Como o lugar onde você senta no avião influencia sua viagem e o preço da passagem

Breve análise sobre a influência sobre o preço da passagem ao escolher o assento do avião.

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O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor. Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com

Quem já viajou de avião sabe que escolher onde sentar faz diferença. Janela para apreciar a vista, corredor para levantar com mais facilidade, ou o temido assento do meio quando não sobrou outra opção. Mas o que pouca gente percebe é que a distribuição dos assentos dentro da aeronave e a forma como eles são ocupados dizem muito sobre como funciona a aviação comercial e até sobre quanto você paga para voar.

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A organização interna da cabine segue uma lógica própria. O número de fileiras, o espaço entre os assentos e a quantidade total de pessoas que cabem ali dentro influenciam custos, conforto e até a estratégia comercial das empresas. Em mercados competitivos, especialmente nos voos domésticos, cada centímetro aproveitado pode representar ganhos ou perdas na operação. Por isso, companhias aéreas testam continuamente formas de acomodar mais passageiros, melhorar a experiência de viagem ou diferenciar produtos dentro da própria classe econômica.

Ao longo dos últimos anos, ideias ousadas surgiram na indústria. Algumas são mais tradicionais, como os assentos com espaço adicional para as pernas. Outras são bem mais radicais, como os assentos quase verticais do Skyrider, que lembram uma sela de bicicleta e permitiriam transportar muito mais pessoas no mesmo avião. Há ainda propostas como poltronas em níveis sobrepostos, cabines modulares e layouts que alternam direções ou alturas para aproveitar melhor o espaço. Algumas dessas ideias nunca passam de protótipo. Outras viram referência em produtos reais. Todas ajudam a mostrar que a aviação está em constante busca por eficiência e novas fontes de receita.

Foi nesse contexto que um estudo conduzido no Instituto Tecnológico de Aeronáutica, pelo Núcleo de Economia do Transporte Aéreo, analisou como esses aspectos se manifestam no dia a dia dos voos brasileiros. A pesquisa utilizou dados coletados em aeroportos do país e buscou entender se características físicas da cabine, como densidade de assentos e posição na aeronave, se relacionam ao preço pago pelos passageiros na prática. O ponto central era simples e relevante: será que o lugar onde uma pessoa se senta dentro do avião está ligado ao quanto ela pagou pelo bilhete?

Os resultados revelaram padrões curiosos. Aeronaves com maior número de fileiras tendiam a ter passagens mais baratas, o que sugere que, ao acomodar mais passageiros, as empresas conseguem diluir custos e oferecer tarifas mais competitivas. Esse efeito aparece mesmo quando o passageiro não tem consciência direta da “densidade” do avião, já que ele percebe apenas o espaço à sua volta, e não a comparação com cabines de outras empresas ou outros modelos de aeronave.

Outra descoberta chamou ainda mais atenção. Em um período no qual as companhias aéreas brasileiras ainda não cobravam pela escolha antecipada do assento, muitos passageiros que pagavam mais caro acabavam sentados no meio. Isso não acontecia por preferência, mas porque, ao comprarem muito perto da data do voo, encontravam poucas opções disponíveis. Assim, acabavam pagando mais caro e viajando em uma posição menos desejada. Esse comportamento ajuda a explicar a lógica econômica por trás da cobrança pela seleção de assentos, prática que se tornou uma das principais fontes de receita adicional das empresas no Brasil e no mundo.

Por fim, o estudo mostrou que, apesar de algumas posições na cabine parecerem mais valiosas que outras, como saídas de emergência ou fileiras com maior espaço, muitas dessas diferenças não resultavam em preços pagos significativamente distintos naquele período. Isso sugere que, antes da consolidação das tarifas de marcação, a cabine econômica era tratada de forma relativamente homogênea. Ao longo dos anos seguintes, as empresas passaram a explorar melhor esse potencial, oferecendo categorias diferenciadas dentro da própria classe econômica e ajustando preços conforme conforto e localização.

Em conjunto, essas evidências mostram que a cabine de um avião é muito mais do que um conjunto de cadeiras enfileiradas. Ela é um componente estratégico da aviação moderna, influenciando custos, preferências dos passageiros e modelos de negócio. E, como o estudo do ITA procurou mostrar, até o assento aparentemente mais simples pode revelar muito sobre como funciona o transporte aéreo no Brasil.

Referência

OLIVEIRA, Alessandro V. M.; VASSALLO, Moisés D. Layout de Cabine, Densidade de Assentos e Segmentação de Passageiros no Transporte Aéreo: Implicações para Preços, Receitas Auxiliares e Eficiência. Communications in Airline Economics Research, 202117818, 2025. Disponível em: https://doi.org/10.5281/zenodo.17724433.

Publicado por Alessandro V. M. Oliveira e Moisés D. Vassallo

Publicado por
Alessandro V. M. Oliveira

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor. Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com