Educação formal e não formal
A importância da educação não formal, para exercício pleno da cidadania e padrões éticos, civilidade no convívio com o outro, reconhecimento e aceitação da diversidade cultural.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Cultura é um processo intangível, e desde Kant é considerada a mais eficiente medida de civilização, parte indissociável do aperfeiçoamento, racional e moral, da história e da sociedade humana. Possivelmente é o mais longo dos aprendizados, adquirimos cultura ao longo de toda a nossa vida, e esta será tão mais refinada quanto mais dela absorvemos; e exceto nas famílias privilegiadas, onde este é um saber transmitido pelo acesso natural ao bem cultural que compõe talvez a mais importante parte da herança, o brasileiro médio necessita submeter-se a um efetivo processo educacional para, minimamente, adquiri-la.
Políticos e sociedade civil promovem discussões acaloradas sobre conteúdos escolares, com propostas de inclusão de matérias novas no currículo, pois sentem que alguns conhecimentos são necessários a uma formação mais completa; no entanto muitos professores rejeitam esta proposição, pois implica em menor tempo dedicado às outras disciplinas, e terminam todas sendo vistas de forma superficial.
Escolas e famílias parecem ter dificuldade em definir a quem compete transmitir cultura, principalmente na atribuição das responsabilidades sobre o domínio, por parte dos jovens, do complexo conjunto dos códigos que assegurem o convívio e ação coletiva, assim como as regras de interpretação da realidade que permitam compreensão de sentido do mundo natural e social. Costuma-se designar à educação formal o conteúdo específico que representa o acervo protocolar das ciências, seja este de ordem material, como na geografia, biologia, química; ou filosófica, como psicologia, sociologia e outras.
Mas a cultura tem acompanhado a evolução das ciências sociais desde as suas origens, e hoje, frente aos impasses e dificuldades dos projetos de desenvolvimento e modernização contemporâneos, não tem conseguido diferenciar-se, na área educacional, do valor conferido aos diplomas e títulos das especializações profissionais.
Porém, cresce a compreensão sobre a importância da educação não formal, para exercício pleno da cidadania e padrões éticos, civilidade no convívio com o outro, reconhecimento e aceitação da diversidade cultural para o comportamento não violento, em todas as esferas da vida. É esta que tem tentado responder à necessidade de saberes e aprendizagens indispensáveis à preservação de bens móveis e imóveis da cultura e do patrimônio, museus, resgate das tradições das comunidades, educação ambiental, artes, trabalhos socioculturais inclusivos, além das muitas identidades étnicas, territórios normalmente fora das estruturas curriculares da educação formal.
A emergência de novas formas de associativismo civil tem propiciado um maior volume de pesquisas acadêmicas, assim como o surgimento de novas políticas públicas, exatamente em função da necessidade de expansão da educação não formal, que poderia influir significativamente em maturidade e autonomia de vários movimentos sociais instituídos. Por meio desta, sem acrescentar conteúdos extras aos docentes, com maior participação de toda a comunidade, apoiando mais família e minorias, seria possível melhorar sensivelmente a educação brasileira, não fossem os inevitáveis escândalos e desvios de verbas que, periodicamente, vem a público.
Poucas têm sido as iniciativas reconhecidamente sérias, embora existam. O país parece, algumas vezes, fadado à corrupção, o que leva ao desestímulo dos empreendimentos efetivamente capazes de comunicar e difundir cultura.
Ante a impossibilidade escolar e a pouca eficácia de ONGs, o país vê seus jovens permanecerem à margem da aldeia global, e há risco de terminarmos por considerar normal que não possamos mesmo nos dar ao luxo de ensinar mais que o “básico para a sobrevivência”.
Por Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Educação Superior do Brasil – UniBrasil.
Publicado por: Wanda Camargo
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