ESCOLA E DEMOCRACIA DE DERMEVAL SAVIANI
Breve resumo sobre escola e democracia de Dermeval Saviani.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Por Marcos Paes de Barros
Nesta resenha crítica, abordaremos o livro “Escola e Democracia”, publicado originalmente em 1983, mas que dialoga com os tempos atuais, onde o professor, filósofo e pedagogo, Dermeval Saviani, apresenta uma relação dialética entre escola e sociedade em quatro capítulos.
No primeiro capítulo, o autor apresenta, sobre a perspectiva da marginalidade, as teorias educacionais não críticas (que entendem a educação como instrumento de equalização social) e crítico-reprodutivistas (que entendem a educação como instrumento de discriminação social).
As teorias não críticas consideram a marginalização um desvio e propõe a correção, considerando a ação da educação sobre a sociedade. As teorias não críticas são compostas por: pedagogia tradicional, pedagogia nova e pedagogia tecnicista.
A pedagogia tradicional (Pedagogia da Essência) se desenvolveu em meados do século XIX, em meio à consolidação da burguesia e transformando “súditos em cidadãos”, propondo uma educação como direito de todos e dever do Estado. É uma pedagogia diretiva, expositiva, com foco no professor (com caráter decisivo e decisório), na disciplina, prioriza aspectos quantitativos com base filosófica e lógica. Nessa pedagogia, o marginalizado é o não esclarecido, o ignorante. O fracasso escolar impulsionou a teoria da pedagogia nova.
A pedagogia nova (ou escolanovista – Pedagogia da Existência) surgiu no final do século XIX com o propósito de adaptar o indivíduo na sociedade, ou seja, propõe o respeito às individualidades com a premissa de que os indivíduos não aprendem da mesma forma. É uma pedagogia não diretiva com foco no aluno (interpessoal e intersubjetivo), na espontaneidade, prioriza aspectos qualitativos com bases experimentais, biológicas e psicológicas. Nessa pedagogia, o marginalizado é o rejeitado, o “anormal”. O declínio do escolanovismo, já na metade do século XX, foi marcado pelo afrouxamento das disciplinas, o rebaixamento do nível educacional para os pobres e o aprimoramento das elites, abrindo espaço para novas correntes como a “Escola Nova Popular” e o tecnicismo.
A pedagogia tecnicista parte dos pressupostos da neutralidade científica, da racionalidade, da eficiência e da produtividade. O foco é no processo educacional de forma objetiva e operacional (inspirado no modelo fabril) e na organização racional dos meios. É uma pedagogia marcada pelo enfoque sistêmico, microensino, telensino, instrução programada e máquinas de ensinar. Nessa pedagogia, o marginalizado é o incompetente, o improdutivo. A marginalidade se agravou pela evasão e repetência e, particularmente na América Latina, houveram desvios de recursos da atividade-fim para atividade-meio.
As teorias crítico-reprodutivistas analisam a educação a partir de condicionantes sociais, ou seja, a marginalidade como um problema social. As teorias crítico-reprodutivistas apresentadas pelo autor são: teoria do sistema de ensino como violência simbólica, teoria da escola como Aparelho Ideológico de Estado (AIE) e teoria da escola dualista.
A teoria do sistema de ensino como violência simbólica é apresentada a partir do livro “A Reprodução: Elementos para uma teoria de ensino” de Bourdieu e Passeron de 1975. O livro apresenta um sistema de proposições em um esquema analítico-dedutivo no qual qualquer sociedade se estrutura em um sistema de forças materiais sob um sistema de forças simbólicas que reforçam as forças materiais. Segundo a teoria, os marginalizados são os grupos e/ou classes dominados socialmente, por não possuir força material (capital econômico) e culturalmente, por não possuir força simbólica (capital cultural) e isso se dá por uma ação pedagógica institucionalizada, produzindo e reproduzindo o reconhecimento da dominação.
A teoria da escola como Aparelho Ideológico de Estado (AIE) de Althusser elenca uma série de aparelhos ideológicos de Estado como o governo, o exército, a polícia, os tribunais, as prisões, a família e a escola, sendo a escola, o instrumento mais acabado de reprodução das produções de tipo capitalista. Althusser defende uma luta de classes e os AIEs são o alvo e o local desse embate. Segundo o autor, os AIEs funcionam massivamente pela ideologia e secundariamente pela repressão.
A teoria da escola dualista de Baudelot e Establet exposta no livro “L’École Capitaliste en France” de 1971 apresenta duas grandes redes de escolas que representam a sociedade capitalista dividida em burguesia e proletariado. Pela teoria, a escola tem a missão de reproduzir as relações sociais de produção capitalista e impedir o desenvolvimento da ideologia do proletariado e a luta revolucionária.
No segundo e terceiro capítulos, o autor explora a teoria da curvatura da vara de Lênin que segundo Althusser: “Quando a vara está torta, ela fica curva de um lado e se você quiser endireitá-la, não basta colocá-la na posição correta. É preciso curvá-la para o lado oposto” (ALTHUSSER, 1977 apud SAVIANI, 2012, p. 36).
A teoria da curvatura da vara ganha caráter metafórico para a abordagem política do funcionamento do antigo primeiro grau. Nesse contexto, o autor apresenta suas três teses políticas (e controversas).
Saviani discorre sobre suas três teses: “do caráter revolucionário da pedagogia da essência (tradicional) e do caráter reacionário da pedagogia da existência (nova)” que segundo o autor, resulta de uma necessidade burguesa de legitimação de desigualdades; “do caráter científico do método tradicional, e do caráter pseudocientífico dos métodos novos” onde o autor explora o método expositivo e os cinco passos formais (preparação, apresentação, comparação/assimilação e generalização para aplicação) de Herbart, três últimos que correspondem ao método científico indutivo (observação, generalização e confirmação) para sustentar sua tese em relação ao ensino tradicional em detrimento da “pesquisa” como método empobrecido e pseudocientífico novo (atividade, problema, coleta de dados, hipótese e experimentação) e; “de como, quando mais se falou em democracia, menos democrática foi a escola; e de como, quando menos se falou em democracia, mais a escola esteve articulada com a construção de uma ordem democrática” onde o autor afirma que a Escola Nova não é democrática em virtude de suas origens burguesas, da legitimação das desigualdades e da autoridade do professor na transmissão da cultura da humanidade.
No terceiro capítulo, o autor sintetiza a “Pedagogia Revolucionária”, crítica, centrada nas igualdades essenciais entre os homens e que acompanha o caráter dinâmico da sociedade, difundindo conteúdos vivos e atualizados por meio de método que visa a alteração qualitativa da prática social, propondo uma relação dialética entre escola e sociedade e superando tanto a autonomia quanto a dependência absoluta da escola em relação às condições sociais. Saviani propõe uma reflexão da prática docente e o seguinte método: prática social (heterogeneidade real), problematização, instrumentalização, catarse, prática social (homogeneidade possível), resultando em alteração qualitativa do primeiro para o quinto passo.
Por fim, no quarto capítulo, o autor apresenta onze teses que discorrem sobre as relações de política e educação, sendo elas fenômenos inseparáveis, mas distintos, rejeitando a máxima de que “A educação é sempre um ato político”, prevalecendo a distinção entre a dimensão política na educação e a dimensão da prática educativa, sendo a interferência da política na educação e da educação na política perceptível quando são compreendidas desta forma.
.A “Pedagogia Revolucionária” é um marco na educação brasileira e a obra de Demerval Saviani é fundamental na compreensão das principais teorias de currículo a partir de sua perspectiva. Demerval distingui o domínio da competência técnica do objetivo político de promover a socialização do saber sistematizado a partir do engajamento em projetos de transformação da sociedade. Mesmo tratando de assuntos e problemas estruturais presentes no mundo contemporâneo, é inegável que o mundo e a forma como o entendemos evoluiu nos quase quarenta anos que sucederam a primeira publicação, o que inclui questões relacionadas à globalização, ao multiculturalismo e a diversidade que culminaram em teorias pós-críticas que agregam novas perspectivas em relação à escola, sociedade, desigualdade e capitalismo. Seria o fracasso escolar um projeto de sucesso?
REFERÊNCIA
SAVIANI, D. Escola e democracia. 43ª. ed. Campinas: Autores Associados, 2018.
Publicado por: Marcos Paes de Barros
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