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Útil e inútil

Clique e confira uma reflexão acerca de algumas características essenciais na graduação e pós-graduação.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Entre as universidades mais antigas ainda em atividade estão as de Karueein no Marrocos e Al-Azhar no Egito (anteriores ao ano 1.000), Bolonha na Itália, Oxford na Inglaterra e a Universidade de Paris. Todas têm em comum, além da antiguidade, o fato de terem surgido como centros de estudos teológicos, durante séculos foram referências intelectuais do Islamismo e do Cristianismo. Ao mesmo tempo, tiveram participação fundamental no desenvolvimento das idéias que deram origem a praticamente todo o conhecimento científico e tecnológico que temos hoje; produzem e sistematizam conhecimento, e o divulgam para o mundo todo, através da publicação de seus trabalhos.

Uma função destacada de todas as instituições de ensino superior é justamente esta: a geração do conhecimento, a realização da pesquisa, o desatar do pensamento, a extensão à comunidade de seu saber. Por isso, ao finalizar a maioria dos cursos de graduação, alunos realizam um trabalho acadêmico em inúmeras modalidades, conforme a área de conhecimento, as especificidades de cada curso, o tipo de orientação. Tais trabalhos podem ser: monográficos, projetos sociais, estudos técnicos ou artísticos, atividades relacionadas a estágio supervisionado e outros. A realização do trabalho de final de curso vem de uma grande tradição, representa a consubstanciação do conhecimento e da experiência adquiridos durante a graduação, e frequentemente é o embrião de projetos de mestrado ou de propostas de atuação profissional.

Há pouco tempo, a destinação de recursos para trabalhos de pesquisa foi motivo de críticas ácidas, fundamentadas na quantidade de estudos “inconsequentes e sem utilidade prática” que estariam sendo realizados, supostamente em detrimento da busca por soluções para as epidemias que assolam o país e para a grave situação geral da saúde pública. É evidente que temas práticos, de saúde e outros, são importantes e em alguns casos devem sim ter prioridade, principalmente quando emergentes. No entanto, o universo da pesquisa reflete quantitativa e qualitativamente a comunidade, acadêmica ou profissional, em que está inserido; e as instituições de graduação e pós-graduação costumam ter uma imensa, e salutar, diversidade de interesses. Cabe aos colegiados universitários distribuir, com a sensatez possível, os fundos disponíveis entre as diversas áreas que os demandam.

A variedade de oferta de cursos e disciplinas na instituição de ensino superior pode assustar o leigo e, até mesmo, o acadêmico. Estudam-se línguas modernas, antigas, e até aquelas que supostamente não contariam com mais do que algumas dezenas de falantes; a importância de muitas delas não pode ser exagerada, constituem-se nas bases de nossa própria língua, e testemunham realizações culturais de povos que não podem ser esquecidos. No campo da Matemática é comum a dedicação à resolução de problemas e demonstração de teoremas que não teriam nenhuma finalidade, até que tenham. Os estudiosos das Ciências Sociais debatem incansavelmente as teorias que poderiam nos levar à maior justiça e equidade, e é em grande parte desses debates que decorrem as teorias que efetivamente podem melhorar a sociedade. Em todas as áreas de conhecimento, a inovação é produto da curiosidade, da tese a ser provada, até mesmo do que se chama “pesquisa inútil”. Os grandes inovadores do Vale do Silício certamente “desperdiçaram” milhares de horas de trabalho antes de criar a base de toda a nossa tecnologia de informação atual; não esquecendo o trabalho dos que não tiveram sucesso, mas aprenderam.

A afirmação do dramaturgo romano Públio Terêncio Afro, repetida até mesmo por Karl Marx, poderia simbolizar a pesquisa e o fazer acadêmico: “Nada do que é humano me é estranho”: em ciência, o supérfluo de hoje poderá ser o essencial de amanhã.

Por Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.


Publicado por: Wanda Camargo

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