APLICAÇÃO DA ENGENHARIA DE MÉTODOS NUMA GALETERIA
Breve análise sobre a aplicação da engenharia de métodos numa galeteria.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Resumo
Este artigo foi desenvolvido através de um estudo de caso em uma galeteria na cidade de Mossoró com o objetivo de uma aplicação pedagógica da Engenharia de Métodos no ambiente de trabalho e determinar através do estudo de tempos e movimentos as possíveis causas da ineficiência no processo produtivo e a partir daí, implementar soluções para os possíveis problemas. O maior gargalo encontrado na empresa estudada foi verificado pela dificuldade dos gestores de realizarem controle formal dos processos e limitação do espaço físico na organização, dificultando maiores mudanças no layout da empresa.
Considerações Iniciais
O setor de galeteria, em sua maior parte, é caracterizado por empresas que operam na informalidade, com pouco nível de instrução, sem controle e nenhum foco, dificultando a elaboração de planos estratégicos em longo prazo. Na escola da Administração Científica, Taylor sabia da necessidade de aplicação de métodos científicos a administração para garantir que os objetivos seriam atingidos com maior eficiência.
A empresa de galeteria da cidade de Mossoró é uma organização que necessita de um embasamento científico para que se vislumbre e mantenha um posicionamento estratégico futuro no mercado deste segmento, é a partir daí que o estudo de tempos e movimentos irá propor alternativas para melhoria deste processo.
O grande desafio é a implantação de métodos e processos capazes de nortear as empresas a um ambiente mais competitivo de forma eficiente e eficaz. Os conceitos arraigados de informalidade não prevalecem mais nos dias atuais e devem ser sobrepostos pelo conhecimento sobre práticas de gestão de métodos e processos.
O estudo tem como principal objetivo a aplicação pedagógica da Engenharia de Métodos no ambiente de trabalho a fim de simplificar processos, através de maneiras de relacionar componentes de um sistema produtivo para criar uma seqüência de operações ou procedimentos que produzem resultados esperados Maximiano (2006).
Engenharia de Métodos
A palavra método é de origem grega e significa, segundo Ferreira apud (SELEME, 2009), o “caminho para se chegar a um resultado”. Na integra o termo representa o caminho para se chegar a um melhor resultado (SELEME, 2009). O método é um procedimento de simplificação de tarefas pretendendo-se reduzir esforços e custos.
Segundo Seleme (2009), Maynard contribuiu ao sistematizar e coordenar processos, ações que levam a um resultado, proporcionadas pelas ferramentas e pelas ações propostas, dando lhes o nome de Engenharia de Métodos.
A partir daí as organizações passaram a melhorar seus métodos de simplificar o trabalho de maneira a obter uma maior eficiência e eficácia na execução dos processos através da aplicação de métodos científicos que reduzam esforços e tempos.
Processo é a maneira como uma operação é realizada com base em normas e métodos pré-estabelecidos. Para Hammer & Champy apud (Marques, 2008) processo é um conjunto de atividades integradas, realizadas mediante diversas opções de caminhos lógicos possíveis, de forma flexível e ágil, com objetivos de produzir um bem ou um serviço que tenha valor para os clientes.
O estudo de tempos e movimentos proposto por Taylor na escola da Administração Científica propunha a organização do trabalho a partir do estudo de tempos e movimentos. Para Taylor o estudo de tempo é uma ferramenta usada para aumentar a eficiência da fábrica, numa tentativa de aliar melhores salários para os empregados, lucro para as empresas e menores preços dos produtos para os consumidores, Gilbreth contribuiu criando métodos de movimentação do trabalhador na tentativa de aumentar a eficiência produtiva do operário, centrando-se na melhor maneira de executar o trabalho (BARNES, 1977).
Estudo de Caso
A estratégia de pesquisa utilizada foi o estudo de caso exploratório que segundo Yin (2005) é utilizado quando questões da pesquisa concentram-se em questão do tipo “o que”. Essa questão é um fundamento lógico justificável para conduzir um estudo exploratório tendo como finalidade propor o desenvolvimento de hipóteses e proposições pertinentes a inquisições adicionais. Outra questão é “quantos”, que favorecem estratégias de levantamento de dados ou análise de registros arquivais. Essas estratégias são primordiais quando os objetivos descrevem a incidência ou predominância de um fenômeno ou quando ele for previsível sobre certos resultados.
Segundo Yin (2005), o estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos.
Foram realizadas 3 (três) visitas a empresa, para aplicação de entrevista semi-estruturada proposta por Souto (2009) através de análise documental e registro fotográfico. O projeto foi desenvolvido em três etapas: levantamento do sistema de trabalho; análise do sistema de trabalho; proposição de soluções para o sistema de trabalho.
Características da empresa
A empresa é de pequeno porte e foi fundada em 2000, são sete empregados, dentre estes, três são da administração e quatro da produção, os subordinados trabalham de 5 a 6 horas/dia e todos os dias da semana em horas corridas com intervalo de 15 minutos para um lanche (rotativo).
A cidade de estudo tem temperatura média em torno de 30°C (graus Celsius). Na empresa essa temperatura aumenta ainda mais quando a churrasqueira está acesa, ficando em torno de 40°C a 60°C, tornando o estabelecimento um ambiente desagradável. A norma reguladora NR 17 do Ministério do Trabalho e Emprego indica a temperatura ideal do ambiente de trabalho entre 20°C e 23°C (graus Celsius).
A faixa etária da organização é em média 25 anos, possuindo pouca rotatividade, geralmente para o cargo de auxiliar de Serviços Gerais, além de pouco absenteísmo. A empresa dispõe de sete empregados distribuídos na seguinte forma hierárquica, como mostra a Figura 1. Dentre os sete empregados seis tem apenas o nível médio e um com nível superior.
A empresa tem produção em torno de 70 frangos/dia durante a semana e 150 a 200 no fim de semana. Na empresa sobram em média de um a três frangos por dia. Começam a assar as 09h00min horas e terminam de assar de 13h30min a 14h00min horas. A organização assa frangos, carnes e lingüiça.
O sistema de produção da empresa pode ser descrito da seguinte forma: A matéria-prima é estocada sempre um dia antes e espalhada pelo posto de trabalho, pela falta de espaço, para que os frangos descongelem. Depois de descongelados, os frangos são colocados em cima da bancada para que se possam tirar as embalagens plásticas, miúdos, efetuar corte/limpeza do produto e temperá-lo para colocar nos freezers para o dia seguinte. No dia seguinte, os frangos são retirados dos freezers e espetados para assar, depois que assar o frango é cortado com uma tesoura de trinchar frango e colocado na embalagem depois é fechada e o produto recebe os acompanhamentos para, em seguida, ser entregue ao cliente.
O processo de produção da organização é descrito no fluxograma da Figura 2 a seguir:
Foi verificado pela coleta dos dados, expressos na Figura 2, que a distância percorrida pelo 5° transporte afetaria o tempo de atendimento dos clientes. Dessa forma, foram calculados os tempos de transporte de cada processo unitário, e posteriormente realizado os cálculos de acordo com a produção média da semana.
Para o primeiro transporte descrito na Figura 2, o tempo foi cronometrado com registro de 4s por cada transporte de caixas de frango de aproximadamente 25 kg, levando-se em consideração que cada caixa têm 10 frangos e a demanda média de uma semana é de 100 frangos/dia, então foram feitos os seguinte cálculo:
Para o segundo transporte o tempo foi cronometrado com registro de 3s por cada transporte de frangos para o freezer, cálculo:

No terceiro transporte foi levado em consideração o transporte de 4 espetos com frango pelo auxiliar de churrasqueiro com um tempo de 8s cada, calculo:
No caso do 4° e 5° transporte foi calculado da mesma forma que o 2°, entretanto os tempos unitários calculados no transporte de cada produto foram 4s e 10s respectivamente.
Dessa forma, foi verificado que o tempo de transporte do troco do cliente estava influenciando no tempo de espera do mesmo e esse tempo poderia ser minimizado por uma pequena mudança no layout da empresa.
A partir das observações realizadas na empresa estudada foi elaborado o mapofluxograma atual descrito na Figura 3:
Tendo em vista a limitação do espaço físico da empresa, foi possível a implementação de uma pequena mudança do layout. A organização apresentou pontos críticos na disposição dos processos como transporte de carvão do estoque (ponto 13) para churrasqueira (ponto 6), além do transporte do (ponto 14) para o (ponto 8) que estavam influenciando no tempo de espera dos clientes.
Levantamento e Análise do Sistema de Trabalho
O levantamento do sistema de trabalho foi realizado através de visitas a empresa estudada aplicando-se um questionário com o objetivo de coletar dados na tentativa de sustentar um posicionamento a cerca de possíveis erros nos métodos utilizados pela organização.
A fragilidade da organização está na determinação de ações de processos de controle que permitam a organização uma visão de longo prazo no mercado deste seguimento. A limitação de conhecimento técnico de gestão por parte dos gestores é uma das principais causas deste problema.
Outra questão verificada é quanto ao espaço físico, pois a disposição dos espaços é relativamente pequena o que dificulta a modificação do layout da empresa. Em conseqüência disso, o auxiliar de churrasqueiro tem que dar viagens de 6 metros utilizando uma caixa de papelão pequena de cerca de 40cmx30cmx20cm, ao estoque de carvão, para abastecer a churrasqueira.
Nos “horários de pico” os clientes chegam a esperar até quinze minutos para serem atendidos em um ambiente e horário onde a temperatura pode chegar aos 60°C, conseqüentemente os clientes ficam insatisfeitos, apesar da maioria reconhecer que esperar é inevitável. Não bastasse isso, a organização fica quase de frente para o oeste e à medida que o dia entardece o sol castiga mais o ambiente e os clientes vão se ficando mais impacientes com o tempo de espera.
O sistema é restrito pelas limitações da área que dificultam o melhoramento de layout para a produção.
Análise e proposição de melhoria
Dentro do estudo da organização é possível implementar o processo de controle para minimizar o problema com os desperdícios de produtos perecíveis acabados, além de vislumbrar uma posição de longo prazo pelo estabelecimento de metas. O método proposto deve conter, de preferência, planilhas de controle para obter as informações necessárias a constituir um banco de dados que se permitam fazer avaliações estatísticas visando previsões em longo prazo, além de, conseqüentemente, aumentar o controle sobre a produção, evitando desperdícios.
Uma das alternativas seria sanar o problema do controle através de registro em banco de dados para se verificar o rendimento da empresa ao longo do tempo e poder identificar os pontos fortes e fracos da organização, quando comprar, quando não comprar no mercado, além de evitar desperdícios de produtos acabados.
Verificar em que produtos a demanda está crescente ou decrescente e a partir daí criar estratégias que possibilitem minimizar os problemas de demanda. Com relação ao transporte de carvão a alternativa seria a adoção de uma cubeta para transporte que permita ao auxiliar de churrasqueiro dar o mínimo de viagens possíveis ao estoque, objetivando diminuir a locomoção pelo ambiente de trabalho.
Outra proposição seria a mudança da mesa do gerente geral, apresentado no mapofluxograma melhorado da Figura 4, para reduzir o tempo de transporte do troco realizado, hora pelo churrasqueiro, hora pelo presidente que trincha o frango, hora pelo auxiliar de churrasqueiro, causando um enorme dispêndio de tempo que afeta no tempo de espera do cliente. A disposição do Mapofluxograma do método melhorado está descrito na Figura 4:
Tendo em vista a limitação do espaço físico da empresa, foi possível a implementação de uma pequena mudança do layout. A organização apresentou pontos críticos na disposição dos processos como transporte de carvão do estoque (ponto 13) para churrasqueira (ponto 6), além do transporte do (ponto 14) para o (ponto 8) que estavam influenciando o tempo de espera dos clientes.
Para Shingo (1996) as melhorias no layout da linha resultam na eliminação de horas-homem de transporte, feedback de informação referente à qualidade mais rápido, para ajudar a reduzir os defeitos, redução de horas-homem ao reduzir ou eliminar esperas de lote ou de processo e ciclo de produção reduzido.
Junior (2008) afirma que para evitar perdas por transporte, podem ser praticadas as seguintes ações: melhorar o layout para permitir um fluxo uniforme, desde a etapa de entrada do material até a expedição, movimentar de uma única vez o material, evitando deslocamentos repetitivos e desnecessários, mecanizar ou automatizar sistemas de transporte.
Considerações Finais
O estudo mostrou que a empresa tem dificuldades de controlar seus processos e necessidade de uma visão em longo prazo objetivando aumentar a demanda dos produtos. Foi analisado que a limitação dos espaços físicos dificulta uma mudança significativa do layout da empresa, principalmente no estoque de carvão. Entretanto mudanças foram propostas com o objetivo de tornar o processo mais eficiente e satisfazer as necessidades do cliente.
Com base nos dados colhidos foi possível verificar que a empresa tem condições de crescer, porém para que isso ocorra é necessário que esta tome uma atitude mais competitiva para propensão de crescimento futuro e isso só acontecerá se os gestores estabelecerem métodos para se tornarem eficientes e eficazes.
A necessidade de conhecimento de movimentos e tempos é essencial, assim como o próprio conhecimento sobre práticas de gestão que venham ampliar a visão dos micro empresários na determinação de novos modelos de realizar o trabalho e transpor os limites da organização. As informações cedidas pelos funcionários da empresa bem como as observações feitas foram suficientes para a elaboração do trabalho, visto que o conhecimento obtido durante o estudo realizado foi de grande valia.
Referências
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JUNIOR, Eudes Luiz Costa. Gestão em Processo Produtivo. Curitiba: IBPEX, 2008.
MARQUES, Cícero. ODA, Érico. Organização, Sistemas e Métodos. Curitiba: IESD Brasil S.A., 2008.
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SELEME, Robson. Métodos e Tempos: Racionalizando a Produção de Bens e Serviços. Curitiba: IBPEX, 2009.
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YIN, R. K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. Tradução de Daniel Grassi. 3ª ed. ISBN: 85-363-0462-6. Porto Alegre: Bookman, 2005.
Bibliografia
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PECCINI, Rosana. História e Cultura da Alimentação: a GaleteriaPeccini e o Patrimônio de Caxias do Sul (1950-1970). Dissertação (Mestrado em Turismo) Caxias do Sul (RS): PPGTUR /UCS, 2010. Disponível em :http://hipnos.ucs.br/turismo/admin/UPLarquivos/051120101645582.pdf. Acesso em: 29 de Maio de 2011.
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SOUZA, Antonia de Abreu; NETO, Enéas Arrais; et al. Trabalho, Capital Mundial e Formação dos Trabalhadores. Fortaleza: Ed. SENAC-CE e Ed. UFC, 2008.
Publicado por: Gemison Amaral de Oliveira
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