Educação e Solidariedade
Os jovens manifestantes querem o país muito melhor. Veja os motivos!O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
A história brasileira parece sempre ter sido contada para consumo público, como se tivesse ocorrido apenas por protagonismo de alguns personagens, restando a nós outros a figuração e o pagamento de impostos. Nossa independência de Portugal teria sido mera consequência do capricho de um príncipe - e a libertação dos escravos, ato benigno de sua neta. Como se as ações, a coragem, a pressão, o sacrifício, os ideais de muitos não tivessem tido maior importância.
Essa simplificação maliciosa e infantilizante vem até os nossos dias. Os calendários oficiais contemplam os “autores” dos acontecimentos importantes, citando-os como exemplos a serem seguidos, esquecendo a participação e os sofrimentos reais dos que os seguiram e viabilizaram seus atos.
O sentimento de não influir nos destinos do país leva ao sentimento de não pertencer a ele, de não ser cidadão pleno - e isso é extremamente pernicioso para as relações pessoais e sociais. O senso de comunidade perde importância - e termina-se indiferente aos demais, à sociedade, a tudo que não seja muito próximo.
Sendo mais competitivos que participativos, temos dificuldade para formar equipes, distribuir tarefas equitativamente, comemorar vitórias ou lamentar derrotas pacificamente. Mesmo nos bancos escolares, é fácil perceber obstáculos à participação na realização de tarefas em grupo: alguns preferem assumir toda a incumbência, para alegria daqueles que não desejam mesmo colaborar, e todos perdem: centralizadores e ausentes, uns pela perda da oportunidade de compartilhamento, outros pelo gasto de tempo, assinando trabalhos que meramente incrementam o egoísmo.
Assim é também que, enquanto em muitos países as empresas mantêm parcerias profícuas com instituições universitárias, fazendo a estas grandes doações e tendo como retorno pesquisas e formação de massa crítica essenciais para suas atividades, aqui, indústrias, comércio e setor de serviços estão, com poucas exceções, distantes das escolas - para prejuízo de todos.
No entanto, há uma esperança: os jovens, que pareciam não ter valores, não se interessar pelas grandes questões sociais, dedicar-se apenas ao consumo e às redes sociais, nos surpreendem com suas manifestações de indignação, inconformismo e generosidade, trazendo um vento de renovação, em que muito pesem alguns exageros e vandalismo. Uma centelha produz incêndio onde existe combustível - neste caso, a insatisfação difusa e generalizada com a violência, a corrupção, a impunidade e o descaso, além da descrença nos sistemas político e judicial, que deveriam ser os fiadores da democracia, os interlocutores legítimos dos anseios da sociedade.
Os jovens manifestantes parecem saber que o Brasil que está sendo construído hoje é o seu país - e o querem muito melhor. Percebem que muitos de nossos políticos padecem do excesso de visão de futuro (o seu próprio) e que deveriam mirar mais o passado (lembrando as propostas e promessas pelas quais foram eleitos) e menos a próxima eleição. Se continuarmos valorizando apenas o pessoal, em detrimento do coletivo, mais a esperteza que a inteligência, mais a sorte que a dedicação, será difícil realizar o sonho que nos é manifestado pelas ruas.
* Wanda Camargo é educadora e assessora da Presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.
Publicado por: Central Press
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