Novo canal do Brasil Escola no
WhatsApp!
Siga agora!
Whatsapp

A Rádio via Internet: uma nova proposta de comunicação radiofônica*

Análise sobre o contexto das convergências digitais e midiáticas.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Resumo

A emissora de rádio, importante veículo de comunicação, encontra na internet um grandioso modo de transmissão que propõe novas experiências e novas estratégias de comunicação, especialmente entre locutor e o público, cada vez mais multimidiáticos. O objetivo deste trabalho é analisar o contexto das convergências digitais e midiáticas, como um período complexo, cheio de desafios, exigências e mas de muitas oportunidades. Neste contexto de oportunidades, a rádio, embora conservando a sua identidade sonora, interage com o sistema de convergência e, encontra nele, um aspecto positivo, isto é, a rádio permanecendo sendo um meio friendly, amigo, interage com as novas mídias, acompanhando as tendências inovadoras do seu público cada mais exigente e presente nas mais distintas localidades geográficas do mundo.

Palavras-chave: Convergência digital; Internet; Rádio; Interação.

Introdução

Desde os primórdios da sua invenção e experimento, em 1895, pelo italiano Gugliermo Marconi, a rádio, importante veículo de comunicação, caracteriza-se unicamente pelo uso do som que é transmitido à distância, através de ondas eletromagnéticas, por um transmissor de sinais sonoros e captados pelos aparelhos radiofônicos. Curiosamente, cem anos após sua invenção, em 1995, com o advento da tecnologia digital streaming², [1] quer dizer fluxo, a rádio ampliou a sua capacidade de transmissão e de recepção, gerando uma nova forma de interação e comunicação com os diversos atores presentes no campo radiofônico. Os primeiros softwares streaming, lançados no mercado com uma grande difusão, nos anos 90, foram: Real Audio Player do Progressivo Real Networt e Windows Media Player da Microsoft.

Sem sombra de dúvida, se formos analisar o DNA do meio de comunicação “rádio”, reforçaremos a tese do espanhol Mariano Cebrián Herreros de que “a rádio é puramente som, ou seja, a rádio conserva a sua característica primordial, o áudio, todavia não ignora o campo que se abre diante do das novas tecnologias digitais da comunicação.” (HERREROS, 2009: 25). A rádio, por conseguinte, vem interagindo e se adaptando à linguagem e ao novo processo da convergência multimídia sem perder a sua identidade – o áudio -, desencadeando novas modalidades e possibilidades neste fecundo cenário digital, onde a sua audiência se amplia e se diversificada.

A Convergência multimídia

O percurso reflexivo da rádio e sua interação com a linguagem multimídia, presente na convergência digital, toma como ponto de partida a própria compreensão do significado do termo “multimídia”. No campo tecnológico, segundo Manuel Area, o termo “multimídia” é compreendido como “um dispositivo ou um conjunto de dispositivos (software ou hardware) que permite integrar diversos modelos de informação, sejam eles: textual, gráfico, auditivo e icônico.” (AREA, 2001: 415). Catarina Cangià reforça que “a combinação das mídias tem como objetivo estimular os nossos sentidos, […] provocando muita sensação, estimulando os olhos, os ouvidos, as pontas dos dedos e, em especial, a cabeça.” (CANGIÀ, 2013: 41). Por outro lado, se considerarmos o termo “mídia”, como meio - não somente no sentido tecnológico, mas como uma forma de linguagem ou de se comunicar -, e “multimídia” como diversas formas de linguagem ou meios que utilizamos para nos comunicar, podemos propor que, a comunicação multimídia não é nova e a raiz do seu significado não estar no advento da convergência digital, e sim, na própria expressão corporal do ser humano, através dos seus sentidos e das várias formas de comunicação e interação com o mundo. 

Assim quando nos comunicamos ou nos relacionamos com os outros, nós, seres humanos, expressamo-nos através de duas áreas fundamentais da comunicação: a comunicação verbal (palavra, língua materna, outros idiomas, sons culturais, etc) e a comunicação não verbal (visão, audição, tato, olfato e paladar).  Neste sentido, a convergência midiática ou das mídias que se desenvolve a cada momento, é de certa forma, um reflexo, ou melhor, um prolongamento – tecnológico – da comunicação midiática humana, como afirma Marshall McLuhan: “Os meios, como extensões de nossos sentidos, estabelecem novos índices relacionais, não apenas entre os nossos sentidos particulares, como também entre si, na medida em que se inter-relacionam”. (MCLUHAN, 2007: 72). Esta analogia entre os sentidos humanos e as mídias digitais tem sido refletido também pelo pesquisador Tay Vaughan: “[...] A convergência digital das mídias tem sido uma experiência, de certa forma, da própria expressão comunicativa do ser humano há milhares de anos atrás. ” (VAUGHAN, 2014: 16).  Deste modo, quando nós nos comunicamos com o mundo, além das palavras, da entonação, da pronúncia e do ritmo da nossa conversação, nós nos expressamos e nos comunicamos por meio dos nossos gestos, movimentos, vestimentas, cores, posicionamentos, comportamentos, características etc.  A nossa comunicação é, por conseguinte, uma combinação de vários meios ou linguagens humanas.

Ao aplicarmos a linguagem “das multimídias humanas” ao campo tecnológico, percebemos que, no processo de convergência das mídias eletrônicas e telemáticas, existe uma tendência em aproximar ou identificá-las, cada vez mais, à comunicação humana.  Para David Henry, no caso da rádio, tradicionalmente conhecido como um meio de comunicação sonoro e friendly, ou seja, “amigo, companheiro”, “o processo de convergência incorporou novas linguagens e formas de comunicação, ampliando a relação de amizade com o seu público.” (HENRY, 2002: 169). Herreros (2009:24) aponta para os vários fatores que influenciaram e continuam influenciando tal convergência midiática da rádio: “[…] assistimos à convergência da rádio tradicional com as inovações de técnicas e de multimídia, com tendências à inovação de linguagens, dos conteúdos e do próprio modelo radiofônico”. Na linha desse pensamento, Herreros ainda pontua que, do ponto de vista político-econômico, o processo que estimula tal convergência das mídias é estimulado fortemente pelos fatores tecnológicos e empresariais,

A convergência tecnológica-comunicativa dá origem aos serviços das redes interativas e multimidiáticas. Até então, o telefone foi o grande aliado da rádio para a produção, conexões entre emissoras, correspondentes, emissão em cadeia e participação dos ouvintes. Na convergência empresarial, as alianças, as fusões e as compras de ações tendem a formar empresas de comunicação com diversificação de negócios por mídias separados, vinculados e convergentes. Esta convergência tende a criar poderes multinacionais. (HERREROS, 2009, p. 25-26).

Todavia, se fizermos um paralelo com o advento das novas mídias, perceberemos que, no desenrolar da convergência digital, a rádio não perdeu sua autonomia, mas, de certa forma, prosperou, integrando-se aos diversos formatos de mídias.  Segundo Heródoto Barbero e Paulo Rodolfo de Lima,

Se por um lado, a rádio sofre uma enorme transformação interna, por outro, ela absorve os processos técnicos e comunicativos gerais com intuito de obter um maior aproveitamento das mídias em favor do seu novo modo de comunicar-se. (BARBERO e DE LIMA, 2003, p. 34)

A rádio transforma e amplia a sua interação com o público, oferecendo-o, além do áudio, telefone, carta, novos serviços telemáticos, entre eles: e-mails, arquivos sonoros, imagens e novas plataformas digitais, etc.  Este ponto de vista é reforçado por José Luis Orihuela, ao afirma que “a evolução das tecnologias da informação mostra que a dinâmica operada entre velhos e novos mídias é de complementariedade e não de substituição. “ (ORIHUELA, In: Chasqui, n. 77, 2002: 11).

Características

No processo de convergência nas emissoras radiofônicas, a internet desempenha um papel fundamental.  A convergência digital dos meios de comunicação de massa para o formato multimídia é uma realidade que ganha espaço com as inovações midiáticas. A rádio digital, a web rádio e a transmissão via internet, ao se abrir às novas tecnologias e à internet, possibilitam a criação dos arquivos sonoros, textuais, fotográficos que são disponibilizados nas plataformas aos seus usuários, ampliando, assim, o seu canal de comunicação com os ouvintes. Esta ampliação trouxe para este importante veículo de comunicação, novos formatos, novas programações, novos modelos comunicativos, novas interações, novas formas de transmissões, em especial, a transmissão via internet, escrevendo então um novo capítulo na História do Rádio e da Era digital.  Assim, beneficiada pela convergência tecnológica das mídias, e em resposta às exigências desta nova Era, surge, em vista disso, a transmissão via rede digital das ondas eletromagnéticas – rádio via internet³ -[2] como um novo espaço radiofônico interativo que cresce velozmente.

Desta maneira, é uma realidade que não podemos ignorar, mas aprender e conhecer o potencial inovador, interativo e comunicativo desta poderosa ferramenta. É um tempo novo! Pois, plugada e transmitindo via internet, a rádio adquire novas qualidades e novas características que vão além de sua característica primordial, o sonoro. Desabrocham novas características, entre elas temos: a transmissão que ultrapassa às fronteiras territoriais de uma cidade, de um estado, de um país ou de um continente, a homepage, a personalização do fluxo sonoro, os serviços on line e on demand, a ampla audiência e os novos portfolios publicitários. Para Mellina Cavallaro,

A internet, além de possibilitar a fruição sonora, implementou a rádio com a parte visual que nunca teve [...] através da sua homepage, dos vídeos e dos áudios arquivados no site, da webcam instalada no interior do estúdio, das fotos dos programas e dos eventos, etc. (CAVALLARO, 1998, p. 64)

Uma das facilidades que a internet proporcionou à transmissão radiofônica foi que, diferentemente de uma transmissão feita por ondas eletromagnéticas que necessita de uma licença da Anatel para funcionar e transmitir sua programação, para transmitir sua programação em rede, como sustenta o italiano Enrico Menduni,

A emissora não necessita de uma licença, frequência ou autorização, evitando de certa forma as complicações burocráticas que muitas vezes limitam à atuação dos meios de comunicação. [...] E, além disso, é possível ouvir a emissora - ao vivo - em qualquer parte do mundo a baixo custo. (MENDUNI, 2006, p. 87)

É fascinante constatar o potencial da rede telemática no campo radiofônico: amplia sua audiência sem precisar aumentar sua frequência de radiodifusão. Assim, se num primeiro momento, a rádio transmitida via internet utilizava o streaming somente para reproduzir, na rede, a mesma programação que se transmitia pelas ondas hertzianas. Aos poucos, os produtores radiofônicos perceberam a oportunidade e a potencialidade que a página da emissora, na internet, proporcionava-lhes incorporar serviços paralelos de informação e ampliação de dados sobre a veiculação dos programas sonoros. De modo que, suas peculiaridades, além de possibilitar um novo ambiente comunicativo, despertam também os interesses do mercado publicitário e do público conectado.

As inovações tecnológicas provocaram discussões entre os estudiosos da mídia, entre eles, Mariano Herreros que, ao analisar a convergência digital e multimídia, acentua o debate sobre este novo modo de transmitir e fazer rádio.  Segundo esse autor,

A rádio via internet é uma outra coisa diferente à rádio. Não se trata da rádio via internet senão de uma informação sonora acompanhada de outros elementos paralelos escritos e visuais com capacidades de conexões, de navegação, de ruptura do sincronismo deixando o usuário livre para acessá-la quando quiser. (HERREROS, 2009, p. 21)

Esta visão, todavia, não impede a interação e a adesão dos ouvintes a este novo modo de transmissão, pois na opinião de Menduni, “os principais estudos do setor sobre a audiência confirmam que, os usuários on line nutrem muito mais expectativas em relação a rádio via internet do que em relação à transmissão do sinal via sinais radiofônicos [...].” (2006: 15).  Em geral, podemos afirmar que, a adoção do novo canal de transmissão superou a fase experimental. Já é uma realidade! Constata-se que, um grande número de emissoras de rádio estão presentes neste espaço interativo e oferecem diversos serviços ao seu público, como enfatiza o próprio Menduni, “é um público que se mostra cada vez mais exigente no consumo desses serviços. [...] a nova rádio terá que desenvolver uma grande e excelente quantidade de serviços se quiser que os internautas-ouvintes estejam conectados.” (2006: 13).

Porquanto, se o público é cada vez mais exigente, e demanda por uma programação multimídia, Herreros nos lembra que “as rádios necessitam, além da parte técnica, preparar e capacitar os seus profissionais para esta nova fase radiofônica.” (2009: 67), a qual gera outras modalidades comunicativas sonoras, especialmente as orientadas à interatividade, às correlações sonoras e à busca de dados de informações vinculadas ou não à emissão simultânea dos documentos sonoros.

Neste novo campo de comunicação, a criatividade dos profissionais radiofônicos deverá ser cada vez mais dinâmica e inovadora acompanhando concomitantemente os processos sociais e assumindo o papel de ser um elemento participante e importante neste processo. Para Hugo Vela (VELA, in: Intercom, 2002), esses profissionais deverão, logo, ser capacitados para atender a demanda do público que se encontra na sua área de abrangência territorial e daquele que se encontra em regiões distantes. Entre as principais características deste novo formato radiofônico -  dinâmico e competitivo - que interage com seus diversos públicos e o novo mercado publicitário e musical, destacam-se: a personalização do fluxo sonoro, homepage, serviços, novo perfil da audiência ou nova comunidade, mobilidade, publicidade e conexão.

Em relação à personalização do fluxo sonoro, é pertinente recordar que, normalmente uma transmissão radiofônica convencional é acompanhada pelos ouvintes que compartilham - em tempo único, sincrónico - os conteúdos sonoros recebidos pelos aparelhos de rádio, tornando-a um instrumento de socialização, ou seja, ao mesmo tempo que eu ouço um determinado programa, sou consciente de que outros ouvintes estão sintonizados no mesmo programa. Metaforicamente, é como se estivéssemos conectados com os outros ouvintes por meio de um fio invisível, o qual nos faz sentir em sintonia uns com os outros. A rádio que nos acompanha - no dia a dia - nos faz companhia nos momentos de solidão e nos proporciona uma sonoridade que preenche o vazio dos nossos espaços domésticos, de trabalhos etc., agregando-nos a uma comunidade sonora da qual nos sentimos parte, quando estamos “em sintonia”.

Não obstante isso, a dimensão social que a rádio via internet vem nos proporcionando, cria uma nova percepção do fluxo sonoro, possibilitando assim personalizar a programação a partir das preferências musicais de cada ouvinte, que vai desde a interação social na transmissão ao vivo até os áudios sonoros que ficam arquivados no homepage da própria emissora, e que ficam à disposição dos seus usuários. A internet, portanto, possibilita a personalização do fluxo sonoro.

A rádio via internet, um novo modo de interação

As modalidades dos serviços radiofônicos, frutos desta convergência digital, têm como finalidade fundamental viabilizar aos “web ouvintes” e aos “radiouvintes” uma possibilidade maior de receber ou escolher à informação sonora em modalidades diversas ou interagir com os locutores ou diretores dos vários programas ao vivo ou disponíveis em arquivos de áudio no site da emissora de rádio. Esta dinâmica de transmissão, leva-nos a refletir sobre um novo modelo radiofônico que se ergue com o advento da interatividade na rede telemática. Segundo Menduni (2006:16) “[...] O modelo broadcasting, caracterizado por uma transmissão um-a-muitos, divide espaço com o modelo multicasting, isto é, o modelo interpessoal, transmissão um-a-um e muitos-a-muitos.”. Não podemos ignorar que, a interatividade na rádio, que desencadeou novas formas de linguagem, teve início com o uso do telefone, por parte dos ouvintes, nas participações ao vivo, por exemplo: através dos pedidos de músicas ou dos seus “alôs”.

A partir dessa reflexão inicial, perguntamo-nos: a mudança no modelo comunicativo radiofônico é fruto exclusivamente das novas tecnologias, da convergência digital das mídias ou envolve outros fatores? Segundo Manuel CASTELLS, fazendo alusão à dialética que se desenvolve entre a sociedade e a inovação tecnológica,

A mudança, que acontece no modelo de comunicação, não pode ser considerada simplesmente como um determinismo tecnológico ou social, mas é consequência do processo do descobrimento cientifico, de modo que o resultado final, desta dialética, depende de um complexo modelo de interação. [...] a tecnologia não determina a sociedade, plasma. Tampouco a sociedade determina a inovação tecnológica, a utiliza.” (CASTELLS, 2003, p.31-32).

Castells enxerga o potencial da internet como uma plataforma intencionada a influenciar o modelo comunicativo. Nesta mesma linha de raciocínio, Dominique Wolton, influenciado pela união dos fatores de inovação tecnológica, dimensões culturais e sociais, declara que “a internet viabiliza um novo modelo de comunicação que se conecta a outros modelos de comunicação tradicionais, oferecendo novas propostas de interação com o público.”(WOLTON, 2000: 205).

Menduni pontua que, “[...] dentro da visão deste novo modelo radiofônico de comunicação ponto-a-ponto interativo, isto é, narrowcasting[3] (pessoal), cada ouvinte tem a possibilidade de personalizar o seu fluxo sonoro.” (2006: 227). Neste modelo de comunicação, segundo Herreros,

O ouvinte adquire um novo papel - como emissor e pesquisador-, ou seja, a internet modifica a nossa percepção da realidade e a nossa interação com o tempo e o espaço radiofônico, criando um espaço sem fronteiras, sem limites, onde tudo flui em qualquer direção. (HERREROS, 2009, p. 65).

Assim, os conceitos de tempo e espaço, neste modelo, são compreendidos não só no sentido físico, mas enquanto fluxo, isto é, essas duas categorias passam a ser entendidas como fluxo sonoro. Este fluxo pode ser sincrônico ou assincrônico, isto é, através dos inúmeros serviços ofertados pelos sites das emissoras radiofônicas, os web ouvintes podem acompanhar um programa ou um serviço em tempo real – sincrônico – ou podem seguir um programa on demand – assincrônico – na referida página web. Como visto, é uma mudança no modelo de comunicação, mas também é uma mudança de mentalidade, e, possivelmente, nas palavras de Herreros, “ é uma modificação radical ao conceito de radiodifusão, passando a ser uma radiocomunicação aberta à audiência” (2009: 119).

De certa forma, a nova capacidade de influenciar e ser influenciado vem aumentando a interatividade. David Berlo, ressalta que “[...] onde os conceitos de fonte e receptor, como entidades distintas, perdem a significação e o conceito de processo aparece nítido.” (BERLO, 1999: 36). A chegada dos novos serviços, à dinâmica do novo modo de comunicação radiofônica, influencia o linguajar dos locutores e a forma desses produzirem os programas. Neste cenário de novas experiencias que se abre, destaca José Manuel Moran, “os locutores e os técnicos se esforçam para fazer bem, para comunicar melhor suas ideias diante dos seus diversos públicos. ” (MORAN, 2000: 86). É notório que, a emissora radiofônica, neste cenário que se delineia, busca em ser bem-sucedida na internet, tendo em vista que o acesso à internet cresce a cada dia. Os dados da Pesquisa brasileira de mídia (2015)[4], realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, mostram que 65% dos jovens com até 25 anos acessam internet todos os dias.

Mas, esta preocupação não está focada simplesmente nas questões de tecnologia e técnica – afirmaríamos de certa forma um determinismo tecnológico -, mas na competência dos seus profissionais e das suas ofertas de serviços.

Uma janela que se abre para o mundo

Ainda como legado da internet e da convergência digital das mídias, a possibilidade de estabelecer interações e conexões com as emissoras de rádio, localizadas em áreas próximas ou distantes, segundo Herreros, “[...] abriu uma nova fronteira de inter-relações idiomáticas entre os interlocutores de uma língua e entre os estudantes da mesma ou de outras línguas” (2009: 239). A proposta de descobrir, conhecer, estudar, praticar e solidificar o estudo de um ou mais idiomas, através das ondas sonoras, é uma experiência cultural e de cidadania. A internet abre uma “janela ao mundo” e amplia os seus sons e as suas vozes, democratizando assim, o contato com às mais diversas culturas.

Na dinâmica da interação entre as culturas e lugares, destacam-se os estudiosos de idiomas que enxergam, nesta transmissão, um recurso precioso para ter e estar - em contato direto -  com o idioma de estudo e, principalmente, em contato com a linguagem coloquial que a rádio na net os possibilita. Sendo assim, os interessados em aprender e ter contato com uma língua estrangeiro, encontram nos aplicativos das rádios via internet, entre eles, Radiosnet, um contato direto com a língua estrangeira diretamente, despertando e estimulando o conhecimento de novas culturas, ao mesmo tempo, contribuindo para a capacitação profissional e abertura de novos horizontes de trabalhos. É simples, fácil e barato!

A rádio por ser um canal de comunicação friendly, isto é, um “companheiro”, “amigo”, nos diversos momentos e situações do dia a dia, transmite sua mensagem em linguagem sonora, coloquial e simples. O rádio é, por excelência, um meio de comunicação móvel que está presente nos lares, nos ambientes de trabalho, nos automóveis, nos transportes públicos, nas praças, nas salas de ginásticas, etc. É um meio que acompanha a nossa rotina e é de fácil manutenção. Não é necessário estarmos parados para ouvir um programa de rádio, mas podemos ouvi-la livremente ou leva-la conosco nos aparelhos de celular!

Não obstante o alcance e a interação, os novos serviços prometem muito mais diversidades, envolvendo tanto o público web quanto o público tradicional. Os principais serviços da net, que a rádio incorporou para dinamizar e organizar à sua estrutura de programação e omissão, são: site, transmissão – em tempo real-  do áudio; chat, email, arquivos e banco de dados, relato histórico da emissora, dos seus programas e da sua equipe, webcam, áudio-on-demand, web rádio e motor de pesquisa. É inovador e desafiador usufruir e perseverar com todos esses serviços. Para Angelo Maria Saporiti  “perceber a surpreendente arquitetura que assume as palavras, os sons, os ritmos, as vozes e o rumores difusos pelo aparelho radiofônico” (SAPORITI, 2000: 104).

O advento da “nova rádio”, graças a convergência digital e a internet, convida-nos a uma nova postura, onde nas palavras de Kuhn,  “o ouvinte e o web ouvinte podem manter os olhos bem abertos, pois agora no portal das rádios há textos, fotos e animações para serem visualizadas”  (KUHN, in: Intercom, 2002: 4). É um portal que agrupa e visualiza os serviços que a emissora oferece. É uma vitrine, o seu menu online.

Assim, ao utilizar os serviços de e-mail, chat e whatsapp, os condutores radiofônicos e os ouvintes têm uma possibilidade maior de interação, troca de informação e participação durante e após o programa. Os modos de relação entre os locutores e os seus ouvintes são amplificados. O locutor e a própria emissora podem, por exemplo, utilizar estes serviços para comunicar ou fazer um convite para uma transmissão ou evento especial e os ouvintes podem expressar suas ideias sobre um tema proposto, uma música, um fato ou simplesmente fazer um pedido de música ou saudar alguém.

Outros serviços que a convergência suscitou às emissoras foram os serviços publicitários, ou seja, a rádio além dos seus spots comerciais sonoros tradicionais pode praticar o comércio com spots visuais. Com a criação da página web e da transmissão na net, as agências publicitárias radiofônicas desbravam novos horizontes e campos de atuação tanto local quanto global. A potencialidade e a oportunidade que a convergência das mídias trouxe para a rádio, afirma Herreros, “ [...] possibilita-lhe divulgar sua publicidade para um público local, nacional e internacional, não importa em que formato ou em que idioma.” (2009: 209). A rádio é, então, desafiada a desenvolver novas estratégias de mercado.

As emissoras podem assim explorar as novas estratégias de publicidades: além dos spots ou jingles sonoros, as emissoras podem visualizá-las nos seus sites, através dos banners, assim, os usuários podem obter mais informações sobre os produtos, inclusive dando a possibilidade dos usuários solicitá-los imediatamente. Não resta dúvida que o advento da aliança rádio e internet tem colocado as empresas radiofônicas diante de uma nova e atraente alternativa de publicidade.  Levando em consideração que a audiência dos programas ultrapassa os limites territoriais e locais, é preciso planejar e produzir peças publicitárias de forma que atinjam um maior número possível de ouvintes, potencialmente consumidores desses produtos.  As rádios locais, por exemplo, podem vender produtos e serviços em todo território nacional e, até mesmo, para os diversos países do mundo. É um novo mercado. É uma nova via para as publicidades radiofônicas.

Em vista disso, a rede mundial de computadores vem revolucionando a grande e a pequena emissora radiofônica, tornando-a presente em todo o mundo. A nova tecnologia, de certa maneira, iguala todas as emissoras, desde que estejam tecnicamente preparadas, não importa onde estejam. Nas palavras de Dario Viganò, “É uma nova primavera radiofônica [...].” (VIGANÒ, In: SAPORITI, 2002: 5), que a vê protagonista do novo areópago da comunicação streaming via internet. É uma nova rádio que ultrapassa as fronteiras nacionais e se globaliza.  É um mundo novo que se abre diante do internauta-ouvinte, sem barreiras e sem possibilidade de censuras.

Um outro dado de serviço que amplia e torna viável a rádio via internet, especialmente onde a população tem pouco acesso à rede, é a formação de cadeia de rádios, isto é, a interligação de várias emissoras radiofônicas. O objetivo dessa cadeia de rádio é formar uma comunidade de emissoras que possibilite a cobertura do sinal e a difusão dos programas das diversas rádios, de modo que, estas possam chegar a lugares distantes. Com a internet, este serviço se torna menos burocrático e demanda à emissora poucos recursos.

A expansão territorial da transmissão radiofônica, fruto da convergência e da internet, aumenta e diversifica o perfil da sua audiência e da comunidade em sintonia. A rádio via internet expande-se pelo globo terrestre e alarga o seu público de ouvintes em âmbito local, regional, nacional e internacional. Além de ouvintes que sintonizam a emissora através das ondas eletromagnéticas, temos um outro público que sintoniza através da internet. Destacam-se, primeiramente, os imigrantes que se encontram distantes de seus países, de suas localidades de origem e buscam na transmissão online uma forma de estabelecer uma ponte afetiva e cultural, entre eles e às pátrias, estreitando, desta forma, como nos afirma Kuhn “os vínculos com a cultura e com as línguas que deixaram para traz por falta de pessoas com quem pudessem compartilhá-las.” ( KUHN, in: Intercom: 6).

A convergência digital das mídias e a internet - na transmissão radiofônica – constitui uma nova fase na história e no modo de fazer rádio. “[...] Transmitir através da internet, significa para as emissoras expandir as próprias possibilidades expressivas, ampliar a própria audiência e reforça o contato com os ouvintes” (2002: 87).  A internet, entretanto, democratizou e ampliou o acesso das pessoas às mais diversas emissoras do mundo. Antes o acesso as rádios à longa distância eram possíveis – mas de modo limitado - pelos rádios amadores e pelas transmissões, em ondas curtas, de algumas emissoras de todo o mundo.

Considerações finais

Portanto, a realidade digital da convergência das mídias, presente na rádio, continua em evolução! O som emitido pela emissora radiofônica, acompanhado de textos e imagens, cria uma nova linguagem para o rádio. A tendência é adotar cada vez mais a rede telemática como um instrumento eficaz de comunicação interativa com a comunidade de referência, para os que estão longes da terra natal, com novas culturas e línguas. Desperta uma proposta de construção de uma comunidade sem fronteiras, onde a interação social da comunicação radiofônica ganha um novo dinamismo.

Referências

BARBERO, Heródoto e DE LIMA, Paulo Rodolfo. Manual de Radiojornalismo. Produção, Ética e Internet, Rio de Janeiro: Editora Campus, 2ª edição, 2003.

BERLO, David K. O processo da comunicação. Introdução à Teoria e a Prática. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. SECRETÁRIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL. Pesquisa brasileira de mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira. – Brasília: Secom, 2014. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/documents/10883/1360136/Anexo+Adicional+IV+-+Pesqui-sa+SECOM+mídia.pdf/42cb6d27-b497 -4742-882f-2379e444de56. Acesso em: 14 set. 2017.

CASTELLS, Manuel. La era de la Información, Economia, Sociedad y Cultura. La Sociedad Red. Madrid: Alianza Editorial, 2003.

CAVALLARO, Mellina e al..  La Radio. Milano: Mondadori, 1998..

HENRY, David. La radio nell´era globale, Roma:Editori Riuniti, 2002.

HERREROS, Mariano Cebrián. La radio em la convergencia multimedia, Barcelona:Editora Gedisa, 2002.

KUHN, Fernando. O rádio na internet: rumo à quarta mídia. Anais do VIII Intercom, 2002. Disponível em: < http://www.intercom.org.br/papers/viii-sipec/gt01/31%20-%20Fernando%20Kuhn%20-%20trabalho%20final.htm >. Acesso em 1 setembro 2017.

MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do Homem (understanding media). Tradução Décio Pignatari. Cultrix: São Paulo, 2007.

MENDUNI, Enrico. Il linguaggio dela radio e dela televisione. Teorie e tecniche. Roma: Laterza, 2006.

MORAN, José Manuel.  Mudanças na comunicação pessoal. Gerenciamento integrado da comunicação pessoal, social e tecnológica. São Paulo: Paulinas, 2000.

ORIHUETA, José Luis. Internet: nuevos paradigmas de la comunicacion. In: “Chasqui” (2002) 77.

VIGANÒ, Dario. Prefácio. In: SAPORITI, Angelo Maria. Amiga radio: Una voce nell´etere. Milano: Paoline, 2000.

VAUGHAN, Tay (Ed.) Multimedia: making in work.  9ª edição, California: Osborne/McGraw-Hill, 2014.

VELA, Hugo. O futuro do rádio ou o rádio do futuro. Anais do VIII Intercom, 2002. Disponível em: http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/892195ee3c146c319791a 176de0c080 4.PDF. Acesso em: 27 setembro de 2017.

WOLTON, Dominique. Internet Y después?,  Una teoria crítica de los nuevos médios de comunicación. Barcelo; Gedisa, 2000.

2 Antes da criação do streaming, para se ouvir um arquivo sonoro era preciso fazer um download do arquivo e em seguida descomprimi-lo. Este mecanismo além de ocupar muita memória no HD do computador, devido ao armazenamento, necessitava muito tempo de espera. Já o mecanismo do streaming segue uma outra lógica, isto é, o documento sonoro é descomprimido em tempo real e o áudio é imediatamente fluível, sem necessidade de armazená-lo no HD. Este mecanismo possibilitou a Internet um canal sonoro e multimídia.

³ Pela expressão rádio via internet, compreende-se, neste texto, uma rádio que transmite ao vivo e simultaneamente sua programação via ondas eletromagnéticas e via internet.

[3] Significa um modelo de comunicação personalizado.

[4] Disponível em: http://www.cultura.gov.br/documents/ 10883/1360136/Anexo+Adicional+IV+-+Pesquisa+SECOM+mídia.pdf/42cb6d27-b497 -4742-882f-2379e444de56. Acesso set. 2017.


Publicado por: Héliton Marconi Dantas de Medeiros

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.