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O Ilustre Cidadão da Rua

Clique e conheça o morador de rua que deu um exemplo de cidadania.

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do site por meio do canal colaborativo Meu Artigo. Brasil Escola não se responsabiliza pelo conteúdo do artigo publicado, que é de total responsabilidade do autor . Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: https://www.brasilescola.com.

Hoje, ao sair do trabalho, fui a um bar, no centro de São Paulo, próximo à Biblioteca Municipal, para desfrutar de um lanche saboroso. Ali se come muito bem. O preço é salgado, mas compensa. Prova disso é que está sempre cheio. Neste dia, com lotação máxima, tive de comer em pé. Havia todo tipo de gente: gringos, jovens, mulheres bonitas e gente de escritório.

Do lado de fora, um velhinho roubava a cena. Estava sentado, resignadamente, na calçada. Era um morador de rua que tinha um cabo de vassoura, em mãos, para arrimo. Enquanto comia, pude observá-lo. Seus olhos miravam o vaivém dos que passavam pelo local. Respeitoso, não incomodava ninguém. Estava emudecido. Naquele momento, apenas fitava o céu, que lhe parecia tão distante ante suas dores e sofrimentos. Em seguida, um segurança, pediu-lhe que saísse dali.

Pude ouvir parte de sua resposta: 'Permanecerei aqui, tenho o sagrado direito de ir e vir', disse. Educadamente, respondeu com um não. Confesso que gostei. Entusiasmei-me com sua atitude cidadã, afinal, a rua e calçada pertencem aos moradores da cidade. Para intimidá-lo, o segurança ameaçou chamar a polícia. Mesmo assim, não saiu. Ao sair do bar, ofereci-lhe um lanche. Aceitou. Era fim de tarde.

Surpreendido pelo frio, tive que esperar o semáforo se abrir, para seguir meu caminho. Ele perguntou o meu nome. Respondi-lhe. Agradeceu e revelou o seu. Em seguida, apertamos as mãos como fazem os bons amigos. O mais surpreendente, para mim, naquele desconhecido, maltrapilho e sujo, foi sua postura firme. Revelou-se protagonista de sua cidadania e senhor de imensa dignidade, educação e gesto de grandeza. É coisa que não se aprende na escola. Na calçada, junto dele, constatei que nós julgamos o semelhante pelo que tem. Ainda não aprendemos a valorizar, realmente,  os tesouros que cada um possui dentro de si. Ou seja, muitas vezes, julgamos as coisas apenas pela aparência.      

O fato é que nossa cultura, que é mestiça, não valoriza os mais velhos e toda sua sabedoria. Por sua vez, no Brasil, apenas uma minoria vive muitíssimo bem. São proprietários e donos das riquezas que são  produzidas no país. Enquanto isso, nas ruas, muitos se arrastam na indigência total. É triste saber isso, afinal, vivem na fronteira da miserabilidade e são invisíveis para milhares de olhares. É como se fossem portadores de uma doença, altamente infectocontagiosa, de nome pobreza. Por isso, são caçados, assassinados e  malvistos. Quase sempre, esquecemos que são nossos irmãos e filhos do mesmo Pai. 

Finalmente, penso como Mário Quintana: 'O que mata um jardim é esse olhar vazio de quem por ele passa indiferente'! Eles [moradores de rua] vivem no fogo cruzado que envolve fatores complexos como pobreza, desemprego, miséria e descaso social. Em uma palavra: são vítimas do apartheid social brasileiro. Tem mais, alguns deles precisam apenas de uma chance para recomeçarem suas vidas.  (RICARDO SANTOS É PROF. DE HISTÓRIA)


Publicado por: RICARDO SANTOS

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