Os efeiros da pedagogia do exame
avaliação educacional, pedagogia dominante, pedagogias hegemônicas, pedagogia tradicional, pedagogia renovada, pedagogia tecnicista.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: CLASSIFICAÇÃO X DIAGNÓSTICO
Este texto tem como objetivo abordar os fatos e aspectos que delimitam o fenômeno denominado “avaliação educacional”.
A avaliação educacional em geral e a avaliação da aprendizagem escola, em particular,são meios delimitados pela teoria e pela prática que as circunstancializam. O atual exercício da avaliação escolar está a serviço de uma pedagogia que nada mais é do que uma idéia teórica da educação, que traduz uma concepção teórica da sociedade em que vivemos. O autoritarismo é o elemento necessário para garantir esse modelo de sociedade. Daí a prática da avaliação apresentar-se de forma autoritária. Para romper com essa prática, há a necessidade de se colocar a avaliação a serviço de uma pedagogia que entenda e esteja preocupada com a educação como meio de transformação social.
A avaliação da aprendizagem escolar no Brasil está a serviço de uma pedagogia dominante, que serve a um paradigma social dominante, o qual pode ser identificado como paradgma social liberal conservador, nascido no seio da burguesia que se tornara reacionária e conservadora, tão logo se instalara no poder após a Revolução Francesa, tendo em vista garantir e aprofundar os benefícios econômicos e sociais que havia adquirido. A isonomia só existe na Lei. Cada individuo pode e deve, com seu próprio esforço, buscar livremente sua auto-realização pessoal, por meio da conquista e do usufruto da propriedade privada e dos bens.
As pedagogias hegemônicas que se definiram historicamente, nos períodos subseqüentes á Revolução Francesa, ainda estão a serviço desse modelo social. Em função disso, a avaliação educacional em geral e da aprendizagem ,em particular, contextualizam dentro dessas pedagogias, estão instrumentalizadas pelo mesmo entendimento teórico-prático da sociedade.
O modelo liberal conservador da sociedade produz três pedagogias distintas, mas relacionadas entre si e com um mesmo objetivo: conservar a sociedade na sua configuração.
1) Pedagogia tradicional, centrada no intelecto, nas transmissões de conteúdos e na pessoa do professor;
2)Pedagogia renovada ou escolanovista, centrada nos sentimentos, na espontaneidade da produção do conhecimento e no aluno com suas diferenças individuais;
3) Pedagogia tecnicista, centrada na exacerbação dos meios técnicos de transmissão e apreensão dos conteúdos e no principio do rendimento.
Essas três pedagogias tentaram produzir, sem o conseguir, a equalização social, pois há a garantia da lei de que todos são iguais. Os elementos dessas pedagogias pretendem garantir o sistema social na sua integridade. Daí surge definições pedagógicas de como deve se dar a relação professor- aluno, como deve ser executado o processo de ensino-aprendizagem e como deve se proceder a avaliação.
Neste contexto surge um outro modelo social baseado na igualdade do ser humano, e uma nova pedagogia foi emergindo para este paradigma social. Hoje contamos com a pedagogia libertadora ou libertaria, fundada nas idéias e na prática pedagógica de Paulo Freire, que se baseia na idéia de que a transformação virá pela emancipação das camadas populares, que se define pelo processo de conscientização cultural e política, através da EJA.
Aos poucos, está sendo formulada a chamada pedagogia dos conteúdos socioculturais, centrada na idéia de igualdade e oportunidade para todos no processo educacional, e na compreensão de que a pratica educacional se faz pela transmissão e assimilação dos conteúdos de conhecimentos sistematizados pela humanidade e na aquisição de habilidades de assimilação e transformação desses conteúdos no contexto de uma prática social. (Apud. Libâneo, 1984).
Nestes dois grupos de pedagogias estão, de um lado, aquelas que tem por objetivo a domesticação dos alunos, e pretendem a conservação da sociedade, propõem e praticam a adaptação e enquadramento dos educandos no modelo social vigente, e de outro, aquelas que pretendem a humanização dos alunos, e pretendem oferecer a eles meios pelos quais possam ser sujeitos desse processo. Esta está voltada para as perspectivas e possibilidades de transformação social. Esses grupos de pedagogia exigem duas práticas deferentes de avaliação educacional e avaliação da aprendizagem escolar.
A prática de avaliação escolar dentro do modelo liberal conservador, terá de ser autoritária, pois esse caráter pertence á essência dessa perspectiva de sociedade. Portanto, a avaliação educacional será um instrumento disciplinador das condutas cognitivas e sociais no contexto da escola.
Já a prática de avaliação nas pedagogias libertaria e pedagogia dos conteúdos socioculturais, preocupadas com a transformação, devera estar atenta aos modos de superação do autoritarismo e ao estabelecimento da autonomia do educando, pois o novo modelo social exige a participação democrática de todos. Aqui, a avaliação educacional deverá se manifestar como um novo mecanismo de diagnóstico da situação.
A atual prática da avaliação educacional pode ser definida da seguinte forma:
1) ela é um juízo de valor, o que significa uma afirmação qualitativa sobre um dado objeto, a partir de critérios pré-estabelecidos;
2) esse julgamento se faz com base nos caracteres relevantes da realidade, a seleção de sinais que fundamentarão o juízo de valor dependerá da finalidade a que se destina o objeto a ser avaliado;
3) a avaliação conduz a uma tomada de decisão, o julgamento de valor desemboca num posicionamento não indiferente, o que significa uma tomada de posição sobre o objeto avaliado e uma tomada de decisão quando se trata de um processo – como o da aprendizagem.
A atual prática de avaliação escolar coloca como função o ato de avaliar a CLASSIFICAÇÃO e não o DIAGNÓSTICO, o julgamento de valor passa a ter a função de classificar um objeto ou um ser humano. Na visão da aprendizagem escolar poderá ser classificado como inferior, médio ou superior. Com a função classificatória a avaliação não auxilia em nada o avanço e o crescimento da aprendizagem. Somente com uma função diagnóstica a avaliação pode servir para essa finalidade: auxiliar a aprendizagem do aluno.
Na pratica pedagógica, a transformação da função da avaliação de diagnostica em classificatória foi péssima. Apesar de a lei garantir igualdade para todos, no concreto histórico, encontram-se os meios para garantir as diferenças individuais do ponto de vista da sociedade.
Para que a avaliação educacional escolar assuma o seu papel de instrumento dialético de diagnostico para o crescimento, terá de se situar e estar a serviço de uma pedagogia que esteja preocupada com a transformação social. O elemento para que se dê á avaliação educacional escolar um rumo diferente do que está sendo exercido, é o resgate da função diagnostica – deverá ser o instrumento dialético do avanço, instrumento da identificação de novos rumos.
REGINA CELIA DE FREITAS SOBREIRA
Titulação: Pedagogia/UFV/MG
Tel: 31-3891-3408
E-mail: ginacelia13@yahoo.com.br
Bibliografia: LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições.
12 ed. São Paulo: Cortez,2002, 180p.
“Todas as informações contidas neste texto são de responsabilidade da autora.”
Publicado por: regina celia de freitas sobreira
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