O que desejam as meninas?
Muitas das experiências sociais vividas por rapazes e garotas são determinadas pelo tipo de brinquedos a eles consagrados, e os “fortes” são dedicados aos meninos, enquanto os “sensíveis” são quase que exclusivo de meninas.O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.
Quando Freud se questionou sobre o que, afinal, desejavam as mulheres, criou uma profunda reflexão não apenas sobre o próprio desejo em si, mas também sobre aquilo que diferenciaria as aspirações masculinas e femininas.
Possivelmente aqueles que hoje se digladiam sobre ser, ou não, a feminilidade uma construção social tem suas doses de razão em ambos os lados da questão, pois a par de certas características inatas – apenas o sexo feminino pode gerar outro ser e amamenta-lo, sua constituição física é de maneira geral um pouco mais frágil (embora possa ser treinada arduamente para adquirir mais força), seu cérebro é menor, embora não menos inteligente - estão aí as exceções acima e abaixo da potencialidade cognitiva em ambos os sexos para comprovar – muito das chamadas sensibilidades das mulheres são edificadas no tipo de infância que propiciamos a elas de alguns anos para cá.
Afinal, com possível exceção da extrema pobreza, ao nascer uma menina, esta é embrulhada em laços e fitas cor-de-rosa, enfeitada como uma fada, e ensinada que precisará crescer com graciosidade, muita delicadeza e meiguice. Espera-se dela que seja romântica, sensível e de boas maneiras, e, enquanto aos meninos destinam-se os presentes que evocam a guerra, a destruição, a velocidade, a elas são destinados brinquedos que evocam o lar, os filhos, o cuidar de si e de outros.
O item “cuidar de si”, em particular, tem provocado um foco talvez excessivo no namoro, nas roupas, nas maquiagens, no ser uma mulher sedutora, para obter sucesso e ser admirada, e nisso as revistas ditas femininas colaboram bastante, fornecendo parâmetros na busca de uma estética padrão, muitas vezes difícil de ser alcançada.
Neste sentido, a boneca Barbie e suas similares constituem um modelo cruel: das altas, magras, cheias de acessórios que devemos sonhar possuir; e a partir de pouca idade, doze ou treze anos talvez, acumular insatisfações imensas com o próprio corpo e demais atributos. Por coincidência(?) é um pouco antes disso que meninas e meninos passam a distanciar-se em aptidões escolares básicas, como por exemplo em matemática, que a princípio são iguais, mas das quais muitas passam a fugir sistematicamente.
É claro que não são muitas as crianças que poder ter acesso a estes produtos que propagandas tentam vender, e a boneca Barbie não está entre os mais acessíveis, mas o público todo consome os signos de sexualidade e de gênero apresentados, e isso produz formas de agir, de estar e se relacionar no mundo, e até de pensamentos, pois consumimos não apenas mercadorias, mas também valores de como deve ser nosso corpo, como devemos nos comportar, vestir e nos relacionar em nossa comunidade, mesmo ao considerarmos as várias etnias que dela fazem parte.
Resta evidente que muitas das experiências sociais vividas por rapazes e garotas são determinadas pelo tipo de brinquedos a eles consagrados, e os “fortes” são dedicados aos meninos, enquanto os “sensíveis” são quase que exclusivo de meninas, voltados a despertar vaidade e consumo por vezes desenfreados.
Embora exista uma certa promessa de fabricantes de passa tempos infantis, e também de programas computacionais voltados ao lazer, de favorecerem o desenvolvimento e mesmo o aprendizado escolar, uma rápida olhada nos produtos disponíveis no mercado já estabelecem uma imensa diferença no que se considera entretenimento de meninas e meninos, e na compreensão do universo digital reservado a ambos. Inúmeros sites são elaborados dentro de uma perspectiva bem limitada das habilidades que uma menina precisa desenvolver para tornar-se uma mulher, e certamente isso inclui moda, diversão, música e beleza, mas quase nada de raciocínio lógico, de tomada de decisões, de visões mais abrangentes do mundo.
Convém pensar um pouco sobre os presentes que se dá a uma criança, pois junto com eles, quase certamente virá empacotado todo um conjunto de normas de como proceder e ser em nossa comunidade.
Publicado por: Wanda Camargo
O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.