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OS DESAFIOS DA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NAS COMUNIDADES RURAIS DE BREJO SANTO – CE DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19

Este artigo analisa os impactos da transformação digital durante a crise sanitária sobre as comunidades rurais do município de Brejo Santo, Ceará, a fim de identificar as principais barreiras de acesso aos serviços públicos digitais e avaliar suas consequências para o exercício da cidadania na região.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

RESUMO

Este artigo analisa os impactos da transformação digital durante a crise sanitária sobre as comunidades rurais do município de Brejo Santo, Ceará. A pesquisa desempenha uma abordagem qualitativa e descritiva, utilizando revisão bibliográfica, análise de dados institucionais e triangulação metodológica. O objetivo é identificar as principais barreiras de acesso aos serviços públicos digitais e avaliar as consequências dessas barreiras para o exercício da cidadania na região. A pandemia de Covid-19 acelerou a transformação digital dos serviços públicos no Brasil, tornando as plataformas digitais a principal via de acesso a direitos. Contudo, essa digitalização intensiva evidenciou e aprofundou desigualdades socioterritoriais. Os resultados indicam que a "infoexclusão" — caracterizada pelo déficit de infraestrutura de conexão, carência de equipamentos adequados, baixa renda e limitada formação digital — restringiu severamente o acesso das populações rurais a políticas essenciais, como o Auxílio Emergencial e o agendamento de vacinas. Conclui-se que a digitalização dos serviços, quando desacompanhada de políticas efetivas de inclusão, atua como um fator de agravamento da vulnerabilidade e da exclusão social no campo, limitando o exercício pleno da cidadania.

PALAVRAS-CHAVE: Transformação Digital; Infoexclusão; Comunidades Rurais; Brejo Santo – CE; Pandemia de Covid-19; Políticas Públicas.

INTRODUÇÃO

A transformação digital dos serviços públicos brasileiros intensificou-se nas últimas décadas, com ênfase maior durante a pandemia de Covid-19, quando as plataformas digitais passaram a ser a principal via de acesso a políticas públicas, informações e direitos essenciais (Bussinger & De Mendonça, 2022). Apesar do potencial de democratização presente em tais processos, a experiência das comunidades rurais do município de Brejo Santo, no interior do Ceará, demonstra a persistência de desafios estruturais e o aprofundamento das desigualdades socioterritoriais diante da digitalização acelerada.

A chamada infoexclusão, caracterizada pela exclusão digital e pelo acesso restrito às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s), tornou-se um problema marcante para a população rural, acentuando distâncias econômicas, educacionais e territoriais (APDSI, 2025; Castells, 2016). As populações dessas comunidades enfrentam déficit de infraestrutura, carência de equipamentos, baixa renda e limitada formação digital, o que compromete a efetiva participação nas oportunidades criadas pela transformação digital. Segundo Cetic.br (2020), menos de um terço dos domicílios rurais brasileiros contavam com acesso satisfatório à internet no início da pandemia.

Diante deste cenário, o problema central que orienta este estudo é: como a digitalização dos serviços públicos, impulsionada pela crise sanitária, impactou o acesso às políticas públicas e o exercício da cidadania nas comunidades rurais de Brejo Santo – CE? A relevância do tema reside na necessidade de compreender e superar a infoexclusão, subsidiando discussões e políticas que possam construir um ambiente digital mais democrático e inclusivo especialmente para as populações do campo.

O objetivo geral deste trabalho é analisar os impactos da transformação digital durante a pandemia de Covid-19 sobre as comunidades rurais de Brejo Santo – CE. Os objetivos específicos concentram-se em: identificar as principais barreiras de acesso aos serviços públicos digitais nessa região rural; avaliar as consequências dessas barreiras para o exercício da cidadania; e discutir estratégias para promoção da inclusão digital.

DESENVOLVIMENTO

Procedimentos Metodológicos

Este estudo adota abordagem qualitativa, ancorada no método hipotético-dedutivo, o que permite elaborar hipóteses a partir de observações sobre as comunidades rurais de Brejo Santo – CE e confrontá-las com o arcabouço teórico e dados empíricos disponíveis (Gil, 2017; Lakatos & Marconi, 2017). O caráter descritivo da pesquisa possibilita detalhar as especificidades e impactos da digitalização estatal sobre a realidade rural local.

A coleta de dados ocorreu por meio de revisão bibliográfica de textos acadêmicos, relatórios institucionais, matérias jornalísticas e documentos oficiais publicados entre 2015 e 2024, com ênfase em políticas públicas digitais, exclusão/inclusão digital e desigualdades tecnológicas em áreas rurais do Brasil. Foram utilizadas também informações estatísticas do IBGE (2022) e diagnósticos institucionais sobre Brejo Santo, assim como relatos e registros de vivências das comunidades rurais durante a pandemia.

Com o objetivo de aprimorar a validação dos achados, promoveu-se triangulação metodológica (Triviños, 1987), articulando distintas fontes de evidência e perspectivas na análise do fenômeno estudado.

Resultados e Discussões

A digitalização intensificada dos serviços públicos durante a pandemia obrigou comunidades rurais como as de Brejo Santo – CE a se adaptarem rapidamente às ferramentas digitais para acessar direitos, benefícios sociais e informação (Bussinger & De Mendonça, 2022). Contudo, a precariedade da infraestrutura de internet, a baixa escolaridade, escassez de equipamentos adequados e renda limitada restringiram fortemente esse acesso (Fornasier & Scarantti, 2017; Castells, 2016).

Grande parte dos moradores das comunidades rurais do município de Brejo Santo, dedicados majoritariamente à agricultura familiar, enfrentou dificuldades para acessar o Auxílio Emergencial e realizar agendamento de vacinas, por ausência de conectividade, smartphones ou habilidades digitais, como evidenciam Medeiros et al. (2020) e Freitas & Belém (2023). Muitas famílias, mesmo em áreas atendidas por provedores locais, não conseguiam arcar com os custos da conexão ou não dispunham de suporte para cadastro em plataformas do governo.

De acordo com Moreira e Santos (2020), tal cenário reforça as múltiplas camadas da infoexclusão: tecnológica, econômica, educacional e territorial. O deslocamento de procedimentos presenciais tradicionais para o ambiente online, sem acompanhamento de políticas públicas adequadas de formação digital e ampliação da infraestrutura, agravou o distanciamento social e a vulnerabilidade dos habitantes rurais (Coutinho, 2021; Garcia, 2021).

A experiência das comunidades de Brejo Santo reforça, portanto, que a expansão do governo digital exige não apenas modernização administrativa, mas também investimento direcionado para inclusão, oferta de cursos de letramento digital, distribuição de equipamentos e ampliação da cobertura de internet em áreas rurais. Sem isso, a promessa de cidadania digital se apresenta como fator de aprofundamento das desigualdades (Nemer, 2019; APDSI, 2025).

CONCLUSÃO

A análise dos desafios enfrentados pelas comunidades rurais de Brejo Santo – CE perante a transformação digital dos serviços públicos, especialmente durante a pandemia de Covid-19, demonstrou que, sem políticas paralelas de inclusão, a digitalização pode ampliar desigualdades já existentes. O déficit de infraestrutura, formação digital e condições socioeconômicas limita o acesso a direitos básicos e acentua a infoexclusão no campo.

A promoção da cidadania digital nas zonas rurais depende do enfrentamento desses desafios: investimento em conexão de qualidade, formação tecnológica ampla e ações de incentivo à participação dos grupos tradicionalmente excluídos do universo digital. Apenas assim será possível garantir o exercício pleno dos direitos e a construção de um ambiente público verdadeiramente democrático e acessível a todos.

REFERÊNCIAS

APDSI – ASSOCIAÇÃO PARA A PROMOÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO. Infoexclusão. Disponível em: apdsi.pt/glossario/i/infoexclusao/. Acesso em: 08 jul. 2025.

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CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2016.

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FORNASIER, Mateus de Oliveira; SCARANTTI, Danielli R. Internet no campo: direitos humanos e políticas públicas de inclusão digital. Revista Extraprensa, v. 10, n. 2, p. 133-152, 2017.

GARCIA, Leandro. Cidade inteligente não pode ser sinônimo de exclusão. Connected Smart Cities, 26 jul. 2021. Disponível em: portal.connectedsmartcities.com.br/2021/07/26/inclusao-digital-cidade-inteligentenao-pode-ser-sinonimo-de-exclusao. Acesso em: 26 mai. 2025.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2017.

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Publicado por: Priscilla das Candeias Pereira da Silva

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