Whatsapp

Comentários gerais sobre as disciplinas atividades aquáticas, história da Educação Física e Lutas, no cotidiano do ensino escolar

Análise sobre os comentários gerais das disciplinas de atividades aquáticas, história da Educação física e lutas, no ambiente de ensino escolar.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

I. Atividades Aquáticas

O significado e importância da disciplina Atividades Aquáticas começa no entendimento, por parte dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, que é possível trabalhar tal disciplina, mesmo em instituições que não possuam piscina (que é a maioria). Isto se dá na medida em que o professor, e os demais agentes, se comprometam com a formação integral do aluno. Vale salientar que a proposta de vivências ao aluno em formação se faz necessária, como visitas em clubes e passeios em praias, acampamentos ou sítios com piscinas. Assim, caberá ao docente a criatividade de adaptação da modalidade para que seja viável a sua experiência, sem se deter naquele equivocadamente praticado, como a repetição dos gestos específicos da natação, contribuindo de forma mais abrangente e atingindo os objetivos comuns à formação.

Assim, de certa forma bem simplista, vale relembrar, de maneira bem objetiva, o que a disciplina tem a nos oferecer, enquanto futuros profissionais da Educação: a discussão e entendimento entre nadar, natação e atividades aquáticas, assim como as relações do homem com o meio líquido; o entendimento das concepções fundamentais no ensino da natação e seus benefícios para a saúde e entender sobre a classificação e manobras de salvamento de afogamentos. Portanto, se todas as reflexões históricas, filosóficas, políticas e sociais são importantes, como por aqui tem sido bem apontado, também é verdade que devamos nos atentar para as especificidades, sem abrir mão de todo contexto em torno desse tema.

Portanto, o ensino não deve ser baseado meramente nos princípios de reprodução dos gestos corporais da prática da natação. O mais importante, no processo de ensino e aprendizagem, é a definição dos objetivos a serem alcançados, de forma que o docente passa a ser mais um intermediador entre o conhecimento (da disciplina) e os objetivos (PCN/PPP) a serem alcançados. Também vale destacar, mais uma vez, que o professor deverá ter o bom senso de observar e analisar a sua prática docente, uma vez que cada aluno em formação poderá se manifestar de diversas formas possíveis. Por exemplo, alguns alunos poderão estar envergonhados por causa dos trajes de piscina. Dessa forma, com muita cautela, percepção e a análise cuidadosa, o professor poderá estar diante de uma questão sócio-cultural, pautada em princípios religiosos, ideológicos ou de criação familiar.

Nesse contexto, destacamos a relação do Bullying com meio ambiente e formação cidadã, pois o docente possui, diante de si, o planejar e o executar, sendo o comprometimento e a intenção educativa pautada no objetivo do projeto educativo escolar. Nessa trajetória, a superação dos preconceitos – boa parte das vezes oriundos das diversidades sócio-culturais dos alunos – se expressam por meio de bullyng, por exemplo. Assim, por se tratar de preconceito e desrespeito, já trás a justificativa de serem trabalhados de forma preventiva (caso ainda não esteja ocorrendo) ou educativa-corretiva (caso seja uma realidade presente). Exemplos desse tipo, nas atividades aquáticas, conforme constatamos no cotidiano secular, se vê mediante uso de trajes de banhos e “piadinhas” que possam ocorrer, das mais variadas possíveis, traumatizando o aluno e com manifestações, a posteriori, das consequências desses atos de bullying.

Não há dúvidas sobre a delicadeza do tema, pois se por um lado o fato possa ser "justificado" como brincadeira (de mau gosto), por outro, temos os efeitos de tal prática, definido como bullying. No entanto, temos que ter muita cautela, para que em nome de um comportamento "politicamente correto", não contribuamos para a construção de entes fragilizados e isolados em seus mundos de direitos, esterilizado e de ilusões. Enfim, merece sim um cuidado e bom senso para todos os envolvidos no processo.

De igual forma o tema meio ambiente contextualiza muito bem as atividades aquáticas. O professor poderá trabalhar a conscientização da importância da preservação da qualidade das águas do planeta, mas trazendo para perto de cada realidade. Assim, conforme características da localidade, o tema será oceanos e praias, quando em litoral. Por outro lado, rios, cachoeiras e lagos, quando serras e interior. E também o impacto da seca, muito comum no nordeste brasileiro. Desta forma, poderá ser trabalhado uma análise crítica da realidade de cada local, ao mesmo tempo em que se busca educar para a importância das águas em um ecossistema bem equilibrado.

Já o tema cidadania é amplo, mas adequado para se trabalhar no contexto de atividades aquáticas escolares. Ao considerar os pilares da UNESCO a serem desenvolvidas – saber aprender, saber fazer e saber conviver – destacamos a última habilidade. Dessa forma, o aluno terá a oportunidade de estar em constante aprendizado sobre as diversas nuances de comportamentos em atividades a serem desenvolvidas, ao longo dos dias letivos. Para o professor, essa necessidade de formar um cidadão que sabe lidar com o outro, não é tarefa fácil, nem tão pouco há receita pronta, uma vez que a construção do conhecimento se dá lado a lado do desenvolvimento dessa convivência. Assim, um cidadão é formado a cada momento, ao mesmo tempo em que aprende a lidar com as frustrações do dia a dia escolar e respeito necessário ao próximo.

Por outro lado, na análise do pilar convivência, podemos utilizar a disciplina para desenvolver a habilidade de saber lidar com o outro, sendo tarefa do professor atuar na formação discente. Esse processo é dinâmico, pois muda conforme cultura, local, temporaneidade e ideologias. Mas muda também com o passar do tempo, na formação continuada do próprio docente, que reconhece essa necessidade de mudar, de fazer diferente, com o passar dos anos no ensino. Assim, o processo de educar é dinâmico e quase nunca mergulhado em consenso.

II – Ginástica escolar

O ensino da ginástica escolar apresenta uma perspectiva didático-pedagógica mais ampliada, na medida em que se considera as diferentes fases do desenvolvimento motor dos alunos assim como suas características do processo de aprendizagem e cultura corporal. Dessa forma, variáveis como faixa etária e estágio de desenvolvimento são fundamentais, ao mesmo tempo em que os objetivos de aprendizagem estão atrelados ao conhecimento da disciplina. Portanto, a figura do professor passa a ser de mediador entre esse conhecimento e aqueles objetivos abrangentes a serem alcançados, conforme as competências, habilidades e atitudes, a serem trabalhadas na formação integral do indivíduo. Dessa forma, vale destacar a importância do conhecimento sobre a ginástica no Brasil e no mundo, mas sobre uma concepção crítico-histórica, uma vez que por meio da EDF é possível uma prática transformadora da sociedade, pautada em uma história atual em constante transformação e sempre inacabada. Assim, conforme relatou muito bem Lino Castellani Filho, em sua obra: “A Educação Física no Brasil, a história que não se conta”, devemos resgatar a todo momento a criticidade perdida tantas vezes nessa área do conhecimento humano.

Portanto, ao analisar criticamente sobre a ginástica no Brasil e no mundo, entendemos melhor a nossa história, sob o contexto da EDF e, a partir deste ponto, temos a condição de melhorar como profissionais e cidadãos em um país que tem clamado, a todo instante, por mudanças e participação consciente de todos. Assim, vale destacar o que disse o pensador italiano Antonio Gramsci: “Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida”.

No entanto, vale salientar sobre a importância do conhecimento das naturezas dos movimentos corporais, assim como as diferentes formas de linguagens, como a verbal, musical, plástica ou corporal, para que ocorra a comunicação, produção e expressão das idéias, sem a discriminação de raça, gênero ou religião.

III – História da Educação Física Escolar

Ao considerar CAPRARO E SOUZA, constata-se que na atualidade novos interesses surgem no campo da Educação Física extrapolando os conceitos procedimentais e características quantitativas e fisiológicas desta área. Segundo esses autores, a preocupação também se dá pela investigação sobre o papel social das práticas esportivas. Dessa forma, conhecer os processos históricos dessa área não só contribui para que os docentes a contextualizem com mais autoridade e autonomia como também ajuda a fundamentar reflexões críticas sobre as atividades físicas, ao considerar que a história da educação física e dos esportes são entremeadas e influenciadas pelos fatores políticos, econômicos, sociais e culturais, além daqueles esportivos.

Portanto, estudar criticamente História e Teoria da Educação Física possibilitará que o docente conheça melhor sobre a história das atividades físicas e da Educação Física no Brasil e no mundo, bem como as questões conceituais básicas dessa área, extrapolando para as diversas manifestações da EDF em um contexto social e cultural. Essa abordagem mais abrangente permite trabalhar com um referencial teórico, mas com base sólida, científica e cultural, para que no exercício da profissão haja maior comprometimento na formação do cidadão inserido em um contexto de responsabilidade e competência ética e social.

Lino Castellani Filho, em sua obra “Educação Física no Brasil: a história que não se conta”, apoia-se em uma concepção histórica-crítica da educação pautada em uma prática transformadora da EDF no Brasil. Dessa forma, percebemos que o autor não considera essa história como verdade absoluta e já acabada, mas sim em um processo que está em constante modificação e reinterpretações. Dessa forma, destaca-se a interessante reflexão deste autor, mas contundente, sobre a prática da EDF no Brasil. O autor aborda sobre a utilização da EDF com finalidades políticas escusas, com projetos que muitas das vezes não apontam para uma melhor condição de vida para todos, sendo apenas mais uma arma no arsenal político, de manipulação ideológica, em detrimento dos benefícios de uma verdadeira democracia política.

IV – Lutas

O ensino de Lutas na escola se confunde com o entendimento equivocado da própria EDF escolar, na medida em que ainda é entendida, por muitos dos envolvidos, como oportunidade de prática regular de atividades esportivas ou recreativas com um finalidades em si mesmas. Assim, o trabalho do professor de EFE deverá possibilitar muito mais que a execução dos movimentos das Lutas ou o simplesmente o aprendizado teórico de sua história. Vai bem além dessa orientação sistemática e equivocada da atividade, devendo também extrapolar para os aspectos culturais, políticos e sociais.

Nesse sentido, BETTI e ZULIANI, em 2010, destacaram sobre a preocupação com o ensino centrado em um ser humano integral, portanto, não fragmentado em seus aspectos – corpo, mente e alma. Como professor de EFE, há de se conceber os conceitos de cultura corporal e exercer a postura de professor reflexivo e moderador, que estará entre o conhecimento sobre lutas e os objetivos as serem atingidos na formação do aluno. Isto posto, salienta-se a necessidade para que ocorra a desvinculação pedagógica dos conceitos antigos e nova atitude docente na compreensão da disciplina com base em uma perspectiva não pautada apenas para o conteúdo. Assim, esse estudo estará na dependência de uma análise crítica das próprias referências de quem a estuda.

Ainda sobre o professor, vale destacar sobre o seu papel de auxiliar o desenvolvimento de uma autonomia em construção. Citamos as PCNs, muito resumidamente, que contemplam: a atitude do respeito mútuo; a dignidade; a solidariedade; as situações lúdicas e especiais e o repúdio a qualquer forma de violência. Assim, o professor de Lutas e todos os agentes envolvidos no processo de ensino e aprendizagem, poderá promover vivências, com propósitos de buscar fontes de inspiração para investigação e observação, na busca da formação de um ser humano integral. O ensino escolar de lutas abrange uma grande polêmica social na medida em que se observa uma confusão de termos como “brigas” e “violências”, entendidas como sinônimos.

Assim, o esforço docente deverá ser na contramão deste equívoco, pois ao trabalhar habilidades como equilíbrio, regras, força e jogos de combate, o docente está diante de uma oportunidade para refletir e discutir a violência, mostrando a importância do respeito ao adversário. Esse entendimento vai bem além daquela outra, de se dominar a técnica de determinada luta específica. Lamentavelmente, constatamos que na atualidade esse equívoco ainda ocorre, ao considerar que a violência seria intrínseca às lutas e que sua prática estimularia a agressividade dos alunos. Assim, devemos entender que a luta é uma manifestação de cultura de movimento que não pode ser postergada, e seu ensino escolar não deverá ser pautada no professor treinador ou mestre de artes marciais, já que não se pretende formar um atleta lutador, mas sim que os alunos se desenvolvam através das lutas como manifestações da cultura de movimento.

Por fim, outro ponto é sobre a falta de vivência dos professores sobre o tema, tanto para a formação acadêmica, quanto em suas experiências em suas histórias de vida. Assim, ao consultarmos os apontamentos de referência para esta atividade, encontramos que Nascimento e Almeida (2007) contrapõem-se a essas afirmações dos professores, assegurando que não é de primordial importância saber lutar para ensinar lutas na escola, já que não é intenção primeira da escola formar atletas lutadores, mas sim desenvolver habilidades, competências e atitudes pautados em conceitos e cidadania. Entretanto, KUNZ se opõe às abordagens que entendem o movimento humano de modo estritamente biomecânico e em uma perspectiva tecnicista, onde é levado em conta o ser humano que se movimenta, e não o contrário, o movimento dele. Assim, há de ser considerado a compreensão compartilhada do que é necessário desenvolver (habilidades) com a ampliação da cultura de movimento, e desta forma, indo de encontro com a Educação Física tradicional, baseada no esportivismo e no tecnicismo.

Referências

BORGES, A. F.; LEMOS, F. R. M. Atividades Caderno de Referência de Conteúdo - CRC - Aquáticas. – Unidade 1, 2013.

CÂMARA, E. Lutas. Batatais: Claretiano, CRC – Material na Sala de Aula Virtual – Guia Acadêmico do Curso. SAV, 2014.

CAPRARO, A. M.; SOUZA, M. T. O. Educação Física, esportes e corpo: uma viagem pela história. Curitiba: InterSaberes, 2017.

CASTELLANI FILHO, L. Educação Física no Brasil: a história que não se conta. Capítulo II: Da História que nos é contada para o revelar de uma outra história - Terceiro Ato – Páginas de 79 a 98. Campinas: Papirus, 2010.

IMPOLCETTO, F. M.; NARDI, E. R. História e Teoria da Educação Física. Batatais: Claretiano, 2019.

ISHIBASHI, E. T.; SILVA, A. D. Ginástica Caderno de Referência de Conteúdo – CRC Geral. Unidades 1, 2 e 3, Batatais: Claretiano, 2013. 

RONDINELLI, P. Luta não é violência: a importância das lutas nas aulas de Educação Física; Brasil Escola. Disponível em: . Acesso em 27 de maio de 2021.


Publicado por: Elionai Dias Soares

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.