa a compor nossa própria existência (LOWENTHAL, 1998).

A vida cotidiana tem o lugar como base, sendo este o resultado de todos os nossos momentos, o somatório de nossas memórias e o produto e junção de todas as nossas experiências vividas (MENDILOW, 1960). Possuído pelo passado, Lowenthal admite viver em um emaranhado de épocas. Para o referido pensador, o passado reside em nós por meio de nossas memórias e lembranças de diferentes momentos (LOWENTHAL, 1985; 1998).

Por povoar os pensamentos dos seres humanos, o passado está vivo em nossa memória (HIGHET, 1949). Na verdade, os cenários e experiências vislumbrados e vivenciados tornam-se parte de nossa lembrança (BUTTERFIELD, 1965).

Assim, “toda consciência do passado está fundada na memória. Através das lembranças recuperamos consciência de acontecimentos anteriores, distinguimos ontem e hoje, e confirmamos que já vivemos um passado” (LOWENTHAL, 1998, p.75).

A memória possui caráter pessoal e coletivo ao mesmo tempo. As lembranças dos indivíduos e grupos sociais sustentam seu sentido de identidade em relação ao seu chão experienciado. Nossa vida está impregnada por nossas memórias. A todo instante, trazemos de volta algum acontecimento do passado (LOWENTHAL, 1998).

As lembranças tendem a acumularem-se com a idade. Nosso estoque de recordações aumenta à medida que a vida transcorre e as experiências multiplicam-se. Embora haja lembranças individuais e coletivas, a memória é sempre pessoal. As recordações deixam de ser pessoais apenas quando decidimos compartilhá-las (LOWENTHAL, 1998).

A memória dos distintos espaços e lugares está inscrita, não apenas em alguns artefatos do passado que persistem em sua paisagem como testemunhos geográficos, mas – principalmente – nas lembranças das experiências vividas por homens e mulheres em seu universo vivido. Neste quadro, o lugar transcende a materialidade, ainda que não dissociado desta, pois as lembranças espaciais eternizam-se em nossas memórias geográficas (MELLO, 2002; FERNANDES, 2020).

REFERÊNCIAS

ABREU, Maurício de Almeida. Sobre a Memória das Cidades. Revista da Faculdade de Letras — Geografia I série, Porto, v.14, p. 77-97, 1998.

BUTTERFIELD, Roger. “Henry Ford, the Wayside Inn, and the Problem of 'History is Bunk'". Massachusetts Historical Society Preccedings, Massachusetts, v. 77, p. 5366,1965.

BUTTIMER, Anne. Lar, Horizonte de Alcance e o Sentido de Lugar. Revista Geograficidade, Niterói, v.5, n.1, p. 4-19, verão 2015.

FERNANDES, Marcio Luis. Decodificando geografias pretéritas e hodiernas de Ilha de Guaratiba (Dissertação de mestrado). Rio de Janeiro: PPGEO/UERJ, 2010. 99 f.

______. Ilha de Guaratiba: um lugar descortinado por seus moradores desaguando no Rio olímpico (Tese de doutorado). Rio de Janeiro: PPGEO/UERJ, 2015. 189 f.

______. Geografias memoráveis: sobre os lugares e suas memórias geográficas. Novas Edições Acadêmicas: Rio de Janeiro, 2020.

HALBWACHS, Morrice. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro, 2013. 224 p.

LOWENTHAL, David. Geografia, experiência e Imaginação: Em direção a uma epistemologia geográfica. In: CHRITOFOLETTI, Antônio. Perspectivas da Geografia. São Paulo: DIFEL, 1982. p. 103-141.

______. The Past Is a Foreign Country. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.

______. Como Conhecemos o Passado. Projeto História – Revista do programa de estudos pós-graduados de história, São Paulo, v. 17, p. 63-201, 1998.

MELLO, João Baptista Ferreira de. A Restauração dos Lugares do Passado. Revista GeoUERJ, Rio de Janeiro, n.12. p. 63-69, 2002.

MENDILOW, Adam Abraham. Time and the novel. London: John Spencer/Badger, 1960.


Publicado por: Marcio Luis Fernandes

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