O homem robótico e o poder do espetáculo educacional
Confira uma reflexão acerca da alienação do homem.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
O sistema acadêmico sempre foi muito conflituoso e nesse aspecto podemos abranger os mais diversos tipos de alienação. Uma coisa que já vem pré-estabelecida e que contém regras a serem seguidas num campo de pesquisa onde inúmeros educadores cumprem seus papéis de “máquinas” desde o primórdio da educação regrada, desencadeou inúmeros tipos de profissionais. Segundo Nietzsche “tarefa de educar um homem para fazer dele um homem!” está presente em toda sua obra. E nisso requer tempo e muitas vezes esse tempo se vincula a aprendizados que provavelmente não te farão mais ou menos homens que qualquer mortal. Para Schopenhauer o grande viés de luta incansável pela vida é obter conhecimentos e vontades. Conhecimentos esses que não estão disponíveis no campo acadêmico, ou talvez de uma forma mistificada de tal ponto que só podemos perceber quando entramos num mercado avassalador que requer no mínimo uma representação de vontade. O que adquirimos na vida e na nossa existência sem o prazer de conquista? Para Freud, nosso superego se propõem a fazer as coisas automáticas que se restringem ao sucesso profissional e aos lucros obtidos com esse apanhado de conhecimento que foi obtido graças ao pressuposto “sucesso profissional”. Porém, o que é a educação nessa pós modernidade onde estamos nessa grande busca pelo bem-estar tanto financeiro como mental?
Somos programados para o sucesso, mas quando não obtemos essa glória, conseguimos obter o tédio que faz parte da massa impactante que nos exibe para o mundo. Hoje vemos profissionais fracassados, com seus diplomas exibidos como troféus de uma batalha que consiste em nada mais que o vazio do começo de talvez outra jornada mais complicada. Esse espetáculo tradicional desde tempos áureos e primários onde a educação saía do patamar dos lares – sendo que a moralidade ainda permanece enraizada nesse contexto em pleno século XXI, onde os pais colocam seus filhos nas escolas e sendo muito mais cômodo esse tipo de educação que os professores não tem muitas vezes o gabarito ou não são obrigados a serem refém de uma obrigação que não é deles mesmo em sistemas universitários. Onde o aluno mostra total imbecilidade e alienação que diferentemente da crítica destrutiva de Hume, a crítica schopenhauriana não devolveu o caos ao mundo da ciência; ao contrário, alargou e complementou os limites do conhecimento humano, concebendo pela primeira vez na história da filosofia um homem inteiro, real, digno de si e da natureza. Este espírito criador e benévolo, livre das amarras de seu tempo, unido à “honestidade, serenidade e constância”, presentes em Schopenhauer, impregnam sua personalidade dos traços heróicos que lhe permitiram vencer os perigos do ascetismo próprio de sua própria doutrina, da desonestidade das “verdades de arrasto”, e da sobrevivência em meio à mais completa obscuridade de sua época, sem discípulos, sem amigos, com um reconhecimento quase póstumo. Todas essas características e vitórias de Schopenhauer, na visão de Nietzsche, conferem a ele a condição de ideal de homem e exemplo educacional para o homem.
É cômodo demais o tipo de educação e aprendizado dos chamados “detentores do saber” tornar os aprendizes perdidos no caminho pois tudo é imposto. A busca pelo conhecimento está muito além de uma sala de aula e o que provém disso tudo é a formação de profissionais mal capacitados e embrutecidos pelo magma da obscuridade. É muito mais fácil um cavalo comer diariamente o que tem pela frente do que correr atrás de sua comida. Assim acontece nesse sistema. Com a era globalizada, fica muito mais fácil o estudo – ainda não reconhecido pela grande massa, ou supostamente esquecido, que as pessoas não buscam mais o prazer de se cultuar o conhecimento.
Nietzsche recorre constantemente à analogia de que devemos proceder em relação à Educação assim como a Natureza procede em relação a sua criação. Portanto podemos, a fim de apresentar uma síntese em forma imagética, recorrer à metáfora da educação como desígnio da natureza, como no crescimento de uma árvore. No início, há uma concentração de forças germinativas. É preciso adubar bem a jovem plantinha. O melhor adubo é a cultura de nossos antepassados – a cultura grega. Saem os primeiros ramos e as raízes se afincam no solo saudável: a comunidade de nossas infâncias; a terra de nossa pátria. Nesta fase, as forças que se concentram chamam-se: disciplina, rigor, constância, respeito e silêncio para com os clássicos e a língua-mãe. A jovem planta já tem um caule considerável e as primeiras folhas, mas junto com ela cresceram ervas daninhas que a ameaçam ao redor. É preciso um jardineiro dedicado e fiel – um guia e exemplo que ofereça água e ar puros para libertar a jovem planta dos inimigos do seu crescimento. Depois de todo um longo período de contenção e reservas energéticas, desabrocham as primeiras flores; a árvore já está pronta para começar a produção de frutos. Estes devem ser fortes e independentes como ela é agora: autônomos finalmente. Agora sim, pode desenvolver-se em segurança após vencer vários obstáculos, que a fortificaram. A natureza regozija-se de sua obra.
O que vemos a partir dessa metáfora é que hoje a educação onde já não ensinam o homem a pesca e sim já pescam para o homem numa tarefa automática que se prioriza o tão aclamado sucesso, é que os profissionais formadores do espetáculo sentam e aplaudem tudo que é dito e esquecem que tem o poder maniqueísta dessas duas opções. No que se refere as opções, é bem mais cômodo pagar uma instituição de ensino do que correr atrás dos inúmeros meios de comunicações de massa que embrutecem essa linha tênue entre o saber e o sabido.
Será que a educação cumprindo seu papel de robótica está formando profissionais bem qualificados para o mercado tão concorrido? Será que realmente um diploma na mão os faz serem mais bem capacitados que obter informações por meios adversos?
É claro que Nietzsche não escreveu apenas com esta linguagem metafórica, mas suas inclinações neste sentido já vinham desde a juventude, como se pode perceber em sua terceira consideração extemporânea: “Schopenhauer Educador” (1874) e principalmente nas suas cinco conferências “Sobre o futuro dos Nossos Estabelecimentos de Ensino” (1872), onde nota-se uma mescla de discursos filosóficos com uma narrativa imagética tão vasta, que ficamos sem saber se é uma história inventada a título de recurso pedagógico, ou se de fato é como ele afirma, uma história real, cujo conteúdo foi assombrosamente guardado de memória! Somente um assombro de algo terrível e ao mesmo tempo fantástico poderia causar um efeito assim tão perturbador: uma atenção fotográfica! São esses mesmos traços: fantásticos e ao mesmo tempo terríveis, que faz-nos vacilar entre a veneração e a dúvida da verossimilhança que tornam a cultura grega tão imponente e importante, respeitável e sagrada, a ponto de constituir para Nietzsche o primeiro referencial educacional – aquele que, acreditava ele, deveria ser o principal alimento dos alunos na fase ginasial alemã – período de quatro anos, que equivale ao nosso segundo grau ou nível médio de três anos. Este contato com a imagética da Antiguidade, do nosso berço, das nossas origens enquanto espécie, seria fundamental para abrir as perspectivas humanas ainda em formação. Daquelas fontes inesgotáveis de saber adviriam inúmeras sementes multicoloridas que após depositadas na jovem alma, deveriam amadurecer sem pressa, e em silêncio – pois devemos calar ante tudo aquilo que nos é mais sagrado e temeroso, e ser cuidadosamente regadas pela própria cultura grega e pela língua-mãe, através da obediência, respeito e da constância direcionadas a ambas, durante todo o período pré-universitário, quando então estariam já aptos para romper os primeiros brotos, iniciando o período de elevação própria que os levará mais tarde à condição de homem-leão – aquele que mais tarde retornará novamente aos Clássicos Antigos, só que não mais por obediência, e sim por amor. O que Paulo Freire citava inegavelmente em suas obras que até de forma romântica mostrava que sem educação o mundo beiraria ao caos. Não estamos discutindo que a educação beira ou não ao caos. Mas sim, a busca pelo meio não automático de ensino que faz se manifestar um espetáculo onde a maioria dos seres que nesse mundo habitam se habituaram a tornar o meio acadêmico cada vez mais pobre de ideias novas e sucateando a pobre ideia de que as coisas não podem se reciclar.
Acreditar que o homem obtém um sucesso talvez inadequado aos padrões, com riqueza e tédio é o que de mais simplório tem acontecido. E é nesse espetáculo que vivemos envolvidos pelas massas que idiotizam mais do que ensinam nessa cadeia sem fim e com um começo óbvio.
Publicado por: Daniel Velloso
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