Trem-bala Rio - São Paulo: um sonho impossível?
O trem-bala ligando Rio de Janeiro e São Paulo foi idealizado para ser o símbolo do crescimento econômico brasileiro.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Incluído no Programa de Aceleração do Crescimento em 2008, o trem-bala ligando Rio de Janeiro e São Paulo foi idealizado para ser o símbolo do crescimento econômico brasileiro. Planejado desde os Governos Militares, com o General e Ministro Dirceu Araújo Nogueira, o projeto se tornou prioridade Federal após o anúncio de que o Rio de Janeiro sediaria os Jogos Olímpicos de 2016.
Muito disseminado pela Europa e Ásia, o Trem de Alta Velocidade (TAV) visava ser a maior vitrine brasileira nos grandes eventos que ocorreriam. Em um país com dimensões continentais como o Brasil, conectar 40 milhões de pessoas por trens de alta velocidade se mostrava uma ótima ideia.
Porém, embora inicialmente previsto para entrar em operação para a Copa do Mundo de 2014, o projeto não saiu do papel. Erros no dimensionamento, demanda superestimada, incerteza econômica-financeira e complexidade técnica por fim engavetaram o projeto.
A história do Trem-Bala
Um trem de alta velocidade (TAV), informalmente conhecido como trem-bala, é um comboio para transporte público que se locomove em velocidades superiores à 210 km/h. Em sua maioria, os TAVs alcançam uma velocidade de cruzeiro de 250 à 300 km/h, podendo chegar à 320 km/h.
O primeiro modelo foi desenvolvido no Japão, ligando as cidades de Tóquio e Osaka, a tempo dos Jogos Olímpicos de Tóquio de 1964. Devido a elevada densidade populacional do país e a saturação dos transportes construídos na época, o meio se popularizou rapidamente, chegando à 30 milhões de passageiros anuais. Com o sucesso da linha e devido a impossibilidade de conectar as cidades japonesas por estradas pela superfície montanhosa do país, o governo japonês investiu na expansão da sua malha ferroviária de alta velocidade.
Com a experiência bem sucedida do Japão, o modelo se popularizou. De acordo com dados da International Union of Railways (UIC), organização internacional de transporte ferroviário, atualmente existem 46 mil quilômetros de trens de alta velocidade. Apenas a China possui 31 mil quilômetros, seguido pelo Japão com três mil. Os únicos países fora do eixo Ásia-Europa que possuem TAV são Marrocos e Estados Unidos da América.
Aspirando conectar progressivamente maiores distâncias em menores tempos, os trens da alta velocidade ganharam mais tecnologia. Em março de 2014 foi inaugurado pela China o primeiro trem maglev (Magnetic levitation transport) do mundo, conectando Xangai ao Aeroporto Internacional de Pudong. A linha possui 31 quilômetros, os quais são percorridos em menos de oito minutos, possuindo uma velocidade máxima de 431 km/h. Esta velocidade é alcançada pois o trem não possui contato com o solo, levitando a 7 centímetros deste.
Para importar a tecnologia, a China pagou US$ 1 bilhão à Alemanha. O Brasil também detém essa tecnologia, utilizando supercondutores para possibilitar a levitação magnética. O Maglev Cobra foi desenvolvido pelo Laboratório de Aplicações de Supercondutores (Lasup) do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), e embora inovador não obteve financiamento para sua implementação nas cidades.
O “Trem-Bala” Rio-São Paulo
Tendo como objetivo entrar nesse seleto grupo de países que possuem Trens de Alta Velocidade, o Brasil decidiu realizar a primeira linha do gênero. Aproveitando o crescimento econômico brasileiro, os grandes eventos que o país sediaria e a alta demanda por transporte, o investimento demonstrava ser viável.
A tentativa de conectar as duas maiores cidades do país por trens datam desde os anos 70, nos governos militares. Foram organizadas visitas ao Japão, que possue o primeiro TAV do mundo. Porém, devido a deterioração das contas públicas o projeto não teve força. Na décadas de 90 novas tentativas foram realizadas, com o apoio do Ministério dos Transportes em parceria com o banco alemão de fomento KfW. Nestas pesquisas ficou comprovado que conectar São Paulo e Rio de Janeiro por trens de alta velocidade, que juntos detêm mais de 40% do PIB nacional, era a tecnologia mais adequada para o corredor.
“Nosso projeto é que esteja integralmente pronto em 2014 ou pelo menos o trecho entre Rio e São Paulo” - Dilma Rouseff, 2009
Em 2005, a estatal Valec - Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., contratou a italiana Italplan para realizar o projeto básico da obra. Empresa coreanas, japonesas e francesas começaram a se interessar pelo projeto. Em 2007, o Tribunal de Contas da União (TCU) aprovou (com restrições) a proposta de conectar Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas, e a Valec e o Ministério dos Transportes começaram os trabalhos de licitação.
Com um custo inicialmente previsto pelo governo de R$ 33 bilhões, sendo em sua maioria financiada pela iniciativa privada, o edital previa que a licitação ocorreria em dezembro de 2010. Porém, com o risco de não serem realizadas propostas, a licitação foi adiada para abril de 2011 e depois novamente adiada para julho de 2011. Quando finalmente realizada, nenhuma empresa ou consórcio entregou proposta, obrigando o governo a mudar a estratégia. A licitação então foi dividida em duas partes: uma para operar o trecho e outra para construí-lo.
O novo leilão foi marcado para setembro de 2013. Porém, como havia apenas um grupo interessado e com os problemas econômicos nacionais começando a surgir, o leilão foi adiado sem nova previsão. Ademais, as empresas interessadas defendiam a hipótese que o projeto custaria 50% a mais que o planejado pelo governo, em torno de R$ 50 bilhões, devido a necessidade de 140 km de trechos subterrâneos. Paralelamente, foram apontados erros no projeto de demanda, que previam que a operação teria 40 milhões de passageiros anuais. A demanda superestimada inviabilizava o preço das passagens, que previa ser de R$ 200 na linha Rio de Janeiro - São Paulo para a classe econômica, efetuada em 93 minutos, de acordo com dados da EPL.
Durante o governo Temer, foi defendido que para viabilizar a linha seria concedido a exploração imobiliária nos arredores das estações de embarque e desembarque. Dessa forma, seria aproveitada a valorização imobiliária e construído condomínios de alto padrão, pois o deslocamento diário aos grandes centros urbanos seria viável. Entretanto, nenhum passo concreto foi realizado.
Trens Regionais
Com o fracasso do trem bala Rio-São Paulo, as atenções se viraram para os Trens Regionais. Operando com velocidades médias de 150 à 200 km/h, o modelo é mais atrativo comercialmente. A fim de melhorar sua viabilidade, a proposta é usar a área paralela ao desenho dos trilhos de carga que já existem, ou até mesmo compartilhá-los.
Com 135 km de trilhos e custo estimado de R$ 20 bilhões, o primeiro lote do Trem InterCidade utilizará uma parceria público-privada (PPP), com o governo e a iniciativa privada financiando o empreendimento
Para lidar com o futuro próximo de rodovias saturadas, o Estado de São Paulo tem hoje o projeto mais avançado. Com o “Trem InterCidade”, o governo planeja conectar a capital à cidade de Americana, passando por Campinas e Jundiaí, cidades muito relevantes economicamente. Futuramente o governo planeja expandir o modal até o Porto de Santos, além de interligar o Vale da Paraíba Paulista à Sorocaba, conectando dessa forma as quatro maiores regiões metropolitanas do estado com seus 30 milhões de habitantes.
Outro projeto visado é a conexão Brasília-Goiânia, conhecido como Expresso Pequi. Tendo como objetivo atender a demanda de transporte regional de passageiros e cargas, o percurso tem 200 km ao custo de R$ 9 bilhões. Neste projeto o modelo também seria de parceria público-privada, sendo a maior parte financiada pela iniciativa privada. Entretanto, a falta de vontade política e as dificuldades técnicas do projeto contribuíram para que emperrasse.
Com a volta do crescimento e retomada dos investimentos, espera-se que finalmente o transporte ferroviário ganhe força no país. Por ser mais econômico, possuir vinte vezes maior capacidade de transporte frente aos ônibus e poluir muito menos, a transformação brasileira depende da transformação ferroviária.
Com a conexão de cidades importantes, o trem permitirá desafogar as combalidas rodovias e valorizará o desenvolvimento de pólos regionais. Dessa forma, melhoraria a distribuição da população e da produção, atacando o grave problema das aglomerações urbanas, aumentando a qualidade de vida da população.
Referências Bibliográficas
"Trem-bala Rio-São Paulo deve começar a operar comercialmente em 2020". Gazeta do Povo, 2012. Diponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/trem-bala-rio-sao-paulo-deve-comecar-a-operar-comercialmente-em-2020-2rmsbxh752b9v05o5ghpaubf2/
‘Sucesso do trem-bala’ se deve a Dilma, diz Lula em cerimônia. G1, 2010. Diponível em: http://g1.globo.com/politica/noticia/2010/07/sucesso-do-trem-bala-se-deve-dilma-diz-lula-em-cerimonia.html
Trem-bala brasileiro deve iniciar operações até 2018. R7, 2012. Diponível em: http://noticias.r7.com/economia/noticias/brasil-quer-ter-seu-primeiro-trem-de-alta-velocidade-operando-ate-2018-20120824.html?question=0
Brasil busca opções para trem-bala; veja modelos. Terra, 2012. Disponível em: http://economia.terra.com.br/carros-motos/brasil-busca-opcoes-para-trem-bala-veja-modelos,f7ee6037a18da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html
Governo adia leilão do trem-bala para abril de 2011. Folha, 2010. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2010/11/836779-governo-adia-leilao-do-trem-bala-para-abril-de-2011.shtml
Trem-bala atravessará São Paulo por 16 km de túneis. Folha, 2009. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2009/07/593651-trem-bala-atravessara-sao-paulo-por-16-km-de-tuneis.shtml
Trem Intercidades terá financiamento do BNDES. Metro CPTM, 2017. Disponível em: https://www.metrocptm.com.br/trem-intercidades-tera-financiamento-bndes/
Projeto de trem Brasília-Goiânia prevê viagem em 95 minutos por R$ 60. G1, 2016. Disponível em: http://g1.globo.com/distrito-federal/noticia/2016/06/projeto-de-trem-brasilia-goiania-preve-viagem-em-95-minutos-por-r-60.html
Publicado por: MATHEUS GONÇALVES COSTA
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