Relexões de um Paidagogo
pedagogia, pedagogo, inadequação escolar, problemas de aprendizagem.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
DIARIO DE UM PAI
Feira de Santana, 26 de maio de 2009.
Querido filho, desde ontem venho mergulhado num desafio colocado pelo Professor Iron, da disciplina Problemas de Aprendizagem, da UEFS. Como se não bastasse minhas dores de cabeça para tentar entender a dinâmica e funcionamento das causas e efeitos do fazer pedagógico, esse cara me aparece com um banquete de informações que pode elucidar, embora não solucionar, muitas das mazelas embutidas nos discursos sobre fracasso escolar.
Conforme já visto em disciplinas anteriores e na parte introdutória desta disciplina, o fracasso escolar ainda aparece no bojo educacional mais pela medíocre iniciativa de apontar responsáveis do que pela analise de ações interventoras.
Apontar os responsáveis pela inadequação escolar tem sido uma prática histórica, e hoje, já sem tanta importância. Portanto, entre o apontar e o agir existe uma grande discrepância. Intervir é comprometer-se consigo mesmo e com os demais envolvidos, ou seja, exige cautela (ao contrario de apontar responsáveis). Embora pareça radical, o que quero dizer é que para se intervir é preciso de bases teóricas sólidas, chega de tantos achismos pedagógicos que muitas vezes acabam agravando a rotina escolar por desvelar “verdades distorcidas” as quais os atores desse contexto não estão preparados para vivenciá-las. É um conflito necessário, bem sei, mas como dizia o seu avô, “não se deve cutucar onça com vara curta”. Sendo assim cabe perguntar como anda a “vara teórica” dos estudantes do curso de Pedagogia da UEFS? Será que estamos mesmo aptos para adentrar no contexto escolar sem causar estranheza (o que é impossível) e ainda oferecer ferramentas para auxiliar nas “anormalidades” detectadas no diagnostico psicopedagógico?
Tudo bem filho, devo ser ético em admitir que na verdade falo por mim. Acontece que não acredito muito que as disciplinas (desse curso) que contem práticas extra campo nos prepare de fato para as causalidades circulares, apesar de que o marco teórico que a referente disciplina (Problemas de Aprendizagem) traz é de grande relevância e as brincadeiras que o Professor Iron faz em torno dos relatos de experiências de campo são na verdade pistas de como nos comportamos durante uma intervenção.
Percebo que não foi em vão que esta disciplina passou de optativa para obrigatória.
Vou mais longe a ousar dizer que nosso curso precisa de uma disciplina que trate exclusivamente da preparação para o trabalho de campo. Acredito na escola como sendo um sistema aberto, portanto sempre será ilusório encontrar a escola que se espera.
Temo muito que essa experiência de grande importância para nossa formação acabe desembocando nas velhas incumbências de (in) responsabilidade deste ou daquele segmento (distanciamento ou ausência da família do aluno selecionado para o estudo de caso, inflexibilidade ou excesso de confiança do docente em relação ao nosso trabalho, divergência de idéias entre componentes do grupo não permitindo uma certa homogeneização, o limite de tempo da atuação e etc.).
Espero que não esteja soando tão pessimista. Mas é que já vi este filme antes. O conteúdo da disciplina e os relatos do professor enviam sinais para nossa percepção, cabe-nos registrar, interpretar e correlacionar os fatos com as teorias pra depois não dizer que “na teoria tudo é ‘bonitinho’ mas na prática é outra coisa”.
Na verdade meu filho, quando nos atentamos para algumas teorias é que se torna possível fazer interpretações sistêmicas da realidade ou, como coloca Rosnay (1975), uma aproximação sistêmica da realidade.
O que muito acontece no âmbito acadêmico é a não compreensão total de determinadas teorias úteis para um significativo processo de intervenção. Não dominar tais teorias (é obvio) compromete a credibilidade de qualquer intervenção. E pior ainda: uma intervenção mal realizada pode reforçar a dúvida sobre o real papel do (psico) pedagogo e não podemos deixar nossa profissão cair no ceticismo.
Você algum dia terá todo direito de me perguntar: “mas e você papai? Aprendeu realmente a dominar teorias para melhor embasar sua atuação?”. Sinceramente não saberia como responde-lo, ainda mas quando me deparo com um texto como o de Bassedas e Cols.
Pelo menos uma coisa que não me incomoda tanto é o fato de ter pouca experiência em trabalhos de campo. De certa forma isso é bom, pois não me sinto impregnado dos atrasos epistemológicos que insistem em acomodar a maioria dos profissionais de educação. Sinto-me “limpo” e receptivo ás novas perspectivas de abordagem.
Sentir-se aberto para o conhecimento é o que desejo para você meu amado filho. Suas intervenções poderão ser mais significativas quando você, de fato, compromete-se com sua função.
Finalizo desejando-lhe paz interior e plenitude de vida.
Te amo muito!
Publicado por: Joilson Aleixo da Silva
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.