Maquiavel e a política como realidade
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Para o filósofo, diplomata e historiador italiano Nicolau Maquiavel (Florença, 1469- 1527), o sentido da política é a conquista, o aumento e a manutenção do poder. Maquiavel escreveu importantes livros de história, filosofia, ciência política, estratégia militar, teatro e poesias, e também produziu na área da música. Dentre a vasta obra do autor florentino se destacam os livros: O Príncipe (1513), Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio (1517), A Arte da Guerra (1520), e a História de Florença (1525).
Sua obra mais conhecida, o clássico livro O Príncipe, foi escrito entre os anos de 1511 a 1513, mas somente publicado em 1532, cinco anos após a morte de Maquiavel, que o dedicou ao duque Lorenzo de Médici, governante da cidade de Florença, norte da Itália. Maquiavel adquiriu experiência governamental ao trabalhar na administração pública como diplomata de Florença, o que lhe deu embasamento teórico e prático para escrever o seu famoso texto de política e governança.
O período histórico de Maquiavel, os séculos XV e XVI, é também o período do Renascimento Cultural, época de grandes realizações artísticas, científicas e das formações das Monarquias Nacionais com posterior fortalecimento dos Estados Modernos da Europa ocidental, criados sob o regime absolutista com remanescentes características feudais. No entanto, na Itália, país de Maquiavel, o Estado Nacional se consolidou somente no século XIX, em 1871.
A principal preocupação de Maquiavel enquanto intelectual foi falar sobre o Estado. Em carta ao amigo Francisco Vettori no ano de 1513, Maquiavel declara: “O destino determinou que [...] minha missão é falar sobre o Estado.” (MAQUIAVEL, 1513, apud SADEK, 2001, p.17).
Vale lembrar, como explica Jupiassú e Marcondes (2006), que o Estado é compreendido como uma entidade organizada em instituições políticas, jurídicas, administrativas, econômicas e militares de um governo autônomo, em território próprio e independente.
Para Maquiavel e sua política prática, o melhor Estado é o Estado real capaz de impor a ordem. Nesse ponto Maquiavel se diferencia e rejeita a tradição dos filósofos gregos antigos como Platão e Aristóteles, e da filosofia religiosa medieval e escolástica de Santo Tomás de Aquino, filosofias idealistas de um Estado abstrato que de fato nunca existiu. Maquiavel preferiu refletir e escrever a partir da realidade concreta, dando ênfase na “verdade efetiva das coisas”, seguindo os historiadores clássicos como Tácito, Políbio, Tucídides e Tito Lívio. Maquiavel opera a substituição da filosofia anterior do Estado idealizado pela nova filosofia do Estado Moderno europeu.
A esse respeito podemos observar o seguinte comentário sobre Maquiavel:
[...] como fazer reinar a ordem, como instaurar um Estado estável? O problema central de sua análise política é descobrir como pode ser resolvido o [...] ciclo de estabilidade e caos. [...] Maquiavel provoca uma ruptura [...] sobre o pensar e fazer política, que põe fim à idéia de uma ordem natural e eterna. (SADEK, 2001, p.18).
A política é reinterpretada por Maquiavel, vista por ele como resultado de forças concretas dos seres humanos em sociedade, terrenas, e não mais somente divinas. Essa interpretação racional das relações de poder entre os agentes políticos que dirigem o Estado e o povo, é o que torna Maquiavel um dos mais geniais formuladores do pensamento político moderno e da ciência política a partir do século XVI.
De acordo com Vainfas et al. (2010), a capacidade analítica de Maquiavel o fez mostrar que o exercício do poder exigia do príncipe governante o abandono ao apego excessivo à ética cristã então vigente na Europa, representada pela Igreja Católica, devendo a autoridade administrativa se guiar pelas conveniências para a manutenção do poder de mando, inclusive utilizando a guerra para conservar o que se conseguiu conquistar. Aqui se abre o espaço para a discussão sobre a filosofia moral, mas trataremos do assunto em outra oportunidade.
Para o sucesso do bom governo Maquiavel utiliza dois termos fundamentais em sua teoria política: virtú (virtude) e fortuna. Por virtude se entende uma qualidade do governante, que é diferente da virtude da população, do povo, pois enquanto os indivíduos agem em interesses próprios, o príncipe deve agir objetivando a harmonia e a paz em seus governo e território. A virtude é, portanto, a capacidade do governante em superar os problemas e as dificuldades do seu reinado, criando e executando estratégias para o bom andamento da sua administração pública.
Por fortuna se tem a se a ideia de sorte, acaso. O governante de sucesso deve está sempre atento aos destinos da sorte, do acaso, que geram sempre obstáculos e desafios para o seu mandato. O governante eficaz é aquele que desenvolve bem as qualidades da virtude, em uma vontade dirigida e objetiva, se prepara para a fortuna caso ela seja desfavorável, e vence as crises.
Para uma melhor compreensão das duas expressões, virtú (virtude) e fortuna (sorte), deixemos que o próprio Maquiavel nos fale:
Não ignoro que muitos foram e são da opinião de que as coisas desse mundo são governadas pela fortuna e por Deus, e que os homens prudentes não se lhes podem opor, e até não tem remédio contra elas. Por isso poder-se-ia [...] deixar-nos governar pela sorte. [...] Pensando nisso, às vezes me sinto [...] inclinado a esta opinião: entretanto [...] julgo ser possível ser verdade que a fortuna seja árbitro de metade de nossas ações, mas que também deixe ao nosso governo a outra metade [...]. [...] Mesmo assim, nada impede que [...] os homens tomem providências [...]. (MAQUIAVEL, 1996, p.119).
Por sua abordagem direta sobre o poder político, Maquiavel inicia a ciência política como a conhecemos nos tempos atuais, sendo considerado pelos cientistas sociais como o maior pensador político do absolutismo (sistema que teve o auge nos séculos XVI, XVII e XVIII) e da época moderna. Em seu livro O Príncipe, Maquiavel apresenta ao mundo mais do que um simples manual de como governar o povo e o local, advertindo que quando necessário, os fins justifiquem os meios, mostrando assim a política como realidade demasiadamente humana.
REFERÊNCIAS
JAPIASSÚ, Hilton. MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4.ed. atual. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2006.
MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
SADEK, Maria Tereza. Nicolau Maquiavel: o cidadão sem fortuna, o intelectual da virtú. In: Os clássicos da política, vol. 1. (org. de Francisco C. Weffort). 13. ed. São Paulo: Ática, 2001.
VAINFAS, Ronaldo et al. História: das sociedades sem Estado às monarquias absolutistas, vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2010.
Hildenilson de Araujo Sousa - Licenciado em História (UNINASSAU Teresina). Especializando em Metodologia do Ensino da História (Faculdade Unyleya). Jornalista (MTE 0002265 PI).
Publicado por: HILDENILSON DE ARAUJO SOUSA
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