Fichamento: O diálogo como encontro hermenêutico
O diálogo como encontro hermenêutico, superar nossa incapacidade para o diálogo, educação para o pensar.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Palavras chaves: Gadamer - diálogo – hermenêutica – linguagem - comunidade de investigação.
Ao analisar o livro Diálogo & investigação: perspectivas de uma educação para o pensar, mais precisamente o segundo capítulo elaborado pela Professora Mestre em Educação, Alcemira Maria Fávero. Percebe-se que esta se fundamenta principalmente no filósofo Gadamer, buscando introduzir a importância do diálogo na vida escolar, mais precisamente através do Projeto Pensar para Crianças.
Em busca de conhecer quem é Hans-Georg Gadamer encontrei algumas informações importantes. Ele nasceu em 11 de fevereiro de 1900 em Marburg e morreu em Heidelberg em 14 de março de 2002, com 102 anos. Autor de vários livros, destacando entre eles Verdade e Método que trata de sua nova hermenêutica.
Em relação ao diálogo diz “Uno solo se comprende a si mismo en relación com los demás. En un mundo cada vez más interrelacionado, el arte de La conversación, de escuchar, devendrá probalbelmente una cuestión de supervivência”[1]. Ou seja, um só se compreende na relação com os demais. No mundo cada vez mais inter-relacionado, a arte do diálogo, de escutar, deverá provavelmente ser uma questão de sobrevivência. Nesta frase de Gadamer fica notoriamente destacada a importância das relações dialógicas na sociedade atual.
“O verdadeiro nascimento da verdade é o que acontece no diálogo genuíno” [2]. Olhando para este contexto, a verdade é o diálogo, e para Gadamer é possível encontrar a verdade só por meio do diálogo. Relacionado, há muitas semelhanças entre ambos, uma delas é a falta de completude, ou seja, em ambos nunca se abrange a totalidade, sempre há algo mais a ser aprofundado.
A HERMENÊUTICA DE GADAMER
Para entender melhor o jeito de Gadamer é preciso conhecer sua hermenêutica. A explicitação de Gadamer sobre o preconceito, a tradição, a história efeitual, a aplicação e a fusão de horizontes são alicerces para o entendimento de sua hermenêutica filosófica e, por conseqüência, fundamentais para a compreensão de sua crítica à dominação do espírito instrumental[3].
“A hermenêutica é a arte do entendimento. Parece especialmente difícil entender-se sobre os problemas da hermenêutica, pelo menos enquanto conceitos não claros de ciência, de crítica e de reflexão dominarem a discussão. E isso porque vivemos numa era em que a ciência exerce um domínio cada vez maior sobre a natureza e rege a administração da convivência humana, e esse orgulho de nossa civilização, que corrige incansavelmente as faltas de êxito e produz constantemente novas tarefas de investigação científica, onde se fundamentam novamente o progresso, o planejamento e a remoção de danos, desenvolve o poder de uma verdadeira cegueira. No enrijecimento desse caminho rumo a uma configuração progressiva do mundo pela ciência, perpetua-se um sistema no qual a consciência prática do indivíduo se submete resignada e cegamente ou então se rebela revoltosa, e isso significa não menos cega”. (GADAMER, Verdade e método II, pág. 292).
Para Gadamer, discutir com base nas ciências “falhas e incompletas”, ou com conceitos não claros ainda, pode nos tornar cegos diante da verdadeira realidade. Ele nos mostra que é preciso ter um cuidado extra para não nos vendarmos diante de um conceito de que a ciência é completa e que é a base de diálogo na atualidade. Dialogar sem bases é dialogar sem um fim.
Relação entre linguagem e pensamento
Busca mostrar até que ponto a linguagem prescreve o pensamento e se podemos ainda trabalhar com a ideia, de que a linguagem é o meio pelo qual o pensamento pode ser expresso.
É importante lembrar que da relação Logos linguagem surge o diálogo e consequentemente a ideia de que “o ser humano é um animal racional” por poder além de se comunicar fluentemente pela fala, objetivar e rever suas ações. (FAVERO,2007,p. 45).
Outro ponto importante nessa relação é que pensar para Gadamer, é pensar algo e dizer para si mesmo. É falar para si mesmo seu pensar, ou ouvir a “voz de dentro”, como poderia chamar esse diálogo interno. Além de se comunicar “internamente” o pensar antecipa o diálogo externo (com o outro).
E é através do falar com os outros que expandimos nossos pensamentos, tomamos consciência daquilo que pensamos e damos forma a isso. Pois o objetivo do diálogo é além de tudo buscar juntos entender e construir uma concepção de mundo que seja de ambos.
Chegamos à conclusão de que a Linguagem torna possível a interpretação, e arriscaria dizer que somente por ela conseguimos interpretar algo.
Analisando a “palavra” para Gadamer descobrimos que é muito mais que uma junção de letras simbolizadas pelo som na fala. Ela é fruto do pensamento, é o futuro e o passado, é a direção e o caminho e vai muito além do ser que a pronuncia. Assim, também como a linguagem é maior que o ser que a expressa, é o encontro no diálogo, a interpretação e a busca, é a tentativa de compreensão do mundo.
Também que o ser humano é pura linguagem, o que pensamos e compreendemos baseia-se nas e por palavras e o diálogo perpassa no âmbito do questionar e no de responder, no falar e no ouvir.
O diálogo e o entendimento:
Interconexão entre ambos.
Para Gadamer somos linguagem, não só possuímos linguagem. E o diálogo é a soma de uma opinião a outra.
Pontos fundamentais para o diálogo e o bom entendimento:
Renúncia; é preciso que um abra mão de sua posição, quando sua ideia for ultrapassada ou provada do contrário.
Acordo; estabelecimento de posições iguais no diálogo.
Opiniões; ambos devem ter opiniões para dialogar;
Abertura;devem estar abertos para que ocorra o diálogo;
Mudança; diante do dialogar, á sempre uma mudança de ambos os lados, um firmamento de uma ideia e esquecimento de outra, ou ambas continuam vivas firmadas.
Esses cinco pontos conduzidos pela linguagem trazem diálogo e consequentemente entendimento. Entendimento é a palavra chave para o diálogo e também é o fim buscado por ele.
O diálogo na sala de aula e a educação para o pensar:
O diálogo como ser da linguagem nos permite problematizar hermeneuticamente situações controversas, complexas, injustas, na construção de respostas que nos permitam conhecer mais e viver melhor.
Para este fim faz-se necessário ter “sensibilidade, no sentido de conseguirmos expressar emoção, de nos permitirmos ser atingidos pelo fato, de nos colocarmos numa situação de abertura para o encontro com o pensamento do outro” (FAVERO, 2007, pág. 52).
Desse modo facilita o diálogo e conduz a uma busca de solução ao problema em conjunto com opiniões que venham a fazer parte do processo dialógico.
O diálogo como encontro hermenêutico na comunidade de investigação:
Serve principalmente para caracterizar o filosofar hermeneuticamente e a comunidade de investigação enquanto espaço idealizado para a aula de educação para o pensar.
Pelo processo dialógico hermenêutico aprendemos que não existe uma única forma de acesso a verdade e conhecimento. Construímos e reconstruímos conceitos pela compreensão de mundo que brota da linguagem no encontro com o outro. A comunidade de investigação no fazer filosófico firma-se no exercício da fala mesmo que o ponto de partida seja um texto escrito.
É através do método de perguntas fundamentadas e que conduzam a uma tentativa de compreender o problema que surge as comunidades de investigações, faz-se necessário ao professor dominar o tema abordado ou pelo menos boa parte, de forma a conduzir por veios reais a busca pela solução. E ao aluno abertura e participação de modo a surgir ideias que seguem ao tema buscado.
A comunidade de investigação como exercício para superar nossa incapacidade para o diálogo:
A incapacidade para o diálogo refere-se, antes, à impossibilidade de alguém abrir-se para o outro e encontrar nesse outro uma abertura para que o fio da conversa possa fluir livremente (GADAMER, 2002, p. 244)
Percebemos hoje que acima de tudo o ser humano quer ser ouvido, mas não quer ouvir, e ai surge o grande empecilho para um bom diálogo. Que por meio dos chats, emails e outros meios de informação perde-se a temática do diálogo, e acabamos não entendendo que o verdadeiro diálogo vai “sumindo” do nosso cotidiano.
Ai surge a ideia elaborada por Alcemira, a de estabelecer na sociedade um jeito “comunidade de investigação” em busca de uma melhor comunicação e consequentemente um diálogo com melhor qualidade.
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[1] Biografia de Hans Georg Gadamer.Disponível em: www.antroposmoderno.com
[2] Cris Lawn, Compreender Gadamer. Editora Vozes. Petrópolis, RJ. 1997. Pág.97
[3] Perspectivas do Diálogo em Gadamer: A Questão do Método, Sérgio Ricardo Silva Gacki, Cadernos IHU
Ano 4 - Nº 16 – 2006.Pág.11
Publicado por: Cleber Pagliochi
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