Rolezinho e Inserção
Clique e saiba mais sobre os ideais que estão por trás dos rolezinhos.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Um preconceito muito comum no Brasil, encontrável em todos os extratos sociais, é o de que apenas as pessoas ricas são inteligentes. Todas as demais, ao permanecerem pobres (ou até mesmo remediadas), são inferiores. A questão tem muitos aspectos - a maior parte deles com profundas raízes na forma como são educados os brasileiros, na escola e fora dela, que relaciona o valor pessoal com a fortuna material, e pouco ou nada com a riqueza intelectual ou espiritual.
Crianças de extrato social e econômico mais alto têm todas as condições de acesso às benesses tecnológicas, ao que de melhor existe para garantir saúde, bom sistema de educação formal, segurança e beleza. Podem comprar aquilo que está na moda, são bem recebidas, e o padrão de comportamento de sua classe determina o dos demais.
Evidentemente, aquelas oriundas das classes menos afortunadas tentarão imitá-las, ou, não sendo possível, pelo menos irritá-las. Cansadas de usar um simulacro das roupas de marca, criam hoje suas personagens identificadoras, distinguem-se dos “riquinhos” adotando outro vestuário, outra atitude, outros heróis.
Impõem-se por procedimentos que em nada lembram os tradicionais: querem, nas suas próprias palavras, “causar” - ou seja, mostrar-se diferente, chamar a atenção, existir em suma. E se esta forma de conduta não é aquela que adultos sabem controlar, o conflito se instala.
Uma das manifestações deste descompasso é agora constituída pelos “rolezinhos”, encontros de adolescentes de periferia em grandes centros de compras, em que correm, gritam, assustam os demais, e durante os quais alguns (talvez até externos ao grupo inicial) aproveitam para roubar ou provocar danos patrimoniais.
Teóricos dividem-se entre uma ala que defende o direito de ir e vir, à inclusão e impossibilidade de separação (quais os critérios?) entre os que podem ou não entrar - e outra, que advoga a necessidade impedir o ingresso, de coibir abusos – os quais frequentemente acontecem – num espaço que é privado, embora também público.
Socialmente educados para confundir vitória com o sucesso financeiro, esperteza com inteligência (nenhuma é melhor ou pior, são apenas diferentes), temos dificuldade em aceitar que alguém possa ser feliz sem as roupas da moda, as viagens “luxuosas” e as demais insígnias de status social, e assim entendemos perfeitamente estes jovens.
Por outro lado, sabemos que se trata de um problema crônico, resultante de mazela social e ausência de um bom sistema educacional, que permita aspirar a outros valores, ter melhores modelos, direcionar a ambição para as conquistas do intelecto. A solução não virá no curto prazo, embora não possamos permitir que o incêndio destrua tudo antes que esta se estabeleça.
Nenhuma escola, sozinha, poderá interferir neste estado de coisas. Instituições de ensino são também produtos sociais, estão inseridas em comunidades e refletem seus valores. A alteração desta realidade é complexa, porém, no lugar da inovação, do acesso ao saber, é urgente tal reflexão, para que alunos vindos das camadas mais desfavorecidas não continuem sofrendo mais uma forma de exclusão.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.
Publicado por: Central Press
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.