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RELATO DE EXPERIÊNCIA COM OS ALUNOS DURANTE A PANDEMIA DA COVID-19

Análise sobre a importância do recurso do ensino remoto e outras modalidades online no período pandêmico por garantir o distanciamento e evitar a contaminação do vírus.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

RESUMO

Este artigo tem por objetivo discorrer acerca da nossa experiência pessoal e os desafios que enfrentamos em tempos de pandemia da Covid-19. Ressaltamos a importância do recurso do ensino remoto e outras modalidades online no período pandêmico por garantir o distanciamento e evitar a contaminação do vírus. No entanto, apesar das vantagens, o ensino remoto ou qualquer modalidade que recorre às tecnologias exige vários desafios, desde a aquisição de meios didáticos (computador, tablet ou telemóvel conectado ao internet) e o conhecimento no manejo da plataforma. Viu-se ainda a alternativa de adotar uma outra modalidade de ensino que combinasse o ensino presencial e o sistema online (ensino híbrido). Aí surgem fragilidades, como a carência de capacitação adequada aos professores em matéria das tecnologias de comunicação e informação; e carência tecnológica dos alunos de famílias com baixa renda e problemas da qualidade de internet e de acesso gratuito aos alunos.

Palavras-Chave: ensino remoto; pandemia; tecnologias

INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA 

Em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, província de Hubei, na República Popular da China. Tratava-se de uma nova cepa (tipo) de coronavírus que não havia sido identificada antes em seres humanos. (Cf Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS)/OMS)

Uma semana depois, em 7 de janeiro de 2020, as autoridades chinesas confirmaram que haviam identificado um novo tipo de coronavírus. Os coronavírus estão por toda parte. Eles são a segunda principal causa de resfriado comum (após rinovírus) e, até as últimas décadas, raramente causavam doenças mais graves em humanos do que o resfriado comum.

Em 30 de janeiro de 2020, a OMS declarou que o surto do novo coronavírus constitui uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) – o mais alto nível de alerta da Organização, conforme previsto no Regulamento Sanitário Internacional. Essa decisão buscou aprimorar a coordenação, a cooperação e a solidariedade global para interromper a propagação do vírus. Vírus esse que já levou à morte e internação de milhares de pessoas em todo mundo. (Cf. OPAS/OMS)

Com tamanha gravidade de saúde em nível mundial, os professores e alunos estariam impedidos por decretos governamentais de frequentar instituições educacionais para evitar a disseminação do vírus. A saída foi o ensino remoto, usado para não se comprometer o calendário letivo e se evitar aglomerações e se manter o distanciamento, afinal se devia seguir protocolo sanitário de prevenção à proliferação do coronavírus, tão contagioso e letal.

Esses decretos previam os procedimentos que a comunidade escolar estava ancorando para promoção do ensino. Nessa perspectiva, teve de pensar em novas metodologias e práticas de atividades pedagógicas mediadas pelos meios digitais, uso da internet. O currículo da maior parte das instituições educacionais não foi criado para ser aplicado remotamente. E como lidar com isso? Era uma missão difícil.

O professor já estava habituado ao ensino em sala de aula presencial, e diante dessa pandemia, teve que se reinventar, pois não estava preparado e nem capacitado para um ensino através de ferramentas tecnológicas. O ensino remoto implicou no distanciamento geográfico de professores e alunos pelas instituições educacionais do mundo inteiro para que as atividades escolares não fossem interrompidas, o ensino das aulas ocorria num tempo síncrono (acompanhando os princípios do ensino presencial), com videoaula, aula expositiva por sistema de webconferência, e as atividades seguiam durante a semana no espaço de forma virtual e assíncrona. Nessa nova sala de aula, a presença física do professor e do aluno aconteciam no espaço da sala de aula através de plataformas digitais, o que se chama de ‘presença social dos integrantes do processo de ensino’. (Oliveira, 2021)

Como fica a qualidade desses planos de aula mediados pelas Tecnologias da Informação e Comunicação? Como fica o suporte da escola para esses professores? Como a escola acompanha e colabora para uma melhor eficiência no aprendizado dos alunos? Como a família acompanhou o estudo diário desse aluno? Como era o acesso às tecnologias e como os alunos conseguiam acompanhar as aulas e realizar de forma satisfatória as atividades? São questionamentos que cotidianamente fizemos no auge da pandemia e no sistema de ensino remoto, enquanto docente do Ensino Fundamental II (6º ao 9º anos) da rede municipal de ensino de Acaraú-CE. Procuraremos responder a alguns destes questionamentos ao longo deste artigo. Um grande desafio a nós, professores era lançado.

DESENVOLVIMENTO

Com a suspensão das aulas presenciais, o Ministério da Educação, em caráter excepcional, no primeiro semestre de 2020, emitiu portarias que autorizaram a retomada das aulas de forma on-line e atividades remotas. As aulas remotas surgiram como alternativa para reduzir os impactos negativos no processo de aprendizagem. Com as aulas suspensas, muitas escolas, educadores, pais e alunos tiveram que passar do ensino presencial para o ensino remoto sem muito tempo de preparação, o que é um desafio bem grande para todos e principalmente para nós, professores.

Não é fácil para muitos professores que, como eu, são imigrantes digitais, ou seja, termo usado para se referir às pessoas que nasceram antes da era digital. “O professor de uma hora para outra teve que trocar o ‘botão’ para mudar de sintonia e começar a ensinar e aprender de outras formas”. (Behar apud Oliveira, 2021)

Após a estabilização da transmissão do vírus, no final segundo semestre de 2021, implantou-se em muitas instituições de ensino o ensino híbrido. Essa nova metodologia de aprendizagem tem como objetivo aliar métodos de aprendizado online e presencial.

Em agosto do ano de 2021, após seleção, fomos lotados em duas escolas da rede municipal de ensino de Acaraú-CE: Escola Teresa de Jesus Silva, no Centro, e a Escola Joelina Ribeiro Ramos Viana, no bairro de Bailarina. Em ambas, nossos planos de aula eram organizados para que ministrássemos aula de forma síncrona, via google meeting; e assíncrona, gravando vídeos postados nas redes sociais e elaborando atividades para os alunos que não conseguiam acompanhar as aulas on-line.

Desta feita, tivemos grandes desafios com as aulas remotas, afinal, as mudanças foram abruptas. Adaptar toda a dinâmica da sala de aula presencial para os ambientes virtuais demanda investimento de tempo e em tecnologia, o que se carece nas instituições públicas de ensino, especialmente nas escolas municipais.

O que nos chamava bastante atenção era a pouca presença dos alunos nas salas virtuais, nas aulas síncronas, bem como a pouca ou quase nenhuma devolutiva das atividades, mesmo que tivéssemos tanto empenho para a elaboração desse material, juntamente com o esforço da Coordenação Pedagógica e Secretaria Escolar para que esse material chegasse até as mãos dos alunos.

Apesar disso, reconhecemos algumas vantagens do ensino remoto, como a interatividade em meios novos ao aluno, a utilização novas ferramentas, como vídeos, músicas, ferramentas muitas vezes desconsideradas pelos docentes no ensino presencial. Ao fazerem atividades em pares ou grupos, a internet também permite que todos expressem seus conhecimentos e deem opiniões, o que traz à tona a experiência prévia dos alunos, o que os motiva ainda mais, pois se sentem parte ativa e importante do processo de aprendizagem.

Mas nem todos os alunos da rede municipal acarauense tinham acesso à tecnologia, seus aparelhos tecnológicos não apresentavam qualidade, muitas vezes o aparelho celular servia a todos os membros da família, além de se carecer da qualidade da internet, nem sempre satisfatória para acompanhamento das aulas e atividades. Além disso, muitas famílias não faziam o correto acompanhamento dos alunos nos momentos de estudo domiciliar, até mesmo pela desfragmentação e desestrutura dessas famílias. Sobrava a nós professores corrermos contra o tempo para driblar essas e tantas outras adversidades.

Aos poucos, no final do ano de 2021, as escolas foram adotando o ensino híbrido, com alternância de turmas com atividades de forma online e presencial e postagem de atividades nas redes sociais, o que já era um prenúncio do retorno à normalidade. Tal como o sistema remoto, esta metodologia também exigiu bastante agilidade e tempo de nós, professores. Neste período, o celular do professor não parou de chamar, e era quase nenhum o período de descanso. Engana-se quem pensa que professor não trabalhou bastante no período do pico da pandemia. E ainda mais: usando a própria internet, a própria tecnologia, usando recursos que antes não tinha usado, precisando reinventar sua metodologia.

Neste ano de 2022, houve o retorno total em Acaraú do ensino presencial. O fato é que não se pode negar a riqueza do processo ensino-aprendizagem de forma presencial na sala de aula. Há que se considerar a interação entre o “coletivo de sujeitos-alunos e sujeitos-professores”, como coloca Burnham (1993, p. 4),

Mediada por uma pluralidade de linguagens: verbais, imagéticas, míticas, rituais, mímicas, gráficas, musicais, plásticas... e de referenciais de leitura de mundo – o conhecimento sistematizado, o saber popular, o senso comum... –  os sujeitos intersubjetivamente, constroem e reconstroem a si mesmos, o conhecimento já produzido e que produzem as suas relações entre si e com a realidade, assim como, pela ação (tanto na dimensão do sujeito individual quanto social), transformam essa realidade, num processo multiplamente cíclico, que contém, em si próprio, tanto a face da continuidade, como da construção do novo.

Reconhecemos que “a educação, em qualquer de suas manifestações, é, antes de tudo, uma atividade social que não pode dar-se à margem de algumas relações interpessoais estruturadas.” (Coll & Miras, 1996, p. 265). A escola “é um lugar de vida, uma comunidade, que reúne um conjunto de pessoas e grupos em interação recíproca” (Ardoino, 1998, p. 34).  A escola é um espaço onde as práticas cotidianas dos sujeitos constroem e dão sentido à realidade vivida. Assim, reforçamos a riqueza da presencialidade na escola, considerando a “inter-ação” como fator primordial para que a dinâmica do processo ensino-aprendizagem flua e se alcance com mais êxito os objetivos e metas previstos nos planos de aula. Ao mesmo tempo, o clima que é criado ao longo do tempo e do espaço da cotidianidade também dará o toque especial na aprendizagem estudantil.

CONCLUSÃO

Os ensinos remoto e híbrido tiveram seus lados positivos, uma vez que permitiram interações salutares, ainda que com uma frequência bem abaixo do esperado na esfera pública. Questões colaboraram para a pouca adesão dos estudantes e pouca aprendizagem: acesso deficitário a um computador ou celular de qualidade para acompanhamento das aulas e atividades, problemas de conexão à internet, bem como problemas de acompanhamento de estudo pela família.

Com tantas deficiências, em 2022, estamos correndo contra o tempo para suprir as dificuldades de aprendizagem dos alunos, essa lacuna de dois anos com a distância do aluno de forma presencial na escola. Fato reconhecido inclusive pelos governos, a exemplo do programa Pacto pela Aprendizagem, do Estado do Ceará, que inclui aulas de reforço aos alunos mais deficitários, além de investimentos na implementação de projetos de reestruturação das escolas, com vistas a sanar as dificuldades.

Políticas públicas à educação têm sido fortalecidas, uma vez que se reconhece que, através da educação, desenvolvemos um cidadão crítico, com mais oportunidades de emprego e melhoria na sua própria qualidade de vida. A importância de aprender para si mesmo é compartilhar os conhecimentos com os outros. Seja remotamente, de forma híbrida ou presencial, nós professores estamos desenvolvendo nosso papel não como meros repassadores de conteúdo, na forma da educação bancária, que tanto Paulo Freire criticava, mas como uma ponte entre o aluno e o conhecimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

OPAS/OMS. Histórico da pandemia de COVID-19. Artigo. Disponível em:

OLIVEIRA, Edinaldo Aguiar de. Ensino remoto: o desafio na prática docente frente ao contexto da pandemia. Artigo. Revista de Educação Pública, 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/28/ensino-remoto-o-desafio-na-pratica-docente-frente-ao-contexto-da-pandemia#:~:text=Sendo%20assim%2C%20essa%20modalidade%20de,evitar%20a%20dissemina%C3%A7%C3%A3o%20do%20v%C3%ADrus.

NOVO, Benigno Núñez. Aulas remotas em tempo de pandemia. Artigo, 2021. Disponível em:

BURNHAM, Terezinha Fróes. Complexidade, multirreferencialidade, subjetividade: três referências polêmicas para a compreensão do currículo escolar. Em Aberto. Brasília, ano 12, n. 58, p. 3-13, abr./jun. 1993.

COLL, César; MIRAS, Mariana. A representação mútua professor/aluno e suas repercussões sobre o ensino e a aprendizagem. In: COLL, César; PALÁCIOS, Jesús; MARCHESI, Álvaro (Orgs.) Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação. Tradução de Angélica Mello Alves. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. V. 2, pt 3: Fatores sócio-ambientais e interpessoais do processo de ensino e aprendizagem, cap. 16, p. 265-280.

ARDOINO, Jacques. Abordagem multirreferencial (plural) das situações educativas e formativas. Tradução de Rosângela B. de Camargo. In: BARBOSA, Joaquim G. (Coord.) Multirreferencialidade nas ciências e na educação. São Carlos: EdUFSCar, 1998, p. 24-41.


FRANCISCO EDSON DO NASCIMENTO COSTA - Mestrando em Ciências da Educação pela World University Ecumenical. Graduado em Comunicação Social e História. Especialista em História do Brasil. Funcionário Público Federal do Instituto Federal do Ceará.


Publicado por: Francisco Edson do Nascimento Costa

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