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O Articulador- como vencer os desafios da supervisão escolar

Análise sobre como vencer os desafios da supervisão escolar.

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Introdução

A forma que desempenhamos nosso trabalho, diz muito sobre cada um de nós. Ser um profissional capaz de vencer os desafios, propor novas soluções, almejar novos alcances, requer um trabalho árduo, porém recompensador.

O supervisor escolar ou supervisor pedagógico ou coordenador ou ainda Especialista da Educação Básica, muitas denominações mas uma mesma função, tem o papel de acompanhar e articular todo o processo educacional em suas inúmeras etapas. Braço direito do diretor, companheiro de ações do professor, escuta e voz dos alunos, ponte para escola e família, tudo isso faz com que tenhamos um papel sobretudo
desafiador, pois ele precisa saber conduzir todos os processos educacionais fundamentais para uma educação de qualidade, levando em conta a precisão de suas ideias e a forma de liderar uma equipe com múltiplas funcionalidades. Dessa forma, é importante dizer que o profissional que venha a desenvolver a função de supervisor escolar deva ser alguém dialético, reflexivo e dotado de capacidade para interagir com os outros indivíduos do âmbito escolar e que principalmente alie conhecimento compartilhado e afetividade. Estratégias, planejamento, preparação, são fundamentais para se conseguir excelência em que tudo que fazemos. Compartilhar experiências, ajudar aqueles que estão ingressando numa carreira tão gratificante e validar todo um processo que já atuo há mais de 25 anos, é o objetivo principal desse livro. Ajudar a conseguir ser UM ARTICULADOR do processo educativo, sem deixar de ser essência, é o diferencial nesta profissão. Saber ser escuta, olhar com afetividade aquilo que nem sempre de imediato deciframos, investigar aliado ao tempo e as atitudes que falarão por si só e saber planejar em cima disso, como dizia Lev Vygotsky “ Para entender o que o outro diz, não basta entender suas palavras, mas também seus pensamentos e suas motivações.”

A Escolha.

Escolher o melhor caminho, nem sempre é coisa fácil! Na vida profissional somente aptidão para fazer certas coisas, não é o suficiente. Planejar é preciso sempre, ter metas claras e objetivas e correr atrás daquilo que acredita, buscando sempre o aperfeiçoamento, é o que podemos dizer ser algo fundamental para o nosso crescimento e satisfação naquilo que propomos a fazer.

A escolha pelo caminho da educação foi sempre algo de muita certeza dentro de mim. Acredito, sobretudo, no papel essencial que ela exerce para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária, reflexiva, operante e principalmente, transformadora... capaz de transformar, para melhor, a vida das pessoas.

Iniciar minha carreira numa sala de aula, foi essencial para a construção de ser uma supervisora convicta da minha função e de ter a certeza da escolha do caminho que deveria percorrer. Esta sim é uma parte fundamental, certificar-se do que realmente quer como profissão.

A trilha da educação te convida a conhecer várias facetas dentro de um cenário amplo e sempre desafiador, muitos são os problemas a encarar, as dificuldades persistem dentro de um sistema pouco valorizado, nem sempre com grandes estímulos, porém, quando temos a certeza de que esse é o caminho, tudo se torna mais acessível e empolgante e aí o próximo passo é descobrir qual é a sua atuação dentro dela.

Todo nosso trabalho deve estar pautado no sucesso dos nossos alunos e isso começa na sala de aula para depois se estender para o mundo afora ( é para isso que trabalhamos), essa noção fica mais fácil quando já encaramos este desafio de ser um professor.

O cargo de supervisora pedagógica pra mim, chegou de forma abrupta, de acordo com uma necessidade do momento, mas foi de uma forma tão intensa que a descoberta foi eficaz, chegando pra ficar. Vi que o compromisso era grande, mas que também trazia inúmeras gratificações.

O valor maior de tudo isto, não está mesmo na remuneração ( longe disso), mas na colaboração de todo um processo educacional enriquecedor, capaz de transformar, capaz de promover e de ressaltar potenciais, onde inclui colaboradores essenciais: alunos, professores, família e toda uma comunidade empenhada para o alcance de um objetivo único: a qualidade do processo ensino-aprendizagem.

O fundamental nesta escolha é assumir uma postura profissional capaz de transformar os erros e as dificuldades em situações de aprendizagem; através de um trabalho contínuo e diagnosticador. Investigar, experimentar, propor, inovar, acompanhar são alguns dos verbos de ação que devem fazer parte da nossa rotina na função de supervisor escolar.

O Desafio.

Esta é uma palavra que você verá sempre por aqui, pois todo o nosso trabalho gira em torno de vencer desafios, grandes ou pequenos.

Existe uma frase que muito me marcou no filme Desafiando Gigantes, onde diz “Se você aceitar a derrota é só isso que vai conseguir”, na escolha dessa profissão o estímulo, a busca, deve ser aquilo que você deve ter como armas principais no dia a dia. Não deixar ser vencido pelo cansaço, pela procrastinação, agindo conforme a aparição do problema é algo que precisamos buscar diariamente em nossa prática.

Pra começar este capítulo poderíamos citar vários problemas que encontraremos por este caminho, mas acho desnecessário, pois não vejo que isto seja novidade pra alguém, todos conhecem o sistema precário educacional do nosso país, mas o que fazer diante disto? Cruzar os braços...empurrar com a barriga...fazer vista grossa? Posso afirmar que não há sentimento maior que ver que aquilo que você faz mudar de alguma forma, para melhor, a vida das pessoas; isto que faz toda a diferença! Não focar nas dificuldades, mas conseguir enxergar esperança, vida naquilo que está temporariamente adormecido. Pensar no entusiasmo de uma criança, que por uma técnica indicada por você, ou uma atenção maior no trabalho junto de uma professora alfabetizadora, conseguiu fazer uso do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação começando a ler e escrever e mais que isso compreendendo o resultado dessa ação, entendendo a linguagem como prática social. Isso realmente é gratificante!

Sabemos que pra chegar até um resultado satisfatório o caminho às vezes é longo e requer muito trabalho e quando as dificuldades sobrepõe ao processo... o que fazer?

Deparar com tais deficiências exigem de nós em muitos casos faro ou instinto de sábios, quando nos é dada a capacidade de perceber as falhas, somente pelo uso da dialética e de nos colocarmos mais no lugar do outro. Essa aproximação nos coloca também, em muitas vezes, de frente com os conflitos internos que surgem e para isso precisamos exercer um outro papel, o de para-raios em meio a tais divergências, tudo em prol de propiciar equilíbrio e ajustes no âmbito da escola.

O coordenador precisa sobretudo acompanhar tudo desde o início, a observação e o acompanhamento dentro e fora da sala de aula é fundamental! Antes de prescrever o remédio, o médico faz o seu diagnóstico, na educação não é diferente, é preciso fazer a sondagem, investigar e diagnosticar o problema encontrado. Estar junto com o professor, é necessário. Nem sempre somos muito bem vistos por isso, porém faz parte de nosso trabalho e precisamos nos fazer claros desta nossa atuação, para que tudo possa ser facilmente encarado e resolvido. O foco nesse trabalho será sempre o melhor atendimento ao aluno, esta deve ser a nossa busca principal. Buscar essas respostas é algo realmente desafiador, Intermediar com a família, chegar junto na sala de aula, propor novas técnicas de ensino, tudo isso é sempre muito importante, mas considero primordial também ouvir o aluno, nem sempre o problema estaciona naquilo que os nossos olhos veem, pode ser que tenha algo mais intrínseco, que precisa de um olhar mais direcionado e até mesmo uma indicação de uma ação mais especializada.

Articular tudo isso requer sempre muita clareza no que se quer alcançar, deixar os envolvidos cientes de seu papel, é uma forma bacana e eficaz de uma boa gestão. Família sempre deve ser informada do que se passa na vida escolar do filho, independente de como está a situação, não podemos deixar essa informação chegar aos responsáveis somente quando as coisas atingem um grau de complexidade mais sério, professores precisam saber qual o melhor caminho indicado por você para seguirem, os melhores procedimentos para sua prática, alunos precisam sentir amparados e acolhidos, ter a confiança que toda uma equipe está empenhada para verem o seu sucesso. E para isso todos juntos precisam estar articulados e desempenhando da melhor forma seu papel.

Compartilhando Experiências.

Eu acredito que as experiências servem para enriquecer nossas ações, pois são a partir delas que buscamos novos caminhos, saímos da inércia e propomos a desempenhar um melhor trabalho. Nesses quase 18 anos de supervisão pedagógica (5 anos como gestora e 13 anos como supervisora pedagógica), muitos acertos e falhas fizeram parte do meu currículo, vou destacar duas experiências que muito me ensinaram e colaboraram para enriquecer minha trajetória como educadora e como pessoa. Vou começar contando uma das experiências mais frustrantes que já tive em minha carreira...O ano foi 2007, tinha acabado de fechar minha escolinha (jardim de infância) sentia um medo grande de não conseguir encontrar um trabalho, de não conseguir me encaixar em nenhuma outra escola e ai surgiu um convite, meio que repentino de assumir a supervisão pedagógica de uma escola que ficava nos confins, dos confins da Terra. Fiquei empolgada com tal convite, porém não analisei bem as consequências .... Estava realmente preparada para encarar aquela situação e naquele momento?

Reflexões que realmente me faltaram naquela ocasião. Tinha uma bebê nessa época e mais dois filhos menores e mesmo assim, me arrisquei em ir. Passei por grandes perrengues, perigos diários, chuvas pelo asfalto de moto, saídas de madrugada de casa, em prol daquilo que não tinha certeza se era realmente o que queria, algo que não conseguia me dedicar integralmente e que no fundo sabia que estava me precipitando de alguma forma, conclusão: não deu certo! Foram dias dolorosos, frustrantes, sabia que não era daquela forma que queria trabalhar, não conseguia me dedicar as funções que exercia, muitas preocupações com filhos, com os perigos que me cercava diariamente, tudo isso não cooperava para um trabalho bem feito.

Acredito que nada é em vão, tudo serve como lição de vida, um alerta de Deus para evitarmos erros recorrentes. Hoje consigo tirar proveito desse momento. Sempre quando preciso tomar decisões, procuro analisar bem o que está a minha frente, paro para pensar na situação como um todo e assim entendo que consigo com isso ter mais acertos em minhas escolhas.

Na vida precisamos ter foco sim, mas também precisamos analisar bem as propostas, os riscos, pensar naquilo que iremos nos deparar e principalmente saber se estamos preparadas para isso no momento, as vezes isso leva tempo e nem tudo requer uma resposta imediata. Pensar não é querer começar sempre de cima, mas é ponderar os pontos fortes e fracos, a precipitação muitas vezes nos leva ao desperdício e ao fracasso!

Mas como não mencionar as experiências que elevam nossa autoestima, que traz em nossa memória lembranças felizes, demonstram o quanto estamos no caminho certo. No ano seguinte entrei para a escola do estado, lá pude desempenhar um ótimo trabalho com toda minha equipe. Os desafios eram grandes, escola de periferia, problemas sociais que nos cercavam a todo momento, porém existia algo muito importante e que fez toda a diferença no processo educacional: afeto e compromisso de todos em prol de um bem comum; conseguimos formar uma equipe super engajada, professores empolgados e dispostos a melhorar aquele cenário e assim foi feito ... melhora nos resultados dos alunos, elevação do IDEB ( índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e sobretudo uma redução significativa nos delitos que antes existiam por lá.

Podemos destacar aqui duas palavrinhas principais nessa experiência: ENGAJAMENTO E TRABALHO EM EQUIPE. Como é importante na função do supervisor escolar ter um bom entrosamento com a equipe que lidera, ser alguém que demonstra coragem para lutar, força para liderar, mas sobretudo saber estar junto, ser abrigo e companheiro nas horas certas e incertas.

Não podemos esquecer que o nosso trabalho é todo voltado para o ensinar e o aprender; valorizando esse processo em cada atitude que tomamos, com coragem, amor, acreditando de verdade que é o caminho mais certeiro para uma melhora de vida e para o bem de uma sociedade e esse sentimento quando é verdadeiro acaba contagiando todo um grupo e a gente passa agindo, como dizia Paulo freire “ É preciso diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal forma que, num dado momento, a tua fala seja tua prática.”

Colhendo Frutos.

A educação, não diferente de tudo na vida, é preciso semear primeiro para depois colher os frutos que nela formarão... a seara só será boa, se tivermos plantado boas sementes.

O processo educacional exige que as partes fundamentais que nele estão inseridos estejam preparados para respeitar o tempo, o ciclo e a maturidade dos seus agentes principais, nossos alunos. É mais cômodo lidar com os problemas, colocando-os com certo distanciamento e transportando-os para longe de nós... os culpados pela decadência do sistema de ensino serão sempre aquilo que está fora do nosso alcance.

Mas, e você, como tem desempenhado a sua função? Como lida com as situações adversas do seu cotidiano? São reflexões necessárias que devemos fazer para melhorar nossa conduta.

Se uma criança com deficiência não consegue aprender da mesma forma dos demais, isto não significa que ela é mais ou menos incapaz que a turma, o formato do ensino que deverá ser diferenciado e adequado a mesma, possibilitando que a aprendizagem aconteça de forma inclusiva. TODOS têm o direito de aprender e o supervisor pedagógico precisa garantir esse direito a qualquer custo. Já presenciei professores oferecendo desenhos para uma criança com deficiência colorir, totalmente fora do contexto da aula, como se fosse um passatempo pedagógico enquanto a turma estava aprendendo sobre solo e relevo, por simplesmente desacreditar na capacidade de tal aluno. Minha indignação só não é maior que a minha necessidade de fazer alguém assim entender que há inúmeras formas de demonstrar aprendizagem, que a leitura e escrita padrão não devem ser a única fonte do alunos demonstrarem conhecimento ou que entendeu determinado conteúdo e por que não demonstrar a aprendizagem através da oralidade, dos gestos, das expressões, dos materiais não estruturados e por ai vai...

Se um jovem adolescente perde seus estímulos para os estudos, começa levar tudo na brincadeira e ai entra num ciclo vicioso gerando uma má conduta na escola, provavelmente enxergamos isso como um deslize natural da fase que se encontra ou como falta de limites da família ou ainda até mesmo desvio de conduta... é triste, mas já ouvi professores dizendo que fulano não tem jeito e que já desistiu de tal aluno. Como é desesperador ouvir isso e de alguém que se diz tão preparada para ensinar, escolhendo essa profissão! Sou bem realista e já vivenciei muitas coisas, porém não me permito pensar em desistir de um aluno, mesmo em situações que sei que não conseguirei muito êxito; alguma semente boa que a gente planta, germina, pode ter certeza disso...nem tudo é perdido! E é exatamente nisso que o educador precisa acreditar, é lida insistente, diária, não é poção mágica onde tudo se transforma num dado instante, é regando diariamente a sementinha que você plantou com dedicação e amor que estas germinarão e se transformarão em lindos frutos.

Referências bibliográficas:

PROENÇA, Maria Alice. Prática docente. A abordagem de Reggio Emilia e o trabalho com projetos, portfólios e redes formativas.1ª edição- São Paulo. Panda Educação,2018

BASTOS, Alice Beatriz. Wallon e Vygotsky: Psicologia educação. 1ª edição; Edições Loyola. São Paulo, 2014

WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem.  Editora Ática. São Paulo, 2002

 

Cynara Raposo ( Psicopedagoga clínica e institucional- Coordenadora pedagógica da rede pública e privada de Educação)


Publicado por: Cynara Raposo

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