O refeitório e o discurso de considerá-lo ambiente pedagógico
Confira aqui uma reflexão sobre a afirmação do refeitório como “ambiente pedagógico”.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Após participar do II seminário Universidades e Escolas: Quem são os Donos do Cardápio Infantil? E de ouvir algumas vezes o discurso de colegas e pedagogas sobre o refeitório como um local de aprendizagem, ou melhor dizendo, “ambiente pedagógico”, parei para refletir o que há por trás desse discurso? Este texto tem como objetivo a reflexão sobre a afirmação do refeitório como “ambiente pedagógico”.
Muito se discute a respeito de uma alimentação saudável e equilibrada, um prato bem colorido e alimentos bem preparados, com o auxílio de uma nutricionista acompanhando tudo de perto, verificando a temperatura ideal e o valor nutricional de cada alimento. Porém, na hora da alimentação os alunos, ao chegarem no refeitório, servem-se ou pegam o que já está servido, sentam-se em um banco ao redor de uma mesa grande, muitas vezes com outras turmas no local, e começa a contar o tempo no relógio. Nas escolas em que tive a experiência de fazer estágio ou observação para o curso de Pedagogia da UFRGS, o tempo médio para cada refeição era de 20 minutos. Seja ela o lanche, almoço ou janta.
O tempo é pouco, pois às vezes o refeitório é pequeno e outra turma tem o próximo horário. Ou ainda, a escola tem muitos alunos, um refeitório grande e poucos funcionários que precisam limpar o espaço. O fato é que os alunos comem rápido e não podem conversar, pois se conversarem terão que comer mais rápido ainda. Algumas vezes desconhecem o alimento que estão comendo e suas propriedades alimentares. Acredito que com os alunos da educação infantil o prejuízo é ainda maior, uma vez que desde o berçário estamos ensinando a comer rápido e em silêncio.
Ao contrário do que acontece muitas vezes, na escola particular de educação infantil onde trabalho, com uma turma composta por 8 alunos de 1 ano e 9 meses até 2 anos, os alunos alimentam-se na sala de aula e não há um tempo determinado para terminar a refeição.
Os alimentos são preparados na cozinha da escola com a orientação da nutricionista e levados até a nossa sala de aula. Os alunos fazem a higiene, sentam-se ao redor da mesa em suas cadeiras e aprendem sobre cada alimento, as frutas e suas cores, os legumes, e de qual fruta é feito o suco. Os alunos, mesmo os pequenos, gostam de contar suas “histórias” na hora da refeição e de repetir o nome do alimento que estão ingerindo. E tudo isso, com calma.
Se quisermos transformar o refeitório em “ambiente pedagógico”, primeiro devemos refletir sobre a atitude dos alunos durante a refeição. Será que ao serem condicionados a ficarem quietos estamos transformando o refeitório em “ambiente pedagógico”? Será que os professores utilizam o termo “ambiente pedagógico” só por ser bonito no discurso? E principalmente, o que queremos ensinar a esses alunos? Que sujeitos estamos formando?
Ariane Souza é graduanda do curso de Pedagogia da UFRGS.
CV: http://lattes.cnpq.br/6962071123667084
Para citação utilizar: SOUZA, A. S.
Publicado por: Ariane Souza
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