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A educação que se deseja

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O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Nosso país tem objetivos e prioridades. Nosso povo tem esperanças. A nação brasileira vive acreditando em seu futuro e sonhando com o momento em que contradições sejam minimizadas e melhores condições de vida sejam, de fato, realidade. Neste enamoramento pela felicidade que há de vir, a política surge como o caminho mais óbvio a ser percorrido até o dia em que o sol redentor passe a iluminar a nossa pátria. E, como pano de fundo dessa visão paradisíaca, aparece a Educação. Meio e fim da obra política mais suprema, está nos discursos bem comportados de todos nós. E parece ser a solução para tudo. Os bons políticos são ou serão aqueles que nos derem mais e melhores escolas, acabarem de vez - e de verdade - com o analfabetismo e nos tornarem pessoas mais preparadas para os desafios do mundo. Mas, será que é isso mesmo?

Será que, alguma vez, já tivemos a curiosidade de perguntar às pessoas por que ou em quê essa tal "educação redentora" pode nos trazer o jardim encantado escondido em algum lugar do futuro? É fato que aquilo que é consenso geralmente não merece questionamentos. Então, para que discutir o óbvio? Mas, talvez esteja aí justamente a razão pela qual esse dia pareça ficar cada vez mais distante. Um conceito tornou-se clichê e ninguém mais pensa no que é reclamado ou afirmado. E, dentro dessa perspectiva, vem uma outra questão ainda mais forte: será que o brasileiro, de um modo geral, deseja a Educação para si e seus filhos?

O desejo é algo bem maior que o querer. Desejar é mais poderoso que projetar ou planejar alguma coisa. E não se deseja racionalmente. Está presente em nós, ou não. O velho Freud dizia que o desejo é reminiscência de um prazer primordial; uma busca psíquica de situações em que possamos gozar de novo, como da primeira vez. Cada vez que desejamos, estamos caminhando em busca de algo etéreo, que não cabe necessariamente em palavras fortes ou discursos articulados. Pensando nisso, é possível afirmar que nós, brasileiros, desejamos realmente essa tal Educação?

Posso estar muito enganado, mas nossos desejos parecem passar bem longe de situações de aprendizado, ou em que constatemos que dominamos algum conhecimento. Enquanto palavras vazias e bem comportadas nos tranquilizam, desejamos ardorosamente tantas outras coisas, que a visão de uma nação educada vai se esmaecendo até desaparecer por completo. O carro do ano, a casa a ser apresentada aos amigos, as roupas, as marcas, os cargos a serem invejados: tudo isso é parte de um rol de desejos que se confundem com a felicidade a ser construída - também lá na frente, afinal, o futuro abriga o que quisermos. E como falamos nessas coisas todas! Não nos saem do imaginário e desabam a cada conversa. É raro, muito raro, tomarmos nossos cafés discutindo sobre o salário aviltante dos professores - no máximo, nos lembramos disso quando a TV mostra que estão em greve, atrapalhando o trânsito da Paulista. Não é comum criticarmos nossos filhos pela sua preferência por filmes que colocam o jovem estudioso como idiota - ou nerd. Chegamos a passar anos sem discutir, uma única vez que seja, o fato de termos escolas públicas tão sucateadas e em estado de quase indigência. Não quero ser chato, mas a maioria das pessoas costuma não trocar um passeio ao shopping por uma leitura, uma ópera ou um museu.

Então, Educação não será apenas figura de retórica? Ou estarei exagerando? Nós a desejamos mesmo ou apenas torcemos para que apareça magicamente e resolva todos os nossos problemas? Às vezes, sinto que a ideia de Educação parece cumprir um papel secundário na vida do País. Uma bela palavra, sem dúvida. Sonora, estridente. Mas, pode ser só aquela reza diária - necessária - que nos purifica do triste descaso com o presente. Ou, quem sabe, um belo tesouro perdido no futuro distante e pronto para ser descoberto quando os desejos todos já estiverem realizados.

João Luiz Muzinatti
Mestre em História da Ciência.
Engenheiro.
Professor de Matemática, Filosofia e Ciências.
Professor universitário em graduação e pós-graduação e de ensinos fundamental e médio.
Diretor do ABC Dislexia – atendimento a alunos, consultoria, cursos e palestras em Educação.
Consultor do MEC em Filosofia, na TV Escola – programas “Acervo” e “Sala de Professor”.
Autor do livro: Inventário de mim – Ed. Scortecci.

Informações à Imprensa: ADCom Comunicação Empresarial


Publicado por: João Luís Muzinatti

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