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O DECLÍNIO DO JORNAL IMPRESSO EM MARINGÁ

Análise para apresentar fatos que abordam os possíveis motivos do declínio e extinção dos dois jornais impressos de grande relevância na cidade de Maringá.

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RESUMO

O século XXI colhe frutos da revolução tecnológica iniciada no século XX. Esse avanço permitiu que muitos meios de comunicação surgissem ou evoluíssem. Por consequência, muitos meios tradicionais estão sendo extintos, como é o caso do jornal impresso. Mesmo com a adaptação de alguns jornais na web, outros foram à falência. Em Maringá, no Paraná, jornais tradicionais fecharam as portas para o impresso. O objetivo é compreender como o cenário da comunicação se transformou nos últimos anos, influenciando a extinção dos principais jornais impressos de Maringá. O material será produzido com viés exploratório, baseado em uma pesquisa qualitativa, para explorar tais questões através da produção de um mini-documentário.

PALAVRAS-CHAVE: extinção; jornal impresso; mídia; documentário.

ABSTRACT

The 21th century deals with after effects of a technological uprising initiated during the 20th century. This progress allowed the appearance and improvement of many medias. As a consequence, traditional medias such as newspapers face possible extinction. Attempts to adjust the printed news to online platforms were made and while some worked, others could not resist the shift and eventually declared bankrupt. Maringá is a medium-sized city located in the state of Paraná, which endured the bankruptcy of two leading newspaper. The goal is to comprehend how the communication sphere changed over the years, provoking the decline of the main newspapers in Maringá. The assignment will be produced with an exploratory bias, inspired by a qualitative research, in which such proposition will be presented through a short documentary.

KEYWORDS: decline; newspaper; media; documentary.

INTRODUÇÃO

A chegada da era tecnológica permite o acesso da informação nas palmas das mãos através da internet. Isso faz com que o uso de conteúdos analógicos, como revistas, rádios, jornais impressos se torne obsoleto. A Revolução Digital, também denominada por historiadores como Terceira Revolução Industrial, ampliou os horizontes da comunicação possibilitando novas formas de se fazer jornalismo.

Tais inovações trouxeram consigo, não somente novidades, mas também a ameaça do fim de alguns meios de comunicação analógicos. A principal vítima desta revolução foi o jornal impresso. Com o acesso rápido à informação através do computador e, mais tarde, através do celular, o impresso foi perdendo sua relevância e prestígio.

Alguns apostaram na versão tecnológica, como é o caso da Gazeta do Povo. Porém muitos encerraram as atividades. Em Maringá, no Paraná, não foi diferente. Atualmente o único periódico impresso que circula na cidade é o Jornal do Povo, enquanto nomes populares como O Diário do Norte do Paraná e Metro acabaram por fechar suas portas.

Ainda há uma busca contínua para entender o porquê houve despopularização do jornal impresso. Inúmeros fatores foram relevantes para o esmaecimento desses periódicos na cidade de Maringá. Por isso, se faz necessário compreender as causas por trás de tal fenômeno e o impacto que este pode provocar na comunidade jornalística maringaense. Sendo assim, quais são os motivos que causaram a extinção do jornal impresso na cidade de Maringá, em especial, O Diário do Norte do Paraná?

No ano de 2019, na cidade paranaense de Maringá, dois jornais impressos de grande expressão na região interromperam seus trabalhos. Após 45 anos de tradição O Diário do Norte do Paraná declarou falência. Logo em seguida, a franquia do jornal O Metro no município também encerrou suas atividades. Com isto, apenas um jornal impresso continua a operar na cidade, o Jornal do Povo.

A discussão relacionada a extinção do veículo impresso vem se estendendo a alguns anos, quando o jornal escrito começou a se adaptar ao meio digital. Existem diversos motivos já estudados por acadêmicos da comunicação, como Henry Jenkins (2006) que aponta em seu livro, Cultura da Convergência, as várias opções oferecidas pelo meio online interatividade com os leitores. Da mesma forma podemos apontar Saturnino, Lima, Pinheiro (2018) que discutem a questão de custo de produção e dinamização da informação.

Apesar disso, é de extrema importância considerar os fatores individuais caso em questão. Maringá possui um público diversificado, com pontos de vista e relações diferentes com os meios e veículos de comunicação dispostos na cidade. A interrupção das atividades de dois periódicos de destaque está muito além dos motivos gerais discutidos na academia.

Os principais objetivos do material,  por meio, deste artigo é a produção de um minidocumentário para apresentar fatos que abordam os possíveis motivos do declínio e extinção dos dois jornais impressos de grande relevância na cidade de Maringá, O Diário do Norte do Paraná e O Metro.

REFERENCIAL TEÓRICO

O jornalismo não possui uma data de surgimento exata. A história traça o ato de informar a população em geral desde os tempo antigos, como Júlio César que, em 69 a.C. criou o Acta Diurno para noticiar fatos importantes. Segundo Nilson Lage (2001), o jornalismo periódico se consolidou na Idade Moderna, antes da primeira Revolução Industrial e logo após a invenção da prensa por Gutemberg em 1450. Naquele período os jornais possuíam estrutura, linguagem distintos, assim como uma abordagem diferente aos conteúdos.

Lage (2001) ainda aponta que estes primeiros jornais eram dedicados à burguesia, que, desta forma, influenciava fortemente os temas tratados na época. Os informativos eram escritos por aristocratas para aristocratas, com estrutura simples semelhante ao gênero publicitário. Durante a modernidade os temas giravam em torno da economia comercial e política, deixando em segundo plano os interesses públicos.

As pessoas que detêm algum poder ou se estabelecem em áreas de influência social costumam sustentar visão publicística do jornalismo. É por causa dessa concepção que políticos, economistas e dirigentes sindicais lutam para impor aos órgãos que controlam o palavrório empolado de seus discursos. (LAGE, 2001, p. 4)

O século XIX trouxe consigo a primeira Revolução Industrial e uma mudança radical em diversos âmbitos da sociedade. A acessibilidade à alfabetização foi uma dessas mudanças, desencadeando uma reforma na maneira de fazer jornalismo. A demanda aumentou, assim como as tiragens, dando origem a produção mecanizada e indústrias gráficas. Categorizando informação e publicidade, os jornais assumiram um papel educador para o público, além de adotarem o estilo sensacionalista, buscando entreter seus novos leitores com fatos escandalosos.

A vertente educativa se explica porque a incorporação dos novos contingentes populacionais à sociedade industrial implicava mudanças radicais de comportamentos e da compreensão das relações humanas. Em lugar do ciclo anual de atividade - plantio, colheita -, a rotina diária do trabalho nas fábricas e escritórios. Em lugar da servidão instituída - um contrato tácito pelo qual o servo espera do patrão o socorra em momentos difíceis - o regime de salários sujeito ao único arbítrio de leis que, então, sequer existiam. (LAGE, 2001, p.5)

Para Lage (2001), os jornais se aproximavam cada vez mais do formato atual. Ele explica que a demanda teve outra consequência, o surgimento de informativos diversos com estilos variados que visavam incorporar a cultura popular da melhor forma possível. A figura do repórter se manifestou junto a necessidade de furos de reportagem, fundamentais para manter os anunciantes. Desta forma, teve início a concorrência acirrada por informação privilegiada.

Com o passar do anos, qualidades foram sendo aprimoradas atendendo a necessidade da população em massa. Começaram a ser desenvolvidas técnicas e limites éticos, diferenciando o público do privado. Em meados do século XX surgem os primeiros cursos de jornalismo e pesquisas de comunicação. O jornalista discorre sobre fatos de forma que permite o leitor orientar-se diante da realidade com objetividade e coesão.

Ao entrarmos na modernidade, em meados de 1920, nos deparamos com grandes avanços tecnológicos que originaram o rádio e a televisão. Essas ferramentas midiáticas, que ofereciam formas mais dinâmicas de comunicação, principalmente a televisão que trazia credibilidade a audiência devido às imagens que passavam na tela. De acordo com Paternostro (1999), a televisão foi inserida na realidade do mundo todo no final dos anos 1940 e o começo dos 1950, se tornando o principal meio de informação e comunicação em massa.

Na década de 1980, o jornalismo sofreu uma reviravolta quando o governo americano apresentou ao mundo um sistema de compartilhamento de informações em tempo real: a internet. Esta inovação, mais tarde, mudaria a visão do público com relação aos periódicos impressos. Desde seus primórdios, “a internet ofereceu um novo ambiente no âmbito de comunicação em escala mundial, conduzindo o surgimento de um novo modelo informacional” (SATURNINO, LIMA, PINHEIRO, 2018, p. 2156).

Jornalismo Online

Na tentativa de acompanhar o fluxo tecnológico, os jornais impressos adotaram o online sem perceber que ofereciam ao público uma alternativa facilitada de manter-se informado ao invés de uma extensão do trabalho jornalístico. A informação tornou-se categorizada. Ao entrar em uma plataforma o leitor pode pesquisar e selecionar o que deseja ler, assim como buscar credibilidade em outras plataformas com facilidade (FERRARI, 2017).

Segundo Jenkins (2006), o avanço das mídias de comunicação interferem na forma de pensamento, proporcionando assim experiências características para os indivíduos. O jornal impresso criou um padrão conservador. Entretanto, com o advento da internet, surgiu a  possibilidade de um pensamento menos restrito e com mais conteúdos de criação “livre”. Assim como o jornalismo publicista deixou de ser atraente para o público (LAGE, 2001), o impresso caminha na mesma direção com a revolução tecnológica que ocorre neste século.

Os filmes-padrão tendem igualmente a oferecer  amor, ação, humor, erotismo em doses variáveis; misturam os conteúdos viris (agressivos) e femininos (sentimentais), os temas juvenis e os temas adultos. A variedade, no seio de um jornal, de um filme, de um programa de rádio, visa a satisfazer todos os interesses e gostos de modo a obter o máximo de consumo. (MORIN, 2002, p. 35).

Enquanto os velhos periódicos podem oferecer palavras e imagens estáticas, que não mais entretém a nova geração, com a internet é possível contar histórias de várias maneiras, através de vídeos, imagens estáticas ou animadas, que chamamos de GIF’s (Graphics Interchange Format) ou utilizando podcasts e links. Tais fatores refletem na falta de recursos midiáticos que o impresso tem acesso.

Subjugados as próprias limitações, os impressos empenharam-se em dinamizar seu formato, investindo em linguagem mais popular para se aproximar de seus leitores. Além de investir em fotografias coloridas e criar segmentos humorísticos, de entretenimento ou esporte (SATURNINO, LIMA, PINHEIRO, 2018). Infelizmente as estratégias não foram suficiente, uma vez que este material jornalístico continua em declínio sucumbindo a tecnologia dedicada solenemente a atender as necessidades inumeras do público.

Como se não bastasse as restrições impostas pela inflexibilidade do meio analógico, os jornais impressos encontram outro problema ainda mais sério relacionado aos anunciantes, ou a falta de deles. A expansão do meio digital arrebatou a atenção dos anunciantes que costumavam ser a maior fonte de patrocínio dos tabloides, gerando a falta de capital para bancar os custos de impressão, mão de obra profissional e equipamentos. Até mesmo aqueles pagos, não vendiam o suficiente para cobrir tais despesas.

Na era da internet o jornal impresso traz uma grande desvantagem em relação aos custos de produção: a circulação diária de edições acarretam em altos custos de impressão, e como atualmente o público está cada vez menos disposto a pagar pelo jornal físico, o lucro para a imprensa é cada vez menor. (SATURNINO, LIMA, PINHEIRO, 2018, p. 2158)

A questão principal foca no porquê um cidadão comum iria gastar dinheiro em periódicos pagos ou até mesmo desperdiçar seu tempo em busca-los quando o acesso a informação está em sua sala, escrivaninha, até mesmo ao lado do volante no caminho do trabalho ou, mais recentemente, na palma de sua mão. Não somente a internet acessível através do computador ou celular, mas a televisão e o rádio também contribuíram para o declive do jornal impresso.

O custo de produção que se torna cada vez mais alto cooperou para um último fator decisivo, a velocidade. Já no final do século XIX e início do século XX, o conceito “furo de reportagem” surgiu com o aumento no número de empresas jornalísticas, isto é, o aumento na concorrência (LAGE, 2001). Hoje em dia competitividade está mais acirrada que nunca, levando em consideração os inúmeros meios de comunicação espalhados pelo mundo.

A dificuldade de alcançar os demais canais midiáticos está no tempo de investigação, edição e correção. Enquanto em um periódico as notícias importantes levam um dia para serem públicas, os jornais online ou audiovisuais tem a opção de apurar o material em poucas horas ou até mesmo poucos minutos. Mais além, com a ferramenta ao vivo que muitas redes sociais oferecem, o público pode acompanhar os repórteres enquanto a notícia é apurada.

Se houver um erro sequer na redação, os editores não têm outra escolha a não ser esperar pela edição do dia seguinte para poder publicar a correção de um texto já lido por milhares. O processo é inconveniente e pode custar caro, pois os editores precisam encaixar a nota junto com outras notícias e texto, arriscando a diagramação daquele jornal, gastando tinta e tempo de impressão. Tudo é contabilizado e cada detalhe pode interferir na escolha de um leitor entre o caderno de papel que ser postos de lado ao terminar a leitura ou um celular que será colocado no bolso logo após a informação ser transmitida.

Economia Política

Entre as várias dificuldades relacionadas ao conteúdo e sua difusão, é de grande importância considerar os fatores intrínsecos de uma empresa. O pesquisador Vicent Mosco (2016) explana que um veículo de comunicação, um negócio como muitos outros, depende de suas conexões com outras figuras. As relações que um jornal tem com políticos, anunciantes e até mesmo outros jornais afeta a maneira como a empresa vai caminhar no espaço público. Este sistema de vínculos organizacionais é conhecido como Economia Política da Comunicação.

A economia política é, em uma definição mais geral e ambiciosa, o estudo do controle e da sobrevivência na vida social. Controle se refere especificamente à organização interna de membros de um grupo social e ao processo de adaptação à mudança. Já sobrevivência diz respeito a como as pessoas produzem o que é necessário para a reprodução social e sua continuidade. (MOSCO, p. 43 , 2016)

Este tipo de relação pode parecer ficcional, similar aos típicos enredos de filmes de ação. Porém filmes são baseados na vida real e no caso de negócios de comunicação, a afinidade com indivíduos ou organizações determinadas pode causar o sucesso ou declínio de uma empresa. Veja bem, ter boas conexões significa exercer influência sobre o conteúdo e outras empresas menores e, de certa forma, dominando o mercado em questão. O lucro de tal sucesso, por sua vez irá determinar a sobrevivência da organização.

No entanto, não podemos nos iludir que tal ideia seja tão simples. Mosco (2016) salienta que para manter o controle antes mencionado depende em grande parte do público-alvo. Não se pode ignorar uma qualidade imprescindível relacionada a leitores e/ou espectadores, conforme o tempo avança: as formas de conquistar o público sofrem mudanças.

Buscar conexões para ter vantagem no mercado, pode ser, entretanto, uma faca de dois gumes. Principalmente para empresas comunicacionais privadas, as conexões podem passar a ditar os ideais da empresa. Colocando de forma menos eloquente, os políticos, companhias maiores e figuras a fim podem, em certo ponto, começar a influenciar o veículo em questão, que por sua vez, influencia o mercado comunicacional. Isto cria uma divergência com o público de baixa-renda que pode abandonar o jornal ou revista a procura de novos modos de fazer jornalismo.

As empresas de comunicação são obrigadas a achar um equilíbrio entre criar conteúdos que seu público-alvo possa se identificar, porém, simultaneamente, evitar que seus próprios ideais sejam negligenciados. É uma constante batalha entre o direito de se expressar e a tarefa que concordar com a maioria para agradar sua audiência.

Neste caso, o impasse se torna ainda maior, pois a empresa precisa decidir quem agradar, os parceiros oficiais, e extraoficiais, ou o público.O jornalismo estimula a economia tanto quanto outros mercados, isso porque não é apenas um mercado por si só, mas também porque se envolve com outros âmbitos de forma versátil. Com isso o jornalismo se torna uma mercadoria.

Mercantilização é o processo de tomar produtos e serviços que são valorizados por seu uso, por exemplo, alimentos para satisfazer a fome, as histórias para o jornalismo, e transformá-los em produtos que são valorizados por aquilo que se pode ganhar no mercado, por exemplo, o cultivo de alimentos para a venda, a produção de notícias e histórias de entretenimento para o jornalismo. (MOSCO, p. 50,  2016)

Tornar-se uma mercadoria leva ao aumento na importância da informação e a busca por acessibilidade. Ao final, tudo está conectado, pois um jornal que produz sob a influência de sua audiência pode perder anunciantes, mas se sucumbir a produzir de acordo com as vontades dos anunciantes, pode perder o público. Uma empresa que não sabe ou consegue administrar esse equilíbrio perde sua influência e, portanto, sua importância.

Cada fator mencionado contribui para a extinção do meio impresso em geral. Independente da cidade, país ou hemisfério, a tecnologia mostrou-se o maior agente que levou ao fim deste elemento midiático. Porém, há fatores específicos de cada local que foi ou vai ser analisado no futuro. Este fator é o público em si, de forma específica, a personalidade da população em questão, suas preferências, influências, faixa-etária ou gênero.

Em Maringá, uma cidade localizada no norte do estado do Paraná, com aproximadamente 423 mil habitantes, de acordo com as últimas estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apenas um periódico impresso ainda se mantém em pé, o Jornal do Povo. Não há estudos feitos que apontem o exato ou conjunto de motivos que levaram o jornal O Diário do Norte do Paraná à falência no ano de 2019.

É possível que, como muitos outros, os periódicos tenham sofrido uma despopularização com a influência da internet e a modernização da cidade, ainda relativamente nova. O público variado, assim como suas preferências ainda mais diversificadas podem ser indicados como um dos grandes fatores por trás do caso de extinção em Maringá.

Os dados recolhidos pelo IBGE[1] revelam que o município em questão é, em síntese, dividido entre um público universitário jovem e uma comunidade distintivamente tradicional, que pode aderir a meios conservadores de todos os tipos. Os jovens formam 22,7% da população, com a faixa-etária variada entre 15 à 29 anos de idade, parte de uma geração que presenciou o crescimento sem precedentes da tecnologia ou já nasceu em uma era em que somos tão conectados a ponto de dependermos dela para nos comunicarmos.

Um estudo conduzido pela empresa de consultoria ADECON, sediada na Universidade Estadual de Maringá, constatou que 41,2% dos entrevistados utiliza o WhatsApp como rede social primária. O aplicativo de conversas acabou sendo reconhecido na pesquisa como um meio de oferecer informações sobre produtos, entre outros. Além do chat, outra rede social que obteve grande destaque foi o Facebook, com 35,2% dos entrevistados escolhendo a plataforma multimídia como principal.

Hipoteticamente, deveríamos assumir que a partir do momento que uma fonte de informação tão importante como O Diário suspendesse suas atividades de maneira definitiva, a população escolheria outro meio para substituí-lo. Todavia, este não foi o caso em Maringá, pois não há registros dos cidadãos terem apontado outra empresa mediática de destaque na qual pudessem acessar material jornalístico. Estas suposições são indicadoras de um problema que vai muito além dos mencionados ao longo da leitura, algo relacionado à relação do público maringaense com o jornalismo em si.

Em outras palavras, há grande possibilidade que a crise do jornal impresso possa ter ocorrido devido ao desinteresse da população maringaense pelo jornalismo oficial. Este fator é incerto e de qualquer forma, levanta outra questão ainda mais intrigante, o motivo por trás da continuidade do Jornal do Povo, que carrega características ainda mais tradicionalistas.

Até que uma pesquisa seja feita com a população ou com os profissionais da comunicação locais, os motivos serão apenas especulações. Entretanto podemos pressupor que muito além do advento da internet, custos, entre outras causas já citadas, existem elementos únicos que colaboraram para o declínio do impresso nesta cidade.

Do sucesso ao declínio

O Diário do Norte do Paraná

O Diário do Norte do Paraná foi um jornal impresso de Maringá, fundado há 46 anos. O exemplar circulou em várias cidades da região como: Apucarana, Paiçandu,  Paraíso do Norte, Paranacity, Paranavaí, Peabiru, Rondon,  Santa Fé, São Jorge do Ivaí,  Sarandi, Londrina, entre outras. Segundo o site Central Comunicação, a tiragem era realizada de terça à domingo com aproximadamente 10.000 exemplares.

Segundo o historiador local Miguel Fernando (2019), os primeiros passos do periódico aconteceram com a parceria entre Joaquim Dutra, Samuel Silveira e Carlos Piovezan para a compra da primeira máquina offset da região Norte do Paraná.

Sua primeira edição entrou em circulação no mesmo dia de sua inauguração, em 29 de junho de 1974. A edição contava com 62 anunciantes e 70 páginas. O jornal era localizado em uma antiga fábrica de sabonetes

Com a chegada da geada negra em 1975, a crise na economia se instaurou. Quem apoiava o jornal financeiramente, acabou retirando o patrocínio devido a crise. Com, isso o jornal foi vendido para Enésio Gomes Tristão, Altamir Vinheski e Edilson Coelho Castilho.

Um ano depois, o colunista Franklin Silva se torna um dos sócios do jornal, após Enésio Gomes Tristão realizar a venda das ações e dissolver a sociedade. Em 1978, Franklin Silva e sua esposa Rosey Rachel, adquirem todas as ações e se tornam donos efetivos do O Diário do Norte do Paraná.

Quase 10 anos depois, em 1985, a nova sede do jornal é inaugurada. Em, 1994 uma nova ala é construída na matriz do jornal, que então passa a possuir 4,9 mil m². Com isso, além da ampliação do ambiente, O Diário adquiriu uma máquina rotativa que conseguia imprimir oito páginas de uma vez. Um ano depois, o jornal realizou sua primeira tiragem em cores.

Entre 2001 e 2004, O Diário começa a ser reestruturado para inovações. No ano de 2005 o Instituto Verificador de Circulação (IVC), aprova a tiragem do jornal após  a reformulação. Além de um novo design, a empresa retorna com os cargos colaborativos de jornaleiro. Para Fernandes e Zitzke (2012, p. 03):

A ciência e tecnologia, no cenário atual, reforçam a existência de um processo contínuo de avanços e aperfeiçoamentos buscando atingir a excelência em termos de qualidade, produtividade e competitividade. Nesse sentido, as instituições de ensino, científicas e tecnológicas, os setores produtivos têm, conjuntamente, importantes papéis a desempenhar, no que tange ao desenvolvimento socioeconômico de uma região (2012, p.3 ).

Com isso, a evolução gerou a necessidade da empresa expandir seus negócios para o meio tecnológico. No ano de 2010, O Diário criava o seu próprio portal de notícias online com o domínio de Odiario.com. Essa nova ferramenta fez com que o jornal contratasse uma equipe destinada especificamente para criar conteúdo para a web.

Além da nova equipe, um ano depois o jornal realiza um investimento de R$ 9 milhões em uma impressora norte-americana automatizada e rotativa. Também foram realizadas reformas no prédio para a ampliação do espaço onde era realizado todo o procedimento gráfico.

Em 2013, o jornal realizou uma reformulação gráfica total. Foi contratada uma empresa internacional para realizar o projeto. A mesma já havia reformulado graficamente jornais mundialmente famosos.

No ano em que o exemplar completava 40 anos, o IVC publicou uma pesquisa sobre os números dos jornais da região norte. O Diário realizava uma média diária de 16 mil exemplares ao dia para mais de 90 municípios da região. Liderança absoluta no norte do Paraná.

O que era motivo de orgulho e comemoração foi abalado por uma séria crise financeira. Em 2018, o jornal não conseguia se manter, não pagava funcionários, o que agravou a situação. A consequência foi uma greve realizada pelos colaboradores para cobrar os salários atrasados.

Uma história de sucesso, que completaria 45 anos em 2019, foi encerrada com a falência do jornal e vários imbróglios judiciais, no dia 15 de abril do mesmo ano. Segundo informações da justiça de Maringá, o prédio foi embargado. A máquina gráfica rotativa, pertencia a um investimento feito pelo banco Itaú, que reivindicou a posse e vendeu o equipamento para a empresa Grafinorte, localizada em Apucarana, também no norte paranaense.

Parte do acervo desde a inauguração do jornal até edições de 2014 foi resgatado pela Prefeitura de Maringá e levado a um local destinado no Teatro Calil Haddad. As edições de 2014 adiante ainda estão localizadas no acervo do prédio do jornal.

Todos os bens presentes dentro do espaço que funcionava o O Diário foram embargados, numerados e etiquetados para calcular o valor total do prédio.

O METRO

O jornal O Metro é uma franquia internacional espalhada por diversas cidades do Brasil e do mundo. O projeto foi criado em 1995 por um grupo na Suécia, formado por Pelle Andersson. Hoje, quem possui os direitos do jornal é uma investidora chamada Kinnevik. A proposta do jornal é circular informações por meio de um exemplar impresso e de forma gratuita.

A franquia foi lançada em 2007 na cidade de São Paulo, em uma parceria entre a Metro Internacional e o Grupo Bandeirantes de Comunicação. Atualmente a tiragem total, incluindo todas as cidades onde a franquia atende, chega aproximadamente em 483 mil exemplares.

Em Maringá, o jornal chegou no dia 27 de setembro de 2016. O responsável pela aquisição do impresso foi o Grupo J. Malucell, afiliada da TV Band, conhecido como TV Maringá na cidade.

Vicente Malucelli era o diretor geral e Rosângela Gris editora-executiva da franquia do jornal na cidade. Com uma equipe compacta, a intenção era distribuir 10 mil exemplares de forma gratuita em pontos vitais da cidade. Segundo informações coletadas de alguns jornalistas, o jornal não era somente voltado para informações locais, estaduais ou do país todo, havia um foco em mostrar o âmbito internacional para os maringaenses.

O jornal circulou pouco menos de três anos na cidade. Sua última edição aconteceu de forma inesperada no dia 10 de maio de 2019, pouco tempo depois da falência de um dos jornais mais emblemáticos da região norte do Paraná, O Diário. A capa da última edição trazia a Catedral Basílica menor de Nossa Senhora da Glória e o título de Maringá, 72 anos.

Não se sabe ao certo os motivos pelos quais a franquia do jornal encerrou as atividades na cidade. O fechamento também ocorreu, na mesma época, em algumas franquias de cidades como Belo Horizonte, Campinas (SP), Rio de Janeiro e Brasília.

Conforme a opinião de alguns profissionais da comunicação que atuam na cidade, o jornal acabou fechando as portas devido a vários fatores. É possível que o aspecto gratuito do jornal possa ter interferido, uma vez que conseguir uma renda para se manter se tornava difícil se não entrava lucro do material produzido, além de outros motivos mais atenuantes como ordens vindas diretamente do Grupo bandeirantes.

Documentário e Curta-metragem

O documentário busca atingir todos os públicos ao nosso alcance. O tema não abrange somente pessoas que viveram no momento em que o jornal impresso tinha o seu ápice. Mas também jovens, para que entendam o processo de como a informação chegou ao estágio tecnológico, podendo ser acessada na palma da mão.         

A definição de tal tipo de produção pode ser encontrada de diversas maneiras. Não podemos restringi-la somente ao fato de retratar a realidade na perspectiva do documentarista.  Pode ser considerado uma forma de retratar o mundo a partir de valores. Essa forma representada pode ser definida como um objeto ou indivíduo.

[...]podemos afirmar que documentário é uma narrativa basicamente composta por imagens-câmera, acompanhadas muitas vezes de imagens de animação, carregadas de ruídos, música e fala, para as quais olhamos em busca de asserções sobre o mundo que nos é exterior, seja esse mundo coisa ou pessoa (RAMOS, 2008, p. 22).

O documentário é o caminho que nos permite perceber questões que necessitam de atenção oferecendo um retrato sobre o mundo. O gênero cinematográfico possui um laço com a história por registrar as coisas que vemos no cotidiano (NICHOLS, 2005, p. 27).

Em primeiro lugar, os documentários oferecem-nos um retrato ou uma representação reconhecível do mundo. Pela capacidade que têm o filme e a fita de áudio de registrar situações e acontecimentos com notável fidelidade, vemos nos documentários pessoas, lugares e coisas que também poderíamos ver por nós mesmos, fora do cinema.

Essa perspectiva de realidade que o gênero documental nos propõe, tem como objetivo representar o “real” pelos olhos do documentarista. Podemos perceber que assim como a televisão e o cinema podem abarcar o que chamamos de ficção, isto é, uma mera fantasia, o documentário também pode ser sujeito a este tipo de representação.

A ficção e a realidade estão muitas vezes entrelaçadas. O jornalismo busca essa interpretação, leva os fatos ao público com um compromisso ético de mostrar o “real”. Mas como podemos relacionar o jornalismo com o documentário? Ambos necessitaram um do outro para se desenvolver, ou seja, foram avançando ao longo dos anos, juntos (BEZERRA, 2008) Ainda para o autor, o documentário e jornalismo foram construídos por práticas sociais, comerciais, políticas, metodológicas e oriundas de movimentos que denominam a modernidade e contemporaneidade da comunicação. Além de serem construídos tendo a objetividade como base, que busca levar verdade para o espectador, envolvendo a ética, moral e deontologia do jornalismo.

Apesar de muitas vezes este conceito está arraigado nas origens desses dois meios, precisamos entender que as imagens podem passar a falsa sensação do que aparenta ser real. O conjunto de características como ângulos, posicionamentos, tipos de lentes, podem acabar maquiando a verdadeira realidade.

A imagem documental pode ser usada como um instrumento supostamente neutro de representação, ou como uma ferramenta de transposição, de análise, de interpretação e até de transformação do real. Efeitos de lentes, foco, contraste, [...] garantem a autenticidade do que vemos (BEZERRA, 2008, p.24).

Assim como Bezerra, Nichols (2002, p. 28) também traz em seu livro “Introdução ao documentário” a discussão dessa premissa. A imagem possui um grande poder de representar a realidade, porém é algo intrínseco acreditar no que está sendo passado. “Uma imagem não consegue dizer tudo o que queremos saber sobre o que aconteceu, e as imagens podem ser alteradas tanto durante, como após o fato por meios convencionais e digitais”.

Muitas vezes, o documentário tem um compromisso com o público, ou seja, se tornar objeto de fala de outros sujeitos que precisam ser ouvidos ou de interesses maiores. Por isso, traz a abordagem assertiva sobre o mundo em que está representando. Os documentários podem representar o mundo da mesma forma que um advogado representa os interesses de um cliente (NICHOLS, 2005).

Portanto, podemos definir que, historicamente, jornalismo e o documentário são vertentes que sempre caminharam juntas. A utilização do gênero em questão para o produto do trabalho de conclusão de curso, será embasado na relação histórica dos valores sociais, políticos, econômicos que ambos têm enraizados. Ou seja, utilizar os conhecimentos básicos do que significam para o público, explicando aquilo que muitos têm conhecimento, mas ainda não compreendem o por quê da extinção dos jornais impressos em Maringá.

Há várias formas de elaborar um documentário, na qual o profissional tem a possibilidade de optar entre uma grande produção de longa metragem ou aderir ao popularmente conhecido mini-documentário. Cada alternativa oferece suas vantagens e limitações. Para produções longas é necessário mais tempo e uma equipe maior, assim como muitas fontes disponíveis, gerando um custo alto, além da necessidade de plataformas específicas.

O documentário de curta-metragem obteve seu ápice nos anos 1960. Foi utilizado e incorporado como uma forma de suprir algumas questões sociais que os documentários não atendiam, tais quais como a questão financeira, social e de linguagem. (RODRIGUES, 2010)

Segundo Goméz (2009) desde que os curta-metragens surgiram na América Latina, sempre foram vistos como realistas, livres e um cinema mais direto e acessível ao público.

Essa produção pode ser efetuada com muito mais facilidade, mas isso não significa necessariamente uma baixa qualidade. É acessível por ter um tempo de produção menor e um tempo limitado, pode ser compartilhado em várias plataformas online. Esse formato é utilizado principalmente em universidades devido a questão de infraestrutura e acessibilidade.

Com isso, se faz necessário trazer fontes que além de possuírem experiência e conhecimento sobre o tema, como como colaboradores de todos os cargos, jornalistas, editores, fotógrafos, pauteiros, contabilistas e historiadores que trabalharam no veículo em questão. A pretensão também é incorporar ao projeto uma recapitulação breve da história do jornal O Diário do Norte do Paraná, além de investigar a fundo o que houve no decorrer do anos que resultou na falência de tal empresa comunicacional de destaque.

METODOLOGIA

A coleta de informações que contribuiriam para encontrar possíveis respostas para as indagações sobre os eventuais motivos que levaram os dois maiores jornais da cidade de Maringá encerrarem suas atividades. O método de pesquisa foi de cunho qualitativo.

A primeira etapa da pesquisa, foi a gravação de takes para o documentário e o processo de reconhecimento dos locais relevantes para a história do jornal O Diário. Visitamos seu antigo prédio, no qual tivemos a oportunidade de conversamos com o responsável por monitorar o patrimônio.

Esta entrevista possibilitou reunir uma quantidade significativa de cenas de transição e as informações recolhidas auxiliaram no desenvolvimento de mais questionamentos. Além desta visita, nos dirigimos ao Teatro Calil Haddad, onde está localizado grande parte do acervo do jornal. Realizamos cenas de apoio e imagens do acervo.

A segunda etapa abordou uma troca de experiências mais ampla. Por meio de entrevistas, proporcionamos um espaço onde intelectuais do assunto tratado possam explicar certos aspectos, orientar a forma de abordagem ou alertar sobre certos tópicos. A entrevista é determinante para compreendermos acontecimentos históricos, mostrar as variáveis dos mesmo através de diversos pontos de vista e ângulos diferentes. Para Duarte (2006):

O uso de entrevistas, permite identificar as diferentes maneiras de perceber e descrever os fenômenos. [...]  Seu objetivo está relacionado ao fornecimento de elementos para a compreensão de uma estrutura, situação ou problema. Deste modo, o objetivo está mais relacionado com a riqueza e diversidade de informações e síntese de descobertas do que ao estabelecimento de conclusões precisas e definitivas. (Duarte, 2006, p. 1)

Para adquirirmos informações sobre o tema abordado, entramos em contato com diversas fontes para as entrevistas. Porém, todas recusaram devido o imbróglio judicial com o O Diário e o medo de que a conversa interferisse negativamente no processo.

Ainda nesta seção da pesquisa é possível perceber que realizamos um estudos de viés exploratório com a abordagem de pesquisa bibliográfica, documental e em depoimentos. Foram coletadas diversas informações que agregam ao material e conhecimento da história local.

Na pesquisa qualitativa, os dados não são apenas colhidos, mas também o resultado da interpretação e reconstrução do pesquisador através de um diálogo inteligente e crítico com a realidade. (Duarte, 2006, p.1)

Neste artigo, utilizamos autores como Jenkins (2006) e seu estudo sobre a cultura da convergência, Edgard Morin (2002) e a questão das culturas de massas. Além de usar como base, teóricos que trabalham questões práticas sobre documentários e métodos de entrevista como  Nichols (2005) e Duarte (2006).

ANÁLISE

Compreender os motivos do declínio do jornal impresso na cidade de Maringá requer uma investigação ampla. Não podemos apontar somente um único fator determinante para o enfraquecimento desse meio de comunicação. Seria inadequado assumir que a internet é a grande vilã da história, pois apesar de exercer um papel relativamente importante não é o único fator por trás do fenômeno a ser investigado.

Em entrevista realizada para a produção do documentário, o historiador maringaense Reginaldo Benedito Dias argumentou que o impresso não possui a mesma influência que tempos atrás:

O jornal foi se tornando uma peça onde o conteúdo era produzido para circular no outro dia, até passar por todos os processos e chegar a mão do leitor a notícia se torna velha. [...] sofre uma concorrência do mundo digital muito problemática, mas a tendência é que as novas gerações não sintam falta do jornal impresso. (DIAS, 2020)

Os números podem servir como prova da possibilidade de que, no futuro a informação impressa, física e palpável pode perder relevância em Maringá. Atualmente cidade possui uma população de 430.157 habitantes segundo o Instituto brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já em 2013, o Programa de Pós-graduação em Genética e Melhoramento (PGM) da Universidade Estadual de Maringá (UEM), realizou uma pesquisa, onde determinou que o número de universitários na cidade alcançava mais de 15 mil pessoas. Aproximadamente dois anos depois, no ano de 2015, o número aumentou significativamente, chegando a aproximadamente 45 mil acadêmicos.  Consumir informações em métodos mais rápidos se tornou banal e um tanto necessário, devido ao estilo de vida atual. De acordo com Célia Regina Polésel (2007, p. 02):

[...] os jornais não servem como referência para a população universitária nos assuntos culturais e do dia a dia da cidade. [...] o índice de leitura de jornais por parte dos universitários é baixo. Os jovens hoje se pautam muito mais pela imagem do que pela leitura. A televisão e a Internet contribuem muito para isso [...]. Os adolescentes além da TV têm o computador e os jogos de videogame para ligá-los às imagens.

O impresso precisa de adaptação, assim como aconteceu com o teatro e o rádio que se reinventaram com a chegada da televisão e internet. Ele pode desempenhar um novo papel na vida dos leitores. “A relevância social não será a mesma, porém possui um espaço para as mesmas adaptações que aconteceram com outros meios de comunicação que antes também eram ameaçados pela inovação tecnológica.” (DIAS, 2020)

É crucial manter em mente que tanto O Diário quanto O Metro encerraram suas atividades mesmo com relevância na imprensa maringaense, principalmente O Diário. “O jornal possuía uma influência muito grande capaz de pautar todas as notícias de Maringá . Toda a produção diária de conteúdo jornalístico maringaenses se pautava nos furos e exclusivas que o mesmo publicava.” (SIMIÃO, 2020)

Para Dias (2020) o que pode ter acarretado os diversos problemas que tiveram como consequência o fechamento do jornal seriam:

Questões gerenciais, de investimentos que não deram certo, consequentemente a concorrência de um novo mercado que exige dos grupos jornalísticos menores uma capacidade de adaptação. A junção dessa concorrência a esses outros fatores de gestão e investimentos, acaba gerando uma possível crise.

Assim como Dias (2020), o jornalista maringaense Victor Simião também cita que uma das principais possíveis causas seria a relação com investimentos errôneos. Nos últimos 10 anos, O Diário passou por um momento de expansão repentina. Em evidência colocamos a compra de uma máquina de impressão offset parcelada, no momento em que o dólar estava em baixa. No entanto, quando o valor da moeda subiu o negócio aparentemente conveniente passou a ser inviável (SIMIÃO, 2020).

A falência do O Diário do Norte do Paraná gerou uma carência para os assinantes do jornal. Isso porque, quem era um leitor fiel e o consumia há anos, não sabia que o periódico iria encerrar as atividades de um dia para outro, sem aviso algum. “O impacto do fechamento [do jornal] foi o rompimento de uma tradição de 45 anos. De repente O Diário encerra suas atividades e fecham em um dia extremamente melancólico.” (SIMIÃO, 2020)

Da mesma forma como Simião, a jornalista e pesquisadora Natalia Gomes também fala que o encerramento das atividades de O Diário causou um impacto histórico para Maringá:

O impacto foi histórico. A nossa cidade perdeu um grande jornal impresso. Um jornal de anos que se consolidou e que de repente acabou como se nunca tivesse existido. A perda do O Diário foi  histórica. (GOMES, 2020)

Os jornais são parte da cultura e história de Maringá. Para Natália Gomes (2020), foi de uma grande lástima a falência do jornal. Após o encerramento das atividades, o foco principal não era compreender como algo tão importante acabou. Mas, a discussão era voltada em entender a falência do mesmo. “Não observava discussões de como aquilo geraria uma carência futura, apenas no motivo.”

Mesmo com o grande impacto do jornal tradicional de Maringá. A chegada do O Metro fez com que abrisse uma concorrência entre as duas marcas. O jornal do grupo J.Malucelli, era prático, gratuito, bem editado,  colorido e em modelo standard. A equipe era reduzida a quatro jornalistas. “Não pautavam notícias quentes, eram mais resumos do que acontecia na cidade. Apostavam muito em infográficos. Inclusive um jornalista de Maringá emplacou quatro matérias internacionais.” (SIMIÃO, 2020)

Impressões coloridas, modelo standard e a distribuição gratuita era algo questionado por jornalistas como Victor.

O Metro foi uma experiência ousada. Um jornal gratuito, que você contrata jornalistas sem ter algo que sustente financeiramente o periódico. [...] O jornalismo também é contas, você precisa pagar funcionários, impressão, entre outros. Logo, é preciso dinheiro. As contas necessitam fazer sentido, como x+y+1. (SIMIÃO, 2020)

Mesmo sem explicar essas questões, o jornal sobreviveu aproximadamente dois anos e meio em Maringá. Assim como O  Diário, sua última edição teve um fim melancólico, onde os leitores não souberam o porquê e como chegou ao seu fim.  Apesar, de possuir um investimento voltado para o impresso, o periódico ainda utilizava os primeiros métodos dos jornais na web, ou seja, não produziam um conteúdo direto para a internet. Cada edição impressa era anexada em pdf no site do próprio jornal.

Era um periódico muito bom, mas perdeu a oportunidade de se inserir no digital como deveria ou precisaria para atingir um determinado público. Publicidade nem sempre paga o que o jornal precisa pra se sustentar. (GOMES, 2020)

De imbróglios judiciais, problemas financeiros a uma possível transformação do público devido ao surgimento de novas mídias. Poderiam ser levados como os principais responsáveis pelo fim dos jornais de maior expressão na cidade. Mas existem fatores intrínsecos e extrínsecos desconhecidos que também contribuíram para a consolidação deste cenário maringaense escasso de periódicos  .

Hipoteticamente, seria possível que algum jornal impresso volte a fazer parte do cotidiano dos maringaenses? Caso venha acontecer, seria necessário compreender o momento em que estamos vivendo, ou seja, entender todo o contexto populacional, social, financeiro e tecnológico. 

Não é segredo que ocorreu uma mudança de paradigma no modo como o mundo consome as mídias. Ouvimos todo aquele discurso apocalíptico [...] As velhas mídias não morreram. Nossa relação com elas é que morreu. Estamos numa época de grandes transformações, e todos nós temos três opções: temê-las, ignorá-las ou aceitá-las. (JENKINS, 2006, p.2)

Para Simião (2020), um novo jornal impresso na cidade de Maringá prosperaria. Mas apenas se o mesmo, traçasse um plano estratégico que fosse muito bem definido, assim, abrangendo a carência de um periódico de impacto na cidade. 

Estamos em uma cidade com aproximadamente 450 mil habitantes. Como essa empresa poderia fazer para alcançar X? Como divulgar X? Vendendo 20 mil exemplares por dia no valor de R$ 5 ou 10 mil exemplares por dia no valor de R$ 10 reais? É necessário encontrar um equilíbrio. Pensar, onde eu quero que esse jornal seja vendido? Trabalhar e investir mais com a parte digital, porque é impossível você pensar no impresso sem pensar no digital. (SIMIÃO, 2020)

Com um perspectiva semelhante, a Natalia Gomes (2020) ressalta que o jornal impresso já teve seu momento de glória na cidade. Para alavancar e despertar consumidores seria necessário adotar medidas diferentes, mas mesmo assim a situação ainda seria difícil.

Na verdade, em um contexto geral, não só maringaense, não sei por quanto tempo a produção de jornal impresso como conhecemos será sustentada. O leitor mudou muito e não consome tanto conteúdo nesse formato. Os jornais vão precisar mudar, mas não vamos deixar de consumir jornalismo. Apenas precisamos de novas formas de acessar informação e de consumir conteúdo informativo e os jornais têm dado conta de mudar. (GOMES, 2020)

A partir desta questão da forma de como os impressos vem se adaptando, podemos usar como um exemplo o jornal tradicional de São Paulo, O Estadão. O mesmo tinha uma característica conservadora na forma de produção de conteúdo e em abordagens de determinados assuntos. “E foi O Estadão que com uma página no Instagram, que criou O Estadão drops, que mostra as notícias por meio de stories. Criaram um formato que vários jornais copiaram. Ainda produzem jornalismo, mas com formatos diferentes.” (GOMES, 2020)

Com o tempo, o jornalismo vai se moldando e adaptando a novas realidades. Assim como O Diário e O Metro em Maringá, a realidade do jornal impresso não é mesma de antes também em outros lugares, a prova disso é a constante adaptação de antigos jornais impressos a plataformas variadas. É preciso avaliar as circunstâncias dos acontecimentos para chegar a uma conclusão. Não é válido apontar que somente os fatos aqui listados foram primordiais para que esses jornais encerrassem suas atividades. Mas podemos concluir que foram atenuantes que contribuíram para a extinção do impresso em Maringá.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Henry Jenkins uma vez disse que os meios de comunicação não morrem ou simplesmente desaparecem, ao invés disso, a forma que a sociedade se relaciona com tais meios muda. Há 150 anos atrás, o jornal impresso era uma das únicas, se não a única forma de se obter informações, porém a nossa realidade mudou radicalmente. O mundo tornou-se pequeno e veloz, uma notícia pode envelhecer em questão de horas.

Diante deste avanço, o jornal impresso se vê estimulado a adaptar-se a realidade. É um grande desafio tentar transformar anos de tradicionalismo e uma logística complicada e extensa. De certa forma, parece quase impossível ajustar-se a demanda informacional que enfrentamos hoje em dia.

Grandes jornais como O Estadão ainda mantém um status quo significativo, entre tentativas e acertos, estabeleceu uma ramificação online que sacia a sede por imediatismo enquanto seu braço impresso continua a fornecer a necessária informação bem apurada. Ainda é possível apontar exemplos variados de superação a era tecnológica, com estratégias interessantes por trás dessa sobrevivência. No entanto, quando se trata de nossa cidade sulista e mediana, o desafio parece uma causa perdida.

A triste realidade em Maringá se resume ao único jornal impresso restante. Não foi até 2018 que nos deparamos com essa crise, quando O Diário do Norte do Paraná declarou falência e O Metro fechou suas portas. A situação nos leva a pensar que sucumbimos às facilidades da tecnologia, mas através de um olhar mais crítico percebemos que o problema é muito mais do que um simples fraco da população pela velocidade informacional.

De fato, podemos atribuir problemas político-econômicos e estratégias quase sem sentido as razões do porquê Maringá se encontra em escassez na área do impresso. Talvez tenha sido a impressora desnecessária e cara que o O Diário adquiriu ou a proposta original do O Metro de oferecer conteúdo de alta qualidade a custo zero. De certo, é impossível não notar a falta de empreendedorismo relacionada a essas empresas de comunicação.

Mas a política da economia vai muito além disso. Os jornais locais sempre foram sustentados, em grande parte por anunciantes e políticos (GOMES, 2020), mas o que fazer quando estes migram para os locais onde a maior concentração do público está?

Sim, grande parte dos moradores optam por outros meios, mesmo que seja por motivos não relacionados ao advento da internet (GOMES, 2020), mas isso não significa uma sentença de morte. Veja bem, O Diário, arcaico como fosse, ainda pautava a tv, que tem os meios para ser muito mais imediatista (SIMIÃO, 2020).

Ao final, é improvável listar todas as possíveis causas por trás do declínio do jornal impresso em Maringá. Entretanto, os comunicadores consultados parecem concordar em uma coisa, apesar da capacidade jornalística da cidade, a aceitação por um novo jornal ou o futuro do que ainda nos resta depende muito da estratégia de mercado e de comunicação com o público esperado.

REFERÊNCIAS

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MOSCO, Vincent. ECONOMIA POLÍTICA DO JORNALISMO. Teresina: Edufpi, 2016. p. 43

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CONHECENDO MARINGÁ. Programa De Pós-graduação em Genética e Melhoramento (PGM) Da Universidade Estadual De Maringá (UEM). Disponível em: . Acesso em: 1 de nov. de 2020.


[1] MARINGÁ. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ministério da Economia (comp.). IBGE Cidades > Maringá. 2017. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/maringa/panorama. Acesso em: 24 nov. 2020.3

 

Por Rebeca bego e Rafaela Pena


Publicado por: REBECA CHEVRA BEGO

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