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PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DAS PRINCIPAIS LESÕES DE JOELHO

Breve revisão bibliográfica acerca do perfil epidemiológico das principais lesões de joelho.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Introdução

O joelho é uma articulação formada pela porção distal do fêmur, a porção proximal da tíbia e a patela, e é de suma importância biomecânica, uma vez que uma das principais funções é a absorção de carga durante a marcha e corrida e auxílio na fase de balanço da marcha[1]. A fíbula, apesar de não articular com o fêmur, realiza a estabilização da tíbia e serve como ponto de inserção do bíceps femoral. A articulação do joelho possui um vasto grau de liberdade de movimento, uma vez que realiza os movimentos de flexão e extensão, translação anterior e posterior, rotação lateral e medial e abdução e adução (valgo e varo)[2].

A estabilização do joelho é feita pelas estruturas denominadas de tecidos moles, são eles o ligamento cruzado anterior (LCA), o ligamento cruzado posterior (LCP), os meniscos (lateral e medial), o ligamento colateral lateral (LCL) e ligamento colateral medial (LCM)[1]. O acometimento dessas estruturas promove os mais diversos prejuízos ao paciente, desde o acometimento de outras estruturas como a reincidência das lesões. Mediante essa situação, a observação dos fatores predisponentes e a correção, dentro dos fatores biomecânicos, tendem a auxiliar na prevenção de novas lesões.

O LCA restringe a anteriorização da tíbia e a rotação medial desta estrutura. Devido à essa atuação, quando se compara as lesões ligamentares completas, a ruptura do LCA é a mais comumente encontrada [3]. O Ligamento Cruzado Posterior é o principal responsável por restringir a posteriorização da tíbia em relação ao fêmur[2]. O ligamento colateral lateral realiza a estabilização do joelho, prevenindo lesões por estresse em varo. Já o ligamento colateral medial tem por função resistir ao estresse em valgo e estabilizar o joelho[4]. Os meniscos lateral e medial são estruturas estabilizadoras fibrocartilaginosas, com a função de distribuição do peso corporal, realizando a absorção do impacto gerado pela deambulação[1,4].

Uma vez que algum desses ligamentos é acometido por uma laceração total ou parcial, a biomecânica corporal é prejudicada, seja pela dor ou pela incapacidade [4] de realizar a mobilização de forma adequada e consequente mudança postural e de padrão de movimento. Devido a isso, este trabalho teve como objetivo identificar e determinar o perfil epidemiológico dos pacientes das principais lesões do joelho.

Metodologia

O presente estudo foi baseado em uma revisão bibliográfica, de caráter descritiva, qualitativa, que contou como fonte de pesquisa a filtragem nos sites de busca Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e NCBI Pubmed, para a escolha das fontes de pesquisa.Foram utilizados, para realização deste trabalho os seguintes descritores: Risk Factors, Anterior Cruciate Ligament Injuries, Posterior Cruciate Ligament Injuries, Meniscus, sendo os critérios de inclusão dos artigos aqueles que foram publicados no período de 2010 a 2020, relacionados às palavras-chave. Ao final do levantamento bibliográfico, foram efetivamente utilizados 13 artigos, selecionados conforme a qualidade e relevância com o tema proposto.

Revisão da Literatura

Os estudos relatam os perfis de pacientes relacionados à cada tipo de lesão. Os artigos utilizados foram organizados e listados no quadro 1, onde são exibidos o título das publicações, autor e ano, perfil estudado e a conclusão obtida.

Quadro 1. Estudos relacionados às principais lesões de joelho.

TÍTULO AUTOR E ANO PERFIL ESTUDADO CONCLUSÃO
Incidência de lesões no joelho na população de São José do Rio Preto encaminhada para reabilitação. Rodrigues et al., 2015 [2]. Pacientes de ambos os gêneros com idade entre 11 e 94 anos que foram encaminhados para tratamento fisioterapêutico na cidade de São José do Rio Preto. Foram analisados 1961 prontuários onde 57,87% correspondiam à pacientes mulheres, 34,47% eram homens e 7,6% estavam indefinidos. Destes casos, a lesão mais frequente era a osteoartrose.
Lesão do ligamento cruzado anterior: Tratamento e reabilitação. Perspectivas e tendências atuais. Arliani et al., 2012 [3]. Cirurgiões ortopedistas brasileiros, especialistas em reconstrução de LCA. 206 médicos responderam ao questionário elaborado, mostrando que as técnicas utilizadas por esses profissionais resultam em uma evolução no tratamento e reabilitação do paciente.
Principais lesões traumáticas do Joelho: Revisão de Literatura. Oliveira e Chiapeta, 2018 [4]. Pacientes de ambos os gêneros e idades diversas que apresentaram alguma lesão de joelho. Observou-se que as principais patologias foram lesão de LCA e LCP em jovens atletas, enquanto que lesões meniscais são mais frequentes em históricos de traumas, mecanismos rotacionais e lesões degenerativas.
Epidemiology and Diagnosis of Anterior Cruciate Ligament Injuries. Kaeding et al., 2017 [5]. Jovens atletas norte-americanos estudantes do ensino médio, de ambos os gêneros que foram submetidos a cirurgia de reconstrução de LCA. Lesões de LCA correspondem à 50% das patologias de joelho relacionadas ao esporte, onde a incidência atletas do sexo masculino é de 0,05 a cada 1000 exposições, já em atletas do sexo feminino apresentam 2,1 a 3,4 mais vezes a possibilidade de lesão.
Sport-Specific Yearly Risk and Incidence of Anterior Cruciate Ligament Tears in High School Athletes: A Systematic Review and Meta-analysis Gornitzky et al., 2016 [6]. Atletas jovens, de ambos os sexos, diagnosticados com ruptura total ou parcial de Ligamento Cruzado Anterior. Foi observado em 10 estudos que houveram 700 lesões em LCA em 11.239.029 exposições, onde 326 correspondiam à atletas jovens do sexo feminino em 4.016.612 exposições, enquanto em atletas jovens do sexo masculino representaram 374 lesões em 7.222.417 exposições.
Management of Posterior Cruciate Ligament Injuries. Bedi et al., 2016 [7]. Pacientes de ambos os sexos com diagnóstico de ruptura total ou parcial de LCP que foram submetidos à diferentes técnicas de tratamento cirúrgico. Observou-se que lesões isoladas de LCP são bastante incomuns e ocorrem devido ocorrência de impacto na porção proximal da tíbia, sendo que o tratamento conservador é indicado para pacientes com lesões leves e tratamentos cirúrgicos são recomendados para atletas e pacientes com histórico de tratamento conservador mal sucedido.
Meniscal Root Injuries. Krych et al., 2016 [8]. Pacientes de ambos os sexos diagnosticados com lesão meniscal em qualquer porção da estrutura. Lesões de raízes meniscais estão associadas à jovens atletas e lesões concomitantes de LCA e lesões multiligamentares, já lesões de raiz meniscal tem origem degenerativa e ocorrem com maior frequência em pacientes do sexo feminino de meia idade.
Perfil epidemiológico dos pacientes com lesões em Joelhos atendidos em uma clínica de ortopedia na cidade de Goiânia (GO). Souza e Morais, 2016 [9]. Pacientes de ambos os gêneros, acima de 18 anos com idades diversificadas, diagnosticadas com patologias no joelho e que receberam tratamento em clínica de ortopedia da cidade de Goiânia (GO). Observou-se que 46,88% dos pacientes tratados eram mulheres e 53,12% eram homens, a faixa etária mais acometida foi entre 27 e 35 anos e as lesões mais frequentes são a osteoartrose, lesão de menisco medial e ligamento cruzado anterior.
Effectiveness of knee injury and anterior cruciate ligament tear prevention programs: A metaanalysis. Donnell-Fink et al., 2015 [10]. Atletas, jovens de ambos os sexos e modalidades desportivas, submetidos à tratamento neuromuscular e de propriocepção. Foi observado que atletas do sexo feminino estão de 2 a 8 vezes mais suscetíveis à lesão de LCA quando comparado a pacientes do sexo masculino os programas de treinamento de prevenção de lesões reduziram significativamente as lesões do joelho e do LCA entre jovens atletas.
Diagnosing PCL Injuries: History, Physical Examination, Imaging Studies, Arthroscopic Evaluation. Sports Med Arthrosc. Verhulst e MacDonald, 2020 [11]. Pacientes de ambos os sexos, com idades e pesos distintos, que foram acometidos por rupturas totais ou parciais de LCP, isoladas ou traumas multi-ligamentares. Apenas 1% a 5% das lesões de LCP são lesões isoladas, sendo que o mecanismo mais comum desse tipo de trauma é originado por uma força direcionada posteriormente na porção proximal da tíbia anterior. Já os traumas de baixa velocidade são mais associados à pacientes mulheres com obesidade.
Associação entre excesso de peso, obesidade, dor músculoesquelética e osteoartrose em cuidados de saúde primários: estudo transversal. Marques, 2017 [12]. Pacientes acima de 21 anos, diagnosticado com osteoartrose e obesos. Observou-se que dentre os pacientes estudados que se queixavam de problemas no joelho, 2,88% pertenciam ao sexo masculino, enquanto 3,5% eram mulheres.
Avaliação antropométrica e do ângulo quadricipital na osteoartrite de joelho em mulheres obesas. Chacur et al., 2010 [13]. Estudo contou com 50 voluntárias com obesidade e com idade entre 40 e 60 anos. A obesidade, principalmente a obesidade central está diretamente relacionada à osteoartrite, ocasionando em redução de atividade física. Foi observado uma correlação entre o Índice de Massa Corporal do paciente e o ângulo Q, além do mais, a circunferência abdominal está relacionada à presença e gravidade da osteoartrite.

Discussão

Lesões articulares são frequentemente encontradas nos consultórios de ortopedia e de fisioterapia. Dentre elas, as lesões de joelho estão ganhando cada vez mais repercussão.

Souza e morais [9] elaboraram um estudo contendo 369 prontuários de pacientes onde 46,88% correspondiam ao público feminino e 53,12% dos prontuários eram de pacientes do sexo masculino. Observou-se que as lesões traumáticas de joelho mais frequentes foram lesão de menisco medial (14,36%) e lesão de LCA (13,55%), já as lesões de LCL e LCP correspondem individualmente à (0,27%) dos casos.

Nos Estados Unidos, ocorrem cerca de 250.000 lesões de joelho relacionadas ao LCA anualmente, ocasionando 80.000 a 100.000 cirurgias de reconstrução, correspondendo à 10% – 25% das lesões relacionadas ao esporte. Em comparação à jovens atletas do sexo masculino, atletas femininas possuem de 2 a 8 vezes mais probabilidade de serem acometidas por lesões no LCA, que podem acarretar em instabilidade, danos aos meniscos, osteoartrite precoce e reconstrução cirúrgica [10].

Lesões de LCP são responsáveis por 1% a 5% das lesões de joelho. Os mecanismos mais comuns para esse tipo de lesão são os que ocorrem a aplicação de uma força direcionada posteriormente na porção anterior da tíbia proximal, o mecanismo de hiperflexão de joelho associado à flexão plantar do pé, alguns mecanismos menos comuns são a hiperextensão e lesões do tipo hiperflexão ou lesões rotacionais com estresse em valgo.

Lesões traumáticas de LCP geralmente são oriundas de um trauma com alta energia, porém em mulheres obesas, essas lesões podem ser oriundas de movimentos com baixa velocidade e energia [11].

Lesões meniscais isoladas raramente são encontradas, de forma que a lesão de menisco medial e osteoartrose de joelho são as mais frequentes, com incidência semelhante entre os gêneros, já as lesões de menisco lateral e menisco medial apresentam uma incidência de 78% dos casos em pacientes do sexo feminino, enquanto pacientes do sexo masculino correspondem à 22% dos casos [9].

A osteoartrose é uma doença bastante ligada ao sobrepeso e à obesidade, principalmente quando a estrutura acometida é o joelho. A obesidade além de gerar uma sobrecarga mecânica nos componentes articulares, desenvolve um estado inflamatório que acaba atingindo outras estruturas do corpo além do joelho.

A sobrecarga gerada pela obesidade pode provocar dificuldades para a locomoção do paciente, desencadear ruptura mecânica de componentes articulares como menisco, LCA, LCP, entre outras estruturas. A sobrecarga gera também a compressão articular, causando a redução do espaço articular e alterações no alinhamento postural, que podem desencadear a osteoartrose [12].

A osteoartrose de joelho acomete principalmente pacientes mulheres em período de menopausa e homens com idade superior a 50 anos, contribuindo para a incapacidade funcional do paciente. Essa diferença pode ser explicada por fatores genéticos, metabólicos, endócrinos e mecânicos, como a relação com o ângulo Q, que corresponde ao ângulo formado por 2 linhas imaginárias traçadas da espinha ilíaca anterossuperior ao centro da patela e outra originada da tuberosidade anterior da tíbia ao centro da patela. Considera-se um ângulo fisiológico quando varia entre 14º e 20º e a cada grau de variação aumenta o grau de estresse nas estruturas articulares do joelho [12,13].

Este trabalho apresenta como falha a dificuldade de elaboração de buscas de periódicos relacionados a lesões de ligamento colateral lateral e ligamento colateral medial, devendo ser realizados buscas mais efetivas para a complementação do estudo.

Conclusão

Através da análise dos artigos, observou-se que os diferentes tipos de lesão possuem diferentes fatores de pré-disposição. Lesões ligamentares traumáticas estão relacionadas, não somente à atletas profissionais ou amadores, mas pacientes sedentários também. O perfil epidemiológico mais encontrado nos traumas de LCA e LCP correspondem à adultos jovens, onde a maior frequência dos casos é relatada em jovens atletas, podendo também ser encontradas em pacientes vítimas de acidentes cujo mecanismo de ação relatado é o impacto do painel sob a porção proximal da tíbia.

Os diagnósticos de lesão meniscal e osteoartrose de joelho são muito associados à pacientes com histórico de sedentarismo e sobrepeso ou obesidade. Lesão de menisco possuem uma incidência semelhante quando se trata de gênero dos pacientes acometido, enquanto que a osteoartrose é muito associada à pacientes do sexo feminino diagnosticadas com sobrepeso.

Fica comprovado que pacientes mulheres possuem uma incidência superior de lesões de joelho, uma vez que anatomicamente essas pacientes possuem um ângulo Q com um grau mais elevado que pacientes do gênero masculino, além do mais, fatores genéticos e hormonais influenciam diretamente na estabilidade das estruturas ligamentares do joelho e de outras articulações.

Referências

1. Neumann DA. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético. 2a edição. Rio de Janeiro: Mosby; 2010. 1780–850 p.

2. Rodrigues ACF, Francisco AM, Almeida AFN, Machado C, Tasso LE. Incidência de lesões no joelho na população de São José do Rio Preto encaminhada para reabilitação. 15o Congr Nac Iniciação Científica - Sind das Entidades Mantenedoras Estabel Ensino Superior no Estado São Paulo. 2015.

3. Arliani GG, Da Costa Astur D, Kanas M, Kaleka CC, Cohen M. Lesão do ligamento cruzado anterior: Tratamento e reabilitação. Perspectivas e tendências atuais. Rev Bras Ortop. 2012;47(2):191–6.

4. Oliveira AB, Chiapeta AV. Principais lesões traumáticas do Joelho: Revisão de Literatura. Rev Científica Univiçosa. 2018;10(993):665–70.

5. Kaeding CC, Léger-St-Jean B, Magnussen RA. Epidemiology and Diagnosis of Anterior Cruciate Ligament Injuries. Clin Sports Med [Internet]. 2017;36(1):1–8. Available at: http://dx.doi.org/10.1016/j.csm.2016.08.001

6. Gornitzky AL, Lott A, Yellin JL, Fabricant PD, Lawrence JT, Ganley TJ. 11 Sport-Specific Yearly Risk and Incidence of Anterior Cruciate Ligament Tears in High School Athletes: A Systematic Review and Metaanalysis. Am J Sports Med. 2016;44(10):2716–23.

7. Bedi A, Musahl V, Cowan JB. Management of Posterior Cruciate Ligament Injuries. J Am Acad Orthop Surg. 2016;24(5):277–89.

8. Krych AJ, Hevesi M, Leland DP, Stuart MJ. Meniscal Root Injuries. J Am Acad Orthop Surg. 2020;28(12):491–9.

9. Souza HPS, Morais ACBR. Perfil epidemiológico dos pacientes com lesões em Joelhos atendidos em uma clínica de ortopedia na cidade de Goiânia (GO). Rev Mov. 2016;9(2):200–12.

10. Donnell-Fink LA, Klara K, Collins JE, Yang HY, Goczalk MG, Katz JN, et al. Effectiveness of knee injury and anterior cruciate ligament tear prevention programs: A meta-analysis. PLoS One. 2015;10(12):1–17.

11. Verhulst FV. PM. Diagnosing PCL Injuries: History, Physical Examination, Imaging Studies, Arthroscopic Evaluation. Sports Med Arthrosc. 2020;28(1):2–7.

12. Marques AB. Associação entre excesso de peso, obesidade, dor músculo-esquelética e osteoartrose em cuidados de saúde primários: estudo transversal. Rev Port Med Geral e Fam. 2017;(33):222–8.

13. Chacur EP, Oliveira e Silva L, Luz GCP, Kaminice FD, Cheik NC. Avaliação antropométrica e do ângulo quadricipital na osteoartrite de joelho em mulheres obesas. Fisioter e Pesqui [Internet]. 2010;17(3):220–4. Available at: http://ezproxy.usherbrooke.ca/login?url=https://search.ebscohost.com/l ogin.aspx?direct=true&db=rzh&AN=104822282&site=ehost-live.

Publicado por

Marcelo Alexandre Silva Oliveira, Xisto Sena Passos, Euler Arruda Neto


Publicado por: Marcelo Alexandre Silva Oliveira

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