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Dia do Geógrafo e importância da Geografia

Breve resumo sobre o dia do geógrafo e a importância da geografia.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Em 29 de maio é comemorado o “Dia do Geógrafo”. A escolha da data remete à criação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há oitenta e seis anos. Embora este profissional (bacharel) nem sempre também seja professor (licenciado), quando se fala em Geografia, para a maioria das pessoas, a principal lembrança, muito provavelmente, é a disciplina escolar; não raro, associada a um saber mnemônico, factual e enciclopédico:  a famosa “decoreba”.

Nessa lógica, “conhecimento geográfico” seria memorizar afluentes de um rio, formas de relevo, eras geológicas, tipos de vegetação ou capitais de estados e países. De fato, no Brasil (como em praticamente todo o planeta), a Geografia foi incluída na matriz curricular da educação básica, entre outros objetivos, com a estratégica função de formar o cidadão patriótico, fomentando, assim, aquilo que designamos como “identidade nacional”. Nos primeiros livros didáticos de Geografia, eram ressaltadas, especialmente, as belezas e potencialidades do país sem, em contrapartida, propor algum tipo de reflexão ou análise crítica sobre as distribuições e interações entre os elementos naturais e humanos que compõem o “espaço geográfico” (objeto de estudo da disciplina).

No entanto, a mesma Geografia que historicamente contribuiu para a manutenção do status quo, também pode se constituir em saber fundamental para a formação de cidadãos questionadores e socialmente atuantes. Por meio dos estudos em Geografia Urbana, é possível compreender que o processo de segregação socioespacial (a divisão das cidades em bairros ricos e pobres) não é algo natural, mas a materialização das desigualdades econômicas inerentes ao sistema capitalista. Nessa mesma linha, entendemos que os (erroneamente) intitulados “desastres naturais” – como os desabamentos de casas construídas em barrancos ou em encostas de rios – são, na verdade, consequência da especulação imobiliária e da gentrificação de certas áreas do espaço citadino, o que faz com que a população pobre (sem condições financeiras de residir em determinadas áreas) ocupe terrenos inóspitos, não indicados para moradia.

Os conhecimentos geográficos, quando bem aplicados, também nos oferecem subsídios para conceber o chamado “mundo globalizado” (onde tudo está interligado) como muito mais complexo e controverso do que as simplificações e manipulações ideológicas apresentadas diariamente nos noticiários internacionais da imprensa brasileira. Para ficar em um exemplo atual, a dinâmica de espalhamento planetário do novo coronavírus pode ser entendida como reflexo dos fluxos globais de pessoas, mercadorias e serviços; temática estudada pela Geografia, tanto na escola, quando na universidade.

Em síntese, conforme já dizia o pensador francês Yves Lacoste: “o mundo é ininteligível para quem não tem um mínimo de conhecimento geográfico”.

Esse potencial conscientizar da Geografia explica o porquê de a disciplina sempre ser esvaziada nas políticas educacionais dos governos instituídos após processos de rupturas democráticas. Durante a Ditadura Militar (1964-1985), a matéria “Geografia” deixou de existir em alguns níveis da educação básica, sendo diluída, com os conhecimentos da História, na disciplina “Estudos Sociais” (voltada em essência para a já mencionada “decoreba”).

Com a última reforma educacional, em 2017, a Geografia deixou de ser disciplina obrigatória na matriz curricular do ensino médio, sendo incluída na área de conhecimento genericamente designada como “Ciências Humanas e Sociais Aplicadas”, juntamente com História, Filosofia e Sociologia.

Tal medida, ao desconsiderar as especificidades teóricas e metodológicas dos conhecimentos históricos, filosóficos, sociológicos e geográficos nos componentes curriculares, tende a contribuir para desvalorizar o ensino dessas ciências na educação básica. Em suma, não querem que a escola forme cidadãos críticos e conscientes. Indivíduos alienados são mais vulneráveis às tentativas de manipulação por parte dos setores dominantes da sociedade.

Portanto, neste mês de maio, além de ressaltar a importância do profissional que atua na Geografia (seja como bacharel ou na sala de aula) é fundamental reivindicarmos a volta da Geografia como disciplina obrigatória da matriz curricular do ensino médio, haja vista que os estudantes secundaristas devem ter o direito de acesso aos conhecimentos necessários para uma leitura reflexiva, crítica e cidadã sobre as múltiplas práticas espaciais presentes no mundo contemporâneo.

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Referências Bibliográficas

BRASIL. Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017. Conversão da Medida Provisória nº 746, de 2016. Brasília, 17 de fevereiro de 2017. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13415.htm>. Acesso em: 16 maio 2022.

GONÇALVES, Jayci de Mattos Madeira. IBGE: um retrato histórico. Memória Institucional – 5. Rio de Janeiro: Centro de Documentação e Disseminação de Informações Departamento de Documentação e Bibliotec, 1995.  

LACOSTE, Yves. A Geografia – Isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 19. ed. Campinas: Papirus, 2012.

SANTOS, Beatriz Boclin Marques dos; NASCIMENTO, Thiago Rodrigues. O ensino de Estudos Sociais no Brasil: da intenção à obrigatoriedade (1930-1970). Revista História & Perspectivas, [S. l.], v. 28, n. 53, 2016. Disponível em: . Acesso em: 16 maio 2022.

 

Francisco Fernandes Ladeira (doutorando em Geografia pela Unicamp)


Publicado por: Francisco Fernandes Ladeira

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