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ESCREVER À MÃO COMO ESTRATÉGIA PARA MELHORAR A APRENDIZAGEM E A MEMORIZAÇÃO

Breve análise sobre escrever a mão como estratégia para melhorar a aprendizagem e memorização.

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Imagine que você tenha descoberto uma maneira de aprender e memorizar qualquer conteúdo e nunca mais esquecer, podendo acessar esse conteúdo a qualquer hora e explicar para qualquer pessoa a qualquer momento. Isso não seria fantástico? Pois é, isso ainda não aconteceu da forma como imaginamos, isto é, aprender e memorizar algo lendo ou estudando uma única vez e registrar em nosso cérebro essas informações para sempre, sem nunca mais esquecer. Mas com algumas medidas e estratégias podemos aprender e memorizar algo de forma efetiva e duradoura sim, acessando e podendo explicar esse conteúdo sempre que necessário.

Uma das práticas que podem ajudar nesse processo é escrever à mão e fazer anotações de estudo. No próprio ato de estudar é comum que as pessoas utilizem estratégias para facilitar o aprendizado. Uma estratégia comum entre os estudantes de graduação, por exemplo, é fazer tais anotações, sejam elas escritas à mão ou digitadas (ARAGÓN-MENDIZÁBAL et al., 2016). É claro que estudar e escrever o conteúdo apenas uma única vez não necessariamente garantirá uma memorização a longo prazo. Porém, a chance de isso acontecer é bem maior do que apenas ler. Para fixar realmente o conteúdo de forma duradoura deve-se rever o conteúdo de tempos em tempos até que o cérebro crie conexões fortes para essa informação.

Conforme destacam Moin, Magiera e Zigmond (2009), a atividade em que os alunos de graduação passam mais tempo executando durante as aulas tradicionais é a anotação ou tomada de notas. Mas será que essas anotações realmente ajudam a aprender e memorizar?

Bem, de acordo com várias pesquisas já publicadas sim, inclusive algumas apontam para a vantagem desse tipo de anotação em relação à anotação digital, algo que tem se tornado cada vez mais frequente.  Evidências apontam que escrevendo à mão, mesmo de forma irregular e não muito legível, a memorização ocorre com mais eficiência. Isso pode ser uma vantagem desse tipo de escrita no ato de estudar em relação à escrita digital (ITO et al., 2020). Ao se fazer anotações escritas à mão precisamos nos concentrar mais e devido à necessidade de coordenação motora fina diversas áreas do cérebro são ativadas. Pesquisas já verificaram que escrever à mão ativa regiões do cérebro relacionadas à memória, à aprendizagem e à compreensão, o que pode beneficiar o desempenho acadêmico de alunos que utilizam essa técnica em seus estudos (AL-GHABRA, 2015; MURPHY; RYAN JR.; WARNAPALA, 2019).  

Em um experimento com 26 meninos de 10 a 11 anos de idade em uma aula de história e biologia, foram avaliadas a recordação factual e a compreensão conceitual das crianças que fizeram anotações digitais e escritas à mão. As crianças que anotaram à mão tiveram maior compreensão conceitual uma semana após a aula (HORBURY; EDMONDS, 2021). O movimento sensório-motor do corpo para desenhar as letras na escrita à mão parece ser um fator facilitador para o aprendizado (CARVALHO; GABRIEL, 2020). Em outro estudo que também avaliou questões conceituais verificou que os participantes que anotaram à mão tiveram um desempenho melhor do que os participantes que anotaram no laptop para um questionário geral e para questões conceituais (CRUMB; HILDEBRANDT; SUTTON, 2020).

Assim como esses exemplos, muitos outros experimentos e pesquisas da neurociência têm produzido resultados semelhantes e que confirmam os benefícios de escrever à mão para a aprendizagem e a memorização. Para Piazzi (2015), escrever à mão é gravar o conteúdo “em seu HD”, ou seja, em seu cérebro, e fazer anotações digitais é gravar o conteúdo no HD do computador. De acordo com esse mesmo autor, estudar sem fazer anotações à mão não é estudar. Pelo que se pode concluir, escrever à mão realmente demonstra efeitos positivos, principalmente se comparado à digitação. Dessa forma, podemos realmente utilizar essa prática para potencializar o nosso aprendizado e a memorização de conteúdo.

Ao estudar um conteúdo através da leitura, podemos então selecionar os principais conceitos e escrever, resumindo, delineando e fazendo conexões com todo o conteúdo, em forma de tópicos ou até mesmo no estilo de mapas mentais. O importante é sair da forma passiva da leitura e se dirigir para a forma ativa da escrita, pois como vimos, teremos muito mais atividade cerebral, pois regiões ligadas a memória e a aprendizagem serão ativadas, além de um processamento de pensamento mais profundo em que é demandado mais atenção e compreensão da informação para uma reescrita, o que aumentará a eficiência no processo de aprendizagem, memorização e consolidação do conteúdo. Experimente!

REFERÊNCIAS

AL-GHABRA, Iman M. M. Muwafaq. Handwriting: A Matter of Affairs. English Language Teaching, v.8, n.10, p. 168-178, 2015. DOI: 10.5539/elt.v8n10p168.  Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ1078742.pdf. Acesso em: 10 dez. 2023.

ARAGÓN-MENDIZÁBAL, E. et al. Análisis comparativo entre escritura manual y electrónica en la toma de apuntes de estudiantes universitários. Comunicar, 48: Ética y plagio en la comunicación científica, p. 101-107, 2016. Disponível em: https://www.scipedia.com/public/Aragon-Mendizabal_et_al_2016a. Acesso em: 10 dez. 2023.

CARVALHO, Kadine Saraiva de; GABRIEL, Rosângela. Escrever à mão versus digitar: implicações cognitivas no processo de alfabetização. Letrônica, Porto Alegre, v. 13, n. 4, p. 1-13, 2020. DOI: 10.15448/1984-4301.2020.4.37514. Disponível em: https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/view/37514#:~:text=Uma%20vez%20que%20essa%20condi%C3%A7%C3%A3o,e%20da%20escrita%20pelas%20crian%C3%A7as. Acesso em: 09 dez. 2023.

CRUMB, RM; HILDEBRANDT, R; SUTTON, TM. The Value of Handwritten Notes: A Failure to Find State-Dependent Effects When Using a Laptop to Take Notes and Complete a Quiz. Teaching of Psychology, 49(1), p. 7-13, 2020. DOI:10.1177/0098628320979895. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0098628320979895. Acesso em: 11 dez. 2023.

HORBURY, Simon R.; EDMONDS, Caroline J. Taking Class Notes by Hand Compared to Typing: Effects on Children’s Recall and Understanding. Journal of Research in Childhood Education, 35:1, 55-67, 2021. DOI: 10.1080/02568543.2020.1781307. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/02568543.2020.1781307. Acesso em: 09 dez. 2023.

ITO, R. et al. Comparison of the Remembering Ability by the Difference Between Handwriting and Typeface. In: HCI INTERNATIONAL 2020 - POSTERS. HCII 2020. Communications in Computer and Information Science, vol 1224, 2020, Copenhagen, Denmark. Conference proceedings [...]. Copenhagen: Springer, 2020, p. 526-534. DOI: 10.1007/978-3-030-50726-8_69. Disponível em: https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-3-030-50726-8_69#citeas. Acesso em: 10 dez. 2023.

MOIN, L.; MAGIERA, K.; ZIGMOND, N. Instructional Activities and Group Work in the U.S. Inclusive High School Co-taught Science Class. International Journal of Science and Mathematics Education, 7, p. 677-697, 2009. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s10763-008-9133-z. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s10763-008-9133-z. Acesso em: 12 dez. 2023.

MURPHY, Colleen P.; RYAN JR., Christopher J.; WARNAPALA, Yajni. Note-Taking Mode and Academic Performance in Two Law School Courses. Journal of Legal Education, V. 68, N. 2, p. 207-229, 2019. Disponível em: https://jle.aals.org/home/vol68/iss2/3/. Acesso em: 11 dez. 2023.

PIAZZI, Pierluigi. Aprendendo inteligência: manual de instruções do cérebro para estudantes em geral. 3. ed. São Paulo: Editora Aleph, 2015.


Publicado por: Luciano dos Santos Melo

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